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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O DIA DO SENHOR...


                                                     O DIA DO SENHOR...
Sofonias foi um profeta que viveu no mesmo período de Jeremias, e talvez tenha sido um membro da corte governamental, pois provavelmente era descendente do rei Ezequias. Na introdução (1:1) ao livro são citadas quatro gerações de sua família, talvez para ratificar o conhecimento que tinha sobre os pecados de Judá e dar credibilidade à sua pregação, uma vez que era descendente de um dos grandes reis de Jerusalém.
O século VII a.C. foi um período conturbado, pois a Babilônia estava em plena ascensão mundial com a derrocada do Império Assírio. O trabalho de Sofonias e Jeremias era testemunhar a favor de Deus na iminência da destruição do Templo e de Jerusalém pela Babilônia.
Do ponto de vista cronológico Sofonias se situa entre o fim do ministério de Isaías, no século VIII a.C., e o início de Jeremias. Sofonias quebrou o período de cinquenta anos de silêncio profético do reinado agressivo de Manassés e, junto com Jeremias, ajudou a fundamentar a reforma religiosa promovida por Josias (628-622 a.C. – 2 Cr. 34). Sofonias usou os principais temas teológicos dos profetas do século VIII para aplicá-los ao cenário turbulento do século VII.
Manassés reinou por cinquenta e cinco anos. Seu reinado reinstituiu o sincretismo religioso com a religião baalista, e embora tenha se arrependido no cativeiro babilônico, Judá não se recuperou mais deste reinado catastrófico. Uma geração inteira de hebreus só havia conhecido apenas um rei, e em condições, social e religiosa, completamente desfavoráveis. A tímida tentativa de reforma por Manassés (2 Cr. 33:12-19) não foi suficiente para apagar as manchas deixadas pela apostasia de cinco décadas e influenciou negativamente seu filho Amon, que herdou a apostasia do pai, arrematando o julgamento de Judá.
Josias, filho de Amon, começou a reinar aos oito anos de idade, e, entre seu 12º e 18º ano de reinado Josias instituiu a maior reforma religiosa até então. As práticas cúlticas e litúrgicas foram mudadas e eliminaram-se os elementos estrangeiros, contudo o coração do povo pareceu não ter mudado. Por esta razão os profetas Sofonias e Jeremias, após ele, denunciaram o pecado e anunciaram o juízo que já estava às portas de Judá.
Sofonias, tal qual Oséias e Amós, estava atento aos movimentos da política internacional; ao enfraquecimento da Assíria como potência mundial e à ascensão da Babilônia no Antigo Oriente Próximo. Alguns anos após a profecia de Sofonias, Nínive, capital do Império Assírio, foi destruída; Josias foi morto em Megido (2 Rs. 23:29); Nabucodonosor derrotou o Egito na batalha de Carquemis e tomou o controle da Palestina e da Síria das mãos da Assíria. Judá foi então destruída e o grande dia do sacrifício do Senhor havia chegado (Sf. 1:8).
Estrutura de Sofonias
O livro de Sofonias pode ser dividido da seguinte maneira:
O Julgamento
Aviso do julgamento universal (1:1-3)
O julgamento de Judá e Jerusalém (1:4-13)
O julgamento das nações (1:14 – 2:15)
A acusação de Judá e Jerusalém (3:1-7)
Aviso do julgamento universal (3:8)
A Restauração (3:9-20)
Além de Amós, Sofonias é o único profeta menor que proclama oráculos contra as nações além de Judá. Portanto, esses julgamentos não devem ser vistos isoladamente, mas parte de um programa de Javé para punir os crimes contra a humanidade que essas nações cometiam.
Sofonias é o profeta que mais mencionou o “Dia do Senhor”. Sua ênfase no julgamento divino dá a tônica do livro tanto em termos do julgamento manifestado na história de cada nação como parte da completude escatológica na preservação do remanescente (3:13).
A expressão “Naquele dia” evoca uma ideia de terror e angústia onde Judá e todas as nações ao seu redor seriam julgadas. Esse julgamento é descrito em termos universais e ecológicos (1:2-3), quando a humanidade seria julgada por seus pecados. Mais uma vez a natureza sofre as consequências pela transgressão da humanidade.
Em virtude do sincretismo religioso com seus sacrifícios humanos, idolatria e astrologia Judá seria julgada. Esse julgamento alcançaria todas as camadas da sociedade, que estavam contaminadas pelo pecado (1:4-13). Embora Sofonias fizesse parte da família real, isso não o impediu de denunciar o uso de roupas estrangeiras (1:8) pelos príncipes de Judá, isto é, a aceitação dos valores éticos, morais e espirituais dos pagãos.
