Um Passo Radical
BISPO/JUIZ.DR.EDSON CAVALCANTE
"E se teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti" (Mateus
5:29). Mateus 5:29-30 contém duas das mais chocantes sentenças dos
Evangelhos.
Em palavras brutalmente francas Jesus fala das ásperas alternativas abertas a um homem confrontado com a aniquilação total, por causa do perigo apresentado por um a parte de seu corpo de inestimável valor.
Aqui a ameaça reside no olho direito e na mão direita. Mais tarde, em outro contexto, Jesus repete sua ilustração, acrescentando o "pé" (Mateus 18:8-9; Marcos 9:43-47).
A linguagem pode ser chocante, mas a situação não é forçada. Nos dias da medicina mais primitiva, muito membro gangrenoso foi amputado por cirurgiões para salvar a vida do paciente, e a medicina moderna ainda aconselhará a mesma traumática cirurgia, quando uma parte do corpo ameaçar a vida do todo.
Sabe-se de homens que fizeram em si mesmos esta cirurgia, quando um braço ou perna, preso numa máquina, estava arrastando-os para a morte. É um passo radical, mas em inentemente sensato.
Esta passagem é o lugar onde aqueles que afirmam firmemente sua confiança na interpretação literal de todas as Escrituras terão que pensar bem.
Não pode haver nenhuma questão quanto a que Jesus constroi sua mensagem sobre uma verdade do mundo da carne, mas é evidente pelo contexto que sua linguagem tem aplicação ao mundo do espírito (se o olho direito fosse extirpado o pecador ainda poderia cobiçar tão efetivamente só com o esquerdo).
Nestas penosas palavras, a verdadeira profundidade da mudança que o Filho de Deus exige encontra sua dramática expressão. No mesmo tom, Jesus fala de nossa aproximação a ele como uma crucificação (Mateus 16:24-25; veja Gálatas 2:20) e Paulo provê um comentário sobre Mateus 5:29-30, com suas palavras aos Colossenses: "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno" (3:5).
Ainda que o Senhor não esteja, aqui, falando de mutilação física, que poderia ser totalmente ineficiente contra os impulsos do coração, não deveríamos presumir que a intenção figurativa de suas palavras as tornem menos intensamente penosas. Há "partes" de nós, afetos, hábitos, atitudes, valores, relacionamentos que se tornaram, pelo longo cultivo, partes tão íntimas de nossa personalidade que a sua remoção fará a extirpação de um olho ou mão parecer muito moderada.
Muitos de nós passaram longo tempo aprendendo como ser egoístas e concupiscentes. Não deveríamos esperar que o fim destas coisas viesse sem trauma. Gritos de angústia podem levantar-se de algum lugar dentro de nós quando em penitência aplicarmos o escalpelo do evangelho. Mas algumas dores são boas dores. ". . .pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado" (1 Pedro 4:1). Podemos escolher evitar este sofrimento, mas nossas queridas concupiscências nos destruirão como uma terrível gangrena da alma.
A natureza radical e decisiva desta renúncia é ressaltada pela instrução de Jesus não somente para arrancar o olho ou cortar fora o membro ofensor, mas para lançá-lo fora.
A separação tem que ser absoluta e final, não gradual. Esta é uma solução radical mas deveria ser recebida com alegria, em vez de horror.
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