CANTARES DE SALOMÃO.
O livro de Cantares sob o prisma espiritual: vinho, ungüento, Amana, rosa de Sarom, lírio dos vales, dança de Maanaim, monte Hermom, tendas de Quedar, piscinas de Hesbom, macieira, hena, nardo, mirra, gamo, raposas, trigo, prata, cedro, torre, muro e muito mais.
O livro de Cantares é também conhecido como “Cântico dos cânticos” ou “Cânticos de Salomão”. O título “Cântico dos cânticos” (shïr hashshïrïm, Ct 1: 1) é um superlativo que significa “O melhor dos cânticos”. Era o primeiro dos cinco rolos (“Hamesh Megillot”) a ser lido nas festividades judaicas e usado durante a Páscoa. Os cinco rolos são: Cântico dos cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester. A atribuição tradicional do livro a Salomão (séc. X AC) se baseia nas referências feitas a ele (Ct 1: 1; Ct 3: 7; Ct 3: 9; Ct 3: 11; Ct 8: 11), especialmente no versículo do título (Ct 1: 1). Alguns acham que Salomão escreveu este cântico na sua juventude, antes de adquirir seu enorme harém. Outros acham que o livro de Cânticos reflete o amor de um jovem pastor israelita e sua noiva, criando a fantasia de serem “rei e rainha” por um dia.
São inúmeras as interpretações, havendo pouco acordo entre os eruditos quanto à sua origem, significado e propósito. As interpretações alegóricas rabínicas e cristãs elevaram os poemas do livro acima do nível sensual. Dois personagens principais são: Salomão e a jovem sulamita. Tendo-a tirado de seu lar no interior do Norte de Israel e levado-a para Jerusalém, Salomão acabou por amá-la como sua esposa, com uma afeição que se elevava bem acima da atração física. A palavra sulamita (shülammïth: completo, tendo paz perfeita) pode ser variante de sunamita, natural de Suném (shünem: lugar de repouso ou paiol), cidade no território de Issacar, perto de Jezreel (Js 19: 18). Foi de Suném que trouxeram a Davi a linda Abisague para confortá-lo na sua idade avançada. Seja ou não Salomão o autor da obra, com certeza, mostra a história de um casal apaixonado e, não somente fala da pureza do amor humano, mas sua própria inclusão no Cânon (na bíblia) relembra-nos um amor que é mais puro do que o nosso, o amor de Deus (Ágape), o amor de entrega total. Dessa forma, o livro de Cânticos expressa o desejo do coração do homem de se unir a Deus de maneira plena e completa. Debaixo dessa visão espiritual podemos ter revelações importantes do Senhor para Sua Igreja, para Sua noiva, que Ele espera encontrar pura e sem mácula no dia de Sua vinda (Ef 5: 27).
• Este trabalho não traz a revelação sobre todo o livro bíblico, mas de alguns trechos que o Espírito Santo me abriu o entendimento para Sua palavra.
Esposa
“Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho. Suave é o aroma dos teus ungüentos, como ungüento derramado é o teu nome; por isso, as donzelas te amam” (Ct 1: 1-3).
“Em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que o vinho; não é sem razão que te amam” (Ct 1: 4b).
Nestes versículos já podemos notar uma referência ao amor de Deus, que é maior do que os prazeres do mundo, aqui simbolizado pelo vinho. O vinho é o mais comum dos estímulos físicos, assim como símbolo das gratificações artificiais de que o homem lança mão para se inebriar e alienar. A alegria que ele produz é profana. Não é um verdadeiro entusiasmo da alma, inspirado pelo Espírito Santo, a alegria da santidade que vem do alto. Por isso, a esposa diz que o amor do esposo não se compara a nada que o mundo possa oferecer.
Em segundo lugar, ela fala que o nome do esposo (aqui podemos ver uma referência a Jesus, o nome que está acima de todo nome) é como um ungüento derramado sobre ela. O ungüento, muito comum na Antiguidade, tinha efeito refrescante, trazendo alívio; normalmente era conservado em receptáculos de alabastro e diminuíam o ressecamento da pele e as irritações causadas pelo calor. Os ungüentos aromáticos eram usados como cosmético. Geralmente quem os preparava eram os perfumistas ou os sacerdotes. O óleo da santa unção dos sacerdotes era composto de azeite de oliva, mirra, canela (cinamomo), cálamo e cássia. De acordo com esse raciocínio, o nome de Jesus traz refrigério sobre nossa vida, como um ungüento que é derramado para aliviar as dores e as irritações espirituais e emocionais que nos atingem.
O coro repete as palavras da noiva de outra forma, reforçando a idéia de que a alegria completa se acha na presença do noivo, não nos prazeres mundanos, e que o amor de Deus permanece, jamais é esquecido.
Esposa
“Eu estou morena e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou. Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas; a vinha, porém, que me pertence, não a guardei. Dize-me, ó amado de minha alma: onde apascentas o teu rebanho, onde o fazes repousar pelo meio-dia, para que não ande eu vagando junto ao rebanho dos teus companheiros?”
Esposo
“Se tu não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres, sai-te pelas pisadas dos rebanhos e apascenta os teus cabritos junto às tendas dos pastores” (Ct 1: 5-8).
