A SUPREMA EXCELÊNCIA DO AMOR
"O amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5.5).
O amor é a comprovação e o aferidor da espiritualidade; é o solo onde o Espírito Santo produz no crente a condição de verdadeiro filho de Deus.
O amor não é somente superior aos dons, mas é o elemento legitimador de seu uso na edificação da igreja. Ele leva ao equilíbrio; é o grande princípio de toda ação; ele supera tudo.
O amor pode ser definido como "a mais profunda expressão pessoal possível". Nas palavras do Divino Mestre, é uma atitude que envolve o coração, a mente e a vontade (Mt 22.35-37). O amor não é um mero sentimento; é o poder de Deus que atua na personalidade inteira do homem.
A EXCELÊNCIA DO AMOR
1. Sua base. Paulo termina o capítulo 12 de sua primeira epístola aos coríntios com as seguintes palavras: "E eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente" (1 Co 12.31b). Nas palavras do apóstolo, o exercício dos dons espirituais é algo excelente, mas existe algo "sobremodo" excelente. No texto de 1 Co 13.1-3, o autor afirma que sem amor nada teria valor.
A omissão ao amor anula tudo; nenhuma prática legalista pode substituir seu exercício. A Bíblia é a base de sua excelência.
2.Sua superioridade sobre o conhecimento. Os coríntios viviam num período de grande ênfase ao conhecimento, e se vangloriavam do seu grande saber. Entretanto, o domínio que eles tinham do conhecimento não foi suficiente para arrancá-los ao clima de facções, conflitos e confusões em que estavam envolvidos, pois não tinham a sabedoria de que fala Tiago 3.17. A razão é simples: o conhecimento sozinho a nada conduz; mas, submisso ao amor, torna-se de grande utilidade. Por esta razão, Paulo resolveu falar-lhes "de algo mais excelente ainda." O amor desfaz as barreiras, supre o coração de bondade e dá ao homem a verdadeira sabedoria.
3. Sua superioridade sobre a imoralidade. É comum ver o erro que nossa sociedade comete ao ligar o amor às práticas deturpadas do sexo. A indiferença ao que ensina a Bíblia tem gerado um clima de promiscuidade e desrespeito. Coisas puras como a virgindade, namoro, noivado, fidelidade conjugal estão perdendo o valor. Como a igreja de Coríntios achava-se envolvida num clima de imoralidade, Paulo decidiu lançar mão do amor como meio de banir a malícia e a maldade. É o que o mundo atual está precisando.
4. O amor regulamenta o uso dos dons espirituais. A igreja de Corinto, além de não ser composta de pessoas familiarizadas com os ensinos do Antigo Testamento, ainda não havia aprendido os princípios do Novo Testamento. Desta forma, o trabalho de Paulo tornava-se muito difícil.
O abuso em relação aos dons e a desordem no culto era uma característica marcante daquela igreja. Os dons eram manifestados sem base bíblica, causando grande confusão; tinha-se muito "poder" sem nenhuma ética. Eles viam nos dons espirituais o bem superior da vida cristã; por isso Paulo disse: "eu vos mostrarei um caminho mais excelente".
O amor deve conduzir os passos de toda igreja e de todo homem, pois prepara o coração de todos no sentido de evitar partidarismos, exclusivismos e excessos na prática da Palavra de Deus.
5. O amor produz progresso espiritual. O crente se desenvolve e cresce espiritualmente quando se põe atento ao processo de transformação em que o Espírito Santo o colocou. Ele está sendo transformado a fim de alcançar a estatura de varão perfeito, e isto tem tudo a ver com o amor derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.
No jardim do Éden, o homem pecou, comprometendo a imagem de Deus recebida na criação; porém, quando é salvo e redimido no sangue de Jesus, o Espírito Santo lhe ensina que a bandeira maior do Senhor sobre seus filhos é o amor. Desta forma, ele resgata progressivamente a natureza de Deus outrora perdida. Devemos duvidar de todo crescimento espiritual que não esteja relacionado com o amor.
O crescimento é diretamente proporcional ao amor.
O ALCANCE DO AMOR
1. O amor de Deus aos homens. Em João 3.16, lemos que Deus amou o mundo; isto é, ele amou a humanidade como um todo e por ela enviou seu Unigénito ao mundo. Os pecados e a infidelidade do homem entristeceram a Deus. Todavia, não impediram o efeito de seu amor pela humanidade. A razão é simples: O amor de Deus é espontâneo; não exige qualquer valor da pessoa amada. Ele poderia ter vivido eternamente sem ter criado o homem, pois é auto-suficiente; não precisava de nós para existir, mas Ele nos fez por amor e por amor resgatou-nos quando nos achávamos perdidos. Leia também 1 João 4.9,10.
2. O amor do homem a Deus. Em Mt 22.37, Jesus expõe o modo como Deus deve ser amado: "de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu pensamento". A adoração do homem a Deus deve ser com todo o seu ser, com toda sua personalidade. Claro está que isto não significa a mera prática de algum ritual ou de leis cerimoniais, mas é, antes de tudo, o resultado da devoção pessoal e da operação de Deus no coração humano. O amor a Deus é um sumário de nossa comunhão e obediência a seus mandamentos (Js 22.5).
