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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

BATALHA ESPIRITUAL

 


BATALHA ESPIRITUAL

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6.12).

Introdução
Em função de uma má leitura do capítulo 6, da epístola do apóstolo Paulo aos cristãos em Éfeso, é disseminado em meio aos vários segmentos evangélicos-protestantes uma gama crescente de heresias sob o tema ‘Batalha Espiritual’.

Muitos líderes, por causa do versículo: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6.12), alardeiam a existência de uma ‘batalha espiritual’ na qual os cristãos estão engajados para tomar dos domínios de Satanás vidas preciosas para Deus.

Para sensibilizar os seus ouvintes sobre essa suposta ‘realidade’ espiritual, esses líderes enfatizam que é um equívoco tanto superestimar quanto subestimar as forças das trevas e sua realidade, e a partir desta ênfase, instam os seus seguidores a serem vigilantes, prudentes e que exerçam autoridade no nome de Jesus.

Sob pretexto de constante vigilância e prudência, esses líderes fomentam engôdos, superstições e heresias apontando o capítulo 6, da carta aos Efésios, como base das suas ilações.

Neste artigo analisaremos o capítulo 6 da carta de Paulo aos Efésios, comparando os versículos com outras passagens bíblica, para desmistificar certas leituras equivocas.

Bom combate e boa consciência
Em suas epístolas, por diversas vezes, o apóstolo Paulo fez uso dos termos ‘batalha’, ‘luta’, ‘combate’, etc., para falar da necessidade dos cristãos defenderem a fé cristã, ou seja, o evangelho de Cristo (Filipenses 1.27).

Note que, ao final da sua carreira cristã, o apóstolo dos gentios enfatizou ter combatido um bom combate, terminou a carreira e permaneceu de posse da mensagem do evangelho (fé).

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2 Timóteo 4.7).

O bom combate que o apóstolo Paulo não diz de uma batalha cósmica entre o bem e o mal, entre Deus e o diabo ou entre o crente e ‘forças invisíveis’. Absolutamente não! Essa concepção do bem versus mal, Deus versus diabo, na verdade decorre de concepções filosóficas e/ou religiosas que tem por premissa a existência no universo de dois princípios ou duas substâncias ou duas realidades opostas, irredutíveis entre si e incapazes de uma síntese final ou de recíproca subordinação, denominada dualismo.

Ao escrever a Timóteo, o apóstolo Paulo instruiu o seu filho na fé a combater o bom combate, que tinha por objetivo:

preservar intacto o evangelho, a fé que uma vez foi dada aos crentes (Judas 1.3; Filipenses 1.27), pois ao final da batalha de cada cristão, essa mensagem deve estar preservada, e;
preservar a boa consciência (Hebreus 13.18; Romanos 13.5), ou seja, o bom porte em Cristo.

“Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.” (2 João 1.9).

É imprescindível perseverar no evangelho e preservar a consciência pura, ou seja, viver de acordo com o evangelho, senão o cristão naufragará na fé (1 Timóteo 1.19).

“Guardando o mistério da fé numa consciência pura.” (1 Timóteo 3.9).

Viver de acordo com o evangelho vai além de práticas segundo a moral humana, ou de leis que regem a sociedade na qual o cristão está inserido.

Combater, guerrear, lutar, etc., refere-se a defender a verdade do evangelho (mistério da fé, pregação da fé), pois se não batalhar pelo evangelho, o cristão acabará não guardando a fé, o que é imprescindível à salvação. Mas, quando se guarda a fé, tem que fazê-lo honestamente, ou seja, sem dissimular, com uma consciência pura.

Um exemplo do viver segundo o evangelho se nota em um judeu convertido ao evangelho, pois apesar de ter uma moral elevada e leis altruístas, não poderá fazer acepção de pessoas, devendo estar aberto a conviver com gentios de todas as etnias, principalmente, com relação àqueles que são membros do corpo de Cristo.

