UM NOVO CÉU
O novo céu e nova terra é uma promessa amplamente ensinada pelas Escrituras. Tal doutrina está presente desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento. Naturalmente muitas dúvidas surgem entre os cristãos acerca de como será esse estado futuro e eterno.
Apesar de termos muitas referências bíblicas sobre o novo céu e nova terra, claro que muitos detalhes só serão esclarecidos quando, finalmente, estivermos vivendo neles. Neste estudo bíblico, meditaremos sobre o que a Bíblia nos diz acerca do novo céu e nova terra.
Quando ocorrerá o surgimento do novo céu e nova terra?
Podemos dizer que o estado eterno, com novo céu e nova terra, terá início por ocasião do juízo final. Quando todos forem julgados, os ímpios serão destinados à condenação eterna no lago de fogo, enquanto os santos viverão e reinarão eternamente com Deus, no novo céu e nova terra.
O Apóstolo João descreve esse momento da seguinte forma: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap 21:1).
Como será criado o novo céu e nova terra?
Esse é um ponto que levanta algumas discussões entre os estudiosos. Primeiro, vale ressaltar que a expressão “novo céu e nova terra” deve ser entendida como contemplando o universo inteiro, ou seja, é uma expressão bíblica para se referir a todo universo.
Sobre as discussões acerca de como se dará a criação do novo céu e nova terra, alguns acreditam que o universo atual será completamente destruído, no sentido de aniquilado, deixando de existir, e então Deus criará novo céu e nova terra, sem continuidade alguma com o universo atual.
Já outros estudiosos defendem que o universo atual não será destruído, mas renovado. Será uma transformação tão profunda que refletirá uma nova criação, mas ainda assim será a continuidade do universo atual.
Particularmente entendo que há base bíblica suficiente para que não haja qualquer dúvida de que, na verdade, acorrerá uma renovação. Por exemplo: se considerarmos o texto citado acima em Apocalipse 21:1, o termo grego utilizado para descrever o novo céu e nova terra expressa uma ideia de um “novo mundo”, e não de um “outro mundo”.
O mesmo termo também é utilizado em 2 Pedro 3:13, e trata-se do grego kainos que significa algo novo em qualidade. Se fosse algo novo em origem, ou seja, sem qualquer base prévia, o termo grego deveria ser neos.
Na Carta aos Romanos, o Apóstolo Paulo nos diz que “a natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados” (Rm 8:19). Paulo continuou explicando que tal expectativa se dá pelo fato de que a criação será “libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8:21). Obviamente o apóstolo está dizendo que é a criação atual que será libertada dos efeitos do pecado, e não uma nova criação.
Por fim, também penso que a aniquilação do universo atual poderia representar um tipo de vitória de Satanás, pois ele teria conseguido corromper de maneira irreversível a criação original de Deus, a ponto de precisar ser completamente descartada para que outra criação seja criada.
Portanto, a renovação do universo, além de ser a doutrina bíblica acerca do assunto, também demonstra mais um meio pela qual a soberania de Deus será revelada, quando Ele purificar exatamente a criação que Satanás tentou destruir, removendo todos os efeitos do pecado.
Como será o novo céu e nova terra?
Muita gente possui uma ideia completamente equivocada acerca do que será o novo céu e nova terra, imaginando ser um paraíso espiritual. Essa ideia foi difundida principalmente na idade média, onde o paraíso futuro sempre era retratado como um lugar etéreo, entre nuvens, onde as pessoas vestidas de branco ficariam flutuando com harpas nas mãos.
Na verdade, mesmo dentro das igrejas, alguns cristãos também entendem desta forma, talvez por conta de expressões que remetem a ideia de que passaremos a eternidade num tipo de céu em algum lugar no espaço.
Primeiro precisamos dizer que hoje, quando um cristão morre, sua alma vai estar com Deus na morada dEle, um lugar de descanso de sua vida terrena, enquanto aguarda a ressurreição de seu corpo.
Porém na eternidade, todos nós teremos corpos ressurretos e glorificados, isto é, não seremos apenas almas. Na verdade, nós podemos dizer seguramente que passaremos a eternidade no céu, desde que entendamos o que será o céu no estado eterno.
A doutrina bíblica é a de que haverá uma nova terra na qual passaremos a eternidade, vivendo em corpos ressurretos e desfrutando das belezas desse mundo transformado para a glória de Deus.
Entretanto, a Bíblia se refere a esse futuro lar como “novo céu e nova terra”, isso porque Deus habitará conosco, ou seja, esse lugar também será a habitação de Deus. Em outras palavras, não existirá nenhuma separação entre o céu (a morada de Deus) e a terra, ou seja, ambos se fundirão, formando então um único lugar.
