DÉBORA, UMA MULHER CORAJOSA
BISPO/JUIZ.DR.EDSON CAVALCANTE
A vida de Débora é um exemplo de que a coragem independe de sexo e de força física, mas é uma disposição firme de servir a Deus, a despeito de todas as circunstâncias.INTRODUÇÃO
- Nesta lição, estudaremos a vida de Débora, a única juíza de Israel e, sob uma interessante perspectiva, a da coragem. Normalmente associada à masculinidade, a coragem, no entanto, independe do sexo da pessoa mas é, antes de tudo, uma disposição firme de se servir a Deus.
- Débora, além de ser um exemplo de coragem, é uma demonstração de que a cultura não se confunde com os desígnios divinos e que devemos sempre discernir o que é cultural do que é hipotetico.
I – O MOMENTO HISTÓRICO DOS DIAS DE DÉBORA
- Antes de analisarmos a vida de  Débora, a personagem bíblica escolhida para nosso estudo nesta nossa  caminhada em busca do aprimoramento do caráter bíblico, é importante  analisarmos o momento histórico dos dias desta juíza e profetisa de  Israel, até porque Débora será a única personagem deste período da  história hebraica que iremos estudar.
- Débora viveu no período dos juízes,  período da história de Israel cuja duração é incerta e fomenta muitas  discussões entre os estudiosos da Bíblia, que transcorreu entre a morte  de Josué, após a conquista da Terra, e a escolha de Saul como rei.  Levando-se em conta que a Bíblia afirma que o templo começou a ser  construído 480 anos depois da saída dos filhos de Israel do Egito, no  quarto ano do reinado de Salomão(I Rs.6:1). Assim, levando-se em conta  que o êxodo durou 40 anos (Dt.2:7; At.7:36), que Josué morreu com 110  anos (Jz.2:8) e deve ter entrado na Terra Prometida com cerca de 80 anos  (levando-se em conta o que diz Calebe em Js.14:10), o que demonstra ter  Josué governado cerca de 30 anos na Terra Prometida, bem como que os  reinados de Saul e de Davi duraram 40 anos (respectivamente At.13:21 e  II Sm.5:4), temos que o período dos juízes tenha tido uma duração de  aproximadamente 326 anos.
- O período dos juízes é um dos  períodos de grande dificuldade espiritual para o povo de Israel. O autor  do livro dos juízes(a tradição judaica atribui o livro a Samuel) narra  toda esta dificuldade na passagem de Jz.2:7-23, que é uma espécie de  resumo do conteúdo de todo o livro, que, aliás, não abarca todo o  período dos juízes, vez que os governos dos dois últimos juízes, Eli e  Samuel, é narrado no Primeiro Livro de Samuel, em seus sete primeiros  capítulos.
- O primeiro problema deste período,  afirmam-nos as Escrituras Sagradas, foi a falta de educação doutrinária  do povo nos seus lares. Em Jz.2:7-10, é dito que, durante os dias de  Josué e dos anciãos de sua geração, o povo de Israel serviu a Deus, mas,  enquanto seguiam o exemplo daqueles homens que haviam conquistado a  Terra Prometida, que haviam sido doutrinados por Moisés pouco antes da  morte deste, conforme vemos nos discursos do livro de Deuteronômio, da  geração que, após a conquista de boa parte da Terra, foi levada a  reafirmar o pacto com Deus por iniciativa de Josué (Js.24), não se deu  continuidade ao ensino da lei, como, aliás, havia sido determinado por  Moisés (Dt.6:6-9).
- A falta de um ensino doutrinário nos  lares dos israelitas, a ausência de uma educação bíblica dos pais aos  filhos foi o primeiro fator que levou Israel a viver um período tão  difícil como foi o período dos juízes, um período onde havia  instabilidade espiritual, onde o povo permitiu que os costumes dos povos  que habitavam a terra se introduzissem no meio do povo de Deus, um  período em que a liberdade e o bem-estar foram exceção, verdadeiros  oásis num deserto de sofrimentos, opressões e domínio estrangeiro.
- Esta mesma circunstância, a  propósito, vivemos nos dias atuais na Igreja. Há uma grande negligência  por parte dos pais no ensino bíblico para seus filhos. Não há mais culto  doméstico nos lares, não há mais momentos de adoração a Deus, não há  qualquer ensino das Escrituras nas casas dos crentes. Pais e filhos  pouco se conversam e servir a Deus em conjunto, no lar, então, é uma  raridade. O resultado é a instabilidade espiritual da igreja, a  introdução do mundanismo e o desvirtuamento de grande parte de nossas  crianças, adolescentes e jovens. Voltamos a viver o difícil tempo dos  juízes.
- Sem educação, sem ensino, o povo  desvia-se espiritualmente. Como a geração que seguiu a dos  conquistadores de Canaã “não conhecia ao Senhor nem tampouco a obra que  fizera a Israel”, “fizeram os filhos de Israel o que parecida mal aos  olhos do Senhor e serviram aos baalins”. O resultado da falta de  educação doutrinária no lar é um só: a mistura com o pecado e com o  mundo, o desvio espiritual.
- Esta situação foi uma constante  durante todo o período dos juízes. Como não havia educação doutrinária  no lar, o que somente começou a se alterar nos dias de Samuel, o último  juiz, o povo crescia sem o conhecimento da lei e partia para uma vida de  pecado e de mistura com os costumes idolátricos dos povos que antes  habitavam a Terra Prometida.
- Surge, então, o segundo fator que  caracterizou este período. O fato de os israelitas não terem obedecido a  Deus e ter deixado alguns cananeus, heteus, heveus, amorreus,  girgaseus, ferezeus e jebuseus, que antes habitavam Canaã, fossem  mantidos vivos após a conquista por parte de Israel. Deus havia ordenado  a completa destruição desta gente (Dt.7:1-5), mas os israelitas  preferiram receber tributos destes povos a destruí-los, o que foi objeto  de dura repreensão por parte do Senhor, ainda nos dias de Josué  (Jz.2:1-6). O resultado desta desobediência foi a criação de um laço que  permitiu que Israel sucumbisse ao pecado e à idolatria.
- Deus havia mandado que o povo  exterminasse estes povos da Terra por dois motivos: o primeiro, a  injustiça destes povos havia chegado à medida do limite da paciência  divina (Gn.15:16); segundo, o povo tinha de se manter separado das  demais nações, pois era propriedade peculiar do Senhor (Dt.7:6;  Ex.19:5,6). Assim, Israel deveria cumprir a vontade de Deus, executando a  Sua justiça, como também impedir de se misturar com tão grandes  pecadores.
- No entanto, Israel não fez isto e,  ainda nos dias de Josué, Deus disse que não mais conseguiriam expelir  aqueles povos do meio deles e eles lhes seriam por laço, por verdadeira  pedra de tropeço. A convivência com estes povos, que eram mais  adiantados do que os hebreus em vários aspectos (a Bíblia, mais de uma  vez, mostra que os povos tinham o domínio de uma tecnologia que os  israelitas não conheciam, notadamente no que respeita ao uso de metais –  Jz.1:19; 4:3; I Sm.13:10), levou os israelitas a se misturar com os  seus costumes e com a sua idolatria, perdendo a santidade e se tornando  abomináveis ao Senhor (Jz.2:13-15).
OBS: Por oportuno, devemos observar  que a Bíblia dá conta desta vantagem tecnológica dos povos que habitavam  Canaã antes da conquista de Israel, vantagem esta que também possuíam  os filisteus, outro povo que veio habitar a região. Assim, recentes  descobertas arqueológicas, que dão conta destas vantagens tecnológicas,  estão a confirmar e não a negar o texto bíblico.
- Esta mesma situação vive-se  atualmente no “Israel de Deus”(Gl.6:16), ou seja, a Igreja, igualmente  uma nação santa (I Pe.2:9), que está no mundo, mas não é do mundo  (Jo.17:11, 14,16) e, portanto, deve viver separada do pecado, embora no  meio dos pecadores. Infelizmente, muitos, assim como os israelitas dos  tempos dos juízes, não conseguem se manter separados, santificados,  misturando-se com o mundo e com o pecado, fazendo com que a ira de Deus  caia sobre eles, pois, não nos iludamos, Deus não mudou e a Sua ira  continua a se voltar contra os pecadores (Rm.1:18; Ef.5:6; Cl.3:6).
