“A Bíblia diz que Deus criou o primeiro homem, Adão, à Sua imagem e semelhança. Deus fez um pacto com esse homem a fim de que, através da obediência aos Seus mandamentos, este pudesse obter vida. Contudo, o homem falhou desobedecendo a Deus deliberadamente, fazendo uso do seu livre-arbítrio, rebelando-se contra o seu Criador. Este pecado inicial de desobediência (conhecido como a Queda do Homem) resultou em morte espiritual e ruptura na ligação de sua alma com Deus, o que mais tarde trouxe também sua morte física. Sendo Adão o representante de toda a raça humana, todos caímos com ele e fomos afetados pela mesma corrupção do pecado. Tornamo-nos objetos da justa ira de Deus e a morte passou a todos os homens”
Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, no entanto, o apóstolo Paulo esclarece a exposição acerca da criação do homem que consta do Gênesis dizendo que Adão foi criado à imagem de Cristo, e não a imagem e semelhança do Deus invisível “No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir” ( Rm 5:14 ).
O apóstolo Paulo deixa claro que Adão é a figura daquele que havia de vir, ou seja, através das Escrituras sabemos que Cristo homem é o que veio na plenitude dos tempos, portanto, a imagem que foi dada ao primeiro homem é a imagem do Cristo que haveria de vir ao mundo.
Quando Cisto foi manifesto aos homens na terra, manifestou-se em carne, e não em glória. A imagem que Adão recebeu foi a de Jesus Cristo homem, e não a imagem de Deus, visto que Deus é espírito. Para saber mais, acesse o artigo “A criação do homem e a encarnação de Cristo” .
Através do mandamento: “E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” ( Gn 2:16 -17), Deus alertou que havia a possibilidade de o homem abrir mão da comunhão que possuía com o Criador.
O fim da comunhão com Deus seria tão funesto que foi nomeada morte. Separação que o homem não pode remediar, e que emprestou o nome ao evento ‘descer ao pó da terra’. O homem se preocupa com o ‘descer ao pó’ como se fosse o mais grave evento para a existência do homem, e muitos não sabem que a separação de Deus pode perdurar pela eternidade.
Enquanto possuía comunhão com Deus não havia nenhuma obrigação para o homem, mas se decidisse comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, a comunhão com Deus estaria cortada (morte).
Deus é vida, e a comunhão com Ele é vida, portanto, estar alienado d’Ele é morte. A ideia de morte no mandamento que foi dado no Éden significa separação de Deus, alienação, consequência muito mais gravosa e danosa para o homem do que o término das funções vitais, que é o descer ao pó (separação dos entes queridos) “E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” ( Gn 2:16- 17); “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” ( Gn 3:19 ).
A ofensa de Adão (conhecida como a Queda do Homem) resultou em separação (morte), ruptura entre o Criador e a criatura. A criatura continuou existindo, no entanto, após a ofensa, uma parede de separação foi erguida. O homem tornou-se separado de Deus, perdeu a liberdade que havia na comunhão “Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça” ( Rm 6:20 ).
Por causa da ofensa a terra foi amaldiçoada, a mulher foi apenada a ter filho com dores e o homem a comer do suor do seu rosto até tornar para o pó da terra, isto porque o homem foi tomado do pó da terra. É neste ponto que surge o conceito de morte física, que não pode ser confundida com a morte espiritual que é alienação de Deus ( Gn 3:19 ).
Adão é a cabeça da raça humana e, através da desobediência dele toda a humanidade foi afetada. Por causa da ofensa de Adão a humanidade tornou-se filha da ira e da desobediência, e a alienação passou a todos os homens. Toda a humanidade herdou as consequências da ofensa de Adão e, por isso, todos os homens nascem alienados da Vida.
A queda de Adão escancarou uma porta larga pela qual todos os homens entram quando nascem. Esta porta larga dá acesso a um caminho largo que conduz os homens à perdição ( Mt 7:13 ). Por causa da ofensa de Adão todos os homens que veem ao mundo são ímpios, pois se desviam de Deus desde a madre. Andam errado desde que nascem, pois estão em um caminho largo que os conduz à perdição ( Sl 58:3 ).
