PERDA DA SALVAÇÃO
Quem não ficaria intrigado com a advertência em Hebreus 6.4-8?
“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia. Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.”
Esta passagem nos confunde, porque se relaciona com o modo como analisamos o relacionamento entre as promessas do evangelho e suas admoestações. Na verdade, a tensão doutrinária entre “advertência” e “promessa” leva muitos a removerem completamente a tensão, já que a consideram desconfortável, e até mesmo contraditória.
Olhando Para Trás ou Para a Frente?
Alguns, como eu mesmo já fiz anteriormente, resolvem a tensão explicando a passagem como uma avaliação retrospectiva (olhando para trás) da fé de alguém em Cristo. Destacam as promessas do evangelho com alguns ajustes vindo das admoestações do evangelho. Ao fazê-lo, eles inadvertidamente alteram o alerta condicional prospectivo (o olhar para a frente) contra o repúdio a Cristo e a obstinada falta de arrependimento. Desta maneira, a advertência se torna uma avaliaçāo, reflexiva e voltada para o passado, a respeito da perseverança de alguém em meio às tentações. Isto é freqüentemente visto como uma evidência que reflete a genuinidade da fé de alguém. Por conseguinte, se minha fé é perseverante, isto me autoriza a inferir que estou verdadeiramente unido a Cristo. No entanto, se não estiver perseverando na fé, esta evidência sugere que minha fé é falsa.
Argumentar que Hebreus 6.4-8 se refere a alguém que abandona sua fé, expondo portanto sua fé como falsa, é argumentar o que Tom Schreiner e eu chamamos de a explicação do “teste da genuinidade”. O argumento é: para sentir o impacto correto da passagem, necessito considerar a possibilidade de que minha fé em Cristo pode ser fraudulenta.
Embora os defensores desta interpretação afirmem que sua explicação leva os crentes a permanecerem leais a Cristo, isto nos leva a sermos retrospectivos e introspectivos. No entanto, a passagem é uma advertência orientada para o futuro. E, como advertência, nos orienta a sermos prospectivos e ter uma orientaçāo externa, para que possamos perseverar na fé. É uma advertência que Deus emprega como meio de capacitar seu povo a perseverar.
Você Pode Se Perder?
Para suavizar a tensão, alguns dizem que a advertência lança uma possibilidade de que os crentes genuínos possam rejeitar a Cristo e serem lançados fora para sempre. Eles destacam as admoestações do evangelho com uma resumida versāo das promessas do evangelho. Os defensores desta interpretação estão convencidos de que a passagem seria verdadeira e sincera — e não uma charada traiçoeira ou exagero falso — somente se os crentes referidos podem deixar de perseverar na lealdade a Cristo .
Sem perceber, eles transformam a advertência condicional e projetada para o futuro de um abandono a Cristo, em uma afirmação futura de que crentes genuínos podem abandoná-lo e perecer. Eles inadvertidamente tornam a promessa de salvação de Deus para todos os que creem em algo revogável . A visão deles poder ser resumida assim: Uma passagem como Hebreus 6.4-8 seria sincera e urgente somente se a promessa de Deus puder deixar de ser cumprida. (Evidentemente, é questionável que aqueles que sāo desta opinião concordarāo com esta caracterização).
Eles crêem que a passagem ensina que os crentes possam deixar de perseverar na fé e consequentemente cair sob a ira acusadora de Deus. Se eles estiverem corretos, é necessário crer que a promessa de Deus de me preservar está sujeita a nāo ser cumprida. Que aqueles que confiam em Jesus para a salvação podem abandoná-lo e perecer eternamente.
Os defensores desta interpretação alteram de modo não intencional a função da passagem, convertendo a advertência contra a queda em uma declaração de que é possível cair. Contra esta visão, eu argumentaria que a passagem é uma advertência e, como advertência, nos alerta para os perigos ocultos que podem nos seduzir a abandonar Jesus. Não é um anúncio do possível fracasso da fé.
Meios de Perseverança
O desejo de resolver a tensão doutrinária é compreensível, mas nos distrai de captar Hebreus 6 pelo que é: uma advertência sincera e urgente para que não sejamos seduzidos pelo mundo, nos unindo ao seu repúdio a Cristo, tornando-o um espetáculo de vergonha e conduzindo a uma obstinada falta de arrependimento. Antes que a questão doutrinária da apostasia possa ser respondida, é crucial abordar primeiro a função desta passagem de advertência.
O texto em si deve governar as questões que levantamos. Qual é o propósito ou intenção do pregador? Será que caracterizamos adequadamente suas palavras como uma advertência?
O propósito do pregador é alertar, acautelar e até mesmo alarmar, para não cairmos e nos encontrarmos numa situaçāo em que somos incapazes de nos arrependermos. A advertência aqui nos aponta para a conexão inseparável entre deixarmos de responder ao chamado do evangelho e a impossibilidade de ser restaurado ao arrependimento, se abandonarmos a Cristo.
O pregador pretende que sua advertência nos alarme para atender seu apelo a permanecer firmemente leais a Jesus. Isto significa que nós, crentes, deveríamos afirmar de todo o coração: “Se eu, que descanso somente em Cristo para a salvação, abandoná-lo, me verei incapaz de me arrepender de tal maneira que com certeza perecerei para sempre”. Devemos resistir a ajustar isto com manobras de diversāo.
Uma Chamada à uma Fé Confiante
A advertência de Hebreus 6 anuncia a conexão inquebrável entre o afastamento de Cristo e a impossibilidade de ser restaurado ao arrependimento. Por implicação, também indica a relação sagrada entre a fidelidade perseverante e a nossa herança de salvação.
No entanto, embora esta advertência seja tāo intensa, ela não anula ou contradiz a admoestação igualmente forte à firme garantia. Tal como o pregador faz ao longo da totalidade de Hebreus, o capítulo 6 mistura admoestações à firme fé com advertências de perecimento eterno.
Depois de advertir seus ouvintes contra a queda, ele observa que há motivos para crer que eles não deram o passo fatal de se afastar de Cristo — pois Deus não abandona seu povo (6.9-10). Então, nós lemos:
“Para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas.” (6.11-12)
Linha de Chegada Garantida
O pregador assegura aos seus leitores que quando Deus fez sua promessa a Abraão, ele fez um juramento para mostrar aos herdeiros da promessa “a imutabilidade do seu propósito” (6.17). Nós, que somos os herdeiros de Abraão, temos a promessa e o juramento de Deus para nos assegurar que a salvação prometida é a nossa esperança firme — uma “âncora da alma, segura e firme” (6.19).
O pregador espera que levemos a sério tanto a advertência urgente acerca de um distanciamento final de Cristo (6.4-8) quanto a admoestação assegurada da confiança na promessa de Deus (6.9-20), sem nenhuma sombra de contradição. Ele não nos admoesta a duvidar da herança que Deus nos assegura pela declaração e pela promessa as quais jurou. Deus usa regularmente advertências, consolações ou ameaças e promessas em conjunto, para nos proteger no caminho da salvação.
Que possamos prestar atenção à advertência sincera, urgente e inviolável de Hebreus 6.4-8, para que possamos ser salvos pela graça divina no último dia.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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