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domingo, 5 de abril de 2020

OUSADIA DO CRISTÃO


                                                                 OUSADIA DO CRISTÃO
Dt 31.6-23

A prática da ousadia é a arte de portar-se corajosamente diante das obrigações, oportunidades e desafios da vida cristã e do ministério decorrente da vocação celestial, em função do poder de Deus e dos recursos que ele coloca à disposição de todos que o cercam e de todos que o servem.
Não é pequeno o número de tímidos. Por causa da timidez, o homem não faz tudo que poderia fazer, não alcança todas as vitórias que poderia alcançar. Fica parado, sonhando sempre, desejando sempre, planejando sempre, tendo sempre as mesmas boas intenções. Com o preguiçoso acontece o mesmo. Mas o mal de muitos não é exatamente a preguiça, e sim o receio, o medo, o acanhamento, o acovardamento, a indecisão. Todavia, a timidez favorece a preguiça e a preguiça favorece a timidez.
A Bíblia trata a timidez com rigor. Entre os judeus, o soldado “medroso e de coração tímido” deveria voltar para casa: além de inapto, ele poderia contagiar os outros com a sua timidez (Dt 20.8). Jesus fez uma pergunta muito séria aos discípulos por ocasião da travessia do mar de Genezaré: “Por que sois assim tímidos?” (Mc 4.40). O medroso precisa descobrir as razões de sua timidez e livrar-se dela.
I. Ousadia não é escarcéu
Ousadia não é esbravejar, ameaçar, fazer barulho, bazofiar, prometer mundos e fundos, chamar a atenção, desafiar a adversidade e os adversários, subir acima das nuvens do céu. Ela não é outra coisa senão dar conta do recado com permanente disposição e com o prudente acompanhamento da modéstia cristã. O exercício da ousadia não prejudica o exercício da humildade, nem este prejudica aquele. Uma virtude não ofusca nem danifica a outra.

II. Coragem!
A ordem “Sê forte e corajoso” é muito insistente nas Escrituras. Foi dirigida ao povo de Israel em ocasiões de perigo e desafio, na época de Moisés (Dt 31.6), Josué (Js 10.25) e Ezequias (2Cr 32.7). Foi dirigida a Josué, o sucessor de Moisés, seguidas vezes (Dt 31.7, 23; Js 1.6, 7, 9, 18). Mais de quinhentos anos depois, Davi achou por bem repetir as mesmas palavras a Salomão, seu filho e herdeiro do trono (1Cr 22.13; 28.10). Jesus usava com frequência uma expressão semelhante (“Tem bom ânimo”), que a Bíblia na Linguagem de Hoje reduz em uma só palavra: “Coragem!” O Senhor deu esse conselho ao paralítico de Cafarnaum (Mt 9.2), à mulher hemorrágica (Mt 9.22), aos discípulos (Mt 14.27), ao cego de Jericó (Mc 10.49) e mais uma vez aos discípulos: “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). À tripulação e aos passageiros do navio seriamente ameaçado de naufrágio nas proximidades da ilha de Malta, no Mediterrâneo, Paulo aconselhou com insistência: “Senhores, tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus” (At 27.22, 25). O próprio Paulo, antes dessa viagem a Roma na qualidade de prisioneiro, ouviu a oportuna advertência de Jesus Cristo: “Coragem! pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma” (At 23.11).

III. Ousadia para quê?
Precisamos de ousadia para entrar com naturalidade na presença de Deus, no Santo dos Santos, como diz as Escrituras (Hb 10.19), certos de que o Senhor nos recebe e nos atende em Cristo. Precisamos de ousadia para sair da rotina e fazer proezas: “Em Deus faremos proezas” (Sl 60.12). A ousadia espiritual pode conduzir-nos à experiência de Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13).

Precisamos de ousadia para seguir os caminhos do Senhor, indo contra a opinião pública, contrariando o sistema, nadando contra “o curso deste mundo” (Ef 2.2), não nos conformando com este século (Rm 12.2). Esses alvos são profundamente difíceis e exigem séria e constante intrepidez. Vejamos a experiência de Josafá: “Tornou-se-lhe ousado o coração em seguir os caminhos do Senhor” (2Cr 17.6).
Precisamos de ousadia para confiar em Deus, ainda que andemos pelo vale da sombra da morte (Sl 23.4), “ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares” (Sl 46.2), e ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na videira (Hc 3.17-19). Apesar de maltratados e ultrajados em Filipos, Paulo e Silas tiveram ousada confiança em Deus para anunciar o evangelho aos tessalonicenses, “em meio de muita luta” (1Ts 2.2).
Precisamos de ousadia para tornar conhecido o evangelho do reino, para anunciar a Palavra de Deus, para ensinar, para falar, para pregar a um mundo incrédulo, corrompido, desinteressado, cego e zombador, como aconteceu com os apóstolos: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus” (At 4.31; 9.27, 28; 13.46; 14.3; 18.26; 19.8; e 28.30, 31). Só com muita ousadia é possível alargar, alongar e firmar bem as estacas, transbordando para a direita e para a esquerda, não importa sejamos fracos e poucos (Is 54.1-3).
Precisamos de ousadia para enfrentar o sofrimento, para não deixar de “seguir para Jerusalém”, para beber o cálice do sacrifício, para passar pela prova de escárnios e açoites, de algemas e prisões, de tortura e morte, e para, se necessário for, ser “serrados pelo meio” (Hb 11.35-38). Está registrado na Bíblia que, quando estava para ser morto, Jesus “manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém” (Lc 9.51).
IV. As bases da ousadia
Jesus