A esposa fala sobre estar morena, pois ficou exposta ao sol guardando vinhas. Aqui temos muitos ensinamentos. Em primeiro lugar, há vários significados para vinha ou videira na bíblia. A videira é um símbolo de prosperidade e paz, símbolo do favor divino. É também um símbolo do povo escolhido que foi tirado do Egito e plantado numa terra prometida por Deus. Significa a união de Cristo com Sua igreja, como Ele se refere em Jo 15: 5, ao dizer que Ele é a videira verdadeira e nós, os ramos. Aqui em Cânticos, em especial neste texto, a vinha pode simbolizar o corpo da esposa e seu amor pelo esposo, assim como a sua alma, que ela antes entregou nas mãos de outros (seus irmãos) e que por alguma causa a obrigaram a cuidar das vinhas da família. Metaforicamente falando, suas ligações familiares poderiam ser doentes e ela se sentia responsável por cuidar dos seus parentes, negligenciando a si mesma. Ela diz estar morena porque o sol a queimou, mas continuava bonita, formosa. Sentia-se acanhada diante da sociedade porque as moças com feições mais escuras eram as que tinham de trabalhar a sol aberto, nos campos ou nas vinhas. As moças mais privilegiadas podiam ser reconhecidas pelas feições mais claras. Ela se refere à sua cor como as tendas de Quedar, que é uma área do deserto da Arábia em que as tendas dos beduínos eram, em geral, feitas de peles de bodes negros. Espiritualmente, para nós, isso significa que a cor morena da pele simboliza nosso pecado, antes de sermos resgatados por Jesus. Embora maculados pelo pecado e impuros, o Rei nos achou e sobre nós lançou Seu grande amor no qual seremos aperfeiçoados. Antes de sermos de Jesus não dávamos valor à nossa aparência espiritual, à nossa alma e até ao nosso corpo, sendo escravos das paixões mundanas e dos desejos de outros sobre nós.
Em seguida ela pergunta ao esposo onde ele apascenta o seu rebanho e onde o faz repousar ao meio-dia para que ela não ande vagando por qualquer lugar. Isso significa que ela estava comprometida com o amor de um só homem e não queria ser tomada por uma mulher leviana procurando camponeses, por isso ela perguntou ao seu amado pastor onde poderia achá-lo prontamente enquanto ele vigiasse as ovelhas. Por que vagar na vida e ser conduzida por outros que não Jesus? Além disso, a palavra usada é apascentar, que em grego significa: dar o melhor dos sustentos. Ela usa também a palavra repousar que significa: descansar, segurança no lar, na nossa terra e no nosso templo sagrado. Dessa forma ela reconhece que o pastor é o único a alimentá-la com o melhor alimento e o único a dar o repouso verdadeiro, a paz que ela precisa na sua alma, no seu templo interior. Em outras palavras, a Igreja precisa estar certa que o Senhor está ali sempre pronto a apascentar Suas ovelhas para que não fiquem vagando por lugares áridos da Sua palavra de vida.
O esposo responde: “Se tu não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres, sai-te pelas pisadas dos rebanhos e apascenta os teus cabritos junto às tendas dos pastores”. Ele a vê formosa apesar da sua cor, pois Seus olhos são de amor para com ela. Assim, Cristo nos vê com olhos de amor, não dando importância ao que já passou em nossa vida e não nos enxerga com os olhos com que nós nos vemos. Ele nos vê cobertos pelo Seu amor e pelo Seu sangue. Além de dizer à esposa onde encontrá-lo, ele lhe dá um trabalho parecido com o dele: apascentar os cabritos juntos aos outros pastores. Assim, Jesus se encontra onde existem outros que também se dispõem a apascentar. É o que Ele diz à Sua Igreja: “Onde houver dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles”. Parafraseando: “Onde houver dois ou três dispostos a apascentar, ali estarei apascentando-os também”. Quando a Igreja se dispõe a dar o melhor dos sustentos aos que precisam, Jesus está presente apascentando a todos com Sua própria vida.
Esposa
“Enquanto o rei está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu perfume. O meu amado é para mim um saquitel de mirra, posto entre os meus seios. Como um racimo de flores de hena nas vinhas de En-Gedi, é para mim o meu amado” (Ct 1: 12-14).
A mirra era ungüento perfumado usado pela realeza para perfumar as vestes de casamento. Também era usado como perfume sedutor. Na opinião da esposa, o amor substituía bem esse perfume.
O nardo é um ungüento caro, guardado em recipientes de alabastro, e que geralmente era usado para perfumar os cabelos (no caso, o da noiva); significa: fortalecimento, a presença de Jesus conosco todos os dias. Assim, a Igreja tem Cristo como cabeça trazendo-lhe o fortalecimento.
A noiva também comparava o amado a um racimo de flores de hena nas vinhas de En-Gedi. A hena, muito usada como cosmético para tingir unhas e cabelos, tem os ramos cobertos de espinhos que produzem cachos de flores esbranquiçadas e odoríferas nas extremidades. En-Gedi (‘en-gedhï, ‘fonte da cabra’) é uma fonte de água fresca a oeste do Mar Morto, na terra de Judá. A fertilidade dessa área, em meio a uma região tão estéril, tornava-a local ideal para os fora-da-lei, para encontrar alimento (Ct 1: 14) e como lugar de esconderijo (Davi, por exemplo). Dessa forma, a noiva dava tanto valor ao amor do marido como uma fonte de água num lugar deserto e estéril ou como um cacho de flor perfumada entre as vinhas plantadas em uma terra árida.
Esposa
“Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales”.
Esposo
“Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha querida entre as donzelas”.