- Sem ensino e não tendo se separado  dos povos idólatras à sua volta, os israelitas, no tempo dos juízes, não  reconheciam o senhorio de Deus nas suas vidas e faziam o que bem  entendiam, numa verdadeira anarquia. “Naqueles dias, não havia rei em  Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos”  (Jz.21:25). Esta é a forma triste com que se encerra o livro dos Juízes,  resumindo o desgoverno em todos os aspectos daquele período. Sem a lei  do Senhor, o povo escolhido de Deus vivia numa verdadeira baderna, era  uma “casa da mãe Joana”. Que situação lamentável para uma nação que  havia se tornado a menina dos olhos de Deus entre os povos!
- De igual forma, esta é a situação em  que fica a Igreja quando abandona o seu Senhor e passa a fazer o que  quer, amontoando doutores conforme a sua própria concupiscência (II  Tm.4:3,4). Uma confusão sem igual, uma verdadeira “bagunça espiritual”,  um local onde o inimigo “deita e rola”, “faz e acontece”, como, aliás,  bem nos esclarece o apóstolo Pedro (II Pe.3:12-22) e o próprio Senhor  Jesus (Lc.11:24-26). Vivemos dias em que alguns falsos servos de Deus  apregoam uma liberdade ilimitada na graça, uma suposta superioridade  espiritual que lhes permite fazer tudo o que bem entendem, chamando  todos aqueles que se lhes opõem de “legalistas”, de “ultrapassados”, de  “fracos na fé”. Entretanto, esta “liberdade” é anarquia, é fruto de uma  vida pecaminosa, totalmente comprometida com o mundo e que revela tão  somente aquela mesma filosofia de rebeldia contra Deus que encontramos  nos tempos dos juízes, atitude que apenas desperta a ira divina e nada  mais. Afastemo-nos deste tipo de gente antes que seja tarde demais (II  Tm.3:5 “in fine”) !
- Uma quarta característica destes  dias tão difíceis em que viveu Débora era o sofrimento, o castigo  divino. Por causa do pecado e da desobediência, Deus, diante do Seu  compromisso com Israel, permitia que o povo passasse por dominação  estrangeira, que sofresse a opressão do inimigo. Durante todo este  período, geração após geração, não houve uma geração sequer que não  tenha sido dominada por um povo estrangeiro. Nos dias de Débora, por  exemplo, eram os cananeus, sob a liderança de Jabim, com seus carros de  ferro, quem dominaram sobre os israelitas, durante um período de vinte  anos (Jz.4:1-3).
- Deus permitia que o povo sofresse  para que eles pudessem se arrepender dos seus pecados. Na verdade, não  fossem estas opressões, estas gerações deste período teriam todas se  perdido, mas, aprouve o Senhor permitir que fossem oprimidas pelos  inimigos, pois, assim, cada geração teve a oportunidade de se salvar,  tanto que, pelo que vemos da narrativa do livro dos Juízes, todas elas,  no sofrimento, voltaram-se para o Senhor e a Ele clamaram, tendo Deus,  em todas as vezes em que isto ocorreu, levantado libertadores para   povo, os juízes, que dão título ao livro.
- Temos, então, que o arrependimento  dos pecados, no período, deu-se apenas como reação ao sofrimento, ao  castigo divino. Daí vermos que, muitas vezes, somente o castigo divino  permite a reconciliação com o Senhor, motivo por que, apesar do castigo,  devemos sempre ver que a punição é mais um aspecto da bondade e do amor  de Deus. Deus castiga porque ama, porque é Pai e nos escolheu como Seus  filhos (Hb.12:6-11). Ante a falta de educação bíblica no lar e a  ausência de santificação, não havia outra lição pedagógica para Deus  senão o castigo, senão o sofrimento. Que aprendamos isto, se quisermos  evitar sofrimentos e castigos ao longo de nossa jornada para o céu.
- Quando o povo se arrependia dos seus  pecados, pedia perdão ao Senhor e clamava por libertação, o Senhor,  mantendo a Sua fidelidade, levantava libertadores para libertar o povo  (Jz.2:16,18). Deus jamais negou auxílio ao Seu povo e, havendo  arrependimento sincero, destrói todos os obstáculos e concede a vitória  aos Seus servos. Mas, para tanto, necessário se faz o arrependimento,  pois Deus não ouve a quem não abandona os seus pecados (Is.59:2). Deus  ainda inclina os Seus ouvidos para ouvir o gemido do Seu povo, continua o  mesmo, mas se faz necessário que nos santifiquemos. Estamos em condição  de ser ouvidos por Deus?
- Infelizmente, até os dias de Samuel,  a libertação valia apenas para aquela geração, pois se manteve a  negligência no ensino bíblico, de sorte que, num círculo vicioso, tudo  começava novamente (Jz.2:19). Que Deus nos guarde de cairmos neste  círculo vicioso, até porque a nossa responsabilidade, enquanto Igreja, é  bem maior que a de Israel, pois, enquanto Deus falava aos pais, pelos  profetas, a nós falou-nos, nestes últimos, pelo próprio Filho (Hb.1:1).  “Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se não escaparam aqueles  que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós, se nos  desviarmos dAquele que é dos céus, a voz do qual moveu então a terra,  mas agora anunciou, dizendo: ainda uma vez comoverei, não só a terra,  senão também o céu. E esta palavra: ainda uma vez, mostra a mudança das  coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam. Pelo  que, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a  graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e  piedade, porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb.12:25-29).
II – A BIOGRAFIA DE DÉBORA(I) – UMA MULHER PROFETISA E JUÍZA EM ISRAEL
- Era este o estado de coisas na vida  de Israel quando surge a figura de Débora no texto sagrado. “Débora” (em  hebraico, “Devorá”) significa “abelha” e, se  “…designa uma pessoa que possui uma força de vontade excepcional. Ela  luta com grande determinação para alcançar seus objetivos. Embora muito  cautelosa, quando confia em alguém se revela uma companheira doce e  amigável”. 
- A Bíblia muito pouco fala sobre a  vida de Débora. Surge ela, no texto sagrado, pela vez primeira, em  Jz.4:4 e, fora esta passagem histórica do período de seu ministério,  nada mais se fala sobre ela nas Escrituras. Sabemos, apenas, que ela era  profetisa, mulher de Lapidote (em hebraico, “Lapidot”, cujo significado  é “tochas”) e que julgava a Israel, entre Ramá e Betel, nos montes de  Efraim, o que nos dá a entender que era da tribo de Efraim. Os  estudiosos da Bíblia costumavam datar este período por volta de 1.120  a.C.
- Israel vivia um período difícil  quando Débora aparece no cenário da história sagrada. Depois da morte de  Eude, o segundo juiz de Israel, que os havia libertado do domínio de  Eglom, rei de Moabe, o povo voltou a pecar e a transgredir a lei do  Senhor, prova de que os 80 anos de sossego dados pelo Senhor (Jz.3:30),  não forma suficientes para que o povo instituísse a necessária educação  doutrinária nos lares, mantendo uma vida negligente de adoração a Deus.  Nesse meio tempo, aliás, levantou-se um outro libertador em Israel,  Sangar, filho de Anate, que teve grande vitória contra os filisteus, que  ainda não haviam se tornado o principal inimigo de Israel (Jz.3:31).
- A situação de prosperidade fez com  que o povo se esquecesse do Senhor e, por causa disso, Deus permitiu que  novo período de opressão (o terceiro desde a morte de Josué) viesse  sobre Israel. Desta feita, foram os cananeus, sob a liderança de Jabim,  que deles se fez rei, tendo à frente de seu exército Sísera e reinando  na cidade de Hazor, que conseguiu dominar os israelitas, dominação que  durou longos 20 anos. O povo, então, clamou ao Senhor, pedindo por  libertação (Jz.4:3).
- Apesar de sucinto, o texto bíblico  muito nos fala a respeito de Débora. Em primeiro lugar, afirma que  “naquele tempo”, Débora julgava a Israel. A ênfase do texto sagrado para  indicar que era “naquele tempo”, mostra-nos que Débora era uma pessoa  totalmente diferente das pessoas de sua geração. Não se sabe a idade de  Débora, mas não era uma pessoa muito jovem. Casada, julgando as causas  do povo, Débora não devia ser senão uma mulher de uma certa idade, a  ponto de ser chamada de “mãe em Israel” (Jz.5:7). Assim, tudo indica que  nasceu e viveu boa parte do período de “80 anos de sossego”, não tendo,  porém, se deixado levar pelos costumes dos gentios.