Logo, a nova terra será o céu, e o céu a nova terra, e nós, habitando a nova terra, também estaremos habitando o novo céu (Ap 21:1-3). Claro que existem mistérios acerca de como tudo isto ocorrerá, mas nossa esperança é de que chegará o dia onde compreenderemos todas estas coisas pessoalmente.
As Referências acerca do novo céu e nova terra
Como já dissemos, existem muitas passagens bíblicas em referência ao novo céu e nova terra, do Antigo ao Novo Testamento. Praticamente em todas elas a descrição desse futuro glorioso é feito de forma figurada, onde uma realidade indescritível à nossa compressão humana é descrita com símbolos que possamos entender na presente era.
Em muitas dessas passagens há também a ocorrência de profecias de dupla referência, isto é, uma única profecia se cumpre em eventos distintos, de modo que algo que já se cumpriu prefigura o cumprimento de algo ainda futuro.
Algumas dessas profecias se referem à restauração do povo de Deus do exílio na antiga dispensação e/ou a vinda do Messias. Logo, muitas profecias já tiveram um cumprimento primário na História do povo hebreu, ou se cumprem na nova dispensação com a Igreja de Cristo, porém elas também apontam para um momento futuro, onde serão plenamente cumpridas.
Devido as diferentes correntes escatológicas e a discussão acerca do Milênio, os cristãos discordam entre si a respeito de quando se dará esse cumprimento futuro.
Uns defendem que tais promessas se cumprirão durante o reino milenar futuro e literal de Cristo na terra (ainda velha terra). Outros defendem que estas promessas encontrarão seu cumprimento no novo céu e nova terra, ou seja, não durarão apenas mil anos, mas perdurarão a eternidade.
Se entendermos que a doutrina bíblica aponta para o novo céu e nova terra como o lugar onde as promessas e os propósitos de Deus serão plenamente cumpridos, então perceberemos que em toda a Escritura esse maravilhoso lugar é mencionado de alguma forma.
Na promessa feita a Abraão (Gn 17:8), por exemplo, Deus lhe garante que entregaria ao patriarca e a sua descendência a terra de Canaã. Podemos dizer que a terra de Canaã foi um tipo de símbolo que apontava para o futuro sobre a nova terra que está ainda por vir.
Isso é o que o escritor da Epístola aos Hebreus entendeu quando escreveu que Abraão “pela fé peregrinou na terra prometida como se estivesse em terra estranha; viveu em tendas, bem como Isaque e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa. Pois ele esperava a cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus” (Hb 11:9,10).
Sobre essa “cidade que tem alicerces” a qual eles esperavam, o mesmo capítulo 11 nos mostra que não se tratava de uma cidade terrena da presente era, mas uma cidade celestial que se encontrará na nova terra. Logo, eles entendiam que a promessa de Deus transcendia a Canaã terrena, e buscavam uma pátria, isto é, a “pátria celestial“, uma cidade a qual Deus lhes preparou (Hb 11:16; cf. Jo 14:2).
Quando consideramos a promessa feita em Gênesis 17:8, e a interpretamos à luz de passagens neotestamentárias como essa de Hebreus juntamente com Mateus 5:5, Romanos 4:13 e Gálatas 17:8, entendemos que também somos herdeiros da promessa acerca do novo céu e nova terra, pois em Cristo somos descendência de Abraão.
No Antigo Testamento, as passagens mais conhecidas e explicitas que descrevem o novo céu e nova terra estão no livro do Profeta Isaías (caps. 65:17-65; 66:22,23). Já no Novo Testamento, existem muitas referências que remetem ao estado eterno, mas certamente as referências de Romanos 8:21-23; 2 Pedro 3:13 e Apocalipse 21-22 são as principais acerca do novo céu e nova terra.
Considerando todas estas referências, podemos claramente entender que o novo céu e nova terra será um lugar glorioso, com uma paz sem igual, toda a criação estará restaurada e livre da maldição do pecado, onde haverá abundância de recursos que estarão à disposição de seus habitantes, não existira mais a morte, a tristeza e a dor, será um lugar marcado pela justiça e, principalmente, será a eterna habitação de Deus com Seu povo.
Como viveremos no novo céu e nova terra?
Bem, como já vimos, não devemos imaginar nossas vidas na nova terra de forma “espiritualizada”, flutuando entre nuvens e cantando durante toda a eternidade num coral. Geralmente sobre essa questão, as pessoas costumam ter dúvidas bem específicas.
Alunos já me perguntaram coisas bem curiosas, como por exemplo, se haverá esportes, tecnologia (incluindo a internet), e se haverá alimentação. Ora, para dúvidas tão específicas precisaremos esperar o grande dia em que teremos todas as respostas, pois a Bíblia não nos esclarece nada acerca disso.
