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quinta-feira, 29 de abril de 2021

O VERBO DE DEUS.

 

O VERBO DE DEUS.

O apóstolo João inicia seu relato sobre a vida de Jesus Cristo com esta declaração: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez . . . E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:1-3, 14).

Assim, este “Verbo”―o termo grego aqui é Logos―tornou-se em um ser humano de carne e osso, Jesus Cristo. E Ele ainda carrega o nome de “A Palavra de Deus” (Apocalipse 19:13).

Como devemos entender isso? Deus criou o universo através deste Verbo preexistente que se tornou Cristo. O Verbo estava com Deus e, ao mesmo tempo, Ele próprio era Deus. Muitos usam esse argumento para defender a trindade, alegando que duas pessoas divinas apresentadas aqui como um único ser. Mas é isso o que se significa?

Observe que no original grego, “o Verbo” estava com “o Deus” e Ele mesmo era “Deus” (neste caso sem o artigo ‘o’). O Verbo não era o Deus, pois Eles não eram a mesma entidade. Mas Ele ainda era Deus.

Devemos entender “Deus” aqui como um gênero de ser [ou ‘espécie’, ou ‘tipo’]―do gênero de Deus que é vivente, divino, santo e eterno―assim como o nome desse gênero de ser. O apóstolo Paulo diz toda a família divina toma o nome do Pai, inclusive Cristo e outros que mais tarde se acrescentem à família (Efésios 3:14-15).

Assim, “no princípio era o Verbo [Cristo], e o Verbo estava com o Deus [o Pai], e o Verbo era [também chamado] Deus”! É claro, o Verbo não poderia ser chamado Deus a não ser que Ele [Cristo] fosse ‘como’ o Pai. Isto quer dizer que, Deus é quem Ele era, assim como o que Ele era (e é).

Temos aqui, então, dois seres divinos―e não um único ser de três pessoas como ensina a trindade. No entanto, por quê que o Ser divino que se tornou Cristo foi chamado de “o Verbo”? O que isso significa?

O Anjo da Presença de Deus
Das muitas referências do Antigo Testamento a anjos de Deus, existem algumas (Gênesis 16:10-13; 22:11-12; Êxodo 3:2-6; Juízes 13:3-22), onde Aquele que é chamado de “Anjo do senhor” é também identificado como “o senhor”. Mas como pode um anjo de Deus ser o próprio Deus? Este é, evidentemente, a mesma figura referida como “o Anjo da Sua Presença” em Isaías 63:9, bem como o “Anjo” de Deus enviado para liderar os israelitas através do deserto para a terra prometida (Êxodo 14:19; 23: 20).

A palavra “Anjo” aqui pode causar confusão, pois normalmente é usada para se referir a seres espirituais criados e que são inferiores a Deus. No entanto, a palavra hebraica malak no Antigo Testamento, da qual a palavra “anjo” é traduzida, simplesmente significa “mensageiro”, o que é o mesmo significado da equivalente palavra grega angelos, no Novo Testamento, (da qual a palavra portuguesa anjo é derivada).

Em hebraico e grego, essas palavras podem significar tanto um mensageiro humano como um espiritual. Por esta razão devemos olhar para o contexto para determinar qual gênero de mensageiro se refere. Neste caso, temos o Mensageiro de Deus, que também é Deus. Sem dúvida, existe apenas uma entidade que se encaixa nesta descrição. É um paralelo exato com o Verbo de Deus, que também é Deus.

Analisemos uma profecia do Antigo Testamento declarada no Novo Testamento que se refere a João Batista e Jesus Cristo. Deus disse: “Eis que eu envio o meu mensageiro [malak, aqui João Batista], que preparará o caminho diante de mim; de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo [malak] da Aliança [isto é, Jesus Cristo, o Mediador da Nova Aliança], a quem vós desejais; eis que ele vem” (Malaquias 3:1 [ARA]; comparar Mateus 11:9-11, Marcos 1:1-2, Hebreus 12:24).

O “Senhor” aqui é Deus, pois Ele vem para “Seu templo”. No entanto, Ele também é um Mensageiro―um malak, o termo usado para anjo em outros lugares. Jesus é, portanto, o Senhor Deus. No entanto, Ele também é o Mensageiro de Deus Pai. E o papel de Cristo como Mensageiro tem grande influência sobre Sua distinção como o Verbo de Deus.

O Porta-voz e o significado literal de Logos
Como o Mensageiro de Deus, Jesus falou em nome de Deus. Ele assim o fez quando Ele veio à terra como um homem. E também fez isso na criação do universo. A declaração de João 1:3, que Deus fez tudo por meio do Verbo, que se tornou Cristo, também é evidenciada em outras Escrituras (ver Efésios 3:9 ACF, Colossenses 1:16-17).

