Às                 vezes, em meio à rotina do dia a dia, acontecem momentos tão                 preciosos, tão especialmente doces e plenos de gozo que, se eu                 pudesse, captaria e guardaria num frasco do mais puro alabastro,                 como um perfume raro, daqueles importados, para ser usado, uma                 gotinha por vez, quando os momentos tristes da vida se                 apresentassem.
Ontem foi um desses momentos e surgiu em meio à nossa                 maior dor e confusão. Deixe-me contar o que aconteceu.
Desde que nossos pais morreram, eu, minha                 irmã Marta e meu irmão Lázaro ficamos morando na casa da família.                 Como caçula, embora tivesse chorado muito a morte de meus pais,                 continuei recebendo de meus irmãos mais velhos os cuidados de                 que necessitava. Marta dizia até que Lázaro me mimava,                 exatamente como meu pai fazia enquanto vivo. Não concordo,                 embora realmente Papai me tivesse concedido alguns privilégios                 especiais, que a maioria das filhas mulheres nunca gozam. Ele                 permitiu que eu aprendesse a ler e então pude estudar a Torá,                 mas nunca com os meninos na sinagoga onde Lázaro estudou. Eu                 aprendia em casa, com Papai. Sei que não lhe dava sossego com                 as minhas perguntas incessantes, mas ele nunca se mostrou                 aborrecido. Com muita paciência, enquanto eu me recostava                 contra seu peito, ele me explicava tudo o que sabia a respeito                 de Javé, de sua bondade, de sua sabedoria e da beleza de suas                 leis. Quando Papai não estava disponível, era para Lázaro que                 eu me voltava. 
Apesar dessa brecha nos costumes, Papai era                 muito severo no que dizia respeito ao meu comportamento como                 mulher e futura dona de casa. Embora eu preferisse ficar                 estudando e pensando, tinha minhas obrigações, que                 desempenhava sob a orientação de Mamãe. Se minhas tarefas não                 estivessem bem feitas, não podia tirar o tempo para estudar. Dá                 para ver que era um ótimo estímulo para eu trabalhar com                 capricho. Mamãe sempre dizia que o bem estar de toda a família                 dependia daquelas pequenas tarefas. Aprendi a fiar e a tecer,                 pois as roupas que vestíamos dependiam desse trabalho.
O que eu menos gostava de fazer era                 trabalhar a lã que vinha em tufos sujos depois da tosquia. Era                 preciso separar, lavar e preparar para transformar aqueles tufos                 em fios. O algodão já era mais fácil de trabalhar. Daqueles                 flocos branquinhos e macios precisavam ser retiradas e guardadas                 as sementes que serviriam para uma nova semeadura. Só então o                 algodão era fiado e depois tecido para fazer nossas roupas de                 uso diário, tanto as de baixo quanto as vestese túnicas, além                 de tudo quanto usamos para cobrir as camas e nos enxugar após o                 banho. Aprendi também a moer os grãos para obter a farinha que                 usaríamos para fazer os pães. Quanto mais bem moídos os grãos,                 mais fina a farinha e mais macios os pães. Eu me esforçava                 bastante pois ouvir de Papai que o pão estava muito gostoso era                 uma recompensa que eu cobiçava.
Tive uma infância feliz e livre de maiores                 preocupações. Por isso, o choque foi muito grande quando Mamãe                 adoeceu e veio a falecer. Papai pareceu não resistir à dor e                 morreu pouco depois, quando ainda nem havíamos tido tempo de                 nos recuperar da perda de Mamãe. Foi um tempo escuro em nossa                 vida, mas Lázaro e Marta assumiram as posições de dono e dona                 da casa, e, depois de alguns anos, a forte dor se transformou                 numa saudade dolorida, guardada lá no fundo do coração, mas não                 mais afetando o nosso dia a dia. Formamos de novo uma família                 feliz. Nossa casa era hospitaleira e vivia cheia de amigos que                 sabiam que ali seriam muito bem recebidos. Marta cuidava disso,                 trabalhando com afinco para que tudo continuasse como era no                 tempo de Mamãe.
