PRÍNCIPES OU GAFANHOTOS...
PRÍNCIPES OU GAFANHOTOS...
Livro de Números Capitulo 13, Versículos 31 ao 33
Não basta espiar a terra. É preciso conquistá-la.
Saindo do Egito, os israelitas dirigiram-se ao deserto. Canaã ficava bem perto e poderia ser alcançada em poucos dias, mas o povo precisava, antes disso, receber a lei do Senhor. Ficaram, portanto, junto ao monte Sinai durante dois anos, ao fim dos quais partiram para a Terra Santa. Existe um tempo apropriado para todo propósito (Ec 3). Não podemos antecipar ou atrasar, mas precisamos de uma direção de Deus e sabedoria para discernir a ocasião propícia.
Canaã, embora tenha sido prometida, precisava ser conquistada. Assim acontece com muitas promessas de Deus que envolvem o esforço humano em sua concretização.
Ali chegando, nas imediações de Cades-Barnéia, Moisés escolheu doze homens, um de cada tribo, para entrarem em Canaã numa missão de reconhecimento (Nm 13).
Aqueles homens eram a elite de Israel, doze príncipes, líderes das tribos, pessoas especiais. Sua convocação foi uma grande honra. Todos aceitaram e atenderam ao chamado. Naquele momento, todos os espias pareciam iguais, podendo ser considerados como exemplos de coragem. Entretanto, passariam por um teste, como acontece a todo servo de Deus em todos os tempos. O teste haveria de revelar o caráter de cada um.
Moisés colocou diante deles um desafio: entrar na terra, observá-la e sair, trazendo algumas amostras do seu fruto. Todos os que são chamados e escolhidos por Deus encontrarão desafios em seu caminho. Estes não vêm para nos destruir, mas para nos fazer crescer. Desafios são, quase sempre, oportunidades, degraus para alcançarmos novos patamares na vida. Aqueles doze homens estavam diante de uma grande chance. Moisés não poderia espiar a terra sozinho. Surgiu então a oportunidade para que os novos líderes pudessem despontar. Daquele grupo sairia o sucessor de Moisés.
Não devemos fugir dos desafios que podem nos fazer avançar rumo ao propósito que Deus estabeleceu para nós, mas provocações inúteis ou contrárias devem ser rejeitadas. As tentações também podem vir em forma de desafio, como aquelas que Jesus enfrentou (Mt 4), mas ele não precisava provar nada para o inimigo. O desafio que Cristo aceitaria seria a cruz.
Não devemos orar pedindo que Deus evite ou elimine todos os problemas das nossas vidas. O que precisamos pedir é sabedoria para enfrentar e vencer as adversidades. Encontraram-se grandes problemas em nosso caminho, eles serão oportunidades para grandes realizações e até milagres. Golias desafiou o exército de Israel. Davi aceitou e venceu o desafio. Aquele episódio foi um importante degrau para sua ascensão ao trono.
Quem foge dos estudos, do trabalho, das dificuldades e dos problemas acaba passando para outros as chances de êxito e crescimento. Não devemos criar problemas, mas enfrentar os que surgem diante de nós.
Os doze espias obedeceram a Moisés e cumpriram a missão, mas aquele era apenas o início de um longo processo. O próximo desafio seria muito maior, mas nem todos estavam dispostos a aceitá-lo.
Depois de 40 dias, os emissários voltaram com um relatório que pode ser assim resumido: “Em Canaã tudo é muito grande, mas nós somos muito pequenos”. Descobriram que a terra era habitada por gigantes, entre os quais estavam os terríveis enaquins, filhos de Enaque. Os frutos também eram gigantescos. Trouxeram um cacho de uvas que precisava de dois homens para carregá-lo, além de alguns figos e romãs.
Todos viram o mesmo cenário, mas os observadores dividiram-se em dois grupos: dez incrédulos e dois crentes. Dez espias disseram que não poderiam conquistar a terra, porque seus moradores tinham grande estatura. Dois espias, Josué e Calebe, declararam que poderiam conquistar com a ajuda de Deus.
Os incrédulos estavam firmados em sua visão física. O que viram foi determinante na condução de suas decisões. Os outros dois estavam firmados na fé em Deus e na promessa. Acontecia ali o conflito entre ver e crer. O relatório pessimista era baseado na razão e na lógica humana. O relatório da fé estava fundamentado na palavra de Deus.