Esposa
“Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os jovens; desejo muito a sua sombra e debaixo dela me assento, e o seu fruto é doce ao meu paladar. Leva-me à sala do banquete, e o seu estandarte sobre mim é o amor. Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, pois desfaleço de amor. A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a direita me abrace. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira. Ouço a voz do meu amado; ei-lo aí galgando os montes, pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo ou ao filho da gazela; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades. O meu amado fala e me diz”:
Esposo
“Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi; aparecem as flores na terra, chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira começou a dar seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem. Pomba minha, que andas pelas fendas dos penhascos, no esconderijo das rochas escarpadas, mostra-me o teu rosto, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e o teu rosto, amável”.
Esposa
“Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor. O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. Antes que refresque o dia e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho das gazelas sobre os montes escabrosos” (Ct 2: 1-17).
A esposa fala que é a rosa de Sarom, o lírio dos vales. Sarom é um pântano à beira do Mediterrâneo, ao sul do Monte Carmelo. É um lugar impróprio para a pastagem (exceto na parte sul), pois é terreno pantanoso; entretanto, num lugar como este nasce a rosa, cuja palavra em hebraico, é aqui identificada com muitas outras plantas bulbosas (narciso, lírio, tulipa, jacinto) e se multiplica abundantemente na planície de Sarom. A rosa simboliza o amor, o romance, a delicadeza, a fragrância suave da presença da noiva e, uma característica comum que podemos notar na rosa, mais claramente do que nas outras flores, é o seu desabrochar. O lírio, na Palestina, diz respeito a diversas variedades não especificadas nas traduções. A maior parte das referências no livro de Cânticos, provavelmente diz respeito ao jacinto, embora os “lábios semelhantes a lírios” (Ct 5: 13) talvez faça alusão à anêmona vermelha ou ao lírio madona (Ct 6: 2), que é nativo da Palestina. O lírio nasce nos vales, que só exibem água na estação chuvosa, e nos lembra pureza, simplicidade e santidade (cf. Mt 6: 28-29). Assim, quando a noiva diz que é a rosa de Sarom, ela se identifica com algo delicado, que desperta o amor e exala o seu perfume e que é capaz de desabrochar num terreno aparentemente impróprio, apenas porque é amada pelo esposo e se sente segura com a sua presença. Quando ela se compara ao lírio, exalta sua simplicidade, pureza e santidade. Dessa forma, o Senhor deseja ver a Sua Igreja desabrochando para o amor, exalando Seu perfume aos carentes de alegria e beleza e vestindo-se com vestes de santidade, simplicidade e pureza, ainda que as circunstâncias ao redor pareçam contrárias, áridas da água da vida, que é a palavra de Deus.
A esposa também compara o amado a uma macieira, símbolo de sabedoria. É uma árvore que fornece boa sombra, o fruto é doce e o perfume, muito apreciado no oriente (Ct 2: 3 e 7: 8) onde a maçã (tappüah) era bem conhecida e cultivada nos tempos antigos, mais provavelmente pelos árabes do que na Palestina, devido às condições climáticas. Por isso, a noiva quer ficar debaixo da macieira, recebendo a sabedoria do amado e descansando à sua sombra, ou seja, protegida pelo seu manto de amor. Comer da sabedoria dele (fruto da macieira) é bom e faz bem a ela, é um verdadeiro banquete; assim, ela lhe pede para levá-la à sala do banquete, pois quando estamos em comunhão com o Senhor em Sua mesa, Ele compartilha conosco o Seu poder e todo o Seu ser, tudo o que tem. O estandarte que é estendido sobre a noiva, também chamado de bandeira, simboliza o domínio do seu marido o qual ela saudou com afeto. O estandarte de Jesus sobre Sua Igreja é o Seu amor, o Ágape.
A noiva fala às outras mulheres, provavelmente as do harém do rei Salomão ou às damas da corte, sobre o amor verdadeiro e lhes diz que a intimidade sexual não pode ser forçada e que o amor e a sensualidade não são a mesma coisa (“Não acordeis, nem desperteis o amor até que este o queira”). A intimidade com Deus não é forçada; é o coração da própria pessoa que se desperta para um relacionamento mais profundo com Ele.
No versículo seguinte ela descreve o amado como um gamo galgando os montes; isto significa que não há obstáculo que o amor do nosso Salvador não possa transpor e que para Ele, montanhas rochosas são como uma planície aberta. O gamo ou a gazela é um animal que galga os montes com facilidade e não escorrega; da mesma forma o amor verdadeiro não traz tropeço nem vê dificuldades que não possa superar.
Em seguida, o esposo chama sua amada e a lembra que o tempo ruim de sua vida já passou; as flores e os frutos desse amor já começam a brotar. A esposa não precisa mais ficar escondida como uma pomba nas fendas dos penhascos, pelo contrário, o esposo pede a ela para lhe mostrar o rosto e fazê-lo ouvir sua voz, pois ele a acha amável e bela, e sua voz para ele é doce. Isso se refere à Igreja que o Senhor não deseja ver escondida nem envergonhada, mas a uma Igreja que precisa se levantar e despertar para o Amado de maneira plena e avivada através da oração (voz), porque nosso clamor diante de Deus é doce e nosso rosto fica iluminado ao olharmos para Ele. Com a presença de Jesus acabou-se o tempo de trevas; Ele veio marcar um novo tempo para a humanidade.
A esposa reconheceu esse tempo, mas ficou preocupada com as raposas que devastam os vinhedos. As raposas e as raposinhas costumam cavoucar ao redor das videiras em flor; isso significa coisas pequenas e insignificantes que poderiam infiltrar-se num belo relacionamento conjugal, corroendo-o até que a videira do amor caísse arruinada. A esposa queria que essas pequenas coisas fossem apanhadas antes de provocarem danos graves. No relacionamento entre Deus e Sua noiva ocorre a mesma coisa, quando as obras da carne, que parecem insignificantes, de repente se tornam uma triste rotina, minando o amor e destruindo tudo o que demorou tanto tempo para ser construído. Por isso, devemos estar alertas para permanecer com o fogo do Espírito aceso, nos incentivando a buscar a presença do Senhor todos os dias e a cuidar desse relacionamento amoroso como se cuida do cônjuge.