Todavia, a Bíblia (com principal ênfase no capítulo 21 do Apocalipse) nos fala sobre o que realmente importa sabermos em relação a nossa vida futura. A Igreja de Cristo reinará durante toda a eternidade com Deus, ou seja, na nova terra nós desfrutaremos de comunhão eterna com Deus. Certamente esse é o aspecto mais maravilhoso da nossa vida futura.
Como já dissemos, na nova terra não haverá mais lágrimas e sofrimento e a morte não será mais encontrada. Todas essas coisas já serão passadas. Na nova terra também estaremos unidos com todo o povo Deus, juntos, numa única família.
Lá poderemos conviver durante toda a eternidade com nossos amigos e entes queridos que partiram no Senhor, como também com grandes homens de Deus a quem conhecemos apenas de ouvir falar, como Noé, Abraão, Moisés, Isaías, Paulo, Pedro, João e tantos outros.
Na nova terra nós teremos ocupações. Em Apocalipse 22:3 somos informados de que os servos de Deus o servirão. Lá descansaremos, mas não seremos ociosos, repousaremos de nossas fadigas, mas não do nosso serviço. Porém, será um trabalho glorioso e prazeroso, pois serviremos o nosso Senhor.
Ainda no texto do livro do Apocalipse, lemos que na eternidade contemplaremos a face de Deus (Ap 22:4). Com certeza esse é ponto alto da descrição da nossa vida futura. Poderemos ver o nosso Senhor exatamente como Ele é (1Jo 3:2).
Aqui vale ressaltar que nossa vida na nova terra será essencialmente diferente e infinitamente superior ao que foi com Adão no Éden. Antes da Queda, sabemos que Deus descia à terra para conversar com Adão na viração do dia.
Obviamente isso já era maravilhoso, mas perceba que ainda existia uma distância, pois Deus descia em alguns momentos. Os estudiosos entendem que possivelmente essa manifestação de Deus era sob forma humana. Mas no novo céu e nova terra não haverá qualquer distância, Deus não nos visitará em determinados momentos, mas habitará conosco para todo o sempre.
Além de servirmos a Deus, no novo céu e nova terra também reinaremos com Ele pelos séculos dos séculos (Ap 22:5). Seremos servos e reis. Devemos nos lembrar que não merecemos nenhuma destas coisas, tudo isso é graça.
Outro aspecto interessante que a Bíblia nos esclarece é que, em corpos ressurretos vivendo na nova terra, os santos não mais se casaram. Pelo menos nesse ponto específico seremos como os anjos (Mt 22:30). Logo, também não haverá mais nascimentos, pois como a morte não existirá também não haverá mais a necessidade de reprodução.
Qual será o papel dos anjos no novo céu e nova terra? Como eles se relacionarão com a Igreja?
Falando nos anjos, muitas pessoas também se perguntam sobre como será o papel dos anjos no novo céu e nova terra, e como será o nosso relacionamento com eles. Na verdade a Bíblia não fala nada a respeito deste assunto.
Todavia, ao que parece a relação entre os anjos e os redimidos permanecerá como é atualmente. Os anjos são “espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb 1:14).
Considerando algumas passagens bíblicas que podem servir de base para esclarecer um pouco essa questão, creio que não há dúvidas de que os santos permanecerão sempre mais exaltados do que os anjos (1Co 6:3; Ap 5:11). Seja como for, é certo que o relacionamento entre os anjos e a Igreja será de terna união, e juntos adorarão ao Deus Todo-Poderoso por toda a eternidade.
Como será o nosso corpo no novo céu e nova terra?
Também não temos todos os detalhes acerca disto, mas com certeza o texto do Apóstolo Paulo aos irmãos de Corinto é bem esclarecedor nesse sentido (1Co 15:50-54). É preciso notar que o texto não explica a composição física do corpo ressurreto, apenas enfatiza que seremos imortais e incorruptíveis, ou seja, não haverá mais nada que nos debilite.
Em sua Epístola aos Filipenses, o mesmo apóstolo nos ensina que o corpo ressurreto será semelhante ao corpo glorioso de Cristo ressuscitado (Fp 3:21).
O cristão e a promessa acerca do novo céu e nova terra
A doutrina bíblica acerca do novo céu e nova terra deve ser algo presente na vida de todos os cristãos verdadeiros. As promessas sobre esse futuro glorioso devem nos confortar na presente era, enquanto ainda vivemos em um mundo decaído e corrompido pelo pecado.
Apesar de hoje não compreendermos todos os detalhes acerca do estado eterno, haverá o dia em que pessoalmente não só entenderemos, mas presenciaremos e participaremos de todas essas coisas.
Não há dúvida de que o novo céu e nova terra será algo sem igual, como nunca visto antes. Porém, entre tudo isto, nada poderá se comparar ao prazer de contemplar a face de Deus. Por enquanto só nos resta imaginar o dia em que estaremos profundamente admirados diante do esplendor do Cordeiro.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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