BLASFÊMIA CONTA O ESPÍRITO SANTO NÃO HÁ
PERDÃO...
“Na verdade eu vos
digo: tudo será perdoado aos filhos dos homens, os pecados e todas as
blasfêmias que tiverem proferido. Aquele, porém, que blasfemar contra o
Espírito Santo, jamais será perdoado: é culpado de pecado eterno. Isso porque
eles diziam: Ele está possuído por um espírito impuro”. (Marcos
3: 28 a 30).
A blasfêmia contra o Espírito Santo é um dos temas que mais preocupa os
cristãos atuais, principalmente os jovens, e muitos vivem angustiados e até
atormentados pela culpa e pelo medo de um dia terem cometido esse
"pecado". Devido a isso, considero de extrema importância fazer uma
completa abordagem sobre o assunto, focando em uma reflexão direcionada às
pessoas que se sentem culpadas e com medo, a fim de ajudá-las a se livrarem
desse trauma religioso sem fundamento. O texto ficou um pouco longo e alguns
trechos podem parecer repetitivos, mas foi proposital a fim de enfatizar alguns
pontos e falar de forma aberta e informal com quem realmente está precisando de
ajuda.
Há várias interpretações no meio cristão sobre o que seria
essa blasfêmia. Alguns afirmam que é o suicídio ou o adultério, enquanto
outros, dizem que é a rejeição da divindade de Cristo ou do Evangelho. Há ainda
quem diga que é a cauterização da consciência humana diante de uma vida
pecaminosa. Enfim, o único consenso é o reconhecimento de ser algo imperdoável,
como Jesus disse. Mas, para chegarmos a uma conclusão, devemos analisar o
contexto dessa passagem bíblica e devemos ter vários conceitos em mente. Vamos
por partes:
Mateus, Marcos e Lucas relatam de forma diferente o
acontecimento. Mateus diz que Jesus fez essa afirmação após curar um
endemoniado cego e mudo e os fariseus atribuírem esse milagre a Satanás (Belzebu);
Marcos não menciona a cura, apenas essa acusação feita pelos escribas (capítulo 11); Lucas fala da cura e da
blasfêmia separadamente (capítulo
12). De qualquer forma, tanto Mateus quanto Marcos, relata que Jesus
citou o pecado imperdoável após alguns religiosos hipócritas da época afirmar
que Cristo expulsava os demônios através do próprio demônio (Marcos 3:30).
A partir disso podemos fazer algumas observações:
1 - Esse "pecado sem perdão", se é que foi cometido,
ocorreu entre os escribas e fariseus (aqueles que conheciam profundamente as
escrituras e, teoricamente, a Deus) na presença de Jesus. Curar um endemoniado
cego e mudo era, na tradição judaica, visto como um sinal de que ali estava o
Messias. Portanto, diante desse sinal inegável, eles (os que mais conheciam
essas revelações) estavam não apenas rejeitando malevolamente o Cristo, mas
também atribuindo esse "sinal messiânico" ao demônio (Belzebu). Eles
não estavam fazendo por ignorância e sim, por maldade. Estavam "diabolizados"
a tal ponto de negar suas próprias convicções de fé (com um nível tão alto de
compreensão e na presença do próprio Deus encarnado) a fim de manterem-se com
suas tradições, benefícios e caprichos. Eles propositalmente tentavam
"derrubar Jesus" e acabar com Ele através dessas
acusações. Você, portanto, não se enquadra aqui, leitor, pois Jesus já
morreu, já ressuscitou e já "subiu ao céu" em um corpo glorificado.
Você não está na presença física dEle (está apenas em termos espirituais) e Ele
não está dando evidências messiânicas para que você possa fazer o mesmo que os
escribas e fariseus. Só por aqui já poderia dizer: "você não tem
como blasfemar contra o Espírito Santo!"