Em Adão desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos, pois toda a humanidade estava na coxa de Adão ( Hb 7:9 -10), e neste quesito não há distinção de carne e sangue. Tanto judeus quanto gentios tornaram-se impróprios para a glória de Deus ( Sl 53:3 ; Rm 3:9 ).
Com a queda, os homens passaram a ser descritos como escravos do pecado, portanto, filhos da desobediência, herdeiros da ira.
Ser escravo do pecado não é ser escravo da própria natureza. É equivocada a concepção de que alguém é escravo de si mesmo, antes um escravo é aquele que, mesmo contra a sua vontade está sob domínio de outrem.
O pecado alcançou o senhorio por intermédio do mandamento santo, justo e bom que foi dado no Éden. Foi através do mandamento dado no Éden que o pecado tem força para dominar a humanidade, pois sem o mandamento não existiria o pecado “Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concupiscência; porquanto sem a lei estava morto o pecado” ( Rm 7:8 ).
Sem o mandamento que diz: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”, não haveria alienação, morte, separação entre Deus e os homens, mas por causa da ofensa, veio a morte por força do mandamento divino que não pode ser invalidado “Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei” ( 1Co 15:56 ).
Ora, toda a humanidade herdou as consequências da ofensa de Adão, ou seja, a morte. Não existe nada mais grave do que a alienação de Deus. Mas, me surpreende a concepção de que os homens nascem ‘totalmente depravados’, ou seja, a concepção e o conceito ‘extensivamente maus’.
“Toda a humanidade herdou a culpa do pecado de Adão e por isso todos nascemos totalmente depravados e espiritualmente mortos. A morte espiritual não quer dizer que o espírito humano esteja inativo, mas sim que o homem é culpado (tem um passado manchado) e corrupto (possui uma natureza má). A depravação total não quer dizer que os homens são intensivamente maus (que somos tão maus quanto poderíamos ser), mas sim que somos extensivamente maus (todo o nosso ser, intelecto, emoções e vontade estão corrompidos pelo pecado)”
A colocação do Rev. Alderi começa com o equivoco de afirmar que a humanidade herdou a culpa do pecado de Adão, sendo que a Bíblia demonstra que o homem herdou a condenação: alienação, separação de Deus. No Novo Testamento, o termo grego traduzido por culpa.
Constrangido, sob obrigação, sujeito a, responsável por 1a) usado de alguém que está nas mãos de, possuído pelo amor, e zelo por algo 1b) num sentido forense, denotando a conexão de uma pessoa seja com o seu crime ou com penalidade ou julgamento, ou com aquilo contra quem ou o que ele tem ofendido 1b1) culpado, digno de punição 1b2) culpado de algo 1b3) do crime 1b4) da penalidade 1b5) sujeito a este ou aquele tribunal i.e. a punição a ser imposta por este ou aquele tribunal 1b6) do lugar onde a punição é para ser sofrida) Dicionário Strong, aparece em conexão com a ideia de punição, o que difere do conceito jurídico recente de culpa, que deriva das intenções.
Quando encontramos na Bíblia que o homem é culpado, não significa que a Bíblia está levando em conta as questões de foro íntimo do indivíduo como certo e errado, conhecedor ou ignorante, motivos e intenções, etc. O termo culpado aponta somente para a penalidade imposta.
Um jurista entende que a humanidade herdou a culpa de Adão, mas a Bíblia demonstra que o homem herdou a condenação “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” ( Jo 3:18 ).
Mas, no que consiste a condenação? Alienação, separação, morte. Ora, todos os homens nascem separados da vida que há em Deus, portanto, mortos. A penalidade da desobediência é única: certamente morrerás. Na penalidade não está inclusa a ideia de depravação.
O que querem dizer com ‘depravado’? Por que a necessidade de enfatizar a ‘depravação’ com o termo ‘totalmente’. Por que a necessidade de inserir um novo termo para ilustrar a condição da humanidade se o termo morte demonstra com clareza a condição do homem?