Esposa
“De noite no meu leito, busquei o amado de minha alma, busquei-o e não o achei. Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade, pelas ruas e pelas praças; buscarei o amado da minha alma. Busquei-o e não o achei. Encontraram-me os guardas, que rondavam pela cidade. Então, lhes perguntei: vistes ao amado da minha alma? Mal os deixei, encontrei logo o amado da minha alma; agarrei-me a ele e não o deixei ir embora” (Ct 3: 1-4a)
Talvez, um sonho à noite ou algo aconteceu no relacionamento entre eles (“raposas”), que deixou a esposa insegura, pois não viu o esposo ao seu lado e o buscou desesperadamente até encontrá-lo. Ao achá-lo, ela o agarrou e não o deixou ir. Muitas vezes, Deus nos permite sentir Sua “ausência” para termos consciência da importância da Sua presença constantemente conosco. Sem Ele, nos sentimos perdidos e sem rumo, sem motivo para viver.
Esposa
“Antes que refresque o dia, e fujam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso”.
Esposo
“Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito. Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olha do cimo do Amana, do cimo do Senir e do Hermom, dos covis dos leões, dos montes dos leopardos. Arrebataste-me o coração, minha irmã, noiva minha; arrebataste-me o coração com um só dos teus olhares, com uma só pérola do teu colar. Que belo é o teu amor, ó minha irmã, noiva minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho, e o aroma dos teus ungüentos do que toda sorte de especiarias! 11 Os teus lábios, noiva minha, destilam mel. Mel e leite se acham debaixo da tua língua, e a fragrância dos teus vestidos é como a do Líbano. Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada. Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes: a hena e o nardo; o nardo e o açafrão, o cálamo e o cinamomo, com toda a sorte de árvores de incenso, a mirra e o aloés, com todas as principais especiarias. És fonte dos jardins, poço das águas vivas, torrentes que correm do Líbano”!
Esposa
“Levanta-te, vento norte, e vem, tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aromas. Ah! Venha o meu amado para o seu jardim e coma os seus frutos excelentes!” (Ct 4: 6-16).
No versículo 6, a esposa diz que antes que refresque o dia, ou seja, na viração do dia (quando Deus falava com Adão e Eva), no início da noite, logo no início dos nossos problemas, quando tudo começa a não ficar mais claro, é tempo de buscar a cura, a libertação e a mudança de vida (mirra) através da oração (incenso) para que as coisas não fiquem piores. A nossa oração nos coloca num patamar de intimidade maior com Deus onde a transformação da nossa alma se torna possível e o conhecimento de nós mesmos através dos Seus olhos nos cura das feridas e das deformações do pensamento humano.
Por isso, o noivo diz: “Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito”. Ele nos fez puros e é com olhos puros que nos vê, cobertos pelo sangue do Seu Filho; o ser humano, influenciado pelo diabo, é que distorceu a criação inicial, impedindo a si mesmo de viver a plenitude de Deus e desfrutar Suas bênçãos. Em outras palavras, cobertos pelo sangue de Jesus nós somos perfeitos, pois passamos a nos assemelhar a Ele, por isso, ao sermos tratados e sarados pelo Senhor, nossas vestes espirituais e emocionais são limpas e sem defeito.
No versículo 8 o esposo nos convida a subir às alturas com Ele, aos montes, de onde nossa visão é mais clara e de onde podemos ver a terra que Deus nos dá e que está pronta para a conquista do amor que se manifesta e se declara (v. 9-10). Ele primeiro diz: “Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olha do cimo do Amana, do cimo do Hermom, dos covis dos leões, dos montes dos leopardos”. Parece que a noiva morava com a família entre as vinhas ao norte de Israel, próximas ao Líbano. O Amana é um dos picos na Cordilheira das montanhas do Anti-Líbano [cordilheira que se estende de sudoeste a noroeste do Líbano com cerca de 150 km de comprimento, sendo a cadeia do leste e paralela ao maciço do monte Líbano que está a oeste, voltado para o Mar Mediterrâneo. Abrange Líbano, Israel e Síria]. Amana significa: firmeza, tratado; em hebraico: Amaná, simbolizando a fé e a confiança (emuná). O Hermom significa: montanha sagrada, santuário (hermôn), e é o pico sul da cadeia do Anti-Líbano com aproximadamente 2.814 metros de altitude, provavelmente, o mais alto deles. A neve quase nunca desaparece do seu cume durante o ano inteiro, causando orvalhos abundantes em tremendo contraste com a terra seca da região (Sl 133: 3), enquanto que o degelo é uma das principais fontes alimentadoras do Rio Jordão. Muito provavelmente foi no Hermom onde ocorreu o episódio da transfiguração de Jesus, próximo a Cesaréia de Filipe. O Hermom é também chamado de Senir (Senir, cota de malha) pelos amorreus e, pelos assírios, Saniru. É também chamado em Dt 4: 48 de Siom (elevado ou montanha sagrada) e de Siriom (couraça), pelos sidônios. Quando a bíblia fala dos covis dos leões e dos montes dos leopardos, a tradição judaica atribui a Seom (rei de Hesbom) e a Ogue (rei de Basã), que tinham a arrogância e o poder dos leões, pois eram amorreus habitantes do norte e nordeste de Israel. Assim, o noivo chama a noiva para vir com ele aos altos montes, pois a visão do alto é clara e permite visualizar toda a terra. Da mesma forma, Jesus chama Sua Igreja a ver as coisas “lá do alto”, ter a visão espiritual, não a carnal, pois assim a noiva poderá contemplar com mais clareza a herança que Ele lhe deixou. Poderá ter certeza do poder que lhe foi delegado e da abundância e da fertilidade dessa terra que é sua por direito divino. É lá do alto do Hermom, do santuário, do sagrado, que fluem as águas vivas para nutrir nossa terra.