2 - Reparou que eu me
referi à blasfêmia dizendo "se é que foi cometido"? Pois
é. Digo isso pois, mesmo eles estando diante do Filho de Deus, em carne e osso,
mesmo conhecendo profundamente a Lei de Deus e mesmo tendo atribuído à satanás
aquele sinal milagroso do Espírito Santo que estava em Cristo, Jesus em momento
algum disse que eles blasfemaram ao ponto de não terem mais perdão. Jesus
afirma que "aqueles que cometerem tal pecado não tem
perdão". Aliás, acredito sinceramente que mesmo com toda a gravidade,
a injustiça e a maldade das acusações feitas, eles não tenham chegado ao ponto
de cometer esse "pecado imperdoável". Deus conhece o coração do homem
e sabe até onde ele pode chegar. Nosso Pai sabia que Jesus seria duramente
condenado, injustiçado e acusado e mesmo assim, o seu amor é tão grande, que
todos tiveram (e tem) a oportunidade de tomar consciência e posse do perdão que
Ele nos concede, até mesmo aqueles que o crucificaram. Penso eu que, caso essa
acusação fosse a famosa "blasfêmia contra o Espírito Santo", Jesus os
teria alertado antes dela ocorrer, dando mais uma oportunidade a esses
indivíduos maus de não cometerem este erro, afinal, a escritura diz que a
vontade de Deus é que ninguém se perca (II Pedro 3:9). Podemos dizer que foi um alerta de Jesus para eles
e para outros que porventura estivessem com o mesmo pensamento, a fim de
mostrá-los que estavam entrando num caminho de morte, de condenação. Era um
último aviso, pois estavam se "diabolizando", negando por maldade
extrema o que dentro deles era convicção. Estavam buscando um afastamento de
Deus e isso é condenação da alma. Mas novamente digo: se você está preocupado
ou se assume dentro de si que jamais desejaria esse afastamento de Deus, é mais
uma evidência que você não blasfemou, não importando o que tenha feito ou dito.
O amor e a
graça de Deus são tão grandes que para o homem não receber perdão é uma tarefa
humanamente impossível. Podemos quase dizer que, em vida, não existe
"pecado imperdoável". Paulo diz em Romanos 5:8-10:
"Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso
favor quando ainda éramos pecadores. Como agora fomos justificados
por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por meio
dele! Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados
com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo
sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!"
Repare que nossa reconciliação com Deus precede
qualquer ação humana. Não depende de nós; depende da Cruz! Por isso é Graça
(favor imerecido). Não é porque você acha que fez algo abominável que será
rejeitado por Deus. Você nunca merecerá a salvação e a reconciliação com o Pai,
por mais "bonzinho" que seja nesse mundo. Se você foi reconciliado e
salvo, acredite: não foi por méritos seus e sim, por méritos de Jesus. Sendo
assim, pare de pensar que você é quem determina sua salvação. Descanse no que
foi feito em Cristo. Somos chamados à fé (crer no que já foi feito e
consumado), ao arrependimento (que significa "mudança de mente" e
"expansão de consciência"), a fim de usufruirmos a salvação nos dada
por Graça.
Em I João 1:7 lemos:
"Se, porém, andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns
com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de TODO pecado."
Então porque você acha que algo que você fez é exceção a
esse "TODO pecado"? O admirável apóstolo Paulo (que, embora tenha
sido o principal apóstolo em termos de divulgação e de aprofundamento
teológico na Palavra de Deus, era um ser humano que também sofria, que
errava e que era tão pecador quanto você) disse que Cristo veio salvar os
pecadores, entre os quais ele era o pior! (I Timóteo 1:15). O pecado seu é pior que o meu, que o de Paulo ou
que o de qualquer outra pessoa? Claro que não! Somos todos iguais, afastados de
Deus pelo pecado, porém reconciliados em Cristo. Mas você às vezes se acha
menos digno do que um estuprador ou um assassino. O que lhe atormenta é apenas
fruto de não compreensão da Palavra de Deus e fruto de um trauma religioso.
Alguém lhe passou um conceito equivocado sobre Deus, sobre pecado e sobre
salvação e agora você fica nessa situação. Não é fácil quebrar paradigmas e
desconstruir conceitos já assimilados, mas vamos com calma.
Pergunto a você, leitor, que está angustiado por ter feito
algo que considera abominável aos olhos de Deus: essa angústia toda que possui,
caso fosse colocá-la em um pacote, você a colocaria em um pacote chamado
"céu" ou em um pacote chamado "inferno"? Imagino que sua
resposta será "inferno", pois viver assim, se é que podemos chamar de
vida, realmente é um inferno. E Deus não apenas nos tira do inferno, mas também
tira o inferno de nós. Precisamos crer nisso e vivermos pacificados.