O homem não possui um passado manchado, antes, segundo a Bíblia, é o homem que está manchado, ou seja, maculado, impróprio para comunhão com Deus. O homem não possui uma natureza má, antes o homem é apresentado na Bíblia como sendo mau “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos…” ( Mt 7:11 ).
Surpreende-me a colocação de que os homens não são ‘intensivamente’ maus, e sim, extensivamente maus. Quando comparo com o que Jesus disse: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos…” (Mateus 7 : 11), verifico que nenhuma das duas premissas resistem à verdade.
Quando Jesus diz: “Se vós, sendo maus…”, indica que a plenitude do ser é má, ou seja, está comprometida. Se houvesse como mensurar o mau que decorre da ofensa, e esse mau fosse mínimo, mesmo assim o homem estaria aquém da gloria de Deus. Por que? Porque Deus é luz e não há n’Ele trevas nenhuma ( 1Jo 1:5 ).
A morte não comporta intensidade de modo que dizer que o homem é totalmente depravado é sem significado. O homem está morto em delitos e pecados e é mau, o que contraria a assertiva do Rev. Alderi.
Por outro lado, Jesus demonstra que, apesar de os seus interlocutores serem maus, sabiam dar boas coisas aos seus filhos ( Mt 7:11 ), o que demonstra que os homens não são extensivamente maus.
Ora, apesar de serem inteiramente maus, o intelecto dos fariseus não foi afetado, pois davam aos seus filhos boas dádivas. A emoção não foi afeta, pois o ato de dar boas dadivas aos filhos demonstra que o pecado não tolhe o forte vínculo emocional entre pai e filho.
Observe que, apesar de os fariseus serem maus, caso o filho deles pedisse pão, jamais dariam uma pedra. Ou, se o filho pedisse um peixe, jamais dariam uma serpente, o que evidencia que a vontade do homem não foi comprometida após a queda.
O que foi comprometida foi a relação do homem com Deus. Antes da queda havia comunhão, liberdade e vida, após a queda instalou-se a morte, perdeu-se a comunhão e o homem tornou-se escravo do pecado.
No instante após comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, Adão passou à condição de morto para Deus, alienado, separado, etc. A morte foi a penalidade estabelecida na lei: certamente morrerás. O homem não ficou extensivamente mau após a queda visto que não há no mandamento dado no Éden a penalidade ‘certamente ficarás extensivamente mau’.
Após a queda Adão não praticou nenhuma maldade que pudéssemos indicar que ele tornou-se tão mau quanto poderia ser, e nenhuma atitude dele após a queda indica que o seu intelecto, emoções e vontade foram corrompidos, porém, uma coisa é certa: ele estava completamente separado de Deus.
A morte espiritual é alienação de Deus, mas isto não significa que, por estar ‘separado de Deus’ o homem é ‘extensivamente mau’, ou seja, que o intelecto, as emoções e a vontade do homem estão corrompidos pelo pecado.
Há o mau proveniente da ofensa de Adão e o mau proveniente do fruto da árvore do conhecimento. Temos que divisar bem o que é ser mau por causa da ofensa de Adão, e o que é ter o conhecimento do bem e do mal proveniente do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal que estava no meio do jardim.
Através do seu intelecto, sentimento, emoções e vontade o homem pode executar intentos nobres e bons, como também pode executar ações reprováveis e más. Tanto o que faz boas ações quanto o que faz más ações estão alienados de Deus e, diante de Deus estão em pé de igualdade, pois o mais reto dos homens diante de Deus é como um espinho, e o mais justo como uma cerca de espinho ( Mq 7:4 ).
Quando a Bíblia afirma que o homem é mau, temos que entender o conceito de mau assim como entendemos o conceito de trevas. Deus é luz, e o homem sem Deus é trevas. Dentro do mesmo princípio, Deus é bom e o homem sem Deus é mau.
Quando dizemos que Deus é bom, temos que entender o conceito ‘bom’ segundo a concepção do homem da antiguidade, e não com o olhar e o sentimento do homem moderno. Na Bíblia ‘bom’ (aghatos) vincula-se à nobreza, e o conceito de mau que se aplica ao homem é o de vil, baixo, ralé. Ou seja, há uma barreira de separação entre Deus e os homens, não porque o homem é maldoso e Deus é bondoso, antes porque a natureza de Deus é distinta da do homem, este inferior e aquele superior.
