A JUSTIÇA DE DEUS.
Diferentemente de Adão que, pela ofensa, morreu, o último Adão, que é Cristo, pela obediência, também, morreu, porém, não foi deixado na morte, de modo que, pelo poder de Deus, ressurgiu dentre os mortos e o mesmo ocorre com aqueles que creem.
Há inúmeros erros, acerca de como se dá a justiça de Deus e para piorar, muito desses erros são fomentados por cristãos, quando tentam explicar o tema. Esses erros surgem, quando alguns cristãos, bem-intencionados, a pretexto de explicar a justiça de Deus, estabelecem um paralelo entre a justiça de Deus e a justiça administrada nos tribunais humanos.
Na tentativa de explicar a justiça de Deus, muitos cristãos lançam mão de uma parábola espúria, com a seguinte colocação: uma pessoa foi morta e o assassino, preso em flagrante; no julgamento, o juiz determina que o homicida seja solto, sem impor qualquer tipo de punição e, por fim, concluem: assim é a justiça de Deus.
Ora, é inconcebível a proposta de um juiz que detenha as prerrogativas da estória acima, quanto mais um juiz que atue à margem da lei, como apresentado. O argumento de que o juiz solta o homicida, sem qualquer punição, porque é um juiz muito bondoso e misericordioso, é escabroso, porém, é com base nesse argumento, que alegam se dar a justiça de Deus.
É após contarem uma pequena estória semelhante à narrada que, geralmente, alguns cristãos fazem a seguinte pergunta: Como Deus pode ser justo e ao mesmo tempo justificar o ímpio? Justificar quer dizer tornar justo.
Perdão
Por falta de conhecimento bíblico, geralmente, após a pergunta ‘como pode o Deus justo justificar o ímpio’, o tema perdão vem à tona. A resposta de muitos cristãos é curta e sucinta: – ‘Deus perdoa nosso pecado e nos torna justos porque Ele é amor’.
O tema perdão é introduzido por muitos cristãos, por entenderem que Deus é amor e que amor implica em perdão. No entanto, a questão ‘como pode o Deus justo justificar o ímpio’ não é esclarecida, pois, se o perdão se dá em função do amor, segue-se que não há justiça em Deus, visto que toda transgressão deve ser punida.
Considerando o que Moisés descreveu acerca de Deus, é inconcebível a ideia de que Deus tenha o culpado por inocente:
“Passando, pois, o Senhor perante ele, clamou: O Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade; Que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta geração” (Êxodo 34.6 -7).
Tendo por base o que Moisés anunciou, acerca de Deus, certo é que o culpado jamais será inocente, portanto, o perdão divino jamais será concedido ao pecador. Nesse sentido, o perdão divino não pode ser tido como uma anistia ou, como indulto concedido ao pecador, pois, mesmo nos tribunais humanos, quando são concedidos ao criminoso tais benefícios, uma coisa é certa: a anistia ou, o indulto, não inocenta o criminoso.
O termo perdão jamais combina com o pecador, mas, sim, o termo morte, pois:
“Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18.4).
Não há na Bíblia um só versículo que diga ‘a alma que pecar, essa será perdoada’, vez que “Deus odeia o que pratica o mal” (Salmos 5.5). O perdão de Deus deve ser considerado somente no contexto, em que o ‘arrependimento’ é exigido.
“Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis” (Lucas 13.3);
“Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração” (Atos 8.22).
Deus é justo
Primeiro, analisaremos o fato de Deus ser justo quando justificar o ímpio.
“Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” (Romanos 4.5).
Para compreender como se dá a justiça de Deus, se faz necessário entender que ‘a alma que peca, essa mesma morre’ (Ezequiel 18.4 e 32). Essa é uma lei estabelecida por Deus, portanto, irrevogável!
Essa lei foi apresentada por Deus a Adão lá no Éden, quando foi dito:
“E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2.16- 17).
Todos os homens vêm ao mundo na condição de mortos para Deus, por causa da ofensa de Adão (Romanos 5.15). Em decorrência da ofensa, a humanidade foi julgada e apenada com a morte (Romanos 5.16). Todos os homens, por causa da ofensa, estão separados de Deus (mortos) e vivos para o pecado.