Lembro-me bem daquela vez em que recebemos a visita do                 nosso amigo especial, Jesus. Ele veio à nossa casa com aquele                 bando de homens que o acompanha por toda a parte. Quase nem                 consegui dormir na véspera da visita de tanta expectativa. Ele                 é a pessoa mais serena e doce que conheço e está sempre                 falando coisas que me tocam fundo o coração. Nunca posso ficar                 ao lado dele o suficiente para perguntar tudo o que gostaria de                 saber a respeito das coisas de Deus. Aquela vez, resolvi que                 aproveitaria ao máximo a oportunidade, mesmo que isso me                 custasse uma carraspana de Marta mais tarde.
Quando ele chegou, abraçado com Lázaro, sentou-se em                 nossa sala, provavelmente cansado depois da jornada. Embora eu                 soubesse que meu papel era recebê-lo e depois deixar os homens                 à vontade, retirando-me para as atividades de dona da casa,                 queria ficar ali, ouvindo o que ele tinha para dizer. Arrisquei                 uma olhadela para Lázaro mas ele parecia tão interessado no                 que Jesus dizia que nem se deu conta de que eu ainda estava ali.                 Aos poucos, me aproximei e sentei-me num banquinho aos pés do                 Mestre.
Enquanto nosso servo lavava os pés sujos                 da poeira da estrada de todos aqueles homens, Jesus começou a                 falar sobre as coisas que estavam acontecendo, como muitos                 estavam se voltando contra ele por causa dos seus ensinamentos e                 das curas milagrosas que fazia. Senti uma pontada de medo no                 coração. Eu também já ouvira os boatos maldosos que tentavam                 enredar o Mestre em sedição contra os religiosos. No entanto,                 eu, que o ouvira pessoalmente tantas vezes e que procurava                 guardar suas palavras no coração, sabia que ele nunca se                 insurgiu contra a Lei. Antes, buscava um cumprimento dela que ia                 muito além daquela que geralmente satisfazia as pessoas. Ele                 falava da Lei de Deus ser cumprida no coração dos homens, onde                 estão as fontes da vida.
Presa às suas palavras, nem me dei conta do tempo que                 foi passando. Somente quando Marta veio da cozinha, furiosa com                 a minha ausência numa hora de tanto trabalho, foi que percebi                 que me deixara ficar na sala mais tempo do que teria sido                 conveniente. Corei intensamente ante todos aqueles homens. Havia                 até me esquecido deles. Esperando uma repreensão de Jesus,                 colocando-me no meu devido lugar, fiquei mais do que surpresa                 quando ele disse a Marta que ela se preocupava demais com coisas                 sem maior importância e que eu havia escolhido a boa parte. Meu                 coração encheu-se de um júbilo tão grande que mal podia me                 conter. Ele entendia! Ele entendia a minha sede de conhecer mais                 do nosso Deus e seguir os seus preceitos! Era a realidade                 sobrenatural que nos dava esperança naqueles dias sombrios de                 domínio romano, de rebeliões de nossos patrícios que custaram                 a vida de tantos homens da nossa terra.
Deus ficara em silêncio por longos anos. A desobediência                 e rebeldia do nosso povo foram castigadas com o exílio em                 terras estrangeiras. Fomos espalhados por diversas terras. Ah,                 como choramos a nossa desgraça! Mesmo depois que pudemos voltar                 , a voz de Deus se calou. Ele não levantou mais nenhum profeta.                 Até a vinda de João Batista. E João apontara o Mestre Jesus                 como o cordeiro de Deus, que havia de tirar o pecado do mundo.                 Ah, eu cri nessa afirmação, desde o princípio. Ninguém podia                 ver Jesus, olhar nos seus olhos serenos e amorosos, sem sentir                 que havia nele uma vida diferente, que ele vinha diretamente de                 Deus. Por isso eu queria beber as suas palavras, gozar a sua                 companhia, cada minuto, quando a oportunidade aparecia. Sei que                 ele é uma pessoa ocupada, que tem muito a fazer por seu Pai,                 mas, quando está conosco, não desgrudo dele.
Misericórdia, estou parecendo os nossos antepassados,                 vagueando pelo deserto, longe do ponto de partida e longe do                 ponto de chegada. Deixe-me retomar o fio da história.