Quando a Bíblia diz que o homem está separado, alienado de Deus, estabelece um conceito de totalidade. Não há como estar ‘parcialmente’ alienado. Não há como apor uma adjetivação na condição do homem, como ‘totalmente’ morto, ‘plenamente’ morto, ‘incomparavelmente’ morto, etc.
Mas, muitos adeptos da reforma protestante apresentaram o conceito da depravação total, dizendo que os homens são extensivamente maus, ou seja, que o pecado afetou o intelecto, as emoções e a vontade do homem.
A ofensa afetou a relação entre o homem e Deus, já o intelecto do homem, bem como as emoções e vontade adquiriram um novo ingrediente: o conhecimento do bem e do mal. O evento negativo que afetou o homem foi a alienação de Deus, porém, adquirir o conhecimento do bem e do mal não pode ser considerado como algo negativo, visto que o próprio Criador é detentor deste conhecimento.
O fato de o homem desprezar a palavra de Deus o deixa entregue a um sentimento perverso de modo que praticam coisas inconvenientes ( Rm 1:28 ), porém, as coisas inconvenientes que praticam não é o que os tornam escusáveis diante de Deus.
O pecado está na desobediência de ter comido do fruto, e não no conhecimento do bem e do mal que o homem adquiriu por ter comido do fruto do conhecimento do bem e do mal. Conhecer o bem e o mal não é pecado, visto que Deus é conhecedor (saber)do bem e do mal (Gn 3.22) e n’Ele não há trevas nenhumas. Pecado é a condição do homem após a ofensa.
O pecado é a condição imposta pela lei em função da ofensa, condição que impossibilita que o homem restaure a comunhão com seu Criador. Por causa da morte que mantém o homem preso ao pecado, o homem natural por si mesmo é incapaz de reatar a comunhão com Deus.
Mas, diante da impossibilidade do homem, Deus tomou a iniciativa de salvar a humanidade. Por intermédio de Cristo Jesus, Deus tomou a providência necessária para que o homem volte a ter comunhão com Deus.
No Éden Deus deu um mandamento que preservaria a condição do homem em comunhão com Deus, com o advento de Cristo, o último Adão, Deus deu um novo mandamento que restaura a comunhão com Deus.
E qual é este mandamento? Encontramos o mandamento de Deus estampado nas Escrituras: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 ).
Em todos os tempos Jesus é o único caminho que reata a comunhão dos homens com Deus, pois Jesus foi dado para este fim “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” ( At 4:12 ). No entanto, a humanidade, no afã de se salvar promovem inúmeras religiões na tentativa de que Deus lhes seja propício, porém, essas tentativas são inócuas, pois o homem natural por si mesmo não pode agradar a Deus. Somente a justiça agrada a Deus.
Além de dizerem que a ‘depravação total’ significa que ‘o pecado afetou o intelecto, as emoções e a vontade do homem’, muitos que seguem a doutrina produzida na reforma protestante alegam que o homem natural é totalmente incapaz de crer em Deus, pois está morto, cego e surdo para as coisas espirituais.
Ora, primeiro analisaremos esta alegação sob o prisma da nação de Israel, lembrando que Deus anunciou através do profeta Isaías que estendeu a suas mãos o dia todo a um povo rebelde “Estendi as minhas mãos o dia todo a um povo rebelde, que anda por caminho, que não é bom, após os seus pensamentos” ( Is 65:2 ).
Como pode ser isto? Apesar de Deus saber que o povo de Israel era totalmente incapaz de crer por estarem mortos, cegos, surdos e com o intelecto, as emoções e a vontade comprometida pelo pecado, estendeu a mão aos filhos de Jacó? Seria um tremendo contra censo! Apesar de Deus saber que o homem é completamente inabilitado para atendê-Lo, faz um convite de salvação e estende a mão? “Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos” ( 1Co 14:33 ).
Como Deus pode acusar o povo de Israel de não querer ouvi-Lo, se, na verdade, o povo era completamente surdo e cego? “Porque este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do SENHOR” ( Is 30:9 ).