A partir do versículo 11, são feitas algumas citações de fragrâncias e especiarias (link para outra página do site) que têm importância para o tipo de atitude que o Senhor espera de Sua noiva, a Igreja.
Em Ct 4: 15 o poeta diz: “És fonte dos jardins, poço das águas vivas, torrentes que correm do Líbano!” A Igreja é fonte de vida, portadora das águas renovadoras do Espírito, manancial recluso, fonte selada (v.12), onde não entra impureza, apenas a santidade de Deus, através da qual o Espírito age em nós.
Esposa
“Eu dormia, mas meu coração velava; eis a voz do meu amado, que está batendo”.
Esposo
“Abre-me, minha irmã, querida minha, pomba minha, imaculada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos, das gotas da noite”.
Esposa
“Já despi a minha túnica, hei de vesti-la outra vez? Já lavei os pés, tornarei a sujá-los? O meu amado meteu a mão por uma fresta, e o meu coração se comoveu por amor dele. Levantei-me para abrir ao meu amado; as minhas mãos destilavam mirra preciosa sobre a maçaneta do ferrolho. Abri ao meu amado, mas já ele se retirara e tinha ido embora; a minha alma se derreteu quando, antes, ele me falou; busquei-o e não o achei; chamei-o, e não me respondeu. Encontraram-me os guardas que rondavam a cidade; espancaram-me e feriram-me; tiraram-me o manto os guardas dos muros. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe direis? Que desfaleço de amor” (Ct 5: 2-8).
Mesmo as paixões e as delícias do amor não podem proteger a noiva e o noivo das dores da vida. Quando diminui a paixão, podem vir decepções, que trazem um esfriamento na relação; para ser saudável, ela precisa ser continuamente alimentada. Provavelmente, houve uma separação e ele voltou a procurá-la, mas ela estava tão sonolenta (sono real ou alheia ao que acontecia) que não lhe correspondeu; então, ele se foi e agora era a vez dela ir procurá-lo novamente. A noiva, no caso, pode estar relatando um sonho que teve ou estar falando de algo que os separou verdadeiramente, fazendo com que sua vida se transformasse num pesadelo. Sem a segurança do noivo ao seu lado, tudo ficou distorcido e ela se sentiu afrontada e violentada.
Da mesma forma, o que Jesus nos fala é que precisamos nutrir nosso relacionamento com Ele e não deixar que nada venha esfriar esse amor, porque se Ele se afastar e nós estivermos alheios à Sua presença tentando uma reconciliação, poderemos deixar que Ele “escape” novamente, pois se sente não correspondido. Então vai ser a nossa vez de buscá-lo para reatar o relacionamento. Sem a segurança do Seu amor conosco ou com mágoa no nosso coração, as coisas se distorcem na nossa mente e começamos a ver “fantasmas” ou viver a violência de Satanás, que age sobre aqueles que se afastam dos caminhos do Senhor. A noiva demonstra o desespero de sua busca e de sua solidão, implorando por alguém que a ajude a encontrar novamente seu amado. Por isso os irmãos em Cristo (“filhas de Jerusalém”) são importantes nessa hora para conduzir os desgarrados de volta à comunhão com Jesus, em amor e compaixão pelo sofrimento do outro.
“Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Que rumo tomou o teu amado? E o buscaremos contigo”.
Esposa
“O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para pastorear nos jardins e para colher os lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele pastoreia entre os lírios”.
Esposo
“Formosa és, querida minha, como Tirza, aprazível como Jerusalém, formidável como um exército com bandeiras” (Ct 6: 1-4).