Isso se encaixa perfeitamente com passagens bíblicas anteriores: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus . . . Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu” (Salmo 33:6, 9). Quem estava falando nessa ocasião? A partir dessas referências, é muitíssimo claro que Deus Pai fez o trabalho de criação pelo, ou através, do Verbo que se tornou Jesus.

Jesus Cristo é Aquele que falou para o universo existir―mas somente a pedido do Pai. Jesus explicou isso em João 8:28: “Nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou”. E João 12:49-50: “Porque eu não tenho falado de mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar

Jesus é, portanto, o Porta-voz do Pai, um papel que alguns têm comparado ao nome Logos. Isto é perfeitamente legítimo, mas o assunto requer alguma explicação já que logos, literalmente, não se refere a um orador, mas ao que é falado.

O que realmente significa o termo grego logos? O Dicionário Avançado de Strong (1992) apresenta os seguintes significados, entre outros: “Uma palavra, dita por uma voz viva . . . o que alguém disse . . . um discurso falado contínuo . . . doutrina, ensino . . . razão, a faculdade mental de pensar”.

A Bíblia de Estudo HCSB observa: “Assim como o verbo lego [falar] relacionado, o substantivo logos na maioria das vezes refere-se tanto à comunicação oral como à escrita. O substantivo logos, em alguns contextos, também pode significar declaração ou informação” (2010, pág. 1801,”Logos”, ênfase no original).

Também é possível que a maneira dos judeus usarem a palavra logos durante o primeiro século, possa estar relacionado com o uso da palavra logos em João 1. Mas esta questão permanece: Como devemos entender Cristo, visto que o significado literal de Logos é ‘o que é falado’ [a Palavra], quando nós sabemos que Ele é Aquele que fala por Deus?

Ambos Mensageiro e Mensagem
Como uma forma de resposta, vamos perguntar: Como seria se todos os outros títulos de Cristo fossem entendidos dessa forma? Por exemplo, o que dizer sobre “o Alfa e o Ômega” em Apocalipse 1:8? Cristo é realmente as duas letras do alfabeto grego? E o que dizer sobre “o Cordeiro de Deus” em João 1:36? É Cristo é literalmente uma ovelha? Assim, fica fácil ver que os títulos na Bíblia, muitas vezes, têm significados figurativos.

Pensemos por um momento que as figuras de linguagem ainda devem seguir uma certa lógica. O que você acha que significaria se você chamasse alguém de sua “Palavra” [ou seu “Verbo”]? Seria, sem dúvida, muito semelhante ao que Paulo quis dizer quando escreveu à congregação de Corinto: “Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens” (2 Coríntios 3:2).

Os membros da igreja em Corinto não eram literalmente uma carta ou epístola escrita. Paulo estava usando uma linguagem abstrata, com um significado subjacente ao concreto. Quando você escreve uma carta, você comunica seus pensamentos aos outros. Os Coríntios, Paulo estava dizendo, agiram representando suas ideias. Eles expressaram, através da sua conduta e palavras, tudo o que ele lhes havia ensinado e guardado. Não é exatamente o que você pensaria se você chamasse alguém de sua “Palavra” [ou seu “Verbo”]?

O Novo Dicionário Bíblico Unger lança mais luz sobre o assunto, explicando: “As palavras são o veículo para a revelação dos pensamentos e intenções da mente aos outros. Na Pessoa do Logos encarnado, Deus se fez totalmente conhecido pelo homem. Nada podia ser conhecido pelo homem a respeito de Deus se não fosse revelado pela divindade encarnada. Cristo como ‘a Palavra’ [o Verbo] constitui a revelação divina completa e final” (1988, pág. 780, “Logos”).

Vamos considerar novamente o papel de Cristo como Mensageiro de Deus. Cristo representava o Pai exatamente. Ele viveu tudo o que o Pai mandou e transmitiu os pensamentos de Seu Pai aos seres humanos. Ele falou em nome de Seu Pai como Porta-voz de Deus. Mas a mensagem trazida por Cristo não implicava somente em falar. Em vez disso, Sua própria vida transmitiu uma mensagem.

Na verdade, o próprio Jesus é tanto Mensageiro quanto Mensagem. A maneira como Ele viveu nos ensinou como viver. A Sua própria humildade de vir na carne e dar a Sua vida em sacrifício fala muito sobre o amor insondável de Deus. Jesus Cristo é a Palavra de Deus, o Verbo de Deus. Tudo o que Ele disse, tudo que Ele fez e tudo o que Ele passou, é a Palavra de Deus para nós.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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