Aqueles homens eram príncipes, mas viam-se como gafanhotos (Nm 13.33). Seria humildade? Não. Era um caso de autodepreciarão em virtude da incredulidade. Aí está o problema da autoimagem negativa, que pode anular o potencial do indivíduo e do povo. Entretanto, a fé e a sabedoria podem superar a incapacidade humana. Quem pode deter uma nuvem de gafanhotos, quando vem sobre a lavoura? O fato de serem numerosos e unidos torna-os poderosos. Os filhos de Enaque não poderiam resistir aos filhos de Deus, mas aqueles dez espias não pensavam assim. A incredulidade destrói muitas qualidades. Eles não se lembraram que sobre os cananeus estava a maldição de Cão, enquanto sobre os israelitas estava a bênção de Sem, e de Abraão, Isaque e Jacó.
A maioria nem sempre está certa, mas quase sempre prevalece. Foi o que aconteceu. O povo foi influenciado por aqueles 10 líderes incrédulos e as consequências foram terríveis. Naquele mesmo dia, os dez espias foram mortos pelo Senhor, e o povo foi condenado a andar errante pelo deserto durante 38 anos (pois 2 anos já haviam passado) (Nm.14).
Josué e Calebe também tiveram que passar todos aqueles anos no deserto, mesmo sem merecimento, pois Deus tinha um plano para toda a nação e não apenas para dois indivíduos. Muitas coisas podem acontecer em nossas vidas sem que mereçamos, mas por uma necessidade, por um propósito superior.
Havia uma palavra de Deus para aquele povo, mas a palavra humana prevaleceu naquele momento. Embora houvesse uma predestinação nacional, o livre-arbítrio determinou a situação individual. Aqueles que disseram que não poderiam conquistar a terra não a conquistaram. Os que declararam que poderiam, tomaram posse da terra muito tempo depois. Entretanto, a palavra maligna que os pais disseram a respeito dos filhos não se concretizou (Nm 14.3). Vemos, portanto, que as palavras têm poder, mas existe um limite para isso. Deus abençoou as crianças e os jovens que saíram do Egito (Nm 14.31). Muitos deles, talvez milhares, entraram em Canaã, e não apenas Josué e Calebe, conforme muitos afirmam (Nm 32.11-12). Além dos já citados, entraram também aqueles que nasceram no deserto. Deus sempre tem um plano para a nova geração, de modo que os nossos filhos possam fazer e conquistar muito mais do que nós.
Depois de 38 anos, Josué e Calebe tiveram a oportunidade de comprovarem, na prática, sua fé e suas palavras. Chegou o dia de enfrentarem o novo desafio: os gigantes de Canaã. Conforme os registros do livro de Josué, o povo de Deus venceu os cananeus e tomou posse da Terra Santa.
Aquela história deve servir como estímulo aos filhos de Deus hoje. Não podemos passar a vida espiando. Não seja um eterno namorado, mas prossiga para o casamento. Não seja um eterno desempregado ou estagiário, mas consiga um emprego ou abra uma empresa ou torne-se um profissional liberal. Não seja um eterno crente de banco, mas assuma o seu ministério. Precisamos tomar posse de tudo o que Deus tem para nós. É possível e necessário passar ao próximo nível. Não podemos viver no deserto. Não fomos chamados para ser beduínos. Que o deserto seja apenas um local de passagem, mas não a nossa morada.
Os dez espias não foram derrotados pelos gigantes, mas por sua própria incredulidade, medo e covardia. Foram vencidos antes do combate.
Hoje, é muito fácil criticar aqueles homens, mas será não teríamos feito o mesmo? Precisamos enfrentar nossos “gigantes”. Não podemos nos contentar com um cacho de uvas, alguns figos e romãs. O que temos experimentado é apenas uma amostra do que Deus tem para nós. Precisamos enfrentar nossos desafios pela fé e crescer, não por uma questão de cobiça ou egoísmo, mas para a glória de Deus.
Ainda que sejamos pequenos, podemos enfrentar os gigantes porque grande é o nosso Deus. “Maior é o que está em nós do que aquele que está no mundo...”
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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