ESPÍRITO DE
PROSTITUIÇÃO...
"Jezabel leva a mulher a sentir um forte desejo por outra,
levando-se a pratica do lesbianismo. Mães e esposas dominadas pelo “espírito de
Jezabel” tendem a empurrar os filhos ao homossexualismo. Ela é um “espírito de
rebelião” que leva os filhos a rebeldia e as drogas. Mulher rebelde e
insubmissa ao seu marido contamina também aos filhos, levando-os a
rebelião."
O neo-pentecostalismo latino-americano, e o brasileiro em
particular, é um fenômeno sui-generis no mundo. Não há coisa parecida em lugar
algum e em nenhum momento da história. Dá muito caldo para sociólogos,
antropólogos, historiadores e outros cientistas sociais escreverem e abordarem
a religiosidade neo-pentecostal tupiniquim.
Uma das características marcantes deste nosso modelo
neo-pentecostal é a influência das "religiões de possessão", como a
classificam Bastide, Verger e seus pares. As religiões brasileiras da Umbanda e
do Candomblé são as grandes contribuintes das doutrinas neo-pentecostais da
Terra de Santa Cruz.
Existem personagens da mitologia Yorubá e Bantu estão presentes
nas cosmologias das crentes do "coque". Pomba-Giras, Exus,
Tranca-Ruas, Orixás, Caboclos e guias são parte integrantes das liturgias
afro-cristãs-brasileiras.
As "religiões de possessão" de Bastide e Verger, e por
que não incluir entre elas muitas igrejas neo-pentecostais, creem em
"espíritos" pessoais, entidades ligadas às forças da natureza e
influenciadoras de personalidades. Tanto na Umbanda, quem influencia a
bebedeira é a "Maria Mulambo" e quem faz alguém ser gay ou prostituta
é alguma "Pomba-Gira".
Para algumas igrejas destas, "o espírito de Jezabel" é
"espírito de prostituição e homossexualismo". Isso sem considerar que
no contexto hebreu, "espírito" (ruah) não é um ser personificado, mas
uma força impessoal. Quando se fala em "espírito" de alguma coisa no
contexto hebraico antigo, estamos falando de alguma "força",
"motivação", "ação" e nunca de um personagem animado.
Nos rituais de exorcismo em tais igrejas fala-se com
"Jezabel", o tal espírito causador da prostituição e
"homossexualismo" , à maneira brasileira, umbandista, e não à maneira
de entender dos hebreus do pré-exílio. Jezabel é a nova Pomba-Gira dos arraiais
neo-alguma-coisa.
Mas você deve estar se perguntando: "Por que o Gustavo tá
enrolando tanto pra falar desse assunto?". Bom vamos lá...
Não é novidade alguma que algumas igrejas neo-inclusivas creiam
na mesma cosmologia neo-pentecostal brasileira, afinal, são frutos dela. Mas há
de se considerar algumas coisas.
"homossexuais possuem o espírito de Jezabel, porque foram
excluídos da Igreja Cristã... Por isso são motivo de vergonha e promiscuidade
para suas famílias e para a sociedade..."
Eu não acreditei no que estava lendo... li novamente. Será possível
que alguma Igreja Inclusiva pode estar pregando este tipo de coisa? Não cri!
Mas, era a mais pura verdade. Na hora me veio uma enorme tristeza e uma
pergunta me foi feita: "será que a militância LGBT já leu este tipo de
coisa?", Não será por isso que nós, Igreja Inclusiva, somos tão
menosprezados pela militância LGBT como pessoas que não agregam valor à luta
contra as injustiças?
É vergonhoso! Lutamos tanto para dizer ao mundo que os gays não
são o esteriótipo do "promíscuo", "vadio" e
"prostituto"e o reforço do preconceito surge de dentro dos nosso
arraiais. Reforço, validação do preconceito, utilizando para isso a poluída e
sincrética doutrina neo-pentecostal.
O mito de Jezabel é muito válido para o crente de hoje, seja ele
gay ou heterossexual. Sua estória nos mostra os riscos da tentação e os
descaminhos de se dar mais valor aos valores "mundanos" (amor ao
dinheiro e paixões da carne) que aos altos valores dos céus. Mas jamais, nunca,
se observa nesta estória, a validação da demonologia pagã preconceituosa
pregada por certas igrejas.
A mensagem de que gays, lésbicas e transgêneros são perdidos e
promíscuos já é pregada pelos religiosos preconceituosos do status quo. Não se
espera que nenhuma entidade, dita inclusiva, reforce esta mensagem. A mensagem
de morte deste mundo sempre será pregada pelos religiosos, ansiosos por
"fechar o caminho para a salvação", uma vez que eles não entram
"e não deixam ninguém entrar" pelas portas do Reino. Mas não cabe, de
forma alguma, da parte de gays e lésbicas cristãos a perpetuação desta mensagem
de opressão.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante.
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