3. O amor do homem a si mesmo. Em Mt 22.39, Jesus, completando sua resposta ao doutor da lei, acrescentou: "e o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo". A expressão "como a ti mesmo", significa que o amor a nós mesmos deve ser a referência para o nosso amor aos nossos semelhantes. Há nisso dois pontos a destacar: primeiro, é preciso cuidado com o egoísmo e narcisismo comuns aos homens, amando-se mais do que deveriam; segundo, quem não se ama, como é que poderá amar o seu irmão? Ter auto-estima, gostar de si mesmo, é fundamental ao ser humano; o crente não pode viver a reclamar da vida, como alguém a quem Deus não olhasse, um desvalido. Deus não faz acepção de pessoas, somos todos amados e abençoados na mesma proporção.
4. O amor ao próximo. Deus nos deixou como mandamento que nos amássemos uns aos outros assim como Ele nos amou. Deste mandamento dependem toda lei e os profetas. O nosso amor a Deus manifesta-se através de nosso amor aos nossos semelhantes. Quando amamos ao próximo, estamos amando também ao Criador. O texto de 1 Jo 4.7,11,12,20,21 deixa claro que a relação do homem com o Todo-Poderoso está intimamente ligada às suas atitudes para com os que convivem com esse homem na mesma igreja, família, cidade ou país.
Ser indiferente e tratar com desprezo as necessidades do semelhante é também colocar-se à margem de qualquer relação de amor com o Pai, pois dele temos esta advertência: "aquele que não ama a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê" (1 Jo 4.20). Esse amor não deve ser apenas um sentimento abstrato, mas há de comprovar-se através de obras e de fatos, conforme 1 João 3.16,17.
AS QUALIDADES DO AMOR (vvs. 4-7)
1. O amor é sofredor (v. 4).
Esta expressão desmente o que ensinam os "teólogos da prosperidade", quando eles relacionam o sofrimento, unilateralmente, à falta de fé ou à prática de pecados. E nos leva a pensar na situação real dos que vivem nas camadas altas da sociedade onde o bem maior da vida é a busca do prazer (hedonismo), não importando se tais práticas são certas ou erradas diante de Deus. O amor é sofredor, isto é, aceita confiantemente as adversidades da vida sem ressentimentos contra Deus ou contra os homens. Ensina-nos a "lançar sobre o Senhor todas as nossas ansiedades, porque Ele tem cuidado de nós 1 Pe 5.7". O amor tudo sofre, tudo espera, tudo suporta (v. 7).
2. O amor é benigno (v. 4). A benignidade implica numa atitude constante de misericórdia e bondade. Este é um dos aspectos do fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Neste sentido, o crente deve ser sempre alguém útil e gentil. Útil no sentido de estar pronto a demonstrar amor ativo ao próximo, alimentando os famintos, dando água aos sedentos, hospedando a quem necessita, vestindo ao que está nu, visitando os enfermos e encarcerados (Mt 25.35, 36). Gentil, no sentido de mostrar cortesia e boas maneiras no trato com as pessoas em geral.
É inaceitável, no crente, a falta de educação e a prática de grosserias. O amor não se irrita (v.5), não suspeita mal (v. 5).
3. O amor não é invejoso (v. 4). Inveja e despeito são vícios coirmãos do ciúme. Os crentes de Corinto estavam totalmente contaminados pelo vírus da inveja. Quando notavam que um irmão tinha mais talentos, ou dons, desprezavam-no. Era assim que agiam os menos dotados.
A atitude de inveja é absolutamente carnal e diabólica, jamais pode caminhar com quem é "morada do Espírito Santo". Normalmente, a pessoa invejosa se entristece quando alguém tem algo que ela gostaria que fosse seu; entretanto, o verdadeiro amor produz no crente uma atitude altruísta; ele regozija-se com a felicidade e o sucesso do irmão, como se fossem dele mesmo (Rm 12.9,10,15).
CONCLUINDO
O amor é a virtude principal da vida cristã; é fruto do Espírito Santo. O divino agricultor é quem o cultiva no homem, tornando-o cada vez mais parecido com o Divino Mestre.
O que é o amor? Eis a definição que lhe podemos dar:
"Um dos mais altos e sublimes atributos comunicáveis de Deus. Através deste vocábulo, dá-nos o evangelista João esta definição essencial do Supremo Ser: 'Deus é amor' (1 Jo 4.8). No âmbito das Sagradas Escrituras, o amor é o sentimento que mais possui implicações teológicas. Sem ele, nenhuma aliança teria sentido; nenhum testamento seria firmado sem ele, pois todos os atos de Deus são atos de amor.
"Somente o amor foi capaz de predispor a Deus a buscar o bem de uma humanidade corrompida, e que só procurava quebrantar-lhe as leis. Aliás, é como podemos definir o amor: é a predisposição de alguém em buscar o bem de seu semelhante. Cabe-nos, pois, dedicar-lhe absoluta devoção e fidelidade, para que o seu amor para conosco seja sempre correspondido.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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