JESUS O SERVO
Jesus como o Servo
(João 13)
Contraste 1.11-12 e 12.36 com 13.1 e perceberá que nos movemos para uma nova seção do evangelho de João. Ele veio para o “que era seu, e os seus (povo de Israel) não o receberam”. Agora, Ele deixa o ministério público para as nações e reúne-se em particular com “os seus” – os discípulos. O capítulo 13 a 16 registram Cristo no “cenáculo”, onde ministrou a seus discípulos a fim de prepará-los para sua morte e para o trabalho que fariam após sua ascensão. O cap. 13 apresenta três lições importantes para todos os cristãos.
1. LIÇÃO SOBRE A HUMILDADE (13.1-5)
Jesus deu o exemplo da humildade e do serviço ao lavar os pés dos discípulos (v.15). Nos países do Oriente Médio, o servo era quem lavava os pés dos convidados, mas, nessa passagem, Cristo assume o lugar do servo. Nos vers. 13-16, ele deixa isso claro para os discípulos, ao declarar que se aquele a quem chamam de Senhor e Mestre lavou os pés deles, eles também deviam lavar os pés e servir uns aos outros com humildade. Essa foi uma reprimenda incrível para os Doze, pois naquela noite estiveram debatendo sobre quem era o maior! (Veja Lc. 22.24-27).
Nos vers. 1-5, os atos de Cristo representam sua saída do céu para vir à terra. Ele levantou-se de seu trono, deixou de lado a manifestação exterior de sua glória, tornou-se um servo e humilhou-se ao morrer na cruz. Filipenses 2.5-11 traça esses passos com muita beleza. Depois de completar sua obra redentora, ele põe suas vestes e senta-se (v.12), prenunciando sua ressurreição, sua ascensão para a glória e sua entronização à direita do Pai.
Anos mais tarde, Pedro deve ter se lembrado dessa lição de humildade quando escreveu 1 Pedro 5.5-6. Leia esses vers. com atenção. Hoje, muitos cristãos lutam para conseguir reconhecimento e posição, mas deveriam se lembrar dessa lição de humildade. Deus repele o orgulhoso, mas dá graças ao humilde.
2. LIÇÃO SOBRE A SANTIDADE (13.6-17)
No v. 8, as palavras de Cristo a Pedro são importantes: “Se eu não te lavar, não tens parte (comunhão) comigo”. Há uma diferença entre união e comunhão. Pedro estava em união com Cristo como um “dos seus” pela fé, mas o pecado rompe nossa comunhão com o Senhor. Há uma diferença entre filiação e relacionamento. Temos relacionamento com Cristo e desfrutamos da presença e do poder dele apenas quando permitimos que ele nos limpe de todo pecado.
No v. 10, Cristo faz uma importante distinção entre lavar e limpar. Literalmente, o vers. afirma: “Quem já se banhou (de uma vez por todas) não necessita de lavar senão os pés”. No Oriente, as pessoas usavam o banho público, e, como andavam em ruas poeirentas, os pés ficavam sujos. Elas não precisavam tomar outro banho quando chegavam em casa, mas apenas lavar os pés. A mesma coisa acontece com o crente. Somos lavados de uma vez por todas quando somos salvos (1 Co. 6.9-11; Tt. 3.5-6), mas lavamos nossos pés e limpamos nosso “caminhar” quando confessamos nossos pecados diários ao Senhor (1 Jo. 1.7-9).
Os sacerdotes judeus eram lavados por inteiro na ordenação (Ex. 29.4), o que retrata a nossa limpeza de uma vez por todas, contudo Deus também providenciou a bacia (Êx. 30.17-21) para que usassem na lavagem diária dos pés e das mãos. Hoje, Cristo purifica sua Igreja com a lavagem da água da Palavra (Ef. 5.25-26; Jo. 15.3). A leitura diária da Palavra permite que o Espírito sonde nosso coração (Hb. 4.12), e, depois, mantemos nossos pés limpos e caminhamos na luz ao confessar nossos pecados. (Veja Sl. 119.9) . Essa limpeza diária é que mantém o crente em comunhão com Cristo. A lição aqui não diz respeito a “conseguir” ou a “perder” a salvação. É um assunto restrito à comunhão, ao relacionamento com Cristo. Muitos crentes cometem o mesmo erro de Pedro (v. 9); querem ser salvos (banhados) de novo quando tudo que precisam fazer é lavar os pés.
3. LIÇÃO SOBRE A HIPOCRISIA (13.18-38)
Judas estava no cenáculo e fingia ser um dos de Cristo. Nos vs. 10-11, Cristo deixa claro que um deles não fora salvo. A fraude de Judas foi tão bem-sucedida que nem os outros apóstolos perceberam a falsidade dele.
Primeiro, Cristo citou Salmos 41.9 (v. 18) para dizer que seria traído. Ele acabara de lavar os pés de Judas, e este seria cruel com ele! (vv. 2, 27), contudo a morte de Cristo na cruz derrotaria Satanás. Primeiro, o diabo planta a idéia no coração da pessoa, depois entra nela para controlar sua vida. Cristo cita esse v. para os Doze a fim de evitar que tropecem na descrença (v. 19). As frustrações que acontecem ao longo do dia não desencorajam com facilidade os cristãos que conhecem a Palavra.
No v. 21, Cristo anuncia claramente aos discípulos que um deles o trairia. Na verdade, essa declaração foi o último aviso para Judas, Cristo lavou os pés dele, citou a Palavra para ele e, no fim, avisou-o abertamente, dando, assim, todas as oportunidades para que Judas mudasse de idéia. João, aconchegado ao peito de Jesus, descobre o mistério e transmite-o a Pedro, mas aparentemente nenhum dos homens entendeu claramente o significado das palavras do Senhor (v. 28). É interessante observar que o cristão é o que está mais próximo do coração dele. Judas entrega-se, por fim, a Satanás ao aceitar o pedaço de pão molhado, e este entra nele e o transforma em filho do diabo. (Veja Jo. 8.44). Satanás, como o Espírito Santo, opera no corpo e na vontade humana, e a pessoa, por intermédio deles, se entregam a ele. “E era noite” (v. 30) – mostra tanto as trevas no coração de Judas como que aquela era a hora do poder das trevas (Lc. 22.53).
É perigoso ser como Judas. Em Marcos 14.21, Jesus declarou: “Melhor lhe fora não haver nascido!”. Judas fingiu ser cristão, brincou com o pecado e jogou fora a salvação; qualquer pessoa que faça isso pode terminar desejando não ter nascido. Há alguns mistérios em torno de Judas, mas uma coisa está clara: ele fez uma escolha deliberada quando traiu Cristo. Em João 6.66-71, Cristo advertiu-o e chamou-o de “diabo”. Pedro pensava que Judas fora salvo, pois disse: “Nós cremos”. Jesus sabia que Judas nunca crera e, por isso, não fora salvo.
Depois que Judas saiu da sala, Jesus advertiu a Pedro a respeito do teste pelo qual passaria em breve e do seu fracasso nesse teste. Agora, Pedro tinha de enfrentar os próprios pecados quando, antes, estivera ansioso para descobrir o pecado dos outros (v. 24). “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt. 7.1). A ostentação de Pedro mostra como ele não conhecia o próprio coração. A autoconfiança representa um perigo para a vida cristã. É provável que a declaração “Mais tarde, porém, me seguirás” (v. 36) refira-se à morte de Pedro por causa de Cristo (Jo. 21.18-19; 2 Pe. 1.14).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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