Imagine a pior pessoa que já passou pela Terra. Não sei em quem
você pensou, mas vou dar um exemplo de homem que dizia "conhecer a
Deus" e que era um "diabo" em vida: Hitler! Vou lhe dizer uma
coisa com total sinceridade e convicção: Se viesse um anjo do céu me dizendo
que Hitler blasfemou contra o Espírito Santo eu diria a ele: "Tem
certeza? Pois inicialmente não consigo acreditar em você!". (Estranhou
por quê? Paulo também falava que se viesse um anjo do céu anunciando uma
mensagem diferente do Evangelho, era para rejeitá-lo! - Gálatas 1:8). Mas por que digo com
tanta certeza? Pois cada vez que assumimos uma blasfêmia contra o Espírito
Santo praticada por alguém, limitamos o poder e o amor de Cristo na Cruz. Jesus
se entregou pelo homem justamente por Ele ser mau, depravado, caído, desligado
de Deus (pecador). Ele fez o que ninguém poderia imaginar: perdoou o homem,
reconciliando-o consigo. Do Hitler a mim e a você. Todos tivemos nossos pecados
perdoados na Cruz (e antes que alguém me chame de "universalista",
adianto que rejeito esse rótulo. Não estou dizendo "onde" e
"como" Hitler passará a eternidade, pois jamais poderia fazer esse
tipo de julgamento. Apenas creio que todo homem foi reconciliado na Cruz,
embora eu não creia em universalismo, pois o conceito de salvação vai muito
além disso, mas não cabe discutir aqui). E veja bem: Pecado não é meramente uma
atitude imoral que eu pratico. Pecado é o que eu sou. É minha tendência a fazer
o mau, é minha inclinação para longe de Deus. E é esse pecado que somos que foi
resolvido na Cruz. O que chamamos de "pecados" (atos imorais) são
apenas consequências dessa nossa natureza. Enquanto estamos neste mundo, neste
corpo corruptível, estamos sujeitos aos reflexos dessa nossa natureza
pecaminosa. Porém, ao mesmo tempo, estamos reconciliados com Deus em Cristo,
sendo portanto contados como justos perante Ele. Agora quando dizemos que uma
atitude de alguém chegou ao ponto de nem o sangue de Cristo (perdão de Deus)
ser capaz de cobrir, estamos limitando o poder da Cruz. É como se a capacidade do
homem pecar fosse maior que a capacidade divina de perdoar. Que
"deus" pequeno é esse que não supera nem um mísero homem? O Criador é
mais fraco que a criatura?
Quem vive nessa angústia geralmente alega que sente dentro
de si uma batalha, como se parte dessa pessoa quisesse o bem (algo dizendo para
fazer o que é correto) e parte quisesse o mal (algo dizendo para fazer algo
ruim). Esse conflito é humano e todos vivemos em maior ou menor intensidade.
Temos uma natureza má, pecaminosa e ao mesmo tempo, o poder da ressurreição de
Cristo atua em nós, agindo em nosso ser, pelo Espírito Santo.
O apóstolo Paulo falou sobre esse conflito interno que
todos sentimos: Nos primeiros capítulos da carta aos romanos é esse o tema. Ele
fala que todo homem é pecador, afastado de Deus, mas que algo dentro dele age
de forma contrária a isso. Ele chega a dizer: "o bem que desejo,
não pratico; o mau que não desejo, esse eu faço" (Romanos 7:18,19). Todos somos assim.
Quantas vezes fazemos algo e depois pensamos: "Eu não deveria ter
feito ou dito isso". Mas isso complica quando não lidamos bem com essa
situação e ficamos culpados e amedrontados. Acredite: você tem uma natureza má,
mas ao mesmo tempo o Espírito de Deus habita em você, indicando a você o
Caminho que conduz à vida. Fique pacificado, sabendo que não importa o que faça
Ele não abandona você. E sabendo disso, procurará viver conforme o amor dEle,
com consciência, em amor, amando você mesmo, amando seu próximo e amando a
Deus. Esses atos tolos que considera blasfemos afetam apenas você, pois lhe
deixam culpado, angustiado e com medo. Mas Deus continua sendo o Deus que ama
você incondicionalmente.
Se algo lhe incomoda e lhe mostra a necessidade de mudar de
mente (arrepender-se), é o Espírito Santo fazendo isso, pois Ele habita em você
(mais uma prova que você não blasfemou contra Ele, pois blasfemar implicaria em
um afastamento total e definitivo de Deus). Se você xingar Deus ou o Espírito
Santo com vários palavrões, não irá cometer essa blasfêmia imperdoável. Será
apenas um ato ingênuo e de pura tolice de sua parte, pois não tem o mínimo
sentido. Se você virar ateu, se negar Deus e fazer todo tipo de ofensa a Ele, é
a mesma coisa. Pura tolice e ingenuidade.
Sabia que um dos maiores teólogos de todos os tempos, C.S.