- Débora não só não se deixou misturar  com o pecado dos povos que vivem no meio do povo de Israel, como também  buscou de forma bem intensa ao Senhor, a ponto de ser uma “mulher  profetisa”. No texto sagrado, é a segunda profetisa que surge, a  primeira na Terra Prometida, pois a primeira que assim é mencionada é  Miriã, a irmã de Moisés (Ex.15:20). Esta busca a Deus em meio a um povo  corrompido demonstra a grande firmeza de caráter de Débora é o segredo  de sua coragem, a virtude que foi destacada por sua qualidade.
- A primeira qualidade de Débora que o  texto sagrado destaca é o fato de ser “mulher profetisa”, circunstância  que vem antes até do nome do seu marido, a demonstrar que, ante os  olhos de Deus, mais valem as características espirituais do que as  obtidas sobre a face da Terra. Débora era uma “mulher profetisa”, alguém  que tinha se tornado porta-voz de Deus em meio a um povo pecador e  idólatra. Que firmeza demonstrou Débora para servir a Deus em meio a uma  geração perversa. Quantas lutas Débora enfrentou, quanto teve de  renunciar para se manter separada do pecado e do mundo. Mas tudo isto  levou a pena, porque Deus tinha uma comunhão toda especial com a Sua  serva, fazendo-lhe Seu porta-voz, pois, em sendo Débora profetisa, não  havia segredos entre ela e Deus (Am.3:7).
- Débora distinguiu-se no meio daquele  povo pecador. Por ter decidido servir a Deus, apesar de todas as  circunstâncias adversas, mostrou ser uma pessoa diferente e, pouco a  pouco, o povo pôde perceber que ali estava uma mulher de Deus, uma  mulher onde habitava o Espírito Santo (numa época, aliás, em que o  Espírito estava sob medida, atuava limitadamente, não como hoje, em que  foi derramado). Não foi fácil obter este reconhecimento por parte do  povo de Israel. Além de se estar diante de um povo rebelde e pecador e  que, portanto, não tinha discernimento espiritual, Débora era uma mulher  e, como tal, alvo de todo o desprezo que a cultura hebraica devotava às  mulheres, ainda que, reconheçamos, eram os israelitas o povo que melhor  tratava a mulher na Antigüidade.
- Embora seja uma conseqüência do  pecado a desigualdade de tratamento que há entre homens e mulheres  (Gn.3:16), e até por causa disto, não pode o povo de Deus proceder com  atitudes discriminatórias em razão do gênero. Para Deus, não há acepção  de pessoas (Dt.10:17; II Cr.19:7; At.10:34), de modo que o Seu povo, que  segue o Seu exemplo (I Co.11:1), não pode fazer qualquer distinção  entre homens e mulheres, a não ser as diferenças próprias de cada sexo.  Não há superioridade entre o homem e a mulher, devendo ambos ser  tratados igualmente na Igreja, cada qual na sua função, conforme  determinado pelo Senhor.
- Entre os israelitas, como também na  Igreja, este tratamento imparcial e sem acepção encontra grande  resistência cultural. É sabido que, apesar de a Bíblia ser clara ao  dizer que tanto homem quanto mulher são imagem e semelhança de Deus  (Gn.5:1,2), até hoje há uma bênção judaica, proferida diariamente, em  que o judeu agradece a Deus por não ter nascido gentio, escravo nem  mulher. Tal bênção, que sempre causou grande dificuldade de explicação  entre os rabinos, não deixa de ser uma prova da resistência cultural,  dos resquícios da situação resultante do pecado.
- O texto sagrado demonstra que Débora  era “mulher profetisa”, ou seja, diante de Deus, não há acepção entre  homem e mulher no que respeita ao relacionamento com o Senhor. Débora  decidiu servir ao Senhor em meio a uma geração perversa e, com tal  intensidade, que se tornou porta-voz de Deus. Era, sim, u’a mulher, e o  texto bíblico não omite esta circunstância, mas a sua fidelidade a Deus  foi tanta que, apesar de todas as circunstâncias culturais adversas,  pôde não só ser reconhecida como profetisa, mas, também, passar a julgar  o povo.
- Na sua dedicação a Deus, Débora  passou a ter o discernimento espiritual necessário para julgar as causas  mais difíceis que havia no meio do povo e, por isso, acabou se impondo  como juíza em Israel. Não eram os homens que reconheciam esta ou aquela  pessoa como juiz, mas tudo era resultado de uma vida de comunhão com o  Senhor. Como vimos supra, era o Senhor quem levantava o juiz, pois era  Deus quem reinava sobre o povo, tanto que, quando o povo de Israel pediu  um rei, ato que pôs fim a este período, o próprio Deus disse ter sido  Ele o rejeitado e não, Samuel (o último juiz) (I Sm.8:7). O juiz  tornava-se notável, isto é, passível de ser notado como alguém que tinha  o Espírito de Deus, por causa de sua vida exemplar, de seu testemunho  (cfr. I Sm.3:19,20).
- Assim ocorreu com Débora, que passou  a ser considerada pelo povo como juíza em Israel por causa do seu  testemunho e de sua vida espiritual. No povo de Deus, devemos nos  sobressair por causa do nosso testemunho, de nosso atendimento ao  chamado do Senhor e não o contrário, ou seja, alguém se impor por causa  de seu parentesco, de seus relacionamentos de amizade para só depois  buscar a presença de Deus. Por causa disto há muitos escândalos e muitos  fracassos no meio do povo do Senhor, mas, sem olharmos para os valores  humanos, busquemos ter discernimento espiritual para vermos quem são os  “profetas”, quem são os chamados do Senhor para esta ou aquela tarefa no  meio do Seu povo, pois a Igreja é um povo guiado pelo Espírito Santo  (Jo.14:26; Rm.8:14).
- O fato de Débora ser chamada no  texto de “mulher profetisa” e, logo a seguir, ser dito que era “mulher  de Lapidote”, também nos revela algo muito importante: o fato de Débora  ser uma profetisa, ter sido elevada a juíza de Israel, não alterou a sua  posição na sociedade. Débora alçara uma posição que jamais uma mulher  havia obtido e que jamais viria a obter novamente na história de Israel  daquele período. No entanto, isto não modificou a sua qualidade de  “mulher” e de “mulher de Lapidote”. A igualdade diante de Deus não  significa igualitarismo, ou seja, a idéia de que “todos são iguais”,  muito divulgada em os nossos dias. Homem e mulher são iguais diante de  Deus, mas são diferentes, aliás, não há um ser humano igual a outro  sobre a face da Terra.
- Débora não havia deixado de ser  “mulher”, nem de ser a “mulher de Lapidote”, ou seja, mantinha sua  condição de mulher e, como tal, com deveres e funções diferentes da dos  homens e das de seu marido. Débora não era uma “feminista”, que defendia  que as mulheres são iguais aos homens e que não há qualquer diferença  entre os dois gêneros. Débora é um exemplo de que, diante de Deus, não  há acepção de pessoas, mas que cada um mantém a sua individualidade,  individualidade esta que deve ser respeitada e, mais, que homem e mulher  são diferentes, tendo atividades e funções peculiares a cada gênero.
- O texto sagrado diz que Débora foi  levantada como “mãe” em Israel. Ora, somente uma mulher poderia ser  “mãe”. Esta é mais uma demonstração de que a igualdade diante de Deus, o  tratamento imparcial que se deve dar a todo ser humano, sem  discriminação, não significa deixar de reconhecer as diferenças que  existem entre os gêneros e as funções distintas que só um gênero pode  exercer.
III – A BIOGRAFIA DE DÉBORA(II) – O CHAMADO PARA A BATALHA E O CÂNTICO DA VITÓRIA
- Tanto assim é que Débora, embora  fosse juíza em Israel, chamou a Baraque, filho de Abinoão, de Quedes de  Naftali, para que comandasse o povo de Israel na guerra contra Jabim.  Por que Deus mandou que Débora chamasse Baraque, se era ela a profetisa e  a juíza em Israel? Porque o comando militar não era adequado nem  apropriado para u’a mulher como Débora, já de certa idade e cuja  condição de mulher não lhe permitia dirigir uma guerra. Temos aqui,  portanto, uma clara demonstração que contesta tanto as “feministas” como  os “machistas”.
