Subscribe:

sábado, 18 de novembro de 2017

PURIFICA-ME Ó JESUS...


                                                        PURIFICA-ME Ó JESUS...
Se no Salmo 32 o adúltero e assassino quer livrar-se da culpa, no Salmo 51 ele quer livrar-se da mancha. Davi quer se desfazer do escândalo, então, por duas vezes, usa o verbo “apagar”: “Por tua grande compaixão, ‘apaga’ as minhas transgressões” (v. 1) e “‘Apaga’ todas as minhas iniquidades” (v. 9). Davi quer ficar limpo, então, por duas vezes, usa o verbo “lavar” e, em outras duas, “purificar”: “‘Lava-me’ de toda minha culpa e ‘purifica-me’ de meu pecado” (v. 2). E ainda: “‘Purifica-me’ com hissopo, e ficarei puro; ‘lava-me’, e mais branco que a neve serei” (v. 7).
 
A mancha era visível para o rei e para seus súditos. Por sua posição (a autoridade máxima de Israel), seu prestígio (todo mundo o aclamava), seu histórico (a começar com a vitória sobre Golias), sua veia musical (exímio tocador de harpa, cantor e compositor de salmos de louvor) e sua espiritualidade (expressa no Salmo 23), a queda de Davi não foi uma queda qualquer. Ele se enlameou por culpa de sua leviandade, seus olhos adúlteros, sua cobiça, seu imediatismo, seu adultério, sua hipocrisia e seu crime de morte. De fato foi um vexame, uma vergonha, um horror! Dadas essas circunstâncias, teria sido menos vergonhoso ficar de quatro, comer capim com os bois, deixar crescer os pelos e as unhas por sete anos, como aconteceu com outro rei (Dn 4.23). Porém, graças à confissão de seu pecado e à misericórdia de Deus, Davi saiu da sujeira e ela saiu dele!
 
A memória de Davi estava afiada quando ele compôs o Salmo 51. Ele se lembrou do arbusto aromático de um metro de altura, com cachos de flores amareladas, que crescia nas fendas das rochas e era cultivado nos muros das varandas, que se chama hissopo. Ele se lembrou, no momento certo, da décima praga, quando todos os primogênitos do Egito morreram e os de Israel sobreviveram, porque os israelitas molharam um feixe de hissopo no sangue de um cordeiro sem defeito morto naquele dia e besuntaram o alto e as laterais da porta de suas casas. Graças a essa providência, que prefigurava o sacrifício do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29), eles foram poupados e puderam sair do Egito (Êx 12.22). Ele se lembrou também do uso do hissopo nas cerimônias de purificação estabelecidas por Moisés (Lv 14.51-52). Daí a sua oração: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro” (Sl 51.7).
 
Muitos anos depois, João diria que “o sangue de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7).
O sereno que seca no calor do verão
O problema da culpa em Davi 
 
A mão de Deus é muito pesada por algumas horas. Quanto mais por nove meses seguidos! Durante esse longo período, o vigor de Davi foi se esgotando como “o sereno que seca no calor do verão”. O esforço para manter oculto por muito tempo o pecado é desgastante. Enquanto a providência é essa, não há alívio de espécie alguma. Davi mesmo explica: “O sofrimento continuou até que admiti minha culpa e não escondi mais o meu pecado”. Como consequência, “o Senhor perdoou a culpa do meu pecado” (Sl 32.5).
 
A remoção da culpa não se dá de qualquer maneira. Ela só acontece depois da confissão e esta só vem após a plena consciência do pecado. A confissão formal não resolve nada. Não pode haver trapaça, falsidade, hipocrisia, barganha ou desculpa na confissão. O confessante não pode dividir sua culpa com outros, mesmo que ele não tenha pecado sozinho. No momento da confissão, ele não pode acusar ninguém, não pode ver nem sequer o cisco que está no olho dos outros; antes, precisa se concentrar na tábua que está no seu próprio (Mt 7.3). Essa é a rota do perdão. A absolvição, a remoção da culpa é algo absolutamente certo. Depois de todo o processo, cuja velocidade depende da não resistência e da humildade do pecador, a ofensa é tirada, a culpa é cancelada, o débito é enterrado e o pecado é coberto. Antes era o pecador quem cobria seu próprio pecado, e a culpa persistia. Agora é o perdoador quem dá sumiço ao pecado, atirando-o “nas profundezas do mar” (Mq 7.19). Antes o entusiasmo de Davi pela vida era como um sereno secado pelo calor do sol. Depois da confissão, o pecado de Davi é como a neblina da manhã que o sol faz desaparecer (Is 44.22).
 
Livre da culpa deixada pelo adultério e pelo assassinato de Urias, Davi pode cantar: “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados” (Sl 32.1).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante


0 comentários :

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.