Não querer ouvir é completamente diferente de ser surdo, ou seja, impossibilitado de ouvir. Estar morto é uma condição, não querer ouvir é atitude rebelde.
Como é possível Deus clamar ao povo que volte, se o povo era surdo? “Vai, pois, e apregoa estas palavras para o lado norte, e dize: Volta, ó rebelde Israel, diz o SENHOR, e não farei cair a minha ira sobre ti; porque misericordioso sou, diz o SENHOR, e não conservarei para sempre a minha ira” ( Jr 3:12 ).
Ora, a Bíblia é clara em demonstrar que os filhos de Israel podiam ouvir. Primeiro porque Deus lhes dirigiu a palavra. Segundo porque eles podiam ouvir ou deixar de ouvir “Mas tu lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes” ( Ez 2:7 ); “Mas, quando eu falar contigo, abrirei a tua boca, e lhes dirás: Assim diz o Senhor DEUS: Quem ouvir ouça, e quem deixar de ouvir, deixe; porque eles são casa rebelde” ( Ez 3:27 ).
Já no Novo Testamento, quando Jesus conversa com Marta, irmã de Lazaro, disse: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá“ ( Jo 11:25 ). Mesmo os ‘mortos’ podem ouvir e crer, e se crerem, viverão, ou seja, voltarão a ter comunhão com Deus “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” ( Jo 5:25 ); “Ouvi, e a vossa alma viverá” ( Is 53:3 ).
Isaías profetizou que o povo que andava em trevas e que habitava nas regiões da morte viu uma grande luz, demonstrando que os homens, apesar de estarem mortos (alienados de Deus), pode ver “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz” ( Is 9:2 ).
Deus estendeu as suas mãos todos os dias anunciando a seguinte mensagem aos ‘mortos’: “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi” ( Is 55:3 ). Como posso afirmar que a mensagem era para os ‘mortos’? Porque se desse ouvidos (inclinar os ouvidos) e viesse a quem anuncia a mensagem alcançaria vida.
Só é possível passar a viver quem está morto, portanto, é anunciado aos mortos a possibilidade de viverem se derem ouvidos a voz de Deus.
Primeiro é necessário que o autor da mensagem tenha poder para dar vida. Em segundo lugar é necessário que a mensagem seja anunciada, pois se não há quem pregue, não há como crer. Em terceiro lugar é necessário ao homem morto inclinar os ouvidos, o que conduzirá o homem a Deus (vinde a mim). Quando o homem dá ouvidos, ou seja, ouve, volta à comunhão com Deus, terá vida dentre os mortos.
O que dissemos acima, o apóstolo Paulo escreveu aos Romanos:
“Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: SENHOR, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. Mas digo: Porventura não ouviram? Sim, por certo, pois Por toda a terra saiu a voz deles, E as suas palavras até aos confins do mundo. Mas digo: Porventura Israel não o soube? Primeiramente diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo, Com gente insensata vos provocarei à ira. E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam. Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” ( Rm 10:8 -21).
Como havia uma barreira de separação entre Deus e os homens, o homem não podia aproximar-se de Deus e nem Deus do homem. Se Deus se aproximasse do homem após a queda, violaria a sua própria palavra e comprometeria a sua justiça e santidade. Já o homem não podia aproximar-se pela falta do conhecimento necessário, o que foi satisfeito quando Deus enviou o seu Único Filho como mediador “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si” ( Is 53:11 ).
Para ser justo e justificar o homem, Deus enviou ao mundo Jesus Cristo homem na condição de mediador entre Deus e os homens. Por intermédio de Cristo, o Verbo de Deus, foi estabelecido um novo e vivo caminho para que o homem volte à comunhão com Deus.
O homem não é cego e nem surdo. A surdez e a cegueira são figuras especificas utilizadas pelos profetas para fazer referencia ao povo de Israel “Surdos, ouvi, e vós, cegos, olhai, para que possais ver” ( Is 42:18 ).
Como é possível o apóstolo Paulo afirmar que é possível entender a divindade pelas coisas criadas se o homem está impossibilitado de ver? “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas…” ( Rm 1:20 ).