- Como é bom quando somos guiados por  Deus, o único ser que conhece a estrutura de cada um (Sl.103:14), o  único que conhece o coração de cada ser humano (I Sm.16:7; Jo.2:25).  Débora, por ser guiada pelo Espírito de Deus, pôde saber quem era o  homem mais valoroso, mais adequado para liderar a guerra contra Jabim,  cujo exército, diz-nos o texto sagrado, era extremamente bem equipado,  com carros de ferro, que o fazia praticamente imbatível naquele tempo.  Débora, vivendo nos montes de Efraim, não tinha, a não ser pelo Espírito  de Deus, saber que um homem de Quedes de Naftali seria o ideal para o  comando da peleja, mas Deus, que cuida do Seu povo e sabe as qualidades  de cada um, pôde fazer esta indicação.
- Débora não queria ir à batalha.  Sabia que não tinha condição nem preparo para liderar uma guerra. Por  isso, sabendo que esta era uma típica função masculina, guiada pelo  Espírito de Deus, chamou a Baraque, que foi tão somente o comandante do  exército de Israel e não juiz, como alguns israelitas “machistas”  insistem em afirmar ao escreverem a história sagrada.
- Débora convoca Baraque e diz que ele  deveria atrair gente de Naftali e de Zebulom, dez mil homens, no monte  Tabor, para a batalha contra as tropas de Sísera, a ser travada no  ribeiro de Quisom. Em primeiro lugar, devemos observar que se exigiu de  Baraque que “atraísse gente”, a sua própria gente, a gente da tribo de  Naftali, bem como a tribo vizinha de Zebulom. Deveria ser uma forte  atração, pois estes dez mil homens deveriam ser reunidos no monte Tabor,  “…uma colina de certa proeminência, localizada cerca de 16 km a  sudoeste do mar da Galiléia, no vale de Jezreel. Chega a 562m de  altitude, acima do nível do mar. Suas vertentes são muito inclinadas, e  em vários lugares da ascensão, divisam-se paisagens espetaculares.…”.
- Esperava-se de Baraque, portanto,  que tivesse grande “poder de atração” , pois deveria convencer cerca de  dez mil homens, num período de uma cruel opressão, com inimigos muito  bem armados, a subir um monte, cuja subida era difícil, aos olhos do  adversário, ou seja, que houvesse uma disposição firme para lutar, pois  só a reunião já seria considerado um ato de guerra por Jabim e Sísera  (cfr. Jz.4:12,13). Esta disposição firme era a coragem, não só de  Baraque, mas de todos os soldados que viessem a ele.
- É interessante observar que, para  demonstrar coragem, o povo deveria subir até o monte Tabor (que, pela  tradição, é apontado como tendo sido o monte da Transfiguração), ou  seja, mostrar-se a todos como pessoas dispostas a lutar contra o  inimigo. Temos tido este mesmo propósito em nossas vidas? Jesus disse  que somos a luz do mundo e não se pode esconder uma cidade edificada  sobre um monte (Mt.5:14). Neste mundo, devemos resplandecer como astros  no mundo num meio de uma geração corrompida e perversa (Fp.2:15).
- Exigia-se, pois, de Baraque e de  todos os que se juntassem a ele a mesma postura que Débora tinha tido  até ali. Por ser fiel a Deus e não ter se contaminado com o pecado dos  povos à sua volta, Débora tinha se tornado uma profetisa e juíza em  Israel e, agora, como o povo havia se arrependido dos seus pecados e  clamado a Deus, fazia-se necessário que, também, fossem eles corajosos o  suficiente para romper com o pecado e “subir o monte Tabor”, demonstrar  disposição firme de romper com o pecado, com o mundo, com o inimigo.
- Baraque estava disposto a fazê-lo,  mas disse que se Débora não fosse com ela, não iria (Jz.4:8). Aqui vemos  um outro motivo pelo qual Débora estava a julgar a Israel naquele  tempo. Não havia homem algum disposto a assumir, sozinho, o comando para  libertar Israel. Baraque fora escolhido por Deus como comandante porque  era o indivíduo mais corajoso, o mais valoroso de todos os homens de  Israel. Se ele não se mostrava a disposto a ir sozinho, sem a companhia  de Débora, temos que nenhum homem, naquele tempo, tinha tal disposição.  Todos os homens eram “frouxos” e, como nos ensina Salomão, “se te  mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena”  (Pv.24:10).
- A ascensão de Débora à posição de  juíza em Israel está relacionada com a “frouxidão”, a “fraqueza”, a  “vacilação” dos homens de seu tempo. O homem mais valoroso, que era  Baraque, era “fraco”, estava “vacilante”, não demonstrava “firmeza”,  mesmo tendo sido convocado pela profetisa, por alguém que tinha plena  comunhão com Deus. Como não havia homens dispostos a ser firmes na Sua  presença, Deus levantou u’a mulher para este papel.
OBS: A palavra hebraica utilizada em  Pv.24:10 é “raphah”, cujo significado é “relaxar”, “enfraquecer”,  “sucumbir”, ou seja, a idéia nitidamente é de enfraquecimento, de perda  de firmeza, de falta de coragem.
- Débora fora levantada como “mãe em  Israel” porque não havia homem algum disposto a ser corajoso, porque  faltavam homens firmes e Deus não Se prende ao homem e às suas  limitações para cumprir os Seus compromissos. Deus tinha um pacto com  Israel e, por isso, mister se fazia levantar um libertador para o povo.  Como não havia homem disposto, Deus levantou u’a mulher.
-  Originariamente, o homem foi posto  como cabeça da mulher (I Co.11:3), mas se ninguém se puser na brecha  (Ez.22:30), Deus levantará mulheres, pois a Sua obra tem de ser  realizada. Isto ocorreu não só na história de Israel, como na história  da Igreja, onde, por diversas vezes, o Senhor, ante a inoperância  masculina, levantou mulheres para exercer funções que, a princípio, eram  destinadas aos homens. Assim é que, por exemplo, o “movimento de  santidade”, base do avivamento pentecostal. teve como figuras  proeminentes as pessoas de Sarah Worrall Lankford , Phoebe Palmer  (1807-1874) e de Hannah Whitall Smith (1832-1911), sem falar na figura  importante de Frida Vingren (1891-1940), esposa do missionário Gunnar  Vingren e cuja atuação foi de extrema relevância na história das  Assembléias de Deus no Brasil.
- O compromisso de Deus é com o Seu  povo e a Sua Palavra e, para tanto, busca homens e mulheres dispostos a  fazer a Sua obra. Se os homens se mostrarem “frouxos”, o Senhor  levantará mulheres, ainda que em funções que, a princípio, seriam  destinadas aos homens. Débora é um exemplo e, por isso, foi ela para a  batalha, embora o comando estivesse com Baraque e, também por causa  disso, u’a mulher, Jael, foi a responsável pela morte de Sísera e, por  isso, a honra por esta vitória militar ficou com as mulheres e não com  os homens.
- Baraque deveria atrair gente para o  monte Tabor, mas a batalha se daria no ribeiro de Quisom, ao pé do monte  Carmelo, para onde o Senhor atrairia Sísera e seu exército (Jz.4:7).  Enquanto que, para demonstrar disposição para a luta, deveriam os  valentes se apresentar no monte, para a batalha, escolheu-se um vale.  Devemos nos mostrar como luzes do mundo, mostrar a todos que somos  servos do Senhor, mesmo num meio de uma geração perversa e corrompida,  mas, no dia-a-dia da luta contra o mal, nos embates, devemos descer no  vale, no ribeiro, para que só o nome do Senhor seja glorificado. O servo  do Senhor não deve querer aparecer, mas ter, em seu coração,  “É necessário que Ele cresça e que eu  diminua”(Jo.3:30). Baraque só venceu quando, juntamente com seus  soldados, desceu do monte (Jz.4:14).