Aqui ocorre um reencontro, pois as filhas de Jerusalém se dispuseram a ajudar a esposa. Na verdade, ela sabe onde encontrá-lo; ela se lembrou do jardim onde o amado costuma pastorear e reafirma sua fidelidade a ele. Ela diz: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”. Ela não nega sua salvação em Cristo; ela sabe que, mesmo que tenham se afastado temporariamente, ela será sempre Sua e que nada poderá separá-los de novo. A resposta do esposo mostra sua disposição de amar e perdoar sempre, pois a chama de formosa e desejável, mesmo que tenha sido ela a ter cometido algum erro no relacionamento do casal. O Senhor está sempre pronto a nos receber de volta e quer que tenhamos sempre a certeza de que somos Seus; não podemos nos deixar enganar por aquilo que tenta fazer com que nos sintamos rejeitados e afastados de Jesus. As mentiras não podem quebrar a certeza do amor verdadeiro. Há mais uma coisa a ser dita sobre este versículo. Quando a esposa diz: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”, isto também significa algo para nós, ou seja, após as grandes batalhas que enfrentamos, devemos descansar para recuperar as nossas forças. Mas não é qualquer lugar que serve para nós. Nosso lugar é junto ao amado, onde há bálsamo, paz e santidade (o lírio nos lembra pureza, simplicidade e santidade). Assim, o nosso lugar é no coração de Deus onde encontramos a santidade, ou seja, onde o sangue de Jesus nos limpa do pecado e de tudo o que sujou nossas vestes em confronto com as guerras do mundo, no nosso dia a dia. O bálsamo vem curando as nossas feridas e fortalecendo novamente a nossa fé. É no coração de Deus que encontramos não só o perdão que precisamos, mas a proteção contra os que querem nos destruir. Sansão sentiu esta proteção na rocha de Etã. Na história de Elias, o profeta, após a vitória sobre os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal, ele fugiu da ameaça de morte proferida pela rainha Jezabel e se escondeu numa caverna no monte Horebe, e ali Deus falou com ele e o confortou. Todos eles e a noiva foram renovados depois de descansarem na presença de Deus. Isso pode ser comparado ao ciclo de vida da borboleta. Depois de a lagarta se alimentar bastante e criar reservas alimentícias, ela está pronta para se transformar em crisálida, ou seja, um casulo, que é um invólucro constituído por um material parecido com a seda. O casulo fica dependurado numa folha, de cabeça para baixo, e neste período as crisálidas se alimentam das suas reservas e complementam sua dieta absorvendo o néctar das flores e os sucos das frutas. Depois de um período de tempo que pode variar de duas semanas a três meses dependendo da espécie, a crisálida se transforma numa linda borboleta. Comparando conosco, mesmo que tenhamos que ficar uns dias no nosso casulo, na intimidade e na proteção de Deus, quando estivermos restaurados nós estaremos prontos para ser lindas borboletas e voltar aos nossos afazeres.
Esposo
“Que formosos são os teus passos dados de sandálias, ó filha de príncipe! Os meneios dos teus quadris são como colares trabalhados por mãos de artista. O teu umbigo é taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre é monte de trigo, cercado de lírios. Os teus dois seios, como duas crias, gêmeas de uma gazela. O teu pescoço, como torre de marfim; os teus olhos são as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz, como a torre do Líbano, que olha para Damasco. A tua cabeça é como o monte Carmelo, a tua cabeleira, como a púrpura; um rei está preso nas tuas tranças. Quão formosa e quão aprazível és, ó amor em delícias! Esse teu porte é semelhante à palmeira, e os teus seios, a seus cachos. Dizia eu: subirei à palmeira, pegarei em seus ramos. Sejam os teus seios como os cachos da vide, e o aroma da tua respiração, como o das maçãs. Os teus beijos são como o bom vinho,
Esposa
vinho que escoa suavemente para o meu amado, deslizando entre seus lábios e dentes. Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim” (Ct 7: 1-10).
Embora este trecho esteja se referindo fisicamente aos atributos físicos da jovem, há ensinos espirituais por trás da poesia. O texto acima vem logo depois do versículo que menciona a dança de Maanaim (Ct 6: 13b). As festas de casamento tinham bastante música e danças. Não seria nada incomum os hóspedes observarem a noiva, o centro da atenção, dançando nas celebrações. Neste caso, a noiva dançou para o esposo, e ele descreveu suas formas graciosas. Outros vão buscar o emprego original da palavra Maanaim para mostrar que pode tratar-se de uma dança de anjos (Gn 32: 1-2). Maanaim (Mahanayin, em hebraico) significa: dois exércitos, dois acampamentos. Era o lugar em Gileade onde Jacó viu os anjos de Deus, antes de haver chegado a Peniel e de se encontrar com Esaú.
O esposo fala sobre a formosura dos passos da jovem com as suas sandálias. Isso, espiritualmente, significa: andar de maneira graciosa, com a sabedoria e a autoridade (sandálias) do Senhor, com a agilidade de uma jovem dançando, ou seja, o amor de Deus é o veículo que torna a ação da Igreja graciosa no exercício da autoridade e da sabedoria.
Em seguida, Ele elogia os meneios dos quadris da esposa que dança para Ele. Quando ela se move e seus quadris se movimentam em círculos (semelhantes a colares manuseados com cuidado, sensibilidade e esmero por mãos de artista), isso o alegra. Da mesma forma, nossos movimentos sábios, delicados e cuidadosos na presença do Senhor, buscando o perdido, curando os feridos, alimentando os fracos e demonstrando nosso louvor de maneira espontânea a Ele, Lhe trazem alegria.
Quando Ele fala sobre o umbigo como uma taça redonda a que não falta bebida, simbolicamente fala de cálice (mencionada no Sl 23: 5), o “recipiente do nosso espírito” preenchido com o Espírito Santo. Também fala do nosso espírito renascido, da renovação da aliança, do novo nascimento, do nosso novo “cordão umbilical” ligado a Ele, não mais às coisas da carne.
Depois o esposo diz que o ventre da jovem é monte de trigo. Existe algo interessante com o trigo: é um cereal de grande importância para a alimentação da humanidade. Produz um pão mais delicioso e melhor do que o produzido por qualquer outro cereal. É parte importantíssima da dieta dos filhos de Israel. Por causa de sua importância como alimento, figura nas Escrituras como símbolo da bondade e da provisão de Deus. Era usado como oferta de cereais no culto do templo. Um grão dá origem a diversas novas espigas demonstrando frutificação espiritual. Assim como o grão original é consumido, Jesus dá o exemplo (Jo 12: 24: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto”) de que a frutificação espiritual tem sua origem na morte do eu. No NT o trigo é simbólico dos filhos de Deus, em contraste com os filhos do maligno (joio – Mt 13: 38). Portanto, o ventre da jovem era visto como fértil, frutífero, capaz de gerar muitos filhos. Lírios podem simbolizar os encantos dela, assim como pureza e santidade; dessa forma, seus filhos seriam gerados em santidade e criados de maneira pura.
