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segunda-feira, 6 de setembro de 2021

O SILÊNCIO DE DEUS.

 

O SILÊNCIO DE DEUS.

A experiência do silêncio de Deus é muito difícil de vivenciar. Refiro-me à situação na qual pedimos algo importante para Ele e Deus parece não responder. Parece ficar em silêncio.

O grande escritor cristão C.S. Lewis viveu exatamente essa situação. Sua mulher estava com câncer e ele pediu a Deus a cura dela. Veja o que Lewis escreveu, num momento de desespero:

“Mas se você vai até Ele [Deus] quando sua necessidade é desesperada, quando todo outro tipo de ajuda é vão, o que você encontra? Uma porta é fechada na sua cara e você ouve o som da fechadura sendo trancada. Depois disso, silêncio … Por que Ele é tão presente no nosso tempo de prosperidade e tão ausente no momento de dificuldade?”

O que fazer quando se vive esse tipo de situação? Como evitar que a frustração da falta de resposta aparente de Deus leve o cristão a se afastar da fé?

Há uma história na Bíblia (está em Mateus capítulo 15, versículos 21 a 28) que ajuda a dar um sentido, quando esse tipo de situação acontece. Refiro-me ao caso de uma mulher não judia, que se aproximou de Jesus, pedindo-lhe ajuda, pois sua filha estava possuída por um demônio. Os discípulos nem queriam que a mulher falasse com Jesus, mas ela insistiu muito, até conseguir falar com Ele.

A mulher, desesperada, pediu ajuda, mas Jesus permaneceu calado. A mulher insistiu e continuou clamando por ajuda. Sua fé era tamanha que ela, intuitivamente, sabia que o silêncio de Jesus não deve ser entendido como o silêncio dos seres humanos.

O silêncio dos seres humanos, normalmente, significa falta de interesse, indiferença. Mas, não é assim com Deus. O fato de não haver uma reposta imediata de Deus não significa que Ele está indiferente ao que se passa conosco.

Esse tipo de silêncio ocorreu no Calvário, quando Maria e as outras mulheres estavam aos pés de Jesus, pregado na cruz, e certamente se perguntaram porque aquilo estava ocorrendo. E não receberam qualquer resposta naquele momento. Elas só entenderam o significado daquilo que estava ocorrendo muito mais tarde. O sacrifício de Jesus na cruz era Deus falando que ama e quer ver cada ser humano perto dele (João capítulo 3, versículo 16).

Voltando à história da mãe que pediu ajuda a Jesus, o texto conta que, de tanto insistir, a mulher recebeu uma resposta. E essa reposta pareceu deixar a situação ainda pior. Jesus disse que não poderia atender o pedido dela pois seu ministério estava limitado ao povo de Israel (a mulher não era judia).

Se a história tivesse acontecido comigo, e eu tivesse recebido uma resposta dessas, teria ido embora revoltado e desolado, lamentando a falta de sensibilidade de Jesus. Talvez até pensasse que Ele não era a pessoa especial de quem todos falavam.

Mas, aquela mãe agiu de forma diferente: persistiu e deixando de lado todo orgulho, implorou a Jesus pela sua ajuda. Seu desespero era tamanho que ela não conseguiu ir embora, não importa o que lhe dissessem. Sabia que somente Jesus poderia ajudá-la e por isso insistiu.

E, finalmente, Jesus agiu. Disse para ela: “Mulher, grande é a tua fé, faça-se contigo como queres…” e a filha dela foi imediatamente liberta.

Deus muitas vezes não age da forma como as pessoas esperam. O silêncio dele é apenas aparente e tem a ver com nossa incapacidade de entender o que Ele está fazendo e dizendo.

O conhecido rabino Abraham Heschel certa vez disse uma coisa muito certa: “Deus não é “bonzinho”, não é um como um tio ou padrinho que chega com presentes. Deus é um terremoto”

Em outras palavras, Deus é uma força sem tamanho e um mistério para nós. Nunca se sabe com certeza como Ele vai agir. O que vai dizer.

Aquela mãe insistiu porque sua fé era absoluta, uma das maiores relatadas na Bíblia. E o próprio Jesus reconheceu isso. Tinha confiança absoluta de que Deus podia ajudá-la e iria fazer isso. Ela não sabia o quê seria feito, nem quando a benção ocorreria e muito menos como Jesus resolveria o problema. Ela apenas acreditou, contra tudo e todos. E obteve o que precisava.

Resignação não é o que Deus espera de alguém que lhe faz um pedido. Ele quer que a pessoa insista, resista e não se conforme com a situação vigente. Isso está claro bem claro numa passagem do Gênesis (capítulo 18, versículos 23 a 33) onde Deus contou para Abrão que iria destruir Sodoma e Gomorra, matando a todos que ali viviam. Abraão não se conformou, questionou, resistiu e Deus aceitou suas ponderações.

Rejeitar Deus porque Ele parece ficar em silêncio e não fazer o que a pessoa quer, é a reação errada. Pois, ao rejeitá-lo, a pessoa perde o contato com Deus e qualquer possibilidade de ter seu problema resolvido. É preciso que a pessoa faça exatamente o oposto: se “agarre” desesperadamente a Ele, usando sua fé como alavanca.

O grande reformador Martinho Lutero, certa vez, ao observar seu cão, com os olhos brilhando, à espera de um osso que lhe seria atirado, comentou: “ah, se eu conseguisse orar com essa mesma certeza…” Acho que isso resume bem tudo o que acabei de falar.

Quando Deus parecer estar em silêncio, insista. Continue a bater na porta até que ela se abra. Amém.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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