- Ser corajoso, com se vê, é se manter  firme aos pés do Senhor, mostrar-se diante do inimigo, mas jamais  atacar ou lutar sem a devida direção divina. Baraque deveria lutar  somente após o Senhor ter atraído o inimigo até o ribeiro de Quisom.  Devemos, também, nas lutas de cada dia, somente atacar quando e onde o  Senhor nos mandar. Resistir ao diabo para que ele fuja de nós exige,  antes, que nos sujeitemos a Deus, que sigamos a Sua orientação (Tg.4:7).  Jesus, quando enfrentou o diabo, fê-lo porque estava conduzido pelo  Espírito Santo (Mt.4:1).
- A vitória de Baraque esteve  vinculada à obediência com relação ao momento e ao local indicados pelo  Senhor para a batalha. Baraque somente desceu do monte Tabor com seus  homens quando Débora lhe disse que era aquele o dia em que o Senhor  havia determinado a vitória sobre o inimigo (Jz.4:14). Devemos saber que  há um tempo determinado para todo propósito debaixo do céu (Ec.3:1) e  devemos estar em perfeita sintonia com o Senhor, para fazer a Sua  vontade. Por isso, devemos ter comunicação com Ele, comunicação esta que  somente se estabelece mediante a oração, o jejum e a meditação na  Bíblia Sagrada. Não é por outro motivo que o Senhor nos ensinou a orar  pedindo que a vontade de Deus seja feita na terra como no céu (Mt.6:10).
- Quando Baraque obedeceu ao Senhor e  desceu até o ribeiro de Quisom, tem-se que o Senhor agiu, pois, como bem  sabemos, embora tenhamos de estar preparados para a batalha, a vitória  vem do Senhor (Pv.21:31). A vitória militar era impossível aos olhos  humanos, diante da superioridade do exército de Sísera, mas, quando  Baraque desceu para o ribeiro de Quisom, este, inexplicavelmente,  inundou a região, fazendo com que os carros de Sísera se tornassem um  entrave e se criasse uma confusão que foi suficiente para que Baraque  pudesse ter vantagem sobre o inimigo (Jz.5:21,22).
- Deus tinha compromisso com o Seu  povo, tinha de libertá-lo, mas, para tanto, era preciso que o povo se  dispusesse a servi-lo, seja se arrependendo dos seus pecados, seja se  dispondo a ir para a batalha. Por isso, Débora, em seu cântico, que é um  dos mais antigos textos conhecidos em hebraico, afirma, em primeiro  lugar, que se deveria louvar a Deus porque os chefes haviam se posto à  frente e o povo se oferecido voluntariamente (Jz.5:2).
- Mas, como havia sido dito por  Débora, apesar da vitória cabal conseguida pelo exército de Baraque,  Sísera conseguiu fugir e acabou sendo morto por Jael, mulher de Heber,  que era queneu, ou seja, descendente do sogro de Moisés, Jetro, povo que  veio morar juntamente com os israelitas desde aquele tempo. A honra  pela vitória militar, portanto, ficou com uma mulher.
- No cântico em que Débora louva ao  Senhor pela vitória, cântico que, como toda obra do gênero no Antigo  Testamento, é, na verdade, uma mensagem inspirada pelo Espírito Santo,  Débora nos mostra que, enquanto Baraque atraíra os soldados das tribos  de Naftali e de Zebulom, a profetisa conseguira o apoio das tribos de  Efraim, Benjamim e da meia tribo de Manassés (Maquir, nome do filho de  Manassés) e Issacar.
- Entretanto, a meia de tribo de  Manassés, que ficava do outro lado do Jordão, Ruben, Dã e Aser não  ajudaram na peleja, preferiram manter-se sob a escravidão. A profetisa,  em nome do Senhor, censura este povo, que, lamentavelmente, tipifica  muitos que, na atualidade, preferem se manter sob o domínio do mal e do  pecado a se dispor voluntariamente a lutar contra o inimigo.
- Ruben ficou discutindo se ajudaria,  ou não, e, enquanto discutiam, a peleja ocorreu, sem que eles tivessem  ajudado. Ruben é o modelo dos indecisos, dos tímidos, daqueles que, por  terem receio no seu coração, mostram-se fracos. Estes, como afirma o  poeta sacro, não receberão o eterno galardão que o Senhor tem para dar,  pois os tímidos ficarão do lado de fora da cidade celestial (Ap.21:8).  Jesus repreendeu este tipo de gente, porque não têm fé (Mc.4:40) e, sem  fé, é impossível agradar a Deus (Hb.11:6).
- Dã, a meia tribo de Manassés e Aser,  por sua vez, em vez da indecisão de Ruben, preferiram desfrutar do que  ainda possuíam a se arriscar ante o poderoso inimigo. “Detiveram-se em  navios”, “assentaram-se nos portos do mar e ficaram nas suas ruínas”.  Estes tipificam aqueles que preferem as bolotas que se atiram aos  porcos, as ilusões deste mundo a tornarem a Deus e a se arrependerem dos  seus pecados. Encontram-se presos em suas concupiscências e, em virtude  disto, amam mais a glória dos homens do que a glória de Deus  (Jo.12:42,43). Não querem ser expulsos da sinagoga e, por causa disto,  não entrarão no céu. O verdadeiro e genuíno servo de Deus, porém, não  busca a glória dos homens (I Ts.2:6), seguindo mais este exemplo do  Senhor Jesus (Jo.5:41).
- Também foi alvo de censura pela  profetisa a cidade de Meroz, localizada na tribo de Naftali, próxima a  Quedes, cidade de Baraque, que, ao contrário dos demais naftalitas, não  compareceu para a batalha, demonstrando, assim como as demais tribos,  covardia e desatendimento ao chamado do Senhor (Jz.5:23). Meroz foi  acremente amaldiçoada, ou seja, duramente amaldiçoada. Esta maldição  mostra-nos como é grave e sério desatendermos ao chamado do Senhor,  desprezarmo-lO. Como diz o escritor aos hebreus, “…mas o justo viverá da  fé e, se ele recuar, a Minha alma não tem prazer nele” (Hb.10:38).  Temos atendido ao chamado do Senhor para a batalha contra o mal? Ou  temos preferido ver os outros lutar como o povo de Meroz?
- Débora, em seguida, no seu cântico,  abençoa Jael e as mulheres, pela disposição demonstrada na batalha, pela  forma como habilmente “rachou a cabeça” do inimigo, não dando a mínima  chance, a mínima brecha para que ele pudesse subsistir. A bênção foi  estendida também a todos os que amam o Senhor (Jz.5:31). Quem ama a  Deus? Aquele que faz o que Ele manda (Jo.15:14). Somos alcançados por  esta bênção divina feita pela boca de Débora?
- Neste cântico, Débora mostra que era  uma mulher de Deus, que o Espírito Santo nela repousava, que se tratava  de uma pessoa despertada para as coisas de Deus (Jz.5:12), que não  temia falar a verdade e que nem a vitória impedia de considerar as  falhas e os acertos de cada um. Era uma mulher com amplo discernimento  espiritual e responsabilidade e que sabia bem delinear as  responsabilidades de cada um. Por isso, tinha condições de julgar  Israel, pois agia com imparcialidade, retidão e justiça.
- Como é diferente o tempo em que  vivemos, onde os líderes nem sempre agem sem acepção de pessoas, com  retidão e justiça, onde o favoritismo, infelizmente, é uma tônica e um  modo de ação característico daqueles que estão à frente do povo de Deus.  Que possam eles aprender com Débora que, sem titubear, e sob a  inspiração do Espírito Santo, pôs tudo no seu devido lugar, enaltecendo  aqueles que, efetivamente, cumpriram os desígnios divinos e repreendendo  aqueles que não se conduziram bem na luta contra o inimigo. É esta a  função de quem está à frente do povo do Senhor, é esta a função de  apascentar as ovelhas: usar da vara e do cajado para que todos os santos  possam se aperfeiçoar e chegar à estatura de varão perfeito, à medida  de Cristo.
IV – DÉBORA – A “ABELHA” MÃE EM ISRAEL
- Neste ponto, aliás, vemos que o nome  de Débora, ou seja, “abelha”, tem muito a nos ensinar sobre a  personalidade desta mulher, sobre o que a Bíblia pouco fala. Como se  sabe, a abelha é uma das criaturas mais impressionantes sobre a face da  Terra, cuja organização social é uma lição que devemos aprender sempre.