Um cristão pode até se submeter a circuncisão por questões médicas, porém, se fazê-lo na intenção de se salvar, não anda conforme o evangelho (Atos 15.1). Neste sentido, é de bom alvitre lavar as mãos antes das refeições por questões sanitárias, mas lavar as mãos para se manter purificado, é viver em desacordo com o evangelho (Marcos 7.18).

O apóstolo Pedro combatia o bom combate como defensor do evangelho, mas certa feita, em um ajuntamento solene, tornou-se repreensível, pois comia com os gentios, e, ao ver alguns da circuncisão chegarem, dissimuladamente se afastou dos cristãos gentios para se achegar aos cristãos convertidos dentre os judeus.

“Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” (Gálatas 2.14).

Não andar bem e direitamente conforme a verdade do evangelho (boa consciência) pode levar o cristão a naufragar (não conservar, não guardar) na fé.

“Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” (1 Timóteo 1.19);

“Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas;” (1 Timóteo 1.5-6).

Conservar a verdade do evangelho e a boa consciência fará com que o cristão não de escândalo em coisa alguma, e assim, não será um entrave ao anuncio do evangelho.

“Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado; Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias,” (2 Coríntios 6.3-4);

“Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente.” (Hebreus 13.18).

“À medida que a noite escura da história humana se aproxima cada vez mais de seu fim, a grande batalha cósmica entre o bem e o mal fica mais evidente. Não apenas uma batalha entre o bem e o mal no sentido filosófico, contudo, mais especificamente, uma luta entre Deus e o diabo. Uma guerra essencialmente espiritual entre os servos de Jesus Cristo e as forças invisíveis de satanás. Um confronto que um cristão, por manter um relacionamento sincero com Cristo, é inevitavelmente convocado a participar. Esses entraves não podem ser vistos por olhos humanos nem guerreados com armas feitas por homens, mas, sim, travados no Espírito por meio de recursos espirituais como oração, proclamação da verdade e uma vida em santidade.”

Enquanto os apóstolos batalhavam e conclamavam os cristãos a batalharem em defesa do evangelho, a fé que foi dada aos santos (Judas 1.3; Filipenses 1.27; 1 Tessalonicenses 2.2; Colossenses 1.29), em nossos dias, muitos líderes evangélico-protestante à semelhança de Brian, anunciam que os cristãos têm que batalhar contra forças invisíveis, tomando partido em uma guerra cósmica travada entre Deus e o diabo.

É crescente o número de cristão que, por desconhecimento, acreditam em uma guerra entre Deus e o diabo. Pior, acreditam que há equivalência entre o bem e o mal (dualismo), conforme o pensamento proveniente de filosofias e religiões antigas, o que tem influenciado muitos cristãos a acreditarem que Deus estaria em uma luta equilibrada contra Satanás, sendo este um grande rival d’Aquele.

A Bíblia demonstra que não há guerra entre Deus e o diabo, e o diabo, na condição de criatura, não tem como rivalizar com o Criador. Em primeiro lugar, Deus é o Altíssimo, ou seja, não há criatura alguma que seja igual ou que se equipare a Ele.

“A quem, pois, me fareis semelhante, para que eu lhe seja igual? diz o Santo.” (Isaías 40.25).

Em segundo lugar, a queda de Satanás se deu porque Ele não guardou a sua posição (principado), que era vigiar o jardim de Deus. A Bíblia demonstra que, por causa da missão que incumbiu Lúcifer, Deus cobriu o seu agente de formosura e esplendor, além de distingui-lo dos demais através de uma indumentária. Mas, ao buscar lucrar com a missão que foi dada por Deus, surgiu a iniquidade no querubim escolhido para a função de guarda.

“Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti. Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor;” (Ezequiel 28.14-17).

