COMPREENDENDO O PERDÃO
O relacionamento entre pessoas tem sido complicado desde a criação, como também o relacionamento entre homem e Deus, e isso sempre devido a deformação na forma de ver as coisas. Vejamos:
Eva induzindo Adão a erro.
Genesis 03.06 - ... tomou do seu fruto, e comeu, e deu também ao seu marido ...
Adão culpando a Eva.
Genesis 03.12 - ... A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore e comi.
Adão culpando a Deus.
Genesis 03.12 - ... que tu me deste por companheira ...
Caim matando Abel por inveja.
Genesis 04.08 - ... se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.
... e por aí vai. Ao longo de toda a história as pessoas criando problemas para si mesmas, e sempre procurando eximir-se da culpa, ou transferindo-a à outros.
Para corrigir tal desarmonia, Deus inventou a redenção, que começa pelo reconhecimento do erro cometido e a formalização do pedido de perdão.
Perdão: Somente aos perdoadores
Na oração do Pai Nosso lemos:
Mateus 06:
12 - E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;" o que nos leva a entender que o perdão de Deus está condicionado a nossa capacidade de perdoar. Logo, é necessário ser perdoador para se obter de Deus o perdão. Isto nos parece muito coerente e justo!
O perdão ao reincidente
O reincidente deve ser outra vez perdoado?
Sim! Toda vez que voltar a errar. Enquanto viver, as portas do perdão devem estar sempre abertas.
Mateus 18:
21 - Então Pedro, aproximou-se dele (de Jesus), disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
22 - Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas, até setenta vezes sete.
Lucas 17:
03 - Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o, e se ele se arrepender, perdoa-lhe.
04 - E se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe.
Do exposto aprendemos que para se obter o perdão tem que haver retratação com real arrependimento, não importando quantas vezes houve a reincidência.
O real sentimento do perdão
O perdão não é um tipo de sentimento que ocorre somente quando há um desafeto. O perdão é um sentimento permanente, capaz de olhar as outras pessoas com olhos de compaixão, amistosos, tolerantes, compreensivos, ainda que essas pessoas sejam adversárias. É um sentimento de nobreza. É algo muito elevado e sublime.
Disse Jesus:
Mateus 05:
44 - Eu, porem, vos digo; Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.
45 - Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; ...
Então ser filho de Deus não é para todo o mundo. Há uma condição. Para que alguém afirme ser "filho de Deus", tem que praticar o exposto no versículo acima. Se assim não for, está enganado, e convém rever esse cristianismo.
Se não houver esse estado de sentimentos, não haverá o perdão. Não se estará perdoando e nem sendo perdoado. Pelo menos, é o que a Bíblia diz.
Quanto ao ofendido, nos casos de desavenças, faz-se estritamente necessária a prática do sentimento do perdão, de forma que haja no coração esse sentimento permanentemente. Qualquer demonstração de perdão sem o sentimento de perdão não é nada. É melhor perdoar no exercício do sentimento do perdão, sem demonstrá-lo, do que fazer toda uma demonstração sem que haja no coração o real sentimento.
Qualquer gesto ou demonstração de perdão somente deverá ocorrer se o ofensor se retratar. Caso contrário é desnecessário. Não é o ofendido que deve procurar o ofensor para perdoá-lo, mas o ofensor é quem deve tomar essa iniciativa. Ao ofendido cabe somente permanecer de coração aberto, no exercício do sentimento de perdão.
O perdão requerido
Quanto ao ofensor, terá que formular o pedido de perdão para se redimir. Se isso não for feito, nunca estará perdoado, ainda que o ofendido esteja disposto a fazê-lo ou que em seu coração haja feito. O pedido de perdão será verdadeiro se houver real arrependimento, sem o que não terá nenhum valor, nem perante o ofendido e nem perante Deus.
Deve se evidenciar aqui os casos que o ofensor desconhece ter ofendido alguém. Por exemplo. Uma fala mal falada ou mal entendida que leva alguém a sentir-se ofendido. Nesse caso o ofendido deverá fazer ciente o ofensor que aquela fala pode ofender as pessoas. Provavelmente haverá retratações. Mas se tratar-se de banalidades, o ofendido deverá reavaliar a sua conversão.