- A abelha é enaltecida nas Escrituras  por causa de sua organização social. A abelha é um animal que vive em  sociedade, cuja sobrevivência é impossível de modo isolado. Elas vivem  em colônias, as “colméias”, que têm cerca de 80.000 abelhas, todas elas  guiadas por uma única rainha, que é a única abelha fêmea com capacidade  de reprodução. Não é possível mais de uma abelha rainha em uma colméia  e, se, porventura, nasce mais de uma ao mesmo tempo, elas lutam entre si  até que uma morra. A unidade é o elemento que as Escrituras mais  ressaltam nas abelhas (Dt.1:44; Sl.118:12).
- Esta unidade da colméia ensina-nos  muito, no sentido espiritual. Débora, a abelha que Deus levantou em  Israel, fez o povo compreender que deveria servir única e exclusivamente  ao Senhor. No povo de Deus, temos, assim, uma verdadeira “colméia”,  porque “há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em  uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só  batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e  em todos”(Ef.4:4-6).
- Débora demonstrou a importância da  unidade quando determinou a Baraque que atraísse as pessoas a si, a fim  de que houvesse sucesso na batalha, como também quando, em seu cântico,  censurou duramente a tribo de Ruben que, por estar dividida na  discussão, não pôde lutar contra o inimigo. O próprio Senhor Jesus  ensinou que “Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda  cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá” (Mt.12:25). O  apóstolo Tiago afirma que a situação espiritual da indecisão é  desastrosa (Tg.1:6-8).
- Mas, além da unidade, as abelhas  ensinam-nos a disposição para o trabalho. A quase totalidade da colméia é  formada das chamadas “abelhas operárias”, abelhas sem capacidade de  fecundação, que trabalham diuturnamente e cujo trabalho é indispensável  para a sobrevivência da colméia. Das 80.000 abelhas de uma colméia,  exceto a rainha e algumas centenas de zangões (abelhas macho, cuja  função é tão somente fecundar a abelha-rainha), as demais são  “operárias”, visitando cerca de 10 flores por minuto, num total de 40  vôos diários, numa vida que dura, em média, um mês e meio.
- As abelhas vivem para trabalhar e  este trabalho é a razão de sobrevivência da colméia. “…Com a língua, as  abelhas recolhem o néctar do fundo de cada flor e o guardam numa bolsa  localizada na garganta. Depois voltam à colméia e o néctar vai passando  de abelha em abelha. Desse modo, a água que ele contém se evapora, ele  engrossa e se transforma em mel.…” No seu  trabalho, a abelha retira o néctar das flores e produz o mel, mediante a  colaboração de cada abelha. Assim, também, a Igreja, em seu trabalho,  deve produzir não o mel, mas algo mais doce que o mel: a Palavra de Deus  (Sl.119:103). A Igreja tem a missão de pregar o Evangelho, levar a  Palavra de Deus ao mundo. Débora, no seu tempo, era a porta-voz de Deus  ao Seu povo. Temos sido “abelhas operárias” do Senhor?
- Outra nota sobre as abelhas diz  respeito ao sistema de defesa das abelhas. “…A abelha operária (ou  obreira), preocupada com sua própria sobrevivência e encarregada da  proteção da colméia como um todo, tem um ferrão na parte traseira para  ataque em situações de suposto perigo. Esse ferrão tem pequenas farpas, o  que impede que seja retirado com facilidade da pele humana. Quando uma  abelha se sente ameaçada, ela utiliza o ferrão no animal que estiver por  perto. Depois de dar a ferroada, ela tenta escapar e, por causa das  farpas, a parte posterior do abdômen onde se localiza o ferrão fica  presa na pele do animal e a abelha perde uma parte do intestino,  morrendo logo em seguida. Já ao picar insetos, a abelha muitas vezes  consegue retirar as farpas da vítima e ainda sobreviver.…”.
- Aqui também temos uma importante  lição. A abelha, se utilizar o ferrão contra algum animal que tenha  pele, morrerá por causa do uso do ferrão. Somente usa o ferrão quando  está ameaçada, mas, como o ferrão tem várias farpas, parte do seu  intestino sai com o ferrão e, por isso, ela acaba por morrer. De igual  maneira, o servo de Deus não deve “ferroar” “animais que têm pele”, ou  seja, não deve indispor-se, machucar o próximo, pois, se o fizer,  certamente morrerá, pois tirará de dentro de si (o intestino representa  aqui a parte interior do homem) o amor que foi derramado pelo Espírito  Santo em nossos corações quando de nosso novo nascimento. Sem amor, sem  ter como amar, não seremos mais filhos de Deus, teremos morrido  espiritualmente (I Jo.4:8-16).
- Débora não utilizou o ferrão contra o  próximo. Dedicava-se a Deus e clamava pelo povo que havia se desviado  espiritualmente e o Senhor lhe fez dar a chave para a libertação,  através de Baraque e da batalha de Quisom. Débora conclamou as tribos de  Israel a irem para a peleja, sem levar em conta que eram pecadores e  que se haviam desviado dos caminhos do Senhor. Débora amava o seu povo e  queria a sua libertação. O Senhor usou o Seu ferrão contra o inimigo,  através das águas de Quisom, tendo Baraque e seus soldados agido de  acordo com a orientação divina, o “ferrão contra os insetos”, que não  causa morte, visto que viver é seguir e observar os mandamentos do  Senhor (Lv.18:5; Mt.4:4).
- Mas, ainda em relação à abelha,  temos que “…a rainha é quase duas vezes maior do que as operárias e sua  única função do ponto de vista biológico, é a postura de ovos, já ela é a  única abelha feminina com capacidade de reprodução. A rainha nasce de  um ovo fecundado, e é criada numa célula especial, diferente dos  alvéolos hexagonais que formam os favos. Ela é criada numa cápsula  denominada realeira, na qual é alimentada pelas operárias com a geléia  real, produto riquíssimo em proteínas, vitaminas e hormônios sexuais. A  geléia real é o único e exclusivo alimento da abelha rainha, durante  toda sua vida. E a partir do nono dia, ela já esta preparada para  realizar o seu vôo nupcial, quando, então, será fecundada pelos  zangões(…). A rainha voa o mais que pode e é fecundada pelo macho que  conseguir ir ter com ela.…” .
- Débora era uma verdadeira  “abelha-rainha” no meio do povo de Israel.Voara mais alto que os demais.  Enquanto os homens e mulheres israelitas mergulhavam mo lamaçal do  pecado, Débora caminhava rumo ao alto, para ter mais intimidade com o  Senhor. Pensava nas coisas de cima (Cl.3:1,2), tanto que é identificada  como a “mulher profetisa”, antes mesmo de ser chamada de “mulher de  Lapidote”.
- O servo do Senhor deve ser alguém  que pensa nas coisas que são do céu. Não deve ter sua mente voltada para  as coisas desta vida, nem o seu tesouro pode estar situado nesta terra,  pois, se assim proceder, não poderá subir para o céu no dia do  arrebatamento da Igreja. Débora era assim, uma mulher que tinha  prioridade nas coisas do céu e, por causa disto, até, foi levantada como  juíza por Deus. Assim deve proceder o crente: buscar o reino de Deus e a  sua justiça, a fim de que tudo o mais seja acrescentado.
- Mas, além disso, temos que a  “abelha-rainha” é a única fêmea com capacidade de reprodução na colméia.  Somente ela dá origem a novas abelhas e ninguém mais. Isto nos fala que  somente o servo de Deus pode frutificar neste mundo estéril, pois só  ele tem a vida eterna. Devemos frutificar e nosso fruto deve ser  permanente.
- O servo do Senhor é um ser fecundo,  que produz o fruto do Espírito, que frutifica como determinado pelo seu  Criador (Gn.1:28), que tendo recebido a semente, por ser uma boa terra,  muito fruto produz para a glória de Deus (Mt.13:23; Jo.15:16). Débora  não só buscou a Deus, não só tinha mensagens para o povo, como também  foi importantíssima para que o povo tivesse a necessária disposição, a  coragem indispensável para enfrentar o inimigo e vencê-lo. Débora  conseguira, assim, obter para o povo um sossego de quarenta anos  (Jz.5:32). Temos conseguido trazer o repouso para os homens e mulheres  que estão à nossa volta? Temos conseguido levar a paz do Senhor para  aqueles que nos cercam, como nos manda o Senhor em Mt.10:12,13?
