CUIDADO
COM OS FALSOS AMIGOS, POIS GERALMENTE SÃO OS MAIS ÍNTIMOS...
“Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas me abandonou, amando o
presente século (...). Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males (...).
Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam
(...)” (2 Timóteo 4:9,10,14 e 16).
O apóstolo Paulo foi um dos maiores evangelistas que o mundo já
conheceu. Viveu numa época dificílima, onde ser cristão significava pôr em
risco a própria vida. Paulo fez extensas viagens missionárias, conheceu
diversos povos e culturas, por isso, se tornou um líder destacado do seu tempo.
Sua equipe missionária era uma das mais grandiosas. Eram jovens, moços, velhos,
mulheres, homens, principalmente. Alguns casados, outros solteiros. Mas todos
imbuídos de um só propósito: anunciar a salvação exclusivamente por meio de
CRISTO, Aquele que muitos testemunharam dos Seus milagres, enquanto outros só
ouviram falar. Os historiadores afirmam que o apóstolo escreveu 13 cartas,
denominadas paulinas, tanto dirigidas às localidades como a líderes, além da
autoria não comprovada de outros textos. Por amar a obra missionária, sofreu na
própria pele inúmeras adversidades, como ele mesmo descreveu na segunda Carta
aos coríntios:
“Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um (195
chicotadas). Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três
vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; em viagens muitas
vezes, em perigos de rios, em perigos de assaltantes, (...) em perigos no
deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e
fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em
frio e nudez. Além das coisas exteriores, há o que diariamente pesa sobre mim,
o cuidado de todas as igrejas” (2 Coríntios 11:24-28). Também foi várias vezes
preso em fortalezas e levado a julgamento.
Os judeus eram como lemos no texto anterior, seus inimigos declarados,
embora ele próprio fosse judeu, da cidade de Tarso, na região da Cilícia.
Outrora, chamado de Saulo, fora perseguidor da Igreja de DEUS e contribuiu para
a morte de Estevão, mártire cristão. No caminho de Damasco, perdera a visão e
fora arrebatado espiritualmente aos céus, onde teve um encontro poderoso com
CRISTO. A partir dali, quando voltou a enxergar, tornou-se não só um amigo da
igreja de DEUS, mas seu grande líder. O testemunho de Paulo, lido ao povo em
hebraico, está publicado no capítulo 22 do livro de Atos. Vale a pena relê-lo.
Como afirmei, Paulo tinha inimigos declarados, mas também inúmeros
amigos. Alguns deles são citados no início e no fim de algumas cartas escritas
pelo apóstolo, cujos nomes são desconhecidos da igreja contemporânea: Febe,
servidora da igreja em Cencréia; Priscila; Áquila; Epêneto; Andrônico; Júnia;
Amplíato; Urbano; Apeles; Herodião; Asíncrito; Flegonte e tantos outros
infinitos nomes, que para nós são também estranhíssimos. Alguns amigos mais
próximos; outros, porém, distantes. Quero aqui destacar um nome que aparece em
três de suas cartas: Demas.
Nos versículos de abertura de nosso estudo, Paulo, encarcerado, escreve
ao amigo Timóteo em tom de desespero: “Procura vir ter comigo depressa. Porque
Demas me abandonou, amando o presente século (...). Alexandre, o latoeiro,
causou-me muitos males (...). Diferentemente de Alexandre, judeu, que sempre se
posicionava contrário às atitudes de Paulo (o mesmo Alexandre é citado também
em Atos 19:33 como agitador do povo), Demas é apresentado, em outras cartas,
como cooperador de Paulo, ou seja, aquele que, de alguma forma, contribuía para
o crescimento do Evangelho: “Saúda-vos Lucas, o médico e amado, e Demas” (Colossenses
4:14); “Saúdam-te Epafras, meu companheiro de prisão em Cristo Jesus, Marcos,
Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores” (Filemom 1:23-24). A grande
frustração de Paulo foi ter sido abandonado, nas horas de maior tribulação, por
um cooperador próximo. O que levou o “amigo” a abandoná-lo? Demas não suportara
tamanhas pressões em ver muitos cristãos sendo perseguidos, presos e mortos.
Ele optou por não querer carregar a cruz por amor a CRISTO, como bem nos
aconselha o apóstolo Pedro:
“Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre nós para vos
tentar, como se coisa estranha vos acontecesse. Mas alegrai-vos no fato de
serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da
sua glória vos regozijeis e alegreis” (1 Pedro 4:12-14), preferindo o mundo e a
aparente e falsa paz que este mundo oferece. Podemos dizer que ele foi um
“amigo” que só queria estar perto do apóstolo em momentos de calmaria ou de
regozijamento. Por isso, hoje, aparece na história do cristianismo ao lado de nomes
que não souberam honrar o Nome de DEUS. Demas trocou seu bom lugar no reino de
DEUS e na história pelo salário que é destinado aos traidores, o mesmo que
recebera Judas Iscariotes.
Quando Paulo escreveu as palavras de desespero ao seu filho na Fé, Timóteo,
fora preso pela segunda vez na Grécia e levado às pressas para Roma, desta
feita como criminoso; ou seja, numa enorme possibilidade de ser morto. E,
diferentemente da primeira prisão, não tivera tempo de levar consigo seus
livros nem capa para se aquecer. Foi nessa circunstância, extremamente adversa,
que fora abandonado por Demas. Paulo reforça: “Ninguém me assistiu na minha
primeira defesa, antes todos me desampararam”. A postura de Demas nos mostra
que um falso amigo não resiste às lutas do dia-a-dia. Ele antever situações
dificílimas e desaparece de nossa companhia; deixando-nos sozinhos. Não suporta
ouvir palavras diferentes àquelas que massageiam seu ego, ainda que seja para o
seu benefício. Ele se faz nosso companheiro apenas quando os momentos forem
propícios a seus interesses particulares. Amam aparecer à sombra do sucesso
alheio. Enfim, um falso amigo não tem fé suficiente para saber que DEUS é
Todo-Poderoso para livrar o homem das garras dos leões, como fizera com Daniel
à época do Antigo Testamento; dessa forma, mostra-se um covarde na história,
que só vive em busca de uma vida de facilidades.
A carta de Paulo a Timóteo também nos ensina algo importantíssimo para a
nossa conduta cristã: que devemos manter o testemunho firme, mesmo diante dos
gigantes que se levantam contra nós e da solidão. Segurar a nossa mão na de
DEUS, nos conservará seguros: “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele e o
mais ele fará” (Salmos 37:5).
Paulo foi o melhor exemplo de cristão que já li em toda a minha vida.
Assim, o melhor adjetivo que podemos atribuir a ele é de um velho lutador que
não desiste da batalha e em nenhum momento se acovarda frente às adversidades.
Antes, mantém a sua fé: “mas o Senhor me assistiu e me fortaleceu para que por
mim fosse cumprida a pregação, e a ouvissem todos os gentios; e fiquei livre da
boca do leão. E o Senhor me livrará de toda má obra, e me levará para o reino
celestial (...)” (2 Timóteo 4:17-18). Imaginemos um velho lutador, marcado por
cicatrizes, preso a algemas num recanto sombrio, erguendo os olhos até
encontrar uma pequena abertura no telhado, de onde saía uma luz poderosa, e
concluir como num último soluço: “Combati o bom combate, acabei a carreira,
guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada (...)” (2
Timóteo 4:7-8). O combate de Paulo deve ser sempre o combate de todo cristão...
Bispo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor
em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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