REBELDIA NA IGREJA, PECADO DO
DIABO...
Muitos pastores
assembleianos batem no peito e orgulhosamente afirmam: "Esta igreja não é
fruto de divisão nem de invasão!"
Parece-me que eles
desconhecem a história da própria igreja que presidem ou cooperam (ou querem
apagar alguma mácula ou memória do passado). Pior, parece-me que eles
desconhecem a própria história das Assembléias de Deus no Brasil. Podem
inclusive estar entorpecidos pelo desejo de ser diferente, de estar acima da
média, de ser melhor do que os seus pares, de ser-mais.
As Assembleias de Deus
no Brasil, nasceram de uma divisão. A história é clara. Não há nenhum demérito
nisto. Em nada este fato diminui o trabalho dos pioneiros, nem de todos aqueles
que contribuíram e contribuem para o crescimento da igreja.
O problema do
surgimento ou criação de uma igreja não é ter sido resultado de uma
"divisão", mas, da causa da divisão.
"Deus, não é Deus
de divisão!" bradam alguns. A questão é: de qual divisão Deus não é Deus ?
Será que estes tais já leram o texto bíblico abaixo:
"Tendo Roboão
chegado a Jerusalém, convocou toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, cento
e oitenta mil homens escolhidos, destros para a guerra, para pelejarem contra a
casa de Israel a fim de restituírem o reino a Roboão, filho de Salomão. Veio,
porém, a palavra de Deus a Semaías, homem de Deus, dizendo: Fala a Roboão,
filho de Salomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá e de Benjamim, e ao resto
do povo, dizendo: Assim diz o Senhor: Não subireis, nem pelejareis contra
vossos irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque de
mim proveio isto. E ouviram a palavra do Senhor, e voltaram segundo o seu
mandado." (1 Rs 12.21-24)
Deus declara em sua
palavra que a divisão das tribos foi provida por ele. A versão Revista e
Corrigida de Almeida diz "eu é que fiz esta obra". A tradução NTLH
relata "foi porque eu quis".
Não é a divisão em si
mesma, mas são as causas que promovem uma divisão que importam, que sinalizarão
se é necessária ou não, se é aprovada (ou tolerada) ou não por Deus . No caso
do texto citado acima, a divisão foi resultado da arrogância, loucura,
prepotência e orgulho de Roboão, que o levou a oprimir o povo de Israel (1 Rs
12.1-20).
A postura de Roboão é
imitada atualmente por muitos líderes de igrejas no Brasil e no mundo. São
agentes opressores que acabam promovendo divisões. No fim, para livrar a cara,
chamam os que não suportam ou se indignam com a opressão de rebeldes e
facciosos.
No Novo Testamento
encontramos um caso clássico de divisão:
"Decorridos alguns
dias, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar os irmãos por todas as cidades
em que temos anunciado a palavra do Senhor, para ver como vão. Ora, Barnabé
queria que levassem também a João, chamado Marcos. Mas a Paulo não parecia
razoável que tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado
deles e não os tinha acompanhado no trabalho. E houve entre eles tal desavença
que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para
Chipre. Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à
graça do Senhor. E passou pela Síria e Cilícia, fortalecendo as igrejas."
(Atos 15. 36-41)
Isso mesmo, Paulo e
Barnabé se desentenderam e se separaram. Até homens de Deus se desentendem e se
separam. Cada um seguiu o seu caminho. Qual dos dois foi o rebelde? Qual dos
dois deixou de ser abençoado por Deus em razão da "divisão"?
Estou aqui fazendo
apologia a qualquer tipo de divisão? Deus me guarde disso! Sei que há milhares
de divisões promovidas e mantidas por Satanás e seus demônios. Há ainda outras
divisões, resultado do desejo cego de alguns homens pelo poder ou para tirar
alguma vantagem pessoal da situação. Há também divisões causadas e mantidas por
uma vida de baixa moral e testemunho cristão duvidoso daqueles que fazem o
"ministérios" ou "liderança". O que afirmo, é que usar o
termo "divisão" de forma imprópria, para justificar um sentimento de orgulho
pessoal e o desejo de parecer melhor que os outros, é uma falácia e um
auto-engano.
E o que falar da
Reforma Protestante? O racha no catolicismo romano, promovido pela coragem de
Lutero, em face a opressão e aos absurdos doutrinários da liderança católica,
do qual todos nós protestantes, de alguma forma somos fruto.
Mas como falava, as
Assembléias de Deus no Brasil nasceram de uma divisão ocorrida na Igreja
Batista de Belém, no dia 13 de junho de 1911. Uma divisão causada pelo fato de
um grupo de dezoito irmãos afirmarem publicamente que criam no Batismo com o
Espírito Santo, evidenciado pelo falar em outras línguas. Este fato causou a
expulsão do grupo, juntamente com os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren.