Lewis, por muito tempo foi ateu? Ele negava veementemente Deus e do meio de sua
vida em diante transformou-se em uma das maiores mentes em relação à defesa da
fé cristã. Se negar Deus (ateísmo) fosse blasfemar, Ele nunca teria "se
convertido". Blasfemar contra o Espírito Santo é desligar-se completamente
e definitivamente dEle e não me pergunte como isso é possível, pois eu diria
que é humanamente impossível. Esse é um dos mistérios de Deus que jamais
saberemos nessa vida, mas fato é que você deve ser sincero consigo mesmo: você
acha que Jesus Se entregaria na Cruz para reconciliar o homem com Deus, o
perdoaria, o salvaria e deixaria você de fora apenas por ter pensado, dito ou
feito algo contra Ele? A escritura é clara ao dizer que o Cordeiro de Deus
(Jesus) foi imolado antes da fundação do mundo e você acha que é capaz de aqui,
na história, fazer algo que invalide algo que é eterno? Todos os homens falam
e/ou fazem algo contra Deus todos os dias. Jesus disse em Mateus 25 (parte final) que
quando vemos um necessitado e não ajudamos, estamos ignorando e não ajudando o
próprio Deus, pois servir a Deus é servir ao nosso próximo. Se fosse para
colocar em uma escala de gravidade, muito pior seria ter condições e, em vez de
ajudar, passar reto por um morador de rua, fingindo que não o viu, do que
xingar Deus de todo tipo de "palavrão" ou de dizer que Ele não
existe.
Talvez alguém pergunte: então o que determina a blasfêmia é
a consciência ao negar Deus? Não! Não é simples assim. Por exemplo, em relação
ao ateísmo: será que os ateus negam Deus sem consciência? Claro que não! Eles
negam com convicção e já dei o exemplo de C.S Lewis. Ele negou totalmente
consciente e depois de sua conversão, fez o inverso: defendeu sua fé em Deus
totalmente consciente também. Não é meramente a consciência que determinaria
essa blasfêmia e sim, uma escolha consciente, convicta, maldosa na direção não
de negação de Deus, mas de, mesmo O reconhecendo, querer profundamente se
afastar dEle. O indivíduo dentro de si "resiste" ao Espírito Santo
(que por ser amor, não obriga, não oprime, embora "persiga de forma
amorosa para se revelar". Sei que alguns discordarão desse ponto por
divergirem teologicamente, mas não irei me ater a isso). É como se Deus
insistisse com ele para parar com essa maldade extrema e tola de viver fora de
Deus e essa pessoa cravasse: "suma daqui, Deus, não quero você.
Sei que você é real, mas eu sou o meu Deus, quero inferno, quero morte, não
quero nada divino". Diferentemente de um ateu, que quando ateu
mesmo, aposta com sinceridade na "inexistência de Deus" esse ser é
como se quisesse extirpar Deus de si, a fim de satisfazer seu Ego ou seus
interesses sombrios. É algo, pra falar a verdade, que sequer cabe em minha
mente, pois não acredito que nem Hitler (uso ele como exemplo por ser um
estereótipo de maldade histórica) tenha sido tão "diabo" assim pra
chegar a esse ponto. Mas não cabe a mim afirmar categoricamente, pois somente
Deus sonda o interior de cada um.
Você, leitor, é apenas uma pessoa sincera em busca de uma
compreensão, lutando contra um trauma, uma culpa e um medo de algo que foi
colocado em sua mente como sendo essa blasfêmia. Como disse, se eu, nem em um
momento de maior raiva, conseguiria condenar você por falar coisas pesadas a
Deus, você acha que o Deus que é amor faria isso? Jesus disse que veio salvar o
homem e não, condenar. Ele veio salvar pessoas como eu e como você, pecadoras e
angustiadas. Ele veio para que tenhamos vida em abundância, paz, alegria e
liberdade. Essa culpa e medo seus são frutos de distorções religiosas e não, do
Evangelho. Conforme você se aprofundar nessa consciência da Palavra de Deus,
isso irá perder espaço. Daqui a algum tempo você lembrará dessa angústia toda,
irá sorrir e pensar: "não acredito que eu me preocupava com algo
tão pequeno diante do meu Deus".
De qualquer forma Jesus Se entregou na Cruz não apenas para
perdoar esses "pecados" (atos imorais) nossos; Jesus Se entregou para
perdoar o pecado que nós somos, perdoar a nossa inclinação para o mal, como já
disse anteriormente. Volto a repetir: essas atitudes pecaminosas (imorais,
tolas, ingênuas) são apenas sintomas de uma doença que afeta a todos: o pecado.
As nossas atitudes portanto, não determinam nossa relação com Deus, mesmo as
piores delas. Nossa relação com Deus depende da Cruz, que resolveu
definitivamente o problema do pecado, ou seja, do nosso afastamento de Deus. Eu
procuro viver como Jesus ensinou e a fazer o bem não para ir para o céu ou por
medo da condenação de Deus. Enquanto houver medo de Deus é sinal que não
conhecemos Deus. Ele é amor, de forma que todos os atributos dEle estão
condicionados ao amor. Jesus veio, como Ele mesmo disse, não para condenar, mas
para salvar. E o Evangelho é justamente isso: o anúncio que apesar de eu ser
pecador, imperfeito, falho, Ele me amou, me perdoou, me reconciliou, me salvou.