- A “abelha-rainha”, também, tem  apenas um tipo de alimento: a geléia real, que é produzida pelas abelhas  operárias. Isto nos lembra que o servo de Deus deve ter apenas um único  alimento: o cumprimento da Palavra de Deus, o pão que desceu do céu. “A  minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é  bebida”, disse o Senhor Jesus (Jo.6:55). Não falava o Senhor de Seu  corpo físico, nem tampouco apenas dos elementos da ceia do Senhor, mas,  sim, de fazer a vontade de Deus, de seguir a Sua Palavra, pois, como  dissera Jesus noutra oportunidade: “A minha comida é fazer a vontade  daquele que Me enviou e realizar a Sua obra”(Jo.4:34). Como o apóstolo  Paulo explanaria tempos depois: “…o Reino de Deus não é comida nem  bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”(Rm.14:17). Qual  tem sido o nosso alimento diário?
- Por fim, ainda falando em colméias,  lembremo-nos dos zangões, as abelhas macho, cuja única função era a de  fecundar a rainha. “…Os machos podem entrar em qualquer colméia ao  contrário das fêmeas. A única missão dos machos é fecundar a rainha.(…).  Depois de cumprirem essa missão, eles não são mais aceitos na colméia.  No fim do verão, ou quando existe pouco mel na colméia, as operárias  fecham a porta da colméia e deixam os machos morrerem ao frio e à  fome.…” (Abelha. end.cit.).
- Nos dias de Débora, parece mesmo que  os varões eram quase que só “zangões”, ante a sua frouxidão e falta de  disposição em servir a Deus e nEle buscar coragem. Os “zangões” não têm  colméia fixa, vivem de um lado para o outro, sem parada certa e nada  mais fazem senão fecundar a rainha. São despidos de defesa pessoal e  somente o mais hábil deles consegue voar a ponto de poder fecundar a  abelha-rainha. Depois que fecundam a rainha, perdem a sua função, são  banidos do grupo e, quando há falta de mel ou quando se encerra o verão,  não conseguem mais entrar na colméia.
- Os zangões falam-nos daqueles que  não têm firmeza espiritual, dos tímidos sobre os quais já dissertamos  supra. Triste é ser “zangão” no meio do povo de Deus. O “zangão” não tem  firmeza, vive de um lado para outro, servindo apenas para a  frutificação dos outros, mas não tendo qualquer vida espiritual própria.  Na dificuldade, morre, porque não tem raiz em si mesmo, porque não tem  vida abundante(Mt.13:20-22). Quando acabar o verão, ou seja, quando vier  o arrebatamento da Igreja, por causa de sua negligência espiritual, de  sua timidez, será mantido do lado de fora da cidade  celeste(Mt.25:3,8,10-12). Que não sejamos “zangões”, amados irmãos!
V – O QUE APRENDEMOS A FAZER COM DÉBORA
- Como temos feito em todas as lições,  investiguemos agora o que podemos aprender com Débora para aprimorarmos  o nosso caráter cristão.
- A principal virtude de Débora a  coragem. De bom alvitre, aliás, foi a associação desta virtude a u’a  mulher, para que não se confunda coragem com “valentia”, com “uso de  violência física”, como, infelizmente, costuma ser feito, mormente em  países latinos, como é o caso do Brasil.
- “Coragem” é uma atitude que vem do  interior, do âmago do ser humano, uma disposição de enfrentar as  oposições levantadas pelo inimigo, de demonstrar confiança em Deus e em  Suas promessas e, diante disto, fazer aquilo que é da vontade do Senhor,  mesmo que contrarie a razão, a lógica e a vontade própria. Coragem é,  segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “firmeza de espírito  para enfrentar situação emocionalmente ou moralmente difícil”.
- Ora, na vida de Débora, vemos esta  virtude bem delineada. Num instante de fracasso espiritual, em que o  povo estava há décadas vivendo no pecado, misturando-se com a idolatria  dos povos que viviam no meio dos israelitas, Débora resolveu dedicar-se a  Deus e a viver em santidade, a ponto de se tornar uma profetisa e,  depois, uma juíza em Israel, u’a mulher que se destacava numa sociedade  machista. Assim também, nós, que servimos a Deus no meio de uma geração  perversa e corrompida, devemos, também, brilhar como astros no mundo,  devemos refletir a glória do Senhor, sermos testemunhas de Jesus Cristo,  andando contra o curso deste mundo e, “de coração inteiro” (a palavra  “coragem” vem de “cor”, que, em latim, significa coração) servir ao  Senhor.
- Mas, com Débora, também aprendemos a  dar a prioridade às coisas de Deus. Débora é identificada como “mulher  profetisa”, ou seja, tinha em primeiro plano o seu relacionamento com  Deus. Comungava com o Senhor dos Seus segredos, tinha intimidade com  Deus, buscava, em primeiro lugar na sua vida, ter um papel determinado  por Deus na sociedade. “Buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça”  é o que deve fazer cada servo do Senhor, seguindo, assim, o exemplo  deixado por Débora.
- Mas Débora, apesar de pôr o seu  relacionamento com Deus em primeiro plano, de ter a busca do Senhor a  sua principal ocupação, também nos dá uma lição a respeito não nos  esquecermos de nossa posição diante da sociedade, de respeitarmos a  cultura do povo onde vivemos, naquilo, obviamente, que não contraria a  Palavra do Senhor. Débora era “mulher profetisa”, mas não deixava de  assumir a sua condição de “mulher” bem assim o seu papel de “mulher de  Lapidote”.
- Débora não negou a sua femininidade,  nem tampouco a sua condição de mulher de Lapidote, apesar de ser  profetisa e juíza de Israel. Embora soubesse que havia sido levantada  como “mãe em Israel”, Débora jamais negou a sua posição social, o que,  infelizmente, muitos não têm feito. Tanto assim é que, no momento de  libertar a Israel, chamou Baraque que, como homem, tinha condições de  comandar o exército na guerra, função que não era possível Débora  assumir e, mesmo quando Baraque pediu que Débora fosse com ele, não  assumiu para si o comando, como também não foi a mulher que obteve a  honra militar. Que lição para os nossos dias!
- Devemos dar prioridade à obra de  Deus, buscar primeiro o reino de Deus, mas não devemos nos descuidar dos  papéis que temos na sociedade, papéis estes, aliás, que nos foram dados  pelo próprio Senhor, que nos fez nascer em uma dada sociedade, bem como  ocupar esta ou aquela posição. Como “mulher” e como “mulher de  Lapidote”, Débora tinha responsabilidades que eram de indispensável  cumprimento, até porque, se Débora não se portasse devidamente como u’a  mulher e não tivesse um bom testemunho conjugal diante de Lapidote,  jamais poderia julgar a Israel ou ser profetisa.
- Muitos têm negligenciado, “por causa  da obra de Deus”, os seus papéis sociais, a começar pelos papéis  familiares e o resultado disto outro não é senão o fracasso de seu  ministério. Quem não consegue governar bem a sua casa, como poderá  governar a casa de Deus (I Tm.3:4,5). Entretanto, contam-se às centenas,  quiçá milhares, aqueles obreiros que têm feito perecer os seus  ministérios porque descuidaram de cuidar de seus lares. Aprendamos com  Débora: sejamos “profetisa”, mas não deixemos de ser “mulher” e “mulher  de Lapidote”.
-  Débora também ensina-nos muito a  respeito da imparcialidade. Sendo juíza, Débora não podia fazer acepção  de pessoas (Dt.16:19; II Cr.19:7). Efetivamente, Débora demonstrou ser  imparcial. Convocou Baraque e lhe mandou libertar o povo, mas, ante a  sua frouxidão, não deixou de lhe dizer que iria vencer, mas perderia a  honra da vitória para u’a mulher. Também, em seu cântico, não tratou a  todos igualmente, porque Israel fora liberto, mas, antes, louvou aqueles  que expuseram suas vidas em risco, os corajosos, censurando os que  haviam se acovardado, nominando-os sem qualquer favoritismo, tanto que  Meroz, cidade da tribo de Baraque, foi alvo de u’a maldição dura.