O esposo também diz que seus dois seios são como duas crias, gêmeas de uma gazela. Se levarmos a interpretação para o lado físico, podemos entender que os filhotes das gazelas eram macios e quentes. Assim seus seios simbolizariam algo confortável. Espiritualmente falando, os seios simbolizam a fonte de alimento espiritual e material, pois os judeus os relacionam à época do templo, ao rei e ao sumo sacerdote, os quais, juntos, governavam o povo com igual autoridade (filhotes gêmeos da gazela): o rei suprindo as necessidades físicas, e o sacerdote, as espirituais. O Senhor supre Sua noiva, material e espiritualmente falando, e espera que ela faça o mesmo com Seus filhos para que o Noivo se alegre dela.
Quanto ao pescoço da noiva, é comparado a uma torre de marfim, para os judeus uma referência ao santuário e ao altar, que se erguiam eretos e altos, como uma torre de marfim fornecendo força espiritual e proteção.
Os olhos da jovem são comparados às piscinas de Hesbom, que refletiam uma beleza escura e misteriosa, pois Hesbom estava localizada no território da tribo de Rúben, antes pertencente aos amorreus, terra chamada “de ferro” por ser de basalto, portanto, de cor negra e escura. Essas piscinas naturais deixavam a água com aparência negra e misteriosa, pois não se podia ver o que havia no fundo. Por isso, o noivo olhava nos olhos escuros da jovem, via seu brilho como a água das piscinas, mas reconhecia nela ainda algumas coisas que ela não havia lhe revelado. Como Igreja, nossos olhos (“o espelho da nossa alma”) devem refletir o brilho do Senhor, assim como mostramos neles o mistério da salvação a ser desvendado por aqueles que ainda estão nas trevas e que precisam ter a Sua revelação. A porta de Bate-Rabim era uma das portas da cidade de Hesbom, na atual Jordânia.
O nariz dela foi comparado com a torre do Líbano, significando que havia certa elegância nele, como deveria haver aparência proeminente, de destaque e de elegância nos contornos da torre. Assim como uma torre era local de defesa e vigilância, simbolizando espiritualmente a nossa comunhão com Deus, que nos avisa das estratégias e dos ataques contra nossas vidas, o nariz também pode nos avisar de algo errado, nos livrando de perigos como o fogo ou odores tóxicos, da mesma forma que nos permite sentir os perfumes delicados de uma flor ou de alimentos agradáveis; ele nos permite sentir, espiritualmente, o perfume de Cristo perto de nós através dos irmãos.
A cabeleira da jovem é como o Monte Carmelo, ou seja, os seus cabelos eram tão luxuriantes como a vegetação abundante do monte Carmelo. A noiva, a Igreja, deve ter sua cabeleira farta e atraente, pois o cabelo, na bíblia, pode ser símbolo da cobertura espiritual de Deus sobre as nossas vidas, assim como da Sua unção.
O esposo também elogiou o porte da esposa, ereto como o de uma palmeira. Em hebraico, a palavra para palmeira é Tãmãr que significa: vitória e exultação, graça e elegância. É o que o Senhor espera da Sua Igreja: se portando elegantemente com força, vitória e regozijo pela Sua salvação e pelo poder que Ele lhe delegou.
Os próximos versículos, que poeticamente transmitem a idéia de uma relação sexual, nos dão, espiritualmente, o significado de expandir (ramos) e frutificar, ser fonte de suprimento, alegria, prosperidade e bênçãos de Deus (cachos). É o propósito de Jesus para Sua noiva.
O texto bíblico escrito acima termina, novamente, com a declaração de fidelidade exclusiva e da necessidade de estar junto: “Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim” (a palavra saudades pode soar como “ciúmes de mim”, pois o Espírito Santo tem ciúmes de nós, como está escrito na própria palavra de Deus – Tg 4: 5).
Esposo
“Debaixo da macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz. Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme, as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, seria de todo desprezado”.
“Temos uma irmãzinha que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que for pedida? Se ela for um muro, edificaremos sobre ela uma torre de prata; se for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro”.
Esposa
“Eu sou um muro, e os meus seios, como as suas torres; sendo eu assim, fui tida por digna da confiança do meu amado” (Ct 8: 5b-10).
O noivo lembra sua esposa que debaixo da macieira Ele a despertou, onde esteve a sua mãe com dores. Isso significa que o Senhor faz-nos lembrar de voltar “à madre”, às raízes, às origens, de onde Ele com a Sua sabedoria e amor infinito nos resgatou. Assim podemos louvá-lo pela Sua salvação em nossa vida. Pode significar também a primeira aliança feita com o povo no Monte Sinai (mãe), onde ele, recém-saído do Egito, ainda se lembrava das dores da escravidão.
Ele lhe diz para colocá-lo como selo sobre seu coração e sobre o seu braço, pois a fidelidade dela a ele e a marca dele sobre ela devem atingir não só sua alma, seus sentimentos, mas sua maneira de agir dali para frente. Os braços falam de abraçar, amar, agarrar, conquistar, alcançar, libertar. É tudo o que o Senhor espera de Sua igreja: que ela saiba amar seus semelhantes, confortar os tristes, conquistar sua terra, agarrar suas bênçãos, alcançar Suas metas santas para ela e libertar os que se acham amarrados nas cadeias das impossibilidades. Deus agirá através dos nossos braços. Seu Espírito usará nossos corpos para realizar Seus planos soberanos.
