O MACHADO ESTÁ POSTO NA RAIZ...
“Então, Jesus proferiu
a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e,
vindo procurar fruto nela, não achou; pelo que disse ao viticultor: Há três
anos que venho procurar fruto nesta figueira, e não acho; pode cortá-la; para
que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor,
deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se
vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la” (Lucas 13:6-9).
Esta parábola de Jesus
fala sombriamente de uma oportunidade perdida em face de uma sentença pendente.
O contexto nos diz que é dirigida à nação judaica. O capítulo inicia com o
apelo de Jesus por um arrependimento nacional em larga escala e termina com seu
lamento de coração partido sobre a cidade de Jerusalém, cuja teimosa rejeição
de seu amor estava levando-a à desolação (13:34-35).
João Batista tinha
primeiro advertido que o tempo estava se esgotando para Israel. Ele disse: “Já
está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom
fruto, é cortada e lançada ao fogo” (Mateus 3:10). E agora Jesus, adiantado em
seu terceiro ano de pregação pública, está dizendo que o desastre chegou mais
perto. Ambos clamaram urgentemente por uma mudança de coração (Mateus 3:2;
4:17).
A ocasião para a
parábola da Figueira Estéril foi o relato feito por alguém a Jesus do massacre
de certos galileus “cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os
mesmos realizavam” (Lucas 13:1). As legiões da ocupação romana eram uma
constante provocação para os rebeldes galileus que ocasionalmente se
arremessavam, sem esperança, contra seus opressores, somente para serem
esmagados sem misericórdia. Não temos outro registro deste evento, mas Josefo
registra um número de incidentes semelhantes, suficiente para torná-lo
perfeitamente crível. Pilatos tinha evidentemente pegado alguns rebeldes
galileus em suas devoções e dado cabo deles, com sangue humano e animal correndo
em pavorosa união.
Pela resposta de Jesus
(“Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros
galileus, por terem padecido tais coisas?”, 13:2) concluímos que o motivo para
levantar este assunto não foi indignação, mas presunçosa hipocrisia, a
Sugestão de que homens
que chegaram a um fim tão violento, sendo assassinados até na sua adoração,
deveriam ser verdadeiramente perversos. Jesus replicou que a situação era pior
do que eles pensavam e que, a menos que eles próprios se arrependessem,
pereceriam em semelhante horror. Esta é talvez uma alusão à matança do ano 70
d.C. e, certamente, a um julgamento divino muito mais terrível. Eram os pecados
deles próprios que deveriam preocupá-los.
A parábola da Figueira
Estéril pretende dar uma força pictórica à advertência de Jesus: “Não eram, eu
vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis”
(Lucas 13:3-5). É uma história da suspensão da pena no último minuto para uma
figueira que, ainda que situada num lugar favorecido numa vinha, tinha, durante
três anos, deixado de produzir um único figo. O proprietário, frustrado com tão
longa esterilidade, disse: “Corta-a. É um desperdício de solo bom, de tempo e
de energia.” Mas o vinhateiro apelou para o proprietário por mais uma estação,
para ver se cuidado mais diligente poderia levá-la à fecundidade.
A árvore sem frutos
simboliza Israel, o povo de Deus favorecido por muito tempo e ricamente
abençoado, cujos modos infiéis e traiçoeiros tinham tentado profundamente a
paciência de Deus. No Velho Testamento, a própria vinha é que era uma figura
estabelecida de Israel (Isaías 5:1-7; Salmo 80:8-16). A. B. Bruce sugere que a
escolha da figueira por Jesus, nesta parábola, era para mostrar que Israel,
como a figueira na vinha, não tinha direito inerente às bênçãos de Deus. Como a
figueira, Israel estava num lugar favorecido, não por natureza ou direito, mas
pela graça do proprietário e a única coisa que o manteria ali era a
fecundidade. Privilégios trazem responsabilidades. Como Jesus mais tarde
observaria, mesmo uma videira não tem direito consagrado numa vinha, se é
infrutífera (João 15:26).
Paulo apresenta um
argumento semelhante em Romanos onde, usando a figura de uma oliveira, ele diz
que os judeus, que eram os ramos naturais da árvore porque as promessas foram
feitas a eles, eram, não obstante, cortados por causa de sua descrença. Quanto
mais, então, isto se aplica aos gentios (ramos de oliveira brava) que eram
enxertados. Fiel ou infiel, frutífero ou infrutífero; este era o assunto
principal que regia as outras condições (Romanos 11:17-24).
O destino da figueira é
deixado sem resolver, na parábola, justo como o destino de Israel o é. Graça e
oportunidade estão lá. Será agora determinado se Israel, tendo sido amado e
abençoado por Deus tão livremente durante tantos anos (Deuteronômio 4:7-8)
ouvirá afinal a voz do Filho de Deus que vem derramar-se sobre eles em um
último ato redentor. Qualquer que seja o caso, Israel está vivendo no tempo
prorrogado...
BISPO. CAPELÃO/JUIZ.
MESTRE E DOUTOR EM ÊNFASE E DIVINDADES DR.EDSON CAVALCANTE
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