Depois de alistar as razões do castigo, Sofonias descreve as características terríveis do julgamento do Senhor, com cataclismos e angústia sem precedentes (1:14-18).Não obstante, este julgamento seria apenas um vislumbre do grande julgamento dos fins dos tempos que ainda há de vir.
Os próximos trechos dos oráculos de Sofonias (2:4 – 3:8) atingem as nações ao redor de Judá. O julgamento em geral acontece em razão do orgulho e arrogância dessas nações que desprezaram Israel (2:8-11).
A parte final do livro trata sobre a restauração de Deus após seu julgamento e enfatiza o amor por seu povo. Os gentios também serão renovados e haverá a possibilidade de servirem ao Senhor com harmonia (3:9-10). Israel será purificado e reunido (3:11) assim que buscar ao Senhor e fugir do pecado (3:12-13). Jerusalém receberá o perdão de Deus e terá a presença do Senhor em seu meio (3:14-17).
Israel, por fim, será restaurado de acordo com as bênçãos da Aliança em Deuteronômio (Dt. 26:18-19).
Propósito e conteúdo
Sofonias aborda os seguintes temas:
O dia do Senhor vem aí
O juízo por vir será universal
Os humildes devem buscar o Senhor
Sofonias pretendeu causar mudanças profundas em Judá quando declarou seus oráculos, pois o anúncio do juízo divino tinha a intenção de restaurar o povo da Aliança. O teor de sua mensagem era o Dia do Senhor, que se aproximava rapidamente, e incluía a denúncia contra os líderes religiosos e os oficiais corruptos. Portanto, o julgamento não seria punitivo, mas corretivo.
Embora o julgamento tenha sido claramente exposto, Sofonias não mencionou a forma que teria. A corrupção político-espiritual traria consequências permanentes. Ao mesmo tempo, Sofonias insiste para que os justos busquem ao Senhor, a fim de que fossem poupados pela misericórdia no dia da ira de Deus.
A restauração mencionada em 3:9-20 foi de caráter religioso-espiritual, onde o remanescente disporia da paz e segurança do Senhor (3:15).
O dia do Senhor
O termo “dia do Senhor” foi usado pelos profetas para indicar o dia quando Deus instalasse sua própria ordem no mundo e quase todas as profecias que se utilizam deste termo apontam para movimentos rumo a essa condição ideal. Entretanto, antes da concretização final, que será realizada diretamente pelo Senhor, cumpre-se o processo de acabar com a iniquidade.
Logo, antes do dia do Senhor escatológico, isto é, o dia que inaugurará a ordem estabelecida pelo próprio Deus, existem diversos “dia do Senhor”. Por isso, a queda de Nínive, da Babilônia e a própria derrocada de Jerusalém são consideradas como “dia do Senhor”. Neste caso, o julgamento divino não é final, embora fosse bastante drástico. O resultado deste dia do Senhor permitiria o surgimento de um remanescente purificado.
O dia do Senhor é um momento onde a justiça é feita e geralmente é retratado com a inversão da ordem atual. Um exemplo é que o dia do Senhor é descrito como um dia de trevas e não de luz; os pobres são exaltados acima dos ricos e os senhores servirão os servos. Esta é uma característica da literatura profética que se utiliza do conceito de Dia do Senhor.
O povo hebreu sempre imaginou um dia do Senhor como um dia de alegria onde Javé destruiria para sempre seus inimigos e eles triunfariam. Mas jamais esperaram que também fossem julgados nesse dia. Desde Amós, os profetas desmistificaram essa ideia, dizendo que os israelitas também estariam entre os inimigos de Deus, maduros para o dia do juízo (Am. 5:18-20).
Javé não podia tolerar o orgulho, que impedia que o povo confiasse no Senhor para sua salvação. O orgulho era o mal enraizado no coração do ser humano; Judá (2:3), Moabe (2:10) e Nínive (2:15) não estavam isentos dessa doença. A declaração de independência de Deus era o terrível pecado. Os únicos aptos a escapar da fúria da ira do Senhor era o humilde que confiaria em seu nome (3:12).
No Novo Testamento, o próprio Deus, encarnado em Jesus aprofundaria ainda mais todos esses conceitos, e daria ele mesmo o exemplo em sua própria vida.
Apóstolo, Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante



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