JESUS CRISTO O VARÃO PERFEITO
Todas estas referências bíblicas a Cristo, de maneira intercambiável como homem e como Deus somente admitem solução através da doutrina da encarnação, pela encarnação o Verbo de Deus assumiu uma natureza humana, da qual ele mesmo é a pessoa que individualiza esta natureza.
(Jesus homem) Lucas 1,31: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus”.
(Jesus Deus) Lucas 1,35: “Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”.
Pela encarnação, o Verbo de Deus torna-se uma pessoa única em todo o universo, possuindo duas naturezas completas e perfeitas, a natureza divina que lhe é peculiar desde toda a eternidade, e a natureza humana, formada por um corpo humano da substância de Maria e uma alma racional humana. Estas duas naturezas permanecem unidas, porém sem mistura ou confusão, permanecendo para todo o sempre nesta forma.
Pela união destas duas naturezas Jesus é o único ser teândrico no universo, esta palavra provém da união de duas palavras gregas: Theos – Deus e andros – homem. Perfeito Deus e perfeito homem, encarnado na plenitude dos tempos para prover a salvação do homem.
Pode-se ver no verso abaixo que o Filho encarnou, o Verbo é o Filho eterno de Deus, eternamente gerado, não criado, ele é o Filho desde a eternidade.
Romanos 1,1-4: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, o qual foi por Deus, outrora, prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor”.
Este é o mistério da piedade afirmado nas escrituras: Jesus Cristo é Deus manifesto em carne. Quem crê nisto está salvo, quem não crê está condenado, porque não crê no unigênito Filho de Deus.
1 Timóteo 3,16: “Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória”.
Este Jesus, que é a pessoa única do Verbo encarnado, perfeito homem e perfeito Deus, é o Jesus bíblico e histórico do cristianismo, quem crê em outro Jesus que não este, não pode ser considerado cristão, a aceitação de falsos mestres e falsas doutrinas no seio da igreja não pode ser tolerada em hipótese alguma.
2 Pedro 2,1: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição”.
Vemos por este verso de Pedro, que renegar a pessoa de Cristo é renegar a Cristo, trazendo destruição sobre si mesmo e sobre aqueles a quem é pregada esta heresia. Jesus proíbe, de fato, o julgamento pela aparência, mas, ao mesmo tempo exige do crente o julgamento pela reta justiça, este é o julgamento a ser aplicado naqueles que renegam a pessoa de Jesus Cristo, destruindo para si mesmo e para os que os ouvem todo o cristianismo bíblico.
A maioria das heresias surgida na igreja cristã primitiva diz respeito à natureza da pessoa de Cristo, veremos mais à frente as principais distorções surgidas nos primórdios da igreja.
pelo fato da natureza humana de Cristo ser assumida pelo Verbo, não se pode dizer que ela é impessoal, pois a natureza humana de Cristo tem sua subsistência justamente na pessoa do Verbo, o Verbo é a pessoa através da qual é realizada a união
psicossomática (*) da natureza humana de Jesus Cristo.
(*) União psicossomática: Interação e relacionamento entre a atividade da substância espiritual, que é a alma, e os pensamentos e movimentos do corpo físico.
“E como no homem a personalidade está na alma e não no corpo, assim a personalidade de Cristo está na natureza divina… Isto é demonstrado pelo fato de que o Logos, o Filho, era, desde toda a eternidade, uma pessoa distinta na Deidade. Foi uma pessoa divina, não meramente uma natureza divina, a que assumiu a humanidade, ou que encarnou. Portanto, segue-se que a natureza humana de Cristo, considerada separadamente é impessoal”.
Também não é correto dizer que a natureza humana de Cristo é incompleta, pois nada falta nesta natureza em nenhuma de suas qualidades essenciais ou subsistência individual.
A posição assumida pela igreja cristã é que a consciência e a vontade pertencem à natureza ativa e não à pessoa. Desta forma, a vontade do homem é livre para decidir, mas sempre conforme sua natureza.
A natureza do homem é corrompida pela queda e tornou-se depravada, de forma que o homem natural é incapaz de decidir, cooperar ou participar em sua própria salvação; em Cristo esta natureza é perfeita por quatro motivos:
1 – Nascendo de uma virgem ele não trazia em si o pecado original, o que pode ser discutível, pois Maria trazia em si este pecado, mas, além disto:
2 – Foi da vontade de Deus, decretada na eternidade, que ele fosse concebido sem o pecado original e que ele fosse impecável durante toda sua vida terrena, a filiação do Verbo em relação ao Pai é eterna.
3 – Deus lhe deu o Espírito sem medida, motivo pelo qual sua natureza humana é guardada momento a momento pelo Espírito, fazendo somente o que Deus determinou.
4 – Apesar das naturezas divina e humana não se misturarem, todavia, elas se comunicam, motivo pelo qual a natureza humana de Cristo é infinitamente acima da corrupção do pecado pela sua ligação visceral e contínua com a imutabilidade da natureza divina.
A obra redentora de Cristo é o resultado da união de suas duas naturezas para realização de um trabalho que seria impossível ao homem pela incapacidade de seu ser finito e impossível a Deus pela sua imutabilidade e impassionalidade.
Muitas afirmações e versos bíblicos são repetidos no estudo da divindade, pois estas doutrinas são de tal forma entrelaçadas que não existe a possibilidade de separação completa ou de isolamento de algumas afirmações, assim sendo, salientamos em todos os estudos que o nome de Deus é citado sem qualificativos se refere ao Deus da Trindade Divina, da mesma forma, as razões e qualidades envolvidas na pessoa de Cristo são repetidas em várias definições e situações.