Não importa o que eu faça, estou reconciliado. E por ter sido tão amado, de
forma incondicional, sem merecer (isso é Graça) eu vou viver de forma grata e
coerente com isso, que é amando a Deus, a mim mesmo, o meu próximo e fazendo o
bem como posso. Jamais serei movido por medo do inferno ou por interesse pelo
"paraíso". Jesus veio para nos salvar e "salvar" não
significa "ir para o céu" e sim, ser perdoado, abraçado por Deus e
ser transformado a cada dia à imagem de Jesus, sendo que essa transformação
será plena e perfeita na eternidade, onde estaremos com Ele. Não há motivo
algum para medo. Eu aceito esse sacrifício por fé, sou levado ao arrependimento
e vivo pacificado.
Acredite, na minha adolescência passei por períodos de medo
e de culpa também (muitos passam, mas poucos assumem), por achar que blasfemar
era xingar Deus. E todos já ouviram falar que o homem tem tendência a fazer ou
desejar o que é proibido, certo? Ou seja: quanto mais proibições existem, mais
pulsões dentro de nós surgem para transgredir essas restrições. Isso é natural
do ser humano. Se eu disser: "não pense em um cavalo branco".
A primeira coisa que você pensou foi em um cavalo branco, com certeza. Se uma
mãe diz à criança: "não coloque o dedo aqui na tomada". A
criança curiosa virá colocar quando ela virar as costas... Então, sem desejar,
eu xingava mentalmente Deus de algum palavrão (mesmo eu não falando palavrão na
vida real. Nunca gostei disso) e então ficava tentando pensar em outras coisas
para desviar o pensamento e parar com isso. Em seguida vinha uma culpa, um medo
enorme de ter blasfemado, pois eu era batizado, tinha atividades na denominação
religiosa que eu frequentava, eu amava a Deus e tudo o que eu não queria era
ser rejeitado por Ele. Mas à medida em que fui compreendendo a Palavra de Deus
e a grandeza dEle, percebi o quão tolo eu era e isso foi desaparecendo. Nunca
mais teve lugar em mim esse tipo de angústia ou de desejo infantil de falar
coisas que não desejo a Deus. Até porque, eu entendi que se um dia eu pensasse
isso, seria mero conflito psicológico meu, mas meu perdão estava garantido na
Cruz.
Talvez você ainda esteja com dúvida: "Será que
Deus me perdoa mesmo"? Claro que Deus perdoa você (na verdade Ele
já perdoou na Cruz não meramente o pecado que você comete, mas principalmente o
pecado que você é)! Quando aos atos, ele perdoou os do seu passado, os que está
cometendo agora e até aqueles que você ainda cometerá durante a vida. Creia!
Você está perdoado! O problema não é entre você e Deus (isso foi resolvido em
Cristo) e sim, entre você e você mesmo! Deus lhe perdoou, agora creia, confesse
a Ele (e a seus irmãos quando necessário e possível), arrependa-se e tome posse
desse perdão já lhe oferecido por Graça. O Evangelho é justamente esse anúncio!
Por isso é BOA NOTÍCIA! Não depende de você, pois é GRAÇA! Se Deus em algum
momento foi "tirano", isso ocorreu justamente nesse momento de derramar
Seu amor pela criação. Está perdoado e nada pode mudar isso. Não depende de
você. O que depende de você é sua experiência diante disso. Se acha, por
exemplo, que por ter sido reconciliado e perdoado você pode viver na
"gandaia" é um sinal que não entendeu absolutamente nada do que
Cristo fez por você. É um atestado de falta de fé, de falta de compreensão, de
falta de amor e de falta de arrependimento. Mas esse já é assunto para outro
momento.
Enquanto tiver em sua mente culpa e medo, terá essas
"recaídas" (não importa se o seu problema seja com atos ou com
pensamentos). Quando você confiar genuinamente (não é "da boca para
fora"), aceitar que está perdoado incondicionalmente e entender que essas
coisas todas não passam de ingenuidade e imaturidade sua, isso vai desaparecer.
