RAABE DE PROSTITUTA A UMA
SERVA CONVERTIDA E SANTIFICADA...
“Pela fé Raabe, a
meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos
espias.”
Raabe era uma jovem que
vivia em Jericó, na época em que Israel se preparava para conquistar Canaã, sob
a liderança de Josué. As notícias das pragas que destruíram o Egito, e também
da maneira como o exército de Faraó se afogara no Mar Vermelho, haviam chegado à
sua cidade. Todo o povo de Jericó estava amedrontado e em franco preparo para
lutar contra Israel.
Raabe tinha a sua casa
construída sobre a larga muralha de Jericó. Ela era uma prostituta cultual, o
que era comum em sua época, nos países pagãos de Canaã. Era a pior forma de
prostituição, pois tinha a sanção religiosa. Homens e mulheres se entregavam
aos rituais imorais dos deuses pagãos da fertilidade como forma de culto
aceitável. Os pais entregavam com prazer suas filhas para sacrifícios ou para
esses rituais malignos e sensuais, crendo que estavam agindo da maneira mais
correta e santa… Era a vida em Jericó. Era a cultura em Canaã.
Em contrapartida, a lei
que o Senhor dera a Moisés proibia que o pai prostituísse sua filha (Lv 19.29);
que o sacerdote se casasse com mulher prostituta (Lv 21.7), mui especialmente o
sumo-sacerdote (Lv 21.14). A penalidade imposta para este pecado era a morte
por apedrejamento, ou ser queimada em fogueira, no caso de filha do sacerdote
(Lv 21.9). O dinheiro ganho com prostituição era proibido entrar no templo como
oferta ao Senhor (Dt 23. 17-18).
Apesar de tudo, a
misericórdia de Deus alcançou o coração daquela jovem de Jericó. Sua cidade
estava condenada. O que ela fazia era abominável diante do santo Deus de
Israel…
Josué mandara dois
espias para observarem a cidade e trazerem seus relatórios para ser montada uma
estratégia de conquista. Dois guerreiros entraram em Jericó e pernoitaram na
casa de Raabe, citada no texto bíblico apenas como “uma mulher prostituta” (Js
2.1). Ela, entretanto, os reconhece como israelitas e os esconde entre as canas
do linho que havia disposto em ordem no eirado.
Quando os soldados de
Jericó, a mando do seu rei, vieram à sua casa procurá-los, ela lhes diz que
eles tinham se retirado dali, e que deveriam já ter transposto o vau do rio
Jordão. Assim, ela livrou os espias da morte. E naquela noite memorável, Raabe
abriu seu coração àqueles dois israelitas, dizendo: “Bem sei que o Senhor lhes
deu esta terra, e que o pavor que infundis caiu sobre nós [...] Agora, pois,
jurai-me, vos peço pelo Senhor que, assim como usei de misericórdia para
convosco, também dela usareis para com a casa de meu pai; e que me dareis um
sinal certo de que conservareis a vida de meu pai e minha mãe, como também a
meus irmãos e minhas irmãs, com tudo o que têm e de que livrareis a nossa vida
da morte.” (Js 2.9a,12-13.) Podemos perceber o coração amoroso de Raabe. Ela
não pensava apenas em si, em sua salvação individual. Ela poderia ter proposto
um acordo de livramento pessoal, ou talvez até mesmo ter fugido com os espias,
deixando Jericó entregue à guerra e à destruição. Mas Raabe amava sua família.
Seus pais e irmãos foram carinhosamente lembrados naquele tenso momento.
Em nosso mundo
individualista e tremendamente egocêntrico, será que encontraremos “Raabes”?
Quando você, querida irmã, recebe um presente especial, um dom da misericórdia
do Senhor, se lembra da família? Pensa em dividir as dádivas que Deus tem lhe
concedido, levando junto consigo a família? Seu esposo, seus filhos e
familiares participam de suas vitórias, ou você come, sozinha, o “maná” que
Deus lhe tem proporcionado?
Percebemos também que
Raabe agiu por fé, arriscando a própria vida. Ela desceu os espias por uma
corda pela janela de sua casa construída na muralha. O acordo que fizeram para
a sua salvação e de toda a sua família, quando a cidade fosse atacada, seria
que ela atasse um fio escarlate em sua janela e recolhesse toda a sua família
dentro de casa. E assim aconteceu. Ela deixou aquele fio escarlate atado em sua
janela a partir de então, como um sinal, aguardando o dia de seu livramento.
Creio que Raabe não era
mais a mesma pessoa a partir daquele encontro com os representantes do povo de
Deus. Ela agora tinha esperança. Ela tinha sonhos. Iria fazer parte do povo de
Israel e já amava o seu Deus invisível, que era santo, justo e bom. Raabe não
precisava mais se prostituir, pois isto não tinha mais significado para si;
pelo contrário, ela podia sonhar até mesmo com um marido, um lar, uma família
em Israel…
Muitos anos depois
desta história, o Senhor Jesus iria dizer: “Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia.” (Mt 5.7.) Raabe realmente alcançou a
misericórdia do Senhor. Ela e sua família foram salvos de maneira espetacular,
quando o povo de Israel marchou sete vezes, no sétimo dia, ao redor de Jericó,
e todos gritaram, e tocaram os chifres de carneiro longamente. As muralhas da
cidade ruíram, ficando apenas o trecho onde estava construída a casa de Raabe.
Os jovens espias
subiram até a sua casa e tiraram de lá, não só os pais e irmãos da jovem, mas
também toda a sua parentela com seus bens. A casa estava cheia. Raabe era uma
sábia “evangelista”. Ela levou a salvação a todos os seus parentes. Saíram da
condenação de Jericó para as promessas da “Terra Prometida” de Israel.
Entretanto, Raabe e sua parentela vieram morar “fora do acampamento” do povo de
Deus (Js 7.23). Mas ela não ficou ali de fora da comunhão do Deus que abraçara
e aprendera a amar… Ela demonstra genuína fé, ardor e profunda gratidão por sua
salvação. E, por seu testemunho aprovado, ela veio a se casar com um dos
príncipes de Judá e recebeu a bênção de participar da genealogia de Jesus (Mt
1.5). O escritor da Carta aos Hebreus a colocou na galeria dos heróis da fé, mostrando
sua atitude corajosa como uma demonstração de sua fé no Deus Vivo de Israel (Hb
11.31). E o apóstolo Tiago, irmão de Jesus, menciona Raabe em sua Carta (Tg
2.25), reconhecendo a sua justificação ao esconder e salvar os espias.
Para você refletir:
Seu coração é
misericordioso, querida irmã? Você percebe, ao seu redor, as pessoas que estão
em perigo, ou necessitadas de alguma coisa que esteja ao seu alcance, e lhes
presta socorro?
Você deseja mesmo a
direção de Deus em sua vida, a ponto de abrir mão do que for necessário, casa,
profissão, para se dedicar inteiramente ao Senhor? Você conduz a sua família em
suas orações e na sua caminhada de fé, ou pensa apenas em si, na sua
individualidade? Você se sente discriminada? Como reage a isto?
Você tem humildade
suficiente para aceitar ser colocada “fora do acampamento”?
Raabe não se deixou
desanimar. Não se sentiu excluída ou discriminada pelo povo de Israel. Ela
apenas olhou para a sua grande salvação, para a imensa misericórdia do Deus
único e verdadeiro, e testemunhou sua fé e gratidão. Você tem coração
semelhante?
Lembre-se de que ela
saiu da posição de “discriminação” e foi colocada entre as princesas de Israel,
graças à sua humildade, coragem e fé...
Bispo. Capelão/Juiz.
Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante
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