Para o homem ser justificado, se faz necessário morrer para o pecado, para que possa viver para Deus. Somente quando o homem morre com Cristo é justificado, como se lê:
“Porque aquele que está morto está justificado do pecado” (Romanos 6.7).
Deus é justo, portanto, a pena não pode passar do transgressor, de modo que a morte de Cristo na cruz é substitutiva, ou seja, não é necessário ao pecador morrer fisicamente, entretanto, para ocorrer justiça, conforme Deus é justo, se faz aos pecadores morrerem para o pecado.
Deus é justo, pois ao justificar o ímpio Ele impõe ao pecador que morra! Daí o expresso pelo apóstolo Paulo:
“Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3.26).
Para ser justo e justificador, Deus não permite que o pecador permaneça vivo para o pecado, pois jamais a pena pode passar da pessoa que pecou. A ideia da parábola de que Deus é amor e que, por isso, o homicida é liberado sem ter que pagar a pena, não é conforme a verdade das Escrituras. Cristo morreu, mas se faz necessário que os pecadores morram com Ele, para que possam ser justificados e Deus ser justo juiz.
“Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” (Gênesis 18.25);
“Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram” (2 Coríntios 5.14).
O velho homem crucificado e morto com Cristo está justificado do pecado, mas para Deus ser justificador dos que creem, Cristo ressurgiu dentre os mortos para que, ao ressurgirem com Ele uma nova criatura, Deus os declarasse justos.
“O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Romanos 4.25).
Deus só justifica aqueles que ressurgem com Cristo na condição de novas criaturas, pois a velha criatura jamais será justificada. Para a velha criatura resta morrer com Cristo, de modo que a justiça de Deus permaneça.
O amor de Deus
Há um equívoco no pensamento de que Deus perdoa o homem porque é amor. Na verdade, Deus é amor e o Seu amor foi dado à humanidade em Cristo:
“Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (1 João 4.9).
O amor de Deus está na pessoa do Seu Filho amado, Jesus Cristo, e somente quando a pessoa obedece a Cristo, o amor de Deus torna-se efetivo para aquela pessoa.
“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5.3);
“Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele” (1 João 2.5).
Deus amou todos os homens, indistintamente, quando deu o Seu Filho, mas, só aquele que crê, ou seja, que guarda a sua palavra, é perdoado. O Pai amou, indistintamente, todos os homens e deu o Seu Filho e no Filho há um mandamento: crer no enviado de Deus. O mandamento para crer em Cristo é o amor de Deus (1 João 3.23; 1 João 5.3).
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” (João 14.21).
Deus é amor por ter concedido o seu Filho em resgate dos pecadores e Ele é justo porque perdoa os que O obedecem. Os descendentes de Adão estão no pecado por causa da desobediência de Adão, mas os que creem são perdoados em função da obediência.
Se Deus perdoa porque é amor, não seria justo, porque todos os pecadores merecem a punição (Romanos 6.23). Mas, como Deus é justo, perdoa os que O obedecem, segundo o amor de ter concedido o Seu Filho.
“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” (Êxodo 20.6).
Longe de Deus perdoar quem não O obedece, pois, a sua misericórdia é somente para os que O amam, ou seja, que guardam os seus mandamentos.
“Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém agora diz o Senhor: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão desprezados” (1 Samuel 2.30).
Devemos ter em mente que Jesus amou o jovem rico dando um mandamento:
“E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me” (Marcos 10.21).
A exigência da justiça de Deus
Por causa da ofensa, Adão morreu para Deus, consequentemente, todos os seus descendentes vieram ao mundo alienados de Deus, ou seja, todos morrem em Adão (1 Coríntios 15:22), por isso, é dito que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Romanos 3:23).
Cristo – o último Adão – por sua vez, em obediência ao Pai, sujeitou-se à morte de cruz (Filipenses 2.9), de modo que Ele foi morto, consequentemente, todos morreram e, por isso, é dito: “… que, se um morreu por todos, logo todos morreram.” (2 Coríntios 5.14).
