APÓSTOLO TOMÉ UM HOMEM DE FÉ
Durante quase toda a história do cristianismo, Tomé foi tido como um homem de pouca fé, medroso, fraco, incrédulo – afinal, ele foi o discípulo que não acreditou na ressurreição de Jesus, quando disse: “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.” (João 20.25.)
Mas por que Tomé agira assim? Talvez ele estivesse com medo, ou quem sabe tivesse um zelo excessivo. Talvez ele lutasse para crer, mas não quisesse ser enganado. Não sabemos. Mas sabemos que esse não era o comportamento usual de Tomé. Este homem, antes deste breve momento de descrença, já havia demonstrado o tamanho da sua fé e do seu amor pelo Senhor.
Por exemplo, quando Jesus planejava ir à Betânia por causa da morte de Lázaro, Tomé foi o primeiro a dizer aos outros discípulos: “Vamos nós também para morrermos com ele!” (João 11.16.) Somente alguém com muita fé poderia dizer algo assim.
Outra possível demonstração de fé adviria da possível semelhança física de Tomé com Jesus. De acordo com essa teoria (defendida por muitos estudiosos da Bíblia), Tomé teria vivido os últimos três anos sob a iminência de ser confundido com seu Mestre – motivo que, entretanto, não o motivou a desistir da caminhada. Na Bíblia, o discípulo é apresentado como “Tomé, chamado Dídimo”, e dídimo é um termo que exprime a ideia de simetria – duplo, gêmeo. De acordo com o pastor e comentarista bíblico David Guzik (enduringword.com), “a tradição da igreja diz que Tomé era chamado ‘O Gêmeo’ porque ele se parecia com Jesus, colocando-o em situação especial de risco. Se alguém dentre os discípulos de Jesus era potencial alvo de perseguição, seria aquele que se parecesse com Jesus” (tradução livre).
Mas, então, por que a fé de Tomé titubeou bem no momento da ressurreição do Mestre? Analisando o texto de João capítulo 20, vemos que o Jesus ressurreto aparece aos seus discípulos, que estão reunidos (v. 19). Mas Tomé não estava lá nesta ocasião, que foi a primeira aparição do Mestre após sua ressurreição (v. 24).
Quando Jesus aparece a segunda vez, Tomé não tinha tido a primeira experiência. O principal erro de Tomé não foi sua incredulidade temporária, e sim não se manter junto de seus irmãos assim que Jesus morreu – e isso motivou tudo o que veio depois. Os discípulos estavam todos juntos (v. 19), mas por alguma razão, Tomé não estava com eles. Assim sendo, Tomé perdeu a bênção do primeiro encontro, da primeira aparição do Mestre – que o levou à incredulidade no segundo momento.
Podemos tirar para nós a seguinte aplicação: quando a dificuldade vier, não nos afastemos de nossos irmãos. Cada um de nós tem amigos, irmãos, família, enfim, pessoas nas quais confiamos e caminhamos juntos, e com as quais temos uma história (da mesma forma como Tomé fazia parte daquele seleto grupo de discípulos). Precisamos estar juntos quando a dificuldade vier. Se não estivermos unidos, o inimigo pode encontrar uma brecha em nosso coração e semear discórdia, incredulidade, falta de amor etc.
Mas, felizmente, a descrença de Tomé foi momentânea. Ele relutou em acreditar, mas quando se convenceu, reconheceu Jesus como Senhor e Deus, exclamando: “Senhor meu e Deus meu!” (v. 28)
Agora sim, Tomé corrigira seu coração e voltara a ser o Tomé cheio de fé e amor, que foi contado nos céus como herói do evangelho na terra. Agora sim, Tomé estava preparado para cumprir o ide de Jesus.
Tomé aprendeu a lição. Podemos vê-lo junto aos outros discípulos no início do livro de Atos, inundando o mundo com o amor do evangelho de Jesus.
A Bíblia não nos fala muito mais sobre a vida de Tomé a partir desse ponto, mas a tradição cristã dá conta de que ele pregou o evangelho na Pérsia e na Índia. Estudiosos acreditam que ele foi executado por flecha ou lança, enquanto orava dentro de uma caverna no Sul da Índia; os possíveis assassinos teriam sido sacerdotes brâmanes, enfurecidos pela expansão do evangelho na Índia. Embora esta seja a versão historicamente aceita, não temos plena certeza de sua assertividade. Mas independente disto, sabemos que Deus permitiu que Tomé participasse de maneira especial da expansão do evangelho na terra, assim como os demais apóstolos – muito provavelmente tendo sua a própria vida literalmente ofertada a Deus.
Que possamos aprender com a vida deste verdadeiro apóstolo do Senhor.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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