Por meio de Cristo Jesus, nosso Senhor, “temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele” (Ef 3.12). Porque Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus, porque ele é o supremo sacerdote, porque ele subiu aos céus e está à direita de Deus, porque ele é capaz de condoer-se das nossas fraquezas, porque ele é o Autor e Consumador da fé e porque ele, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz – somos tomados de grande ousadia para ir até o trono de Deus e lá permanecer “para recebermos a sua misericórdia e acharmos a sua graça para nos ajudar em nossos tempos de necessidade” (Hb 4.14-16; 12.1-3, BV).
2. A esperança
A esperança da glória vindoura nos faz andar altaneiramente (Hc 3.19), como filhos do Rei, como irmãos do próprio Jesus, como herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17). A esperança em si já é ousadia (Hb 3.6). Paulo explica: “Já que sabemos que esta nova glória nunca acabará, podemos pregar com grande ousadia” (2Co 3.12, BV).
3. A oração
Dificilmente alguém se levanta tímido depois de orar fervorosamente: “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (At 4.31). O apóstolo solicitava as orações da igreja em seu favor, para ele fazer conhecido o mistério do evangelho com intrepidez (Ef 6.19).
4. A comunhão com Deus
O sinédrio reconheceu que a convivência de Pedro e João com Jesus lhes dera intrepidez (At 4.13). Os que se demoram na presença do Senhor e nele permanecem têm possibilidades imensas (Jo 15.5). Adquirem, entre outras virtudes, a necessária coragem para enfrentar a oposição com sabedoria e vitória.
5. Os sucessos acumulados, a experiência obtida
Foi isso que o imberbe Davi explicou ao rei Saul: “O Senhor me livrou das garras do leão, e das do urso; ele me livrará da mão deste filisteu” (1Sm 17.37). Paulo lembra que “os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus” (1Tm 3.13).
6. O estímulo alheio
Veja-se a citação de Paulo: “A maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais assombro a palavra de Deus” (Fp 1.14). Assim como o soldado tímido gera timidez, o soldado corajoso gera bravura. A ousadia é tão contagiante quanto o medo.
V. Ousadia pecaminosa
Nem toda ousadia é virtude. Existe a ousadia pecaminosa. O ímpio também pode ser ousado. Paulo se queixa de alguns falsos irmãos “que fazem ousadas asseverações” (1Tm 1.7). O israelita que trouxe para dentro do arraial, “perante os olhos de Moisés e de toda a congregação”, a mulher midianita para se deitar com ela no interior da tenda (Nm 25.6-15), foi de uma ousadia enorme. Judas foi muito ousado ao censurar Maria por motivos interesseiros (Jo 12.4-6) e mais ainda ao procurar o sumo sacerdote para ver quanto receberia se lhe entregasse Jesus (Mt 26.14-16). Aquele que é naturalmente ousado precisa tomar cuidado com a sua ousadia. Ela pode ser uma bênção, se for usada corretamente, e uma tremenda desgraça, se for usada em função do pecado. Ao mandar buscar a mulher de Urias para se deitar com ela, Davi foi muito ousado (2Sm 11.3-4). Mas essa ousadia foi negativa e lhe trouxe seriíssimos problemas.
Nem toda ousadia é virtude. Existe a ousadia pecaminosa. O ímpio também pode ser ousado. Paulo se queixa de alguns falsos irmãos “que fazem ousadas asseverações” (1Tm 1.7). O israelita que trouxe para dentro do arraial, “perante os olhos de Moisés e de toda a congregação”, a mulher midianita para se deitar com ela no interior da tenda (Nm 25.6-15), foi de uma ousadia enorme. Judas foi muito ousado ao censurar Maria por motivos interesseiros (Jo 12.4-6) e mais ainda ao procurar o sumo sacerdote para ver quanto receberia se lhe entregasse Jesus (Mt 26.14-16). Aquele que é naturalmente ousado precisa tomar cuidado com a sua ousadia. Ela pode ser uma bênção, se for usada corretamente, e uma tremenda desgraça, se for usada em função do pecado. Ao mandar buscar a mulher de Urias para se deitar com ela, Davi foi muito ousado (2Sm 11.3-4). Mas essa ousadia foi negativa e lhe trouxe seriíssimos problemas..
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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