Situações
Nos casos que as desavenças ocorreram a distancia, ou seja, por telefone, carta etc..., a retratação também poderá ser feita a distancia, pelos mesmos canais da desavença.
Mas nos casos das desavenças feitas pessoalmente, também a retratação deverá ser feita pessoalmente e o ofensor terá que procurar o ofendido para se retratar. Ainda que esteja morando em outro país. Tem que ser pessoalmente. Ninguém poderá representá-lo ou falar por ele.
Nos casos de impossibilidades por qualquer que seja o motivo, o ofensor nunca será perdoado, e o ofendido fica sem culpa.
Por isso a Palavra diz: "Lucas 12:
58 - Quando pois vais com o teu adversário (desafeto) ao magistrado (juízo eterno), procura livrar-se dele no caminho;(acertar as contas nesta vida) para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz a meirinho (oficial de justiça), e o meirinho te encerre na prisão.
O texto bíblico refere-se ao caso do ofendido morrer primeiro, mas para um bom entendedor, o exemplo serve também para outras circunstâncias, como por exemplo, as pessoas perderem o contato e o paradeiro um do outro.
Por isso, se tivermos cometido quaisquer ofensas a alguém, é melhor corrermos em sua direção e nos retratar, enquanto estamos pertos. Pode ser que futuramente não tenhamos mais a oportunidade de fazê-lo, e vamos para a eternidade levando esse fardo.
Vamos destacar quatro situações de desavenças entre pessoas:
Quando entre pessoas cristãs (ambos membros ativos de uma igreja, congregação, irmandade ou comunidade.)
Quando um dos desafetos é cristão e outro não.
Quando ambos não são cristãos.
Quando entre pessoas da mesma família (casais, pais e filhos, avós etc., morando ou não no mesmo domicílio, cristãos ou não cristãos.)
Primeiro caso - Desavenças entre cristãos
Para o primeiro caso, quando ambos os desafetos são cristãos, não há necessidade de comentários. É uma situação que nunca ocorrerá, pois se ambos são realmente cristãos, jamais serão desafetos. Em todo o caso, se isso vier ocorrer, convém que ambos ou aquele que se sentir ofendido, reavalie a sua conversão e o seu cristianismo.
Ler:
Romanos 12:
10 - Amai-vos cordialmente uns aos outros, com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.
Filipenses 02:
03 - Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.
2Pedro 02:
11 - Havendo pois de perecer todas estas coisas (os céus e a terra), que pessoas vos convém ser em santo trato e piedade.
... e mais uma centena de textos correlatos.
Segundo caso - Desavenças entre cristão e não cristãos
Neste caso, quando um é cristão e outro não, convém que o cristão avalie se convém manter distância ou não. Se o seu dasafeto for um familiar, convém esforçar-se para manter proximidade, mas se tratar-se de escarnecedor ou pessoa de difícil relacionamento, dentro do possível, convém manter distância, porém sem inimizade.
Terceiro Caso - Desafetos entre não cristãos
Neste caso, quando ambos não são cristãos, só há um conselho a oferecer. Convertam-se, perdoem-se, e sejam felizes.
Quarto Caso - Desafetos entre familiares
Neste caso, quando as pessoas são da mesma família, convém que todos se esforcem ao máximo para manter a união da família. Desenlace, somente em último caso, e ainda assim, amistoso, sem inimizade.
A Mágoa profunda
De tudo o que foi exposto, há ainda algo muito grave, e que deve merecer especial cuidado. A mágoa.
A mágoa é um sentimento que pode invadir o nosso coração, e é uma mistura de rancor, raiva, amargura, desgosto, pesar, ressentimento, ódio e tristeza e normalmente é fruto de uma ofensa ou uma decepção, e, enquanto não formos libertos, ela vai causando estragos em nossas vidas.
A mágoa é uma sensação de desconforto e descontentamento que pode durar por muito tempo, em alguns casos até para sempre, e por vezes é possível percebê-la no semblante, nas palavras e nos gestos de uma pessoa.
Há muitos corações feridos, e quase destruídos pela mágoa. Há casos de ódio mortal contra o ofensor, mas na verdade é o ofendido que está morrendo, envenenado por um veneno chamado mágoa. A mágoa nos adoece, nos leva a depressão, nos mata.