O esposo faz referência à força do amor, mas ressalta a dureza do ciúme como uma sepultura. Isso significa que num relacionamento sincero de amor e confiança existe uma grande força, que torna os amados indestrutíveis, porém, onde existe ciúme e desconfiança passa a haver uma amarra, um impedimento ao fluir do amor, pois o ciúme prende em cadeias, num sepulcro; o ciúme não deixa livres os braços e o coração para demonstrarem o amor. O Senhor quer que no Seu amor nós sejamos fortes, mas se agirmos egoisticamente, nosso amor não vai fluir, nem o Seu. Se servirmos a outros deuses ou negligenciarmos a fidelidade a Ele provocando Seu ciúme, também experimentaremos Sua ira, ao invés do Seu amor, e nos acharemos mortos como num sepulcro. O amor é vida; o ódio, o ciúme e a separação trazem morte.
Jesus nos garante que as águas e os rios de aflição que o inimigo coloca em nossas emoções através de palavras desanimadoras e destrutivas não podem apagar nunca a chama do Seu amor no nosso coração, pois Seu amor é comparado a veementes labaredas. E se alguém desejasse comprar o Seu amor seria de todo desprezado, pois Seu amor não tem preço, não pode ser comprado; é ganho pela fé de uma alma pura e entregue completamente a Ele, uma alma exclusivamente fiel que crê no sacrifício da cruz.
O coro se refere a uma irmãzinha ainda imatura que não tem seios (defesas, suprimentos). Humanamente falando, poderia se tratar de uma virgem que acabara de chegar ao palácio para ser preparada como noiva ou concubina de Salomão (como Ester o foi para Assuero). A noiva, ao contrário, por ser a preferida do rei, se sente segura e madura. Espiritualmente falando, a ‘irmãzinha’ pode ser uma referência a uma Igreja imatura e sem defesas. É só o que eu posso colocar aqui, pois as demais explicações teológicas que encontrei ou que me foram passadas não fazem sentido, levando-se em conta a vida de Salomão e a forma como Deus o usou: com sabedoria e com prosperidade, mas não como profeta como Davi, seu pai. Jesus virá buscar uma única Igreja, seja ela o povo escolhido do Antigo Testamento, seja o povo que iniciou a Igreja primitiva, seja a igreja constituída por nós hoje. Em resumo, todos os que o aceitam como Senhor e Salvador e se santificam para Ele. No dia em que a ‘irmãzinha’ for pedida (na época da segunda vinda de Jesus), se ela tiver pureza e separação exclusiva para Ele, será edificada sobre ela uma torre de prata. A prata é o segundo dos metais nobres, depois do ouro. Não mancha numa atmosfera pura, e pode ser polida até refletir como um espelho. O processo de refinação pode significar obediência a Deus. A torre de prata significa maior proximidade com Deus firmada sobre a obediência, refletindo a comunhão perfeita com Ele.
Assim, se a Igreja imatura se desenvolver e for encontrada fiel, separada, “incontaminada” (Tg 1: 27), sua intimidade com Deus será plena e total. Se ela for ainda uma porta (fala de abertura, vulnerabilidade, necessidade de proteção ou defesa contra o inimigo, autoridade), será necessário cercá-la com tábuas de cedro. O cedro é símbolo de majestade e força. É uma madeira estimada por causa da durabilidade. Também simboliza a estatura de um homem, pois as árvores podem atingir quarenta metros de altura. Em resumo, se ainda continuar imatura, a Igreja ainda precisará ser fortalecida.
A esposa madura e preparada diz que ela é um muro, ou seja, proclama a sua fidelidade e a sua separação exclusiva; diz também que seus seios são como torres, ou seja, ela vigia, tem defesas, é uma fortaleza, goza da proximidade com Deus, desfruta Sua comunhão e Ele a avisa dos ataques e lhe dá estratégias. Sendo assim, Seu amado pode confiar nela.
Esposa
12 “A vinha que me pertence está ao meu dispor; tu, ó Salomão, terás os mil siclos e os que guardam o fruto dela, duzentos”.
Esposo
“Ó tu que habitas nos jardins, os companheiros estão atentos para ouvir a tua voz; faze-me, pois, também, ouvi-la”.
Esposa
“Vem depressa, amado meu, faze-te semelhante ao gamo ou ao filho da gazela, que saltam sobre os montes aromáticos” (Ct 8: 12-14).
A vinha que pertence à esposa é a herança do reino de Deus, onde tudo está disponível para ela por ser fiel. Salomão é a figura de Jesus, neste texto, e terá o Seu galardão (mil siclos), assim como nós, que guardamos Sua vinha até a Sua vinda, teremos o nosso. O esposo clama à esposa que habita nos jardins, ou seja, à Sua Igreja em todas as nações da terra, para proclamar o evangelho aos que ainda não o conhecem e que estão atentos para ouvi-la. A esposa anseia pela vinda do Noivo, que vem resgatá-la onde o aroma do Seu amor estiver presente. Ela o compara novamente ao gamo ou filho da gazela (Ct 2: 9), pois o amor verdadeiro não traz tropeço nem vê dificuldades que não possa superar. “Montes aromáticos” fazem novamente alusão ao Líbano (onde estão os montes mencionados em Ct 4: 8) e às especiarias (Ct 8: 13-14), ou seja, os lugares altos onde Deus habita eternamente, onde há perfeita comunhão, onde Seus dons estão presentes e fluem livremente e onde a esposa estará fora do alcance do inimigo.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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