Digo isso por experiência própria. Isso nunca mais me atormentou e nesse exato
momento em que escrevo este texto, pensarei algo ruim em relação a Deus de
propósito (para reforçar a você que blasfêmia não é nada disso). Pronto,
pensei. Sabe o que vai acontecer? Nada! Pois esse "deus" melindroso,
que fica magoado com essas bobeiras de mentes humanas fragilizadas e que por
isso resolve castigar, não existe. É um "deus" que criamos em nossa
cabeça. E se existisse, seria um diabo e não, Deus! Ele sonda meu coração e
sabe que a minha essência reconhece Ele como senhor absoluto, eterno e soberano
sobre minha vida; o que eu faço contra a minha essência que foi e que continua
sendo trabalhada pelo Espírito Santo são frutos da minha insignificância e incapacidade
de fazer sequer apenas o que eu realmente desejo. Sou falho, pecador e foi por
um serzinho como eu que Ele decidiu, por amor, se doar. Sou eternamente grato e
sou diariamente constrangido em amor a viver o mais próximo que posso da
vontade de Deus. Não por medo de condenação e nem por interesse de salvação.
Procuro seguir a Cristo por consciência, por amor e por gratidão. Isso é que é
a base dos ensinos de Jesus.
Quando alguém me procura desesperado com medo de ter
blasfemado contra o Espírito Santo e, com isso, enfrentar o "tormento
eterno" no inferno, a reposta é clara, com todo amor e temor: você não
"vai para o inferno" por causa disso, amigo (a). Se sua preocupação é
essa e vive angustiado pois deseja estar com Deus, fique em paz. Você, embora
diga que é cristão, ainda não entendeu o significado da Cruz. Na eternidade
você estará nos braços do Pai e eu estarei lá com você. E se eu lhe conhecer
"lá" (não importa "onde" seja o Paraíso, pois onde Deus
reina, aí é Paraíso), direi: "não lhe falei, amigo (a)?" Agora
pense: Se eu que sou mau e pecador perdoaria você mesmo que esses atos ruins,
xingamentos ou pensamentos fossem direcionados a mim, quanto mais Deus que tem
um amor além de nossa compreensão... Acha que ele condenará uma pessoa como você,
que está sofrendo de angústia por sincera culpa de ter feito algo que O
desagrada?
Essa ideia de que temos que "ser bonzinhos para ir
para o céu" e de que "se pecarmos iremos queimar o inferno" é
uma forma de manipulação religiosa dos fiéis, a fim de mantê-los sob controle.
Afinal, quem iria arriscar a dizer: "seja sim uma pessoa boa, fuja
do mal, das imoralidades ("pecados"), mas não para fugir do inferno e
sim, por gratidão por ter sido reconciliado com Cristo"? É arriscado,
né? E se o povo resolver "mergulhar no pecado" e "cair na
gandaia"? E era justamente esse o ensino de Paulo (que não depende de nós
para alcançarmos o perdão e a reconciliação) e muitas pessoas o acusavam de
dizer que "a pessoa poderia pecar à vontade então, já que não faz
diferença". E ele desmente isso falando aos romanos e aos
gálatas. Quem foi alcançado pelo Espírito Santo jamais terá prazer em uma vida
corrompida, pois os frutos do Espírito brotam naturalmente nele. O Espírito
Santo gera arrependimento nesse indivíduo, de forma que é ilógico cogitar essa
possibilidade de "então farei o que eu quiser da minha vida".
É o que Paulo disse: "Tudo me é lícito, mas nem tudo me
convém".
Os meus "pecados" (imoralidades) me afetam e me
causam dano, pois sou humano e sujeito às consequências deles e também
prejudicam meu próximo. Jesus ensina que a vontade de Deus é que amemos a Deus
e o próximo como a nós mesmos. Ou seja, se amamos a Deus, desejaremos andar o
mais próximo dEle, fazer o que Ele deseja que façamos. Não que dependamos disso
para que Ele nos ame e sim, que não desejaremos viver contra Ele sabendo do
quanto Ele nos ama. É como uma mãe (embora Deus ame infinitamente mais) que ama
o filho bandido e ama o filho trabalhador e carinhoso. Ela ama ambos, pois é
mãe. Cabe ao filho retribuir esse amor, não como condição para ser amado, mas
por gratidão, por reconhecimento e por amor a ela. Lembra da parábola do filho
pródigo? O pai nunca deixou de amar o filho rebelde. Quando ele "caiu em
si" e retornou, antes mesmo dele dizer qualquer coisa, o Pai correu até o
rapaz, o abraçou, ofereceu perdão, roupa, comida, moradia e fez uma festa. Ele
merecia? Claro que não. Mas Deus não despreza um coração quebrantado e
contrito. Agora seja sincero: depois desse amor supremo demonstrado por esse
pai, você acha que esse filho cairia novamente na vida depravada? Com certeza
não. Como dizia Paulo, o amor constrange.