Depois dessa visita que mencionei, Jesus continuou suas                 viagens, mas nosso irmão Lázaro adoeceu gravemente. Ele nunca                 foi muito forte e nos                 preocupávamos com sua saúde, mas dessa vez dava para ver que o                 estado dele era muito pior. Nosso médico, que o conheciam bem,                 chamou Marta e eu de lado e nos disse que nada mais havia que                 pudesse fazer. Mas não nos preocupamos demasiadamente. Sabíamos                 que o Mestre ainda estava por aquelas bandas e ele, que já                 curara tantos enfermos, com certeza viria acudir o seu amigo a                 quem sabíamos que amava. Mandamos um servo avisá-lo de que Lázaro                 estava doente e precisava dele, certas de que ele viria                 imediatamente.
Espantadas, vimos o servo voltar sozinho. Ele afirmou ter                 dado o recado a Jesus e que este o despedira, dizendo que iria                 depois. Palavra que não entendi. Víamos Lázaro piorar de                 minuto em minuto. Jesus devia saber que não o incomodaríamos                 à toa. E mesmo assim ele tardava.
Passamos aquela noite ao lado de nosso irmão,                 que respirava com dificuldade cada vez maior. Na madrugada do                 novo dia Lázaro expirou. Todos os nossos cuidados foram                 impotentes para salvar sua vida. E ainda assim Jesus não vinha.                 Que tristeza! Agora era tarde demais. Lázaro jazia no sepulcro                 havia quatro dias.
Que dias sombrios aqueles! Uma mão de                 ferro me apertava o coração, tornando difícil o respirar. Só                 queria ficar quieta no meu canto, mas havia pessoas para                 hospedar, amigos que vieram de Jerusalém quando souberam a notícia.                 Em vão tentavam nos consolar. Suas palavras em nada aliviavam a                 minha dor e, por estar no meio de tantas pessoas, nem chorar                 sossegada eu podia que logo já vinha alguém querendo enxugar                 as minhas lágrimas e me confortar.
Marta, que não sabia ficar parada, cuidava                 de servir uma bebida refrescante e algum alimento reconfortante                 às visitas e trocava palavras com cada uma delas. Ela estava                 por toda a parte. De repente, dei pela sua falta. Ah! Nem Marta                 suportava mais tantas lágrimas. Mas ei-la de volta, o semblante                 inundado por enorme paz. Seus olhos brilhavam. Quanto tempo se                 ausentara? O que havia acontecido?
-- Maria – disse-me ela baixinho. – O                 Mestre chegou e quer falar com você.
Quase derrubei o banquinho onde me sentava,                 tal a pressa de ir                 ao encontro do querido amigo. Sabia que ele nos consolaria com                 as verdades eternas e mal podia conter-me. Nem percebi que                 diversas das pessoas que estavam comigo na sala levantaram-se                 também e me acompanharam.
Lá estava ele. Só em divisar seu vulto,                 meus olhos se encheram de lágrimas. Corri para ele e me joguei                 aos seus pés. Erguendo para ele os olhos marejados, deixei                 falar a dor do meu coração àquele que sempre me entendia                 melhor do que qualquer outra pessoa.
-- Ah, Senhor, se tivesse estado aqui, meu                 irmão não teria morrido. – As lágrimas se transformaram em                 soluços que me impediram de continuar. Baixei a cabeça e o                 ouvi perguntar onde Lázaro estava sepultado. Senti que alguma                 coisa quente caía sobre minha cabeça, escorrendo por meus                 cabelos. Ergui os olhos e vi seu rosto contorcido por enorme                 sofrimento. Lágrimas jorravam de seus olhos e escorriam por                 suas faces. Ele chorava comigo, tomando sobre si a minha dor.
Levantei-me e saímos em direção ao                 sepulcro. Ao chegarmos, o Mestre parou e ordenou a alguns homens                 que retirassem a pedra que o fechava, mas Marta protestou                 rapidamente:
-- Senhor, já cheira mal pois está                 sepultado há quatro dias!
O Mestre voltou-se para ela:
-- Marta, eu não disse que, se você crer,                 verá a glória de Deus?
Marta não respondeu, mas seu rosto se                 desanuviou, revelando uma expectativa crescente. Eu não havia                 participado da conversa dela com Jesus quando ele chegou, mas a                 esperança que via no semblante dela acendou uma chama quente e                 vibrante em meu coração. Seria possível que....?