Na Bíblia você encontrará os termos ‘surdo’ e ‘cego’ utilizados como figuras para fazer referencia aos filhos de Jacó. O povo de Israel acreditava que via e ouvia ( Jo 9:39 -41), ou seja, entendia que eram guia dos cegos e dos que estavam em trevas ( Rm 2:19 ), porém, se admitissem que eram cegos, seriam como o servo do Senhor: perfeitos! “Quem é cego, senão o meu servo, ou surdo como o meu mensageiro, a quem envio? E quem é cego como o que é perfeito, e cego como o servo do SENHOR? Tu vês muitas coisas, mas não as guardas; ainda que tenhas os ouvidos abertos, nada ouves” ( Is 42:19 -20).
O povo de Israel era tido por cego e surdo não porque eram portadores de deficiência visual e auditiva, antes porque ouviam e viam, mas não obedeciam “Tu vês muitas coisas, mas não as guardas; ainda que tenhas os ouvidos abertos, nada ouves” ( Is 42:20 ).
Ao dirigir a palavra aos escribas e fariseus, Jesus os chamava de condutores cegos e insensatos ( Mt 23:16 -17). A figura da cegueira e da surdez aplica-se aos judeus, portanto, utilizá-las para descrever a humanidade sem Deus estabelece um entendimento equivocado de que a humanidade é cega e surda. Pelo fato de a humanidade estar morta em delitos e pecados, aplicam à humanidade as figuras da ‘cegueira’ e ‘surdez’, sendo que tais figuras apontam para Israel. Dai surge a ideia de que, para ver e ouvir a palavra de Deus, é necessário uma graça especial dada somente a alguns.
Após a queda Adão morreu. Estava separado de Deus em função da ofensa. No entanto, quando Deus chamou Adão dizendo: – “Onde estás?”, apesar de morto, Adão disse: “Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me” ( Gn 3:10 ). Os ouvidos do primeiro homem que morreu estava em pleno funcionamento.
Mas, para quem os profetas disseram estas palavras: “Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados, e gostam do sono” ( Is 56:10 ); “Apalpamos as paredes como cegos, e como os que não têm olhos andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia como nas trevas, e nos lugares escuros como mortos“ ( Is 59:10 ). Não era para os judeus?
“A depravação total também significa que o homem possui uma inabilidade total para restaurar o relacionamento com seu Criador. Por causa da depravação, o homem natural, por si mesmo, é totalmente incapaz de crer verdadeiramente em Deus. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas espirituais. Desde a Queda o homem perdeu o seu livre-arbítrio e passou a ser escravo de sua natureza corrompida e por isso ele é incapaz de escolher o bem em questões espirituais. Todas as falsas religiões são tentativas do homem de construir para si um deus que lhe seja propício. Porém, todas essas tentativas erram o alvo, pois o homem natural por si mesmo não quer buscar o verdadeiro Deus” Idem.
A cegueira e a surdez espiritual são figuras que se aplicam ao povo de Israel, porém, a doutrina calvinista da ‘depravação total’ utilizam figuras que tratam do povo de Israel para descrever a humanidade, e por isso dizem: ‘O pecador está morto, cego e surdo para as coisas espirituais’.
No entanto, quando as Escrituras diz: “Trazei o povo cego, que tem olhos; e os surdos, que têm ouvidos” ( Is 43:8 ); “Surdos, ouvi, e vós, cegos, olhai, para que possais ver” ( Is 42:18 ), ela aponta para os que receberam a lei, e não aos gentios “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” ( Rm 3:19 ).
“1. Todos os homens pecaram em Adão, estão debaixo da maldição de Deus e são condenados à morte eterna. Por isso Deus não teria feito injustiça a ninguém se Ele tivesse resolvido deixar toda a raça humana no pecado e sob a maldição e condená-la por causa do seu pecado, de acordo com estas palavras do apóstolo: ‘… para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus… pois todos pecaram e carecem da glória de Deus…’, e: ‘…o salário do pecado é a morte…’ ( Rm 3:19- 23; Rm 6:23 )”.
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