Isto é inevitável e necessário para comprovação e afirmação das doutrinas referentes à Deus, à Trindade e ao estudo das pessoas divinas, pois todas estas doutrinas são assimiladas pela revelação e estão acima da compreensão finita do homem.
“Quando nós seriamente nos engajamos em estimar as profundezas da vergonha e da humilhação inexprimíveis nas quais adentrou o Amado do Pai, somos chocados e abalados, aterrorizados. Que o Filho eterno de Deus devesse por de lado os mandos de Sua glória inefável e tomar sobre Si a forma de um servo, que o Governador do céu e da terra devesse ser “nascido sob a lei”, que o Criador do universo devesse congregar neste mundo e “não ter onde reclinar Sua cabeça” é algo que a mente finita não pode compreender…”.
Em função desta doutrina apresentada, pode-se ver que a natureza divina de Cristo é imutável e impassional, assim sendo, o sofrimento e a obediência de Cristo não foram o sofrimento e obediência da natureza divina, mas, o sofrimento e obediência também não são próprios somente da natureza humana; todo o sofrimento e obediência de Cristo são próprios de uma pessoa divina: O Verbo encarnado.
Por este motivo, a obediência, paixão e morte de Jesus Cristo têm valor infinito, sendo, desta forma, o único meio de propiciar a ira de Deus e adquirir a redenção final e definitiva do seu povo. A obediência de Cristo era a própria justiça de Deus e o seu sangue, o sangue de Deus, daí valor infinito de seu trabalho.
Hebreus 7,27: “Que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu”.
Hebreus 9,12: “Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”.
Desta forma, fica bastante evidente que, sendo os atos de Cristo, os atos da pessoa divina, nada mais pode ser acrescentado ao seu trabalho ou à sua justiça, que são infinitos. Por isto ele diz: “Está consumado!”.
Definições a respeito das naturezas de Cristo
Comunicação de propriedades (Communicatio Idiomatum): Significa simplesmente que tanto as propriedades da natureza divina como da natureza humana pertencem à pessoa de Cristo e elas se comunicam de forma contínua, mas sem mistura ou confusão.
É importante notar que a comunicação de propriedades se refere somente à pessoa de Cristo, as propriedades de uma natureza não se comunicam à outra. O Verbo encarnado possuía todas as propriedades de suas duas naturezas, mas as naturezas continuavam distintas.
Comunicação de dons (Communicatio Charismata): A natureza humana de Jesus, pertencendo à pessoa do Verbo, foi dotada de dons que a elevam acima de todas as outras criaturas, podendo se tornar objeto de adoração na pessoa de Jesus durante seu tabernáculo aqui na terra, como se pode ver em algumas passagens bíblicas.
Graça de união: Esta eminência da natureza humana de Cristo é chamada: “Graça de União”, mas é própria somente da pessoa de Cristo, não pode ser levada ao ponto de adoração de imagens de Jesus como adotado pela igreja de Roma.
Graça habitual:
Além desta graça provinda da união com a pessoa do Verbo, existem na própria natureza humana de Cristo algumas coisas que a definem como uma pessoa única:
– A pessoa de Cristo é o Verbo de Deus, apesar de adquirir uma natureza humana através da encarnação a pessoa de Cristo não é humana e não está sujeita ao pacto de obras, desta forma ele nasceu sem o pecado original.
Todavia, não bastava que Jesus nascesse sem o pecado original, era preciso que ele se revestisse da impecabilidade em sua natureza humana. Isto foi feito por Deus conforme os dois itens abaixo:
– O primeiro é o decreto de Deus definindo sua impecabilidade, ele foi predestinado por Deus para uma vida sem pecado.
– O segundo é a capacitação: Pelos dons do Espírito concedidos sem medida, e pela união com a pessoa divina, a natureza humana de Cristo se torna
impecável (non pottuit peccare).
2 Coríntios 5,21: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”.
Estas graças conjuntas tem o nome de: “Graça Habitual”.
Calvino: “Ora, tampouco fazemos a Cristo isento de toda mancha só porque fora gerado da mãe sem o concurso do homem, mas porque foi santificado pelo Espírito, para que a geração fosse pura e íntegra, como deveria ter sido antes da queda de Adão. E que isto permaneça absolutamente estabelecido: sempre que a Escritura nos chama a atenção acerca da pureza de Cristo, menciona-se sua verdadeira natureza de homem, porquanto seria supérfluo dizer que Deus é puro. Também a santificação de que João fala no capítulo 17 do Evangelho não teria lugar em sua natureza divina”.
João 17,19: “E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade”.
É muito importante ressaltar que o objeto de adoração bíblica é sempre a pessoa do Verbo de Deus, Cristo, e não a natureza humana ou divina de Cristo.
A doutrina luterana da comunicação: Os luteranos admitem a absorção de propriedades de uma natureza pela outra, mas não tem uma definição exata de como isto acontece, nem tampouco apresentam base escriturística para esta afirmação.
A doutrina da Kenosis (esvaziamento): Esta doutrina foi formulada de diversas maneiras, mas basicamente afirma que, na encarnação, o Verbo se esvaziou das qualidades divinas assumindo a natureza humana e abandonando suas funções cósmicas e divinas.
Calvino: “Ora, de modo maravilhoso, do céu desceu o Filho de Deus, e no entanto ele não deixou o céu; de modo maravilhoso, quis sofrer a gestação no útero da Virgem, andar pela terra e pender na cruz, para que sempre enchesse o mundo, assim como desde o início”.
Esta também é uma doutrina fora de propósito em todas as suas variantes e não tem sustentação bíblica, pois sem a sustentação divina o universo não tem possibilidade de existência.
Hebreus 1,3: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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