Você que está angustiado lendo este texto só está
fragilizado e buscando um rumo na vida, um entendimento maduro e uma espiritualidade
sadia. Não acredito nem que os fariseus diante de Jesus tenham blasfemado, quem
dirá uma pessoa sincera como você, amigo. E todos esses conflitos afetam sua
saúde, seu corpo, sua parte física também. A questão espiritual está
intimamente ligada ao nosso corpo, então essas "doenças da alma"
afetarão em maior ou menor grau até o seu corpo. Jesus veio nos trazer vida,
eterna e em abundância. Não veio para que você vivesse assim nesse estado
infernal. O Evangelho é poder de Deus para a libertação e para a salvação de
todo aquele que crê. O Evangelho é o anúncio de que você está perdoado,
religado a Deus em Cristo, mesmo que uma parte de você lute contra isso. Creia
e será salvo desse conflito. E crer é não apenas acreditar; crer é ter isso lá
no profundo da consciência e viver pacificado com essa certeza, com fé que você
não é nada, mas em Cristo, tem tudo. É viver sem medo, sem culpa, sabendo que
se pensar "bobeiras", será apenas imaturidade sua, pois Deus no
máximo olhará para você e dirá: "Meu filhinho tolinho, pra que
viver se torturando assim? Eu chamei você para a liberdade e não para a
escravidão desses sentimentos". Ele continuará olhando para você
com amor. Você está perdoado. Está liberto dessa culpa e quem tem fé, não tem
medo. A penas precisa tomar consciência disso. É como um prisioneiro
acorrentado a uma pedra. Vem alguém e abre o cadeado, mas ele não percebe e
fica com as correntes frouxas no pé achando que está preso. Viva, meu amigo! O
mesmo vale para um equívoco de alguém ao julgar um acontecimento (por exemplo,
um "milagre") como sendo "obra do diabo". Digamos que seja
um milagre divino e essa pessoa diga por algum motivo que é de satanás. Ela não
blasfemou, apenas fez um julgamento hipócrita, errado e precipitado! Se Deus
levasse em conta nossos equívocos, ninguém de nós se salvaria. Mas não somos
salvos por nossos méritos ou deméritos e sim, pelos méritos de Cristo, na Cruz.
Não depende de você, nem do que você fala ou pensa em algum momento, depende
dEle. Se você se sente culpado é porque você sabe que na verdade não gostaria
de ter feito o que fez. E se nem você consegue acreditar na veracidade e na
sinceridade dessa sua suposta blasfêmia, acha que Deus acreditará, meu amigo?
Não apequene Deus! Ele conhece você melhor que você mesmo!
Se você entender e crer realmente, verá como isso nunca
mais lhe incomodará e toda sua vida será diferente. Você que falou alguma coisa
ruim a Deus ou de Deus, fique em paz. Leia os Evangelhos, as cartas
apostólicas, ore a Deus e peça ajuda ao Espírito Santo para que sua mente saia
dessa imaturidade. Você não blasfemou. Tenho não só certeza, mas convicção. E
se isso for lhe confortar e para que perca esse medo, uma coisa lhe digo: "que
Deus me leve para o mesmo lugar que você for passar a eternidade!" Essa
é a fé que tenho, no Deus que creio. Um Deus que procura motivos fúteis (como
palavras feias ditas em um insignificante idioma de um mero país, de um planeta
do imenso universo) para condenar, não é Deus, é diabo! Fique em paz. Você crê
em Cristo e está protegido na sombra da Cruz. Deus deve olhar pra você e
dizer: "viva com essa consciência, filhinho. Creia nisso e será
liberto." Não há motivo algum para viver nesse sofrimento. Agora
depende de você! Se quiser continuar se auto-flagelando, não posso fazer mais
nada. Deus fez tudo por você. Agora creia e tome posse do que lhe foi garantido
sem merecimento algum de sua parte.
Eu costumo ainda dizer: "se você se sente
incomodado, é mais uma prova que não blasfemou, afinal, quem blasfema terá
prazer em ter feito isso e afastar-se definitivamente é o que mais
deseja." O Espírito Santo convence o homem do pecado, de forma
que se você se reconhece como um pecador dependente da graça divina, é sinal
que Ele atua em você.
A blasfêmia contra o Espírito Santo considero que seja um
dos mistérios que um dia nos será revelado, na eternidade. Não é, ainda,
totalmente claro. Em Jesus temos a garantia do perdão de TODO pecado, porém
Jesus alerta os escribas e fariseus sobre essa possibilidade de escolha deliberada
e diabólica. Mas é na Cruz que descansamos, pois ela nos garante que não há
pecado nosso que Deus não possa perdoar, afinal o verdadeiro pecado não é o que
praticamos e sim, o que somos e Deus nos perdoou em Cristo.