Diferentemente de Adão que, pela ofensa morreu, o último Adão, que é Cristo, pela obediência, morreu, porém, não foi deixado na morte, de modo que, pelo poder de Deus, ressurgiu dentre os mortos e o mesmo ocorre com aqueles que creem. A justiça de Deus se evidencia no fato de que Adão e Cristo morreram, este por obedecer, e aquele por desobedecer.
“Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Coríntios 15.21-22)
Se Cristo, em obediência ao Pai, se entregou na morte, por isso Deus O glorificou, fazendo com que se assentasse à destra da Majestade, nas alturas, segue-se que todos que creem em Cristo, igualmente, obedeceram a Deus, por isso é dito que todos que creem que Jesus é o Cristo, morrem com Cristo.
Como Cristo morreu, porque foi obediente, e ressurgiu dentre os mortos, todos que obedecem a Deu, crendo que Jesus é o Cristo, morrem e ressurgem dentre os mortos, à semelhança de Cristo; se assentam nas regiões celestiais, tal como Cristo está assentado, à destra da Majestade, nas alturas.
“E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Romanos 8.17);
“Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição” (Romanos 6.5).
Ao ressurgir com Cristo (Colossenses 3.1), o cristão é glorificado com Cristo, pois passa a estar assentado nas regiões celestiais (Efésios 1:3) e no dia que o corruptível se revestir de incorruptibilidade (1 Coríntios 15:54), todos os cristãos serão semelhantes a Cristo (1 João 3:1-2).
“E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Efésios 2.6).
Nem tudo que reluz…
Tive que fazer a exposição acima em decorrência de um artigo que circula na internet, que vem assinado pelo Sr. Mauro Fraga, com o título ‘A Justiça de Deus’[1].
O texto apresenta várias imprecisões teológicas, sendo, a principal, o modo como se dá a justiça de Deus. Mas, destaco o parágrafo abaixo, que possui algumas imprecisões terminológicas, que demandam uma análise apurada:
“Jesus não pagou para o diabo nos libertar. Jesus pagou para Deus. O sacrifício de Jesus satisfez a exigência de justiça de Deus. E por causa disso é que somos perdoados e podemos conhecer o amor de Deus por nós. Deus tratou Jesus como culpado em nosso lugar e separou-se Dele quando estava na cruz, e aí Jesus clamou: “Deus meu, porque me desamparaste?” (Mc.15:34). Jesus teve que ficar separado do Pai por nossa causa, para nos reconciliar com Ele ao morrer (Rm 8:32). Em Jesus, a justiça de Deus foi feita e, assim, Ele pode nos mostrar Seu amor (Rm 5:8).” Mauro Fraga, ‘A Justiça de Deus’, 6º parágrafo.
O Sr. Mauro, acertadamente, afirma que Jesus não pagou ao diabo para libertar o cristão, porém, comete um equívoco ao dizer que Jesus pagou para Deus. Ora, se Deus propôs salvar os crentes pela loucura da pregação, como poderia exigir pagamento por parte do Seu Filho? O apóstolo Pedro afirma que foi Deus quem pagou o resgate:
“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pedro 1.18-19).
Ora, não foi o sacrifício de Jesus que ‘satisfez’ a justiça de Deus, antes a obediência de Cristo, pois Deus mesmo disse: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (1 Samuel 15.22), e acerca de Cristo estava predito:
“Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito. Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” (Salmos 40.6-8; Hebreus 10.5).
Na morte de Cristo ocorreu substituição: desobediência por obediência:
“Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos” (Romanos 5.19).
O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo não foi tratado por Deus como culpado, antes, como servo, que em tudo foi obediente. Seria injustiça por parte de Deus tratar o Justo como injusto. A comunhão entre o Pai e o Filho em tempo algum foi interrompida.
De Cristo vaticinou o Salmista:
“Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu” (Salmos 22.24);
“Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei” (Salmos 91.15).
As profecias dos Salmos demonstram que Deus prometeu estar com o Seu Filho na angústia e que não o desprezaria e nem abominaria a aflição de Cristo, mas, por má leitura, interpretaram uma citação que Jesus fez das Escrituras, quando na cruz, como lamento, sendo que Jesus estava indicando aos que assistiam que aquelas Escrituras estavam se cumprindo naquele momento.
“DEUS meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?” (Salmo 22.1).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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