Ha quanto tempo você está se destruindo? A pessoa que te feriu talvez nem se lembre mais do que fez. E você aí! Morrendo por nada. Sua vida é preciosa, tanto para você como para Deus, que é o seu criador. Levante a cabeça, e sobretudo, perdoe. O ato de perdoar é sublime, é nobre, é divino.
Por isso Jesus nos estimula a perdoar e a amar os nossos ofensores. Se isto está difícil, convém exercitar os nossos sentimentos. Que tal começarmos agora, orando em favor de nossos ofensores? Ter misericórdia é compreender as misérias humanas. Misérias no sentido de limitações, pecados, deslizes, erros etc. aos quais todos nós estamos sujeitos, e Deus diz:
( Mateus 5.7 ) Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; e ainda
( Mateus 6.12 ) E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;
condicionando assim o perdão e a misericórdia de Deus para conosco, segundo a nossa capacidade de exercer o perdão e a misericórdia para com as pessoas.
A bíblia nos aconselha o seguinte, em Hebreus 12.15
Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem.
Conclusão
Uma vez o perdão concebido, não significa que o ofendido deverá viver aos beijos e abraços com o ofensor, que pode tratar-se de pessoa de difícil relacionamento, e se assim for, provavelmente novas desavenças ocorrerão.
A Bíblia diz em Romanos 12:
18 - Se for possível, quando estiver em vós, tende paz com todos os homens. . Isto, se for possível. Porque nem sempre o é.
Amos 03: 03 - Andarão dois juntos se não estiverem de acordo?
O fato de pessoas estarem em desacordo não significa que devem ser inimigas. Apenas têm opiniões diferente, e cada qual viva a sua vida no seu espaço, e que se exercite a tolerância nos reencontros ocasionais.
2Tessalonicenses 03:
14 - Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra, por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe.
15 - Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.
O mesmo ocorre quando alguém age com desonestidade. Por exemplo. Se um Senhor colocar um servo para cuidar de seus bens e este servo agir com desonestidade. O servo vai se retratar. Vai ser perdoado. Mas nunca mais gosará da confiança do seu senhor. Estará perdoado, mas sem o emprego. Isto é justo, porque o servo demonstrou não ter as qualidades necessárias para o cargo que ocupava, logo, será descartado. Terá o perdão, mas nunca mais o emprego.
Acha isso questionável? Se eu tiver um tigre no meu quintal (tem gente que tem), e um dia esse tigre matar um de meus familiares, eu devo perdoá-lo?
Bem! Devo compreender que ele é um tigre, e aquilo faz parte de sua natureza. Não deverá ser punido por isto.
E devo mantê-lo no meu quintal?
Aqui cabe um "não" bem grande. Nunca mais estará no meu quintal. Será levado lá para a sua selva e ficará por lá. Ainda que sobre ele haja uma pele de ovelha, jamais o trarei para casa novamente. Ele é um tigre.
Na parábola do filho pródigo (esbanjador), temos uma situação entre família. Pai e filho. Daí o fato da recepção e da readmissão aos seus cargos.
Nesse episódio a parábola nos leva a entender que houve um desvio. O filho não era um devasso. Não era um vagabundo. Não era um aventureiro. Apenas inexperiente e sonhador. Então pediu a parte de sua herança a seu pai e partiu para uma aventura. Cometeu uma série de erros, dos quais se redimiu depois e voltou ao caminho de onde tinha se desviado. A probabilidade desse filho voltar a cometer erros semelhantes era praticamente nula porque não fazia parte de sua natureza. Foi um desvio.
Só para clarear!
Há gente boa, que comete desvios, e faz coisas ruins. Depois volta a sua origem.
Há gente ruim, que comete desvios, e faz coisas boas. Depois volta a sua origem.
Então, se você é o ofensor, corra enquanto pode e se retrate. Isto fará bem para a sua saúde física e espiritual. E se você foi o ofendido, exercite o seu coração no perdão. Uma boa forma de começar esses exercícios é orando pelos seus adversários. Ore de coração, para que Deus os perdoe, os abençoe e os livre dos males, e que, sobretudo lhes multiplique as oportunidades de conversão.
A Bíblia diz: 1Timóteo.04:
07b - ...e exercita-te a ti mesmo em piedade.
Não ore para que Deus os converta. Deus nunca fará isso. Deus apenas os receberá se eles se converterem espontaneamente..
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.
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