Se há uma blasfêmia contra o Espírito Santo que condena o
homem, essa é a decisão deliberada e "diabólica" de viver em
afastamento total de Deus, mesmo perante todo o amor divino sendo oferecido a
ele. Lembre-se que isso não tem nada a ver com um genuíno ateísmo. É como se um
ateu se convencesse que estava errado e que Deus realmente está ali para
acolhê-lo e ele como um "diabo" negasse esse abraço de Deus. Ou seja:
essa pessoa, mesmo tendo sido reconciliada em Cristo, não foi salva e sim,
condenada e portanto não tem esperança de perdão. Mas como disse anteriormente,
não consigo imaginar um ser humano, por pior que seja, alcançar esse nível de
diabolização do ser. Ao mesmo tempo, as escrituras em diversos momentos
demonstram que há pessoas sim que são condenadas. Essas portanto, seriam aquelas
que blasfemaram contra o Espírito Santo.
O que temos a fazer é reconhecer que todas as nossas ações
tem origem em nossa natureza má e pecaminosa. É de nosso coração mau que
procedem nossos maus pensamentos e atitudes condenáveis. A questão é essa!
Ninguém escapa! Nem o "melhor" entre nós deixa de ser passível de
condenação pela perfeição da Lei divina (pois a lei exige que sejamos
perfeitos). Reconheça isso e poderá mergulhar com fé no Evangelho, que
anuncia: "Você é pecador e incapaz de cumprir a lei de Deus em sua
totalidade, portanto, mereceria a condenação - afastamento definitivo de Deus.
Porém Jesus Cristo assume o seu lugar, cumpre a Lei de Deus por você e lhe
salva por Graça". Se dependesse de seus méritos, leitor, estaria
perdido (e eu também). Mas depende dEle, exclusivamente. Descanse na sombra da
Cruz e viva em paz, sabendo que jamais terá méritos algum. Tudo é fruto do amor
de Deus por você, que deseja salvá-lo em todos os aspectos e para isso,
"persegue" você todos os dias com Seu imenso amor, revelando-se a
você e lhe tocando para que você viva com essa consciência, seguindo a Cristo.
Sei que estou sendo repetitivo e até prolixo novamente, mas
concluo dizendo: se você está receoso e preocupado de ter blasfemado contra o
Espírito Santo, procurando um lugar pra comentar, relatar seu caso específico e
perguntar se blasfemou ou não, entenda: VOCÊ NÃO BLASFEMOU! "Ah,
mas você não tem ideia da coisa absurda que fiz!" - você dirá.
Não preciso ter ideia, pois não importa o que seja, você não blasfemou contra o
Espírito Santo. Se cogita a possibilidade de perguntar, é porque tem receio e
isso é uma prova para você mesmo que nunca desejou esse malévolo afastamento
definitivo de Deus. Sequer tem consciência profunda de quem é Deus e da suprema
capacidade de perdão da Cruz (por isso tem medo), então como poderia blasfemar?
Você teria que conhecer a Deus tão profundamente quanto um anjo de luz e ser
tão diabo quanto Satanás para chegar a esse ponto. Não importa se o que fez foi
consciente ou não, se foi maldoso ou não. Blasfemar contra o Espírito Santo
está muito além desses conflitos, ingenuidades e maldades que você pratica. E
isso será o que responderei caso alguém pergunte se blasfemou, pois sempre
ouvirá um "não". Essa foi a resposta que dei a TODAS as centenas de
pessoas (sem exagero) que me procuraram atribuladas e desesperadas. Só muda o
caso, mas o contexto e o conflito é o mesmo. Então mesmo não havendo lugar
específico aqui para deixar sua pergunta, fique em paz. Quem blasfemou sequer
lerá esse texto e tampouco pensará em comentar ou questionar nada. Procure
desenvolver a consciência na Palavra de Deus, abandonando essa espiritualidade
doentia que implantaram em você. E se após compreender isso tudo ainda
continuar em conflitos, digo com todo amor: procure ajuda médica
(psiquiátrica). E não pense que estou insinuando que você é "louco" e
sim, que tem que considerar a possibilidade de ter algum transtorno (como
algumas moldagens de personalidade, alterações de pensamento e até mesmo o famoso
TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo) que precisa de tratamento médico. Todos
estamos sujeitos a isso e reconhecer nossa fragilidade é o primeiro passo. Não
se acanhe e não se intimide. Procure ajuda profissional e ficará livre desses
incômodos. Não entre em desespero, pois tenho plena convicção que você não
blasfemou contra o Espírito Santo. E cuidado com o que lê pela internet, pois
raramente se achará alguma coisa relevante, com conteúdo de qualidade e bem
fundamentado. Atualmente todo mundo quer falar, mas pouca gente tem maturidade,
responsabilidade e boa fundamentação para embasar o que fala...
Apóstolo.
Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.