APRENDENDO A PERDOAR...
“Perdão”. Palavrinha difícil esta... É
incrível como muitas pessoas, não poucas, tem uma dificuldade gigantesca em
lidar com este assunto. Não raro, vejo muita gente sendo devorada e corroída
por dentro através das feridas inflamadas e purulentas que estão guardadas nas
lembranças. Às vezes estas memórias estão escondias atrás de grandes muralhas
de rejeição, impaciência, depressão, melancolia, autocomiseração,
irritabilidade e algumas vezes transmitem uma falsa sensação de força, mas
sempre acabam se revelando na brutalidade com que a dor retorna de vez em
quando e a gente tenta esquecê-la sem sucesso.
Cresci ouvindo a sabedoria popular e ela
dizia: “quem bate esquece, mas quem apanha não.” Esta é uma verdade que
acompanha invariavelmente qualquer ser que tenha consciência de si memo.
A ofensa, o tapa, a humilhação, a traição,
o roubo, o abuso, o abandono, a injustiça... Seja qual for o nome que você dê à
sua ferida de estimação, por mais que se coloque sobre ela o peso do tempo ou
da dureza de levar a vida amargamente, dificilmente ela vai cicatrizar, no
máximo vai criar uma leve casca, mas ao menor toque vem à tona a dor novamente
carregando consigo todo o potencial doloroso da lembrança de quando a ferida
foi aberta.
Alguns vão vivendo como podem, ou melhor,
vão morrendo aos poucos como podem. São leprosos de alma, vão levando a vida
tomando sobre si armaduras e carapaças como pesadas vestiduras, erguendo seus
castelos e fortalezas contra o menor sinal de um novo dano ou machucado. Nem dá
para saber se é autodefesa ou autopunição. Muitos vão chorando pelos cantos,
sozinhos na escuridão da noite, enxugando suas lágrimas internas e externas
como dá, tentando não deixar ninguém perceber a sequidão que é viver assim. É
preciso manter as aparências, dizem eles. Outros provocam o mundo com as mesmas
dores com que foram afligidos, é quando o traído, por exemplo, tem uma
neurótica e compulsiva vontade de trair também para mostrar, inconscientemente
ou não, ao mundo que isto dói e muito. Ou quando o humilhado ameniza sua dor
humilhando e pisando em qualquer outra criatura que venha ao seu encontro.
A mágoa e o rancor sempre procuram um
culpado, disso não se escapa. O problema é que, às vezes, na falta de se
encontrar um “bode expiatório”, muitos culpam a si próprios. Com ou sem razão
muitos outros, pela falta de coragem para assumir seus erros, vão espalhando
suas culpas obsessivas por seus familiares, amigos e inimigos próximos. Nem o
próprio Deus, o Criador, escapa do alvo daqueles que querem achar, de qualquer
jeito, um culpado para sua tristeza e dor. Estes vão sorteando nomes e culpados
para suas feridas como quem distribui as cartas de um baralho numa mesa de
Poker.
Faz tempo que muitos desistiram de viver,
alguns literalmente, carcomidos por suas dores internas. Já dizia o sábio
Shakespeare: “Guardar uma mágoa é como tomar um copo de veneno e torcer para
que o seu agressor morra.” Parece irracional, mas o que o famoso escritor
inglês descreveu nesta frase é a lógica inversa da cura para toda essa dor que
tanta gente carrega e alimenta durante anos a fio. É provado cientificamente
que o rancor arquivado pode ser sumarizado pelo corpo através de doenças como
câncer, gastrite, enxaqueca, cólicas agudas, doenças da pele, distúrbios
hormonais, depressão e outras neuropatias sérias.
Etimologicamente perdão é o ato de não
imputar a um transgressor a necessidade de pagar pelo erro cometido, ou seja,
perdoar é o mesmo que liberar um condenado ou um réu de cumprir uma sentença, é
como dizer a um presidiário amarrado na cadeira elétrica: “amigo, levanta daí,
não vamos mais ligar a corrente elétrica em você. Você será liberado agora!” Aí
está o grande problema encontrado na palavrinha “perdão”: quem perdoa perde
muito. O perdão fere nosso senso comum de justiça, principalmente quando os
ofendidos somos nós. Quem perdoa, na verdade, assume para si próprio o valor e
a dor da punição. Perdoar é como ser ofendido duas vezes, a primeira pelo
desafeto recebido, a segunda por abrir mão do justo direito de revidar ou se
vingar.