A pedra foi removida. Jesus orou em voz                 alta, agradecendo a Deus por sempre ouvir as suas preces. Não                 havia a menor dúvida na mente de todos os presentes de que ele                 estava se comunicando com seu Pai e pedindo forças para fazer                 algo extraordinário.
Voltando-se para o túmulo, ele falou bem                 alto, para todos ouvirem:
-- Lázaro, venha para fora!
Esse é o momento que eu gostaria de captar                 e guardar para sempre como um perfume precioso num frasco de                 rara beleza. Enorme quietude pairou no ar. Uma brisa amena fazia ciciar as folhas das árvores mais                 próximas. Podia-se ouvir a respiração ofegante dos presentes.                 Os pés descalços de Lázaro não produziam o menor ruído                 quando ele veio caminhando em nossa direção. Algumas pessoas                 soltaram um gritinho de susto. Outras se agarraram, enquanto                 fitavam a cena com olhos arregalados. Mas eu! Meu coração                 vibrava de um júbilo incontido. Nunca duvidei de que o Senhor                 fosse o Messias, mas essa prova de poder sobre a morte era além                 do que eu havia esperado ver um dia. Deus estava ali, ao nosso                 lado, dando vida ao que estivera morto.
-- Tirem as faixas que o prendem para que                 ele possa caminhar livremente – disse Jesus. Marta e eu nos                 apressamos em tocar nosso irmão e ajudá-lo a voltar à terra                 dos vivos.
O luto se transformou em alegria. As lágrimas,                 em riso. Voltamos todos para a casa, celebrando a bondade e o                 poder do nosso Pai celeste. Era como se o frasco de fragrância                 rara tivesse sido quebrado e o perfume inebriante invadisse até                 o mais íntimo de nosso coração. Vivemos alguns dias da mais                 intensa alegria que já tivéramos até então.
Antes que a vida retornasse completamente                 ao normal, Marta e eu resolvemos que precisávamos homenagear o                 Senhor com um momento muito especial para demonstrar nossa                 gratidão. Nosso amigo Simão, que havia sido leproso, planejou                 uma ceia bastante especial para Jesus em sua residência. Como a                 casa dele era mais fina e espaçosa do que a nossa, nem                 cogitamos em lhe usurpar esse privilégio. Entretanto, não                 poderíamos perder a oportunidade de estar junto do Mestre. Por                 isso nos oferecemos para ajudar a servir. Simão, que nos                 conhecia desde crianças, aceitou gentilmente a oferta e                 acrescentou um convite para que Lázaro estivesse entre os que                 se reclinariam com Jesus à mesa. Ficamos encantadas em                 participar de tamanha festa.
Marta logo se envolveu de coração com os                 preparativos. Ela e a esposa de Simão passaram longas horas na                 cozinha, preparando tudo do bom e do melhor. Com aquelas duas                 trabalhando a quatro mãos, seria uma ceia e tanto. Ajudei no                 que elas me pediram, mas meus pensamentos estavam no Mestre. Era                 impossível ignorar os rumores da má vontade dos líderes                 religiosos para com ele. Quanto mais crescia a sua fama, e a                 fama dos seus milagres atraía multidões, mais eles se iravam.                 Diziam até que alguns tramavam para tirar-lhe a vida.
Eu ficava com o coração apertado quando                 me lembrava das profecias que falavam do servo sofredor e do seu                 martírio. Lázaro vivia falando sobre as profecias relacionadas ao Messias.
-- Sei                 que a maioria das pessoas acha que ele virá como um guerreiro,                 que recrutará um exército e pelejará contra os romanos, mas                 as profecias de Isaías falam da instalação de outro tipo de                 reino, minha irmã. Será um reino do amor a Deus e ao próximo,                 onde reinará a justiça e a glória de Deus será visível para                 todos os povos.
Quando eu ouvia falar das coisas que Jesus                 ensinava, entendia que sua missão era diferente. Ele mesmo                 afirmou diversas vezes que veio para dar a vida, explicando que                 estava voltando para o Pai. Mas não queria crer que seus                 inimigos chegassem ao ponto de tirar-lhe a vida. Devia haver                 outro caminho!