- Com Débora, também, aprendemos a  lição do discernimento espiritual. Débora tinha o Espírito Santo e tudo  discernia espiritualmente (I Co.2:11-16). Assim, em seu cântico, vemos  que louvou ao Senhor não por causa da vitória militar obtida, mas porque  o povo havia se oferecido voluntariamente, ou seja, por causa da  disposição firme de coração do povo em servir ao Senhor, disposição esta  que fora o ponto inicial da vitória exterior obtida. De igual modo, ao  censurar os que se negaram a ir à guerra, Débora aponta fatores  internos, espirituais. Temos este discernimento espiritual, ou nos  comportamos como verdadeiros homens naturais, julgando apenas segundo a  aparência?
- Débora, também, ensina-nos a lição  do companheirismo, do amor fraternal. Segundo vemos do relato bíblico,  Débora não se negou a acompanhar Baraque, ainda que fosse dele a tarefa  de comandar o exército e libertar o povo de Israel. Poderia ficar  debaixo da sua palmeira entre Ramá e Betel, nos montes de Efraim, já que  não era sua a tarefa, conforme a mensagem do Senhor, mas, ante o pedido  de Baraque, sentiu amor fraternal e fez companhia ao exército, embora  não tenha guerreado propriamente, vez que isto não era da sua alçada.  Mas o fato de ir até um campo de batalha, sendo u’a mulher de certa  idade, demonstra como ela era companheira e disposta a ajudar aqueles  que se encontravam necessitando de apoio moral. Temos sido companheiros  dos nossos irmãos? Temos nos ajudado uns aos outros?
VI – O QUE APRENDEMOS A NÃO FAZER COM DÉBORA
- O relato da vida de Débora é muito  sucinto, de modo que quase não podemos encontrar qualquer falha em sua  conduta. Entretanto, como bem sabemos, só uma pessoa não teve falhas em  toda a história sagrada: nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
- Ainda que entendamos que a situação  vivida por Israel era extremamente difícil nos dias da dominação de  Jabim, o fato é que a Bíblia nos fala que todo o povo tinha de subir até  os montes de Efraim, entre Ramá e Betel, para levar as causas para  serem julgadas por Débora, que habitava debaixo de suas palmeiras  (Jz.4:5).
- Débora, portanto, era uma pessoa  pouco acessível, que não ia ao encontro do povo, mas o povo é quem tinha  de subir até os montes de Efraim. “…a  região no centro-oeste da Palestina, que caiu por sorte a Efraim, é, em  sua maior parte, relativamente terreno montanhoso, com melhor  precipitação chuvosa que Judá, e com alguns bons solos.(…). Os  efraimitas tinham acesso direto, ainda que não muito fácil, até o grande  tronco de estradas norte-sul, que atravessa a planície ocidental…’  (Efraim).
- Débora, em vez de ir ao encontro dos  necessitados, preferia desfrutar dos bons solos de suas palmeiras,  enquanto o povo tinha de sofrer para ir ao seu encontro, entre as  montanhas de Efraim. Os juízes normalmente iam ao encontro do povo para  fazer seus julgamentos (cfr.I Sm.7:15-17), mas Débora preferia a  comodidade de suas palmeiras, instituindo uma inacessibilidade.
- Devemos ser acessíveis aos que  necessitam de nós, devemos “descer do pedestal”, da “comodidade da  palmeira”, da “cavalgadura das jumentas brancas” (Jz.5:10) para ir ao  encontro daqueles que tanto estão a precisar de nossos talentos, de  nossos dons espirituais e naturais. Jesus ia ao encontro dos publicanos,  pecadores e meretrizes (Mc.2:15,16), porque sabia que os doentes  precisam de médico (Mc.2:17) e que o médico deve ir ao seu encontro e  não o contrário.
- No entanto, nos dias em que vivemos,  mais e mais as pessoas habitam debaixo das palmeiras, no cume dos  montes de Efraim, atendendo apenas aqueles que, além de toda a  necessidade, conseguirem transpor os obstáculos do terreno  montanhoso.Não podemos ser inacessíveis, pois dependemos uns dos outros  para seguirmos nossa caminhada rumo ao céu, não somos melhores do que os  outros, pois, tanto os que estavam nos montes de Efraim, como os demais  se encontravam na mesma situação de opressão e sofrimento sob Jabim,  rei de Hazor. Por que, então, ser inacessível? Por que gerar uma  “burocracia eclesiástica”?
- Tamanho era o apego de Débora às  palmeiras entre Ramá e Betel, que Baraque, em sua frouxidão, condicionou  sua ida à guerra ao deslocamento de Débora para o monte Tabor e,  depois, para o ribeiro de Quisom. Débora acabou cedendo, resolveu fazer  companhia a Baraque, abandonando a inacessibilidade, o que foi  fundamental para o moral da tropa e para que se tivesse a vitória. Que  bom seria que os inacessíveis de hoje seguissem este gesto de Débora e  saíssem de seus “gabinetes refrigerados”, de suas “redomas de vidro”  (algumas até literais…) e fossem ao encontro dos necessitados, daqueles  que tanto precisam de ajuda e de apoio. A vitória seria, certamente,  como aconteceu com Israel, do povo de Deus. Neste sentido, aliás, o  início do cântico de Débora serve para ela própria, na medida em que,  como mulher profetisa e juíza em Israel, pôs-se à frente do povo para a  batalha.
- Outro contra-exemplo que Débora nos  dá está vinculada a esta sua inacessibilidade. Sendo u’a mulher  profetisa, Débora não poderia trazer a mensagem de Deus tão somente  àqueles que a procuravam. Fazia-se necessário que se falasse da justiça  do Senhor não só aos que conseguiam transpor os obstáculos dos montes de  Efraim, mas também aos demais, que também precisavam ouvir algo da  parte de Deus. Débora, porém, não tinha ido ao encontro do povo,  calava-se, assim, na maior parte do tempo de seu ministério.
- Não é por outro motivo que, em seu  cântico, Débora apresenta uma conclamação do Senhor a todos quantos se  assentavam em juízo: “Onde se ouve o estrondo dos flecheiros, entre os  lugares onde se tiram águas, ali falai das justiças do Senhor, das  justiças que fez às Suas aldeias em Israel; então, o povo do Senhor  descia às portas”(Jz.5:11).
- Ora, se em plena época dos juízes em  Israel, era dever de cada um não se calar, mas falar das justiças do  Senhor seja no lugar onde se encontravam os distribuidores de água,  local freqüentado pelas pessoas mais simples e humildes, locais onde se  aglomerava o maior número de pessoas, que diremos dos nossos dias, dias  da dispensação da graça, quando há uma expressa ordem de Cristo para  pregarmos o Evangelho para toda a criatura, Evangelho que é o “poder de  Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também  do grego, porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé”  (Rm.1:16,17a)?
- Débora não poderia ter se mantido  calada a maior parte do tempo, falando apenas àqueles que se dirigiam à  região das palmeiras. Era necessário que também tivesse descido aos  montes e anunciado, ao longo do caminho, bem como no lugar de  distribuição de água, a respeito das justiças do Senhor, justiças que  eram referentes a todas as aldeias de Israel, não apenas aos bons solos  entre Ramá e Betel. Não nos calemos, mas, antes, preguemos o Evangelho a  tempo e fora de tempo (II Tm.4:2), ainda mais quando sentimos que já se  aproxima o fim.
- Débora precisava se despertar  (Jz.5:12), assim como Baraque tinha de se levantar. Outro contra-exemplo  dado por Débora é o sono espiritual, a falta de iniciativa para dar  cabo da opressão. “Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os  mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef.5:14). Muitos se encontram  sonolentos na atualidade, entorpecidos pelas coisas desta vida, pela  comodidade e não conseguem sentir o clamor do povo por salvação e  libertação. Devemos nos levantar, devemos nos despertar e fazer a obra  do Senhor, enquanto é dia, porque a noite vem quando ninguém mais pode  trabalhar (Jo.9:4). Não temos outra coisa a fazer senão, como as abelhas  operárias, trabalhar para o engrandecimento de nossa “colméia”, ou  seja, do reino de Deus. Deixemos de lado a sombra das palmeiras, os bons  solos de Ramá e Betel e vamos às águas, onde muitos estão sedentos da  Palavra do Senhor. 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
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