Mas, acredite em mim! Por experiência
própria e por ver muitos outros amigos vencendo seus dramas interiores e
encontrando de novo o caminho da cura integral. Posso afirmar com a autoridade
de quem já experimentou e tem aprendido a experimentar a dádiva de perdoar:
existe muito mais benefício em não “cobrar a ofensa” do que alimentá-la dentro
de você. Tenho consciência de que não é uma atitude fácil de se tomar, é
verdade. Algumas vezes a sensação de náusea, confusão mental e de dor é muito
mais forte do que qualquer argumento lógico e racional a favor de liberar ou
não o seu perdão.
Não digo isso porque me considero bonzinho,
realmente não sou! Tenho meus defeitos como qualquer outra pessoa. O que tenho
aprendido até aqui é que, na maioria das vezes, esta capacidade para tomar tal
atitude simplesmente não vem de nós. A única força capaz de superar a mágoa e
remover toda raiz de amargura é o amor. Ele, o amor, vence todas as coisas,
vence até a morte. Não é por acaso que João, o apóstolo, escreve em sua
epístola afirmando categoricamente que Deus é amor. Sim, a essência de Deus é o
amor.
A única fonte verdadeiramente confiável de
amor é Deus, muitos são os textos revelados por toda a Bíblia que expressam
este envolvente e imensurável amor de Deus pela sua criação e de forma especial
pelo ser humano. Este amor sobrenatural nos ensina a viver e caminhar em
direção à cura de nossas feridas emocionais e existenciais.
De forma contundente, o apóstolo Paulo
afirma em sua carta aos Romanos, capítulo cinco, verso oito, dizendo: "Mas
Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por
nós, sendo nós ainda pecadores." Não houve merecimento nosso, não foi o
esforço humano que provocou uma reação de perdão de Deus para nós. Foi
simplesmente por amor e espontaneamente. A teologia moderna chama isto de
solidariedade de Deus em relação ao ser humano, mas a Palavra Revelada chama a
isto de Graça. Sem preço, sem barganha, Ele, Deus, fez isto antes que qualquer
um de nós pedíssemos ou merecêssemos.
A boa notícia é que em Jesus, Deus ofereceu
perdão gratuito a toda humanidade, isto inclui a você e eu. É este mesmo amor
que nos convida, igualmente, a perdoar quem nos tem ofendido. O perdão que liberamos
hoje retorna como bálsamo, alívio e cura para nossas dores.
Em Jesus, o perdão não é condicional, é
mandamento incondicional pois somos perdoados com a mesma medida em que
perdoamos. Quando perdoamos nos enchemos mais um pouco de Deus, é como se Deus
reconhecesse em nós algo em comum e viesse nos dar um “olá!”.
Então... Quer ser curado? Perdoe! Quer ser
liberto? Perdoe! Quer ser realmente feliz? Perdoe!
Talvez você até encontre alguma dificuldade
para dar este primeiro passo, mas tenha certeza que o Doce e Santo Espírito de
Deus é quem nos auxilia em nossas fraquezas. Ninguém melhor que o Criador para
sondar sua mente e espírito nesta hora e saber exatamente do que você precisa.
Ele já lhe deu neste dia um coração batendo, isto já é o suficiente para você,
como eu, reconhecer que sem Ele nada somos. Acredite! Mesmo no conturbado e
obscuro mundo em que vivemos, mesmo diante da morte, da dor, de poderes
sobrenaturais da maldade, com a perturbação do passado, do amedrontado presente
ou da incerteza do futuro, nada é capaz de nos separar deste gigantesco amor de
Deus por nós. Precisamos dele, esta é a mais pura realidade. A única coisa a
fazer então é dizer: Deus me ajude! O resto já é com ele...
Bispo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em
Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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