Enquanto eu pensava nessas coisas, caminhava pelos                 jardins observando os servos acenderem as lâmpadas. Era o toque                 final aos preparativos, indicando que estava tudo pronto, só                 aguardando a chegada dos hóspedes. Apesar das luzes e da aparência                 festiva do ambiente, um enorme tristeza me oprimia o peito, como                 se aquele encontro fosse uma despedida. Tentei pensar em outras                 coisas mais alegres, mas em vão. De repente, não sei de onde,                 veio-me um pensamento tão forte e claro que pensei até ter                 ouvido alguém sussurrando ao meu ouvido o que eu devia fazer.                 Ainda titubeei alguns instantes. Afinal, o que me ocorreu era                 algo tão inédito, tão fora das normas que nem quero pensar no                 que Marta diria depois. E Lázaro, que estaria à mesa, como                 veria a minha ação? Ficaria sem graça? Envergonhado da irmãzinha?
Era pouca a distância que separava a casa                 de Simão da nossa. Em passos rápidos, cheguei ao átrio de                 entrada e subi correndo para meu quarto. No fundo de um bau,                 encontrei o que procurava -- a coisa mais preciosa e especial                 que eu possuía. Pouco tempo antes de morrer, Mamãe me havia                 confiado um belíssimo frasco de alabastro cheio do mais puro                 nardo egípcio, um perfume muito caro, de fragrância pungente.                 Ela recomendou que eu o guardasse para o dia de meu casamento e                 depois disso, deveria usá-lo apenas em ocasiões especiais e                 com muita parcimônia. Ela mesma poucas vezes o usara e por isso                 o frasco ainda se encontrava praticamente cheio. Nunca o havia                 tocado desde aquele dia. Agora parecia ser o momento certo para                 usá-lo e com ele ungir o Mestre, declarando assim, mais                 eloquentemente do que com palavras, minha certeza de que ele era                 de fato o Filho de                 Deus. Seria um ato de consagração dele como meu redentor e da                 minha vida a ele, para servi-lo e amá-lo enquanto eu vivesse.                 Eu colocaria apenas algumas gotas sobre a sua cabeça e isso já                 seria o suficiente. Teria de aguardar um momento em que pudesse                 estar a sós com ele.
Meu coração se encheu de um gozo profundo,                 dizendo-me que eu estava fazendo a coisa certa. Voltei à casa                 de Simão o mais depressa que pude. Queria ver e ungir Jesus                 antes de ele se reunir aos outros convidados, mas cheguei tarde                 demais. Os homens já se encontravam reclinados ao redor da                 mesa. Agora seria impossível entrar naquele ambiente. As                 mulheres só podiam aparecer ali para servir e eu nem essa                 desculpa tinha.
Permaneci alguns momentos parada ali no átrio,                 sem saber o que fazer ou pensar. De repente, vi-me avançando                 salão adentro, segurando o frasco com ambas as mãos. Todos os                 olhares se voltaram para mim, espantados, alguns horrorizados.                 Hesitei e fitei Jesus. Seu olhar me acolheu e encorajou a                 prosseguir. Aproximei-me dele. Em vez de destampar o frasco e                 respingar algumas gotas sobre ele, ergui-o no ar e quebrei-o                 sobre sua cabeça. O óleo finíssimo lhe escorreu pelos cabelos                 e perfumou toda a casa. Com o que restou da essência numa das                 metades do frasco, ungi também seus pés. Soltei meus cabelos,                 embora soubesse que uma mulher de boa família nunca faria isso                 em público, e enxuguei com eles os pés do Senhor, aqueles pés                 que o levavam a toda parte para fazer o bem.
Antes que eu me levantasse e enfrentasse a                 confusão que havia criado, o Mestre tocou-me a cabeça, como se                 estivesse me abençoando. Um burburinho se erguia ao redor da                 mesa e pude distinguir as vozes ásperas de alguns discípulos:
-- Que desperdício! Por que não se vendeu                 este perfume pelo dinheirão que vale e assim teríamos o que                 dar aos pobres?
Jesus os interrompeu com um gesto. Nunca me                 esquecerei de suas próximas palavras.
-- Por que vocês estão criticando o que ela fez? Maria praticou uma boa                 ação para comigo. Derramando este perfume sobre o meu corpo, ela me preparou para o meu sepultamento. Sua ação                 será relembrada em todo o mundo quando este evangelho for                 pregado...
BISPO/JUIZ.DR.EDSON CAVALCANTE
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