Alguém pode afirmar
"mas eles não dividiram a igreja, foram expulsos da mesma". Esta
afirmação é uma tentativa de atenuar os fatos. Mas por qual razão foram
expulsos? Foram expulsos em razão de não negociarem a verdade de Deus. Foram
expulsos por não se renderem a pressão sofrida. Foram expulsos por suas
convicções inabaláveis.
Para muitos, os nossos
pioneiros são os responsáveis diretos pela cisão naquela igreja. São tidos por
rebeldes, juntamente com os dezoito irmãos que de lá saíram. O grupo de
"rebeldes" cresceu e tornou-se a maior denominação evangélica do
país.
Nenhum líder
assembleiano, cuja história da chegada e fundação da igreja no Estado ou região
está ligada aos acontecimentos em Belém, pode bater no peito e dizer que sua
igreja não surgiu de divisão. Se escapar de Belém, acaba não escapando da
Reforma Protestante.
Na América do Norte, a
Assembleia de Deus tem origem em movimentos separatistas raciais, que se
originaram na Igreja de Deus devido às pressões de movimentos sociais que
apoiavam a separação entre negros e brancos. Alguns pastores brancos, por volta
de 1913, saíram da Igreja de Deus para criarem dessa forma a Assembleia de
Deus. Este lamentável episódio foi reparado numa reunião por ocasião do
centenário do Movimento Pentecostal, onde os pastores da Assembleia de Deus nos
Estados Unidos, simbolicamente, numa cerimônia de lava pés, pediram perdão dos
atos passados.
Sobre a Igreja
Filadélfia de Estocolmo, responsável pelo envio de muitos missionários para o
Brasil, inclusive Joel Carlson (um dos pioneiros da AD em Pernambuco), num
recente artigo do Jornal Mensageiro da Paz (Órgão Oficial das Assembleias de
Deus no Brasil), número 1.492, setembro de 2009, p. 27, assinado pelo pastor
Isael Araújo, nos é informado que:
"Em 1907 o
despertamento pentecostal alcançou crentes metodistas e batistas em Estocolmo,
a capital sueca. em 1909, mediante a situação em que muitos crentes batistas
estavam se afastando de suas igrejas por aceitarem o batismo com o Espírito
Santo, o comerciante batista Albert Engzell mobiliou um salão em sua
residência, na Rua Uppsala 11, em Estocolmo, para servir como local de
pregação. O grupo de crentes que começou a se reunir nesse local, chamado salão
filadéfia, organizou-se, em 1910, como Sétima Igreja Batista de Estocolmo,
tendo como pregador E. W. Olsson, da Escola Missionária de Örebro, que era
totalmente a favor do despertamento pentecostal. E. W. Olsson, pouco tempo
depois, desejou regressar a Örebro, a fim de dar prosseguimento a seus estudos.
Assim, a igreja, que contava com 70 membros, considerou a necessidade de um
pregador cheio do poder de Deus e com seriedade para continuar o trabalho. A
escolha recaiu sobre Lewi Pethrus, que ainda servia como pregador na Igreja
Batista de Lidköping. ele recebeu o convite em 14 de setembro de 1910, e
assumiu o trabalho da igreja no ano seguinte, em 8 de janeiro de 1911, aos 26
anos de idade. No fim de 1913, a Convenção Batista Sueca expulsou
ostensivamente Pethrus e toda a sua congregação, porque eles praticavam a ceia
aberta. As reais causas de sua expulsão, porém, foram a teologia e a liturgia pentecostal.
Surge então, a Filadefiakirkan (Igreja Filadelfia)."
Lendo o texto acima,
percebemos que assim como aconteceu no Brasil com as Assembleias de Deus, a
Igreja Filadélfia (que enviou vários missionários em apoio as Assembleias de
Deus no Brasil) nasceu dos problemas surgidos pela aceitação da mensagem
pentecostal por parte de crentes da igreja estatal Luterana e de igrejas
batistas, que culminaram com a sua expulsão.
Milhares de irmãos, das
mais diversas denominações ou Convenções no Brasil, são chamados de rebeldes,
tratados com indiferença, vistos como "leprosos e impuros",
"crentes de segunda, terceira, quarta... categoria", por congregarem
em igrejas que surgiram da ganância, da opressão e da arrogância de líderes
inchados, sectários, pretenciosos, vaidosos e pedantes, que não respeitam o
próximo, não sabem conviver com diferenças de opiniões, que não conversam e
discutem, que tentam impor a força os seus caprichos ou pontos de vistas. A
postura desses líderes, não apenas gera divisão, mas fomenta, alimenta e
perpetua as já existentes.
Da próxima vez que
falarmos de "divisão", em vez de acusações irônicas e iradas, sejamos
mais prudentes e cuidadosos. Deus pode estar diretamente envolvido neste
negócio! Em vez de perder tempo e energia com isto, continue pregando o
evangelho e cuidando com temor e respeito de suas ovelhas...
Bispo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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