Em razão da missão, que era ‘cobridor’ (guardar) o projeto que Deus estava executado no jardim do Éden, Lúcifer foi contemplado com uma indumentária diferenciada (Ezequiel 28.13), condizente com a sua missão. O projeto estava sob sigilo, tanto que, somente agora, através da igreja, os principados e as potestades celestiais tomaram conhecimento da multiforme sabedoria de Deus (Efésios 3.10).

Enquanto o projeto desenvolvido por Deus no Éden visava o próprio Criador, na pessoa do Seu Filho (Efésios 3.11), Lúcifer, por causa da sua perfeição, formosura e sabedoria (Ezequiel 28.12), entendeu que seria o beneficiário do projeto, e que galgaria a posição de semelhante ao Altíssimo, uma condição hierarquicamente superior (acima) dos demais anjos (estrelas).

“E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.” (Isaías 14.13-14).

A semelhança do Altíssimo estava reservada para o Filho de Deus quando da ressurreição dentre os mortos, e Satanás intentou tomar tal glória para si quando desejou se assentar acima das estrelas de Deus.

Ao ressurgir dentre os mortos, Cristo alcançou a semelhança do Altíssimo, sendo assim a expressa imagem do Deus invisível, e por isso, tem a posição de primogênito de toda criação, acima de todo principado e potestade, na posição de cabeça da igreja.

“Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.” (Efésios 1.20-23);

“Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome;” (Filipenses 2.9);

“O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;” (Colossenses 1.15).

Por causa do intento de Lúcifer, Deus o expulsou para fora do monte, o que demonstra que não ocorreu uma ‘guerra nos céus’, e que não houve nos céus um embate entre anjos e demônios quando os demais seres angelicais foram precipitados dos céus.

Lúcifer foi expulso do monte de Deus por ser profano, separado de Deus (morto para Deus), mas havia alguns seguidores de Lúcifer, um séquito que se assemelhava a uma calda de seguidores, e a terça (1/3) parte dos anjos foram lançados na terra.

“E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho.” (Apocalipse 12.4).

Lendo a Bíblia detidamente, é certo que ela faz referência a uma batalha, mas não uma batalha entre o bem e o mal, ou entre Deus e o diabo, antes há uma luta (gr. pale) ou batalha dos cristãos que se opõem aos principados, as potestades, os príncipes das trevas deste século e as hostes espirituais da maldade (Efésios 6.12).

Regiões espirituais
Onde se dá essa batalha? Na estratosfera? No mundo espiritual? Em outra dimensão? Em certas regiões do globo terrestre? Em locais onde imperam a promiscuidade, o tráfico, os roubos, os homicídios?

O apóstolo Paulo diz que a batalha se dá nos lugares, ou seja, nas ‘regiões espirituais’:

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6.12).

Onde fica os ‘lugares celestiais’? Se o leitor não considerar outros textos bíblicos, concluirá de si mesmo que se refere a alguma outra dimensão imperceptível aos sentidos humanos. Mas, após uma análise acurada, verifica-se que onde um cristão verdadeiro estiver, aí é um lugar celestial.

Todos cristãos foram abençoados em Cristo Jesus com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, e por terem ressurgido juntamente com Cristo, estão assentados nos lugares celestiais, ou seja, descansados em Cristo.

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo;” (Efésios 1.3);

“E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;” (Efésios 2.6).

Quando o apóstolo enfatiza o lugar que se dá a luta do cristão como ‘celestial’, não tem em vista regiões inacessíveis ao ser humano, como outra dimensão, os céus, o inferno, abismo, etc. O crente está assentado com Cristo, ou seja, está no repouso prometido, e a luta que ele está engajado é a defesa do evangelho.

“Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso, tal como disse: Assim jurei na minha ira Que não entrarão no meu repouso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo.” (Hebreus 4.3).

Como o cristão está ‘nos lugares celestiais’, o diabo anda em derredor, por isso a necessidade de ser sóbrio e vigilante.

“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;” (1 Pedro 5.8).

Por estar descansado em Cristo, o adversário virá até o crente, e as vezes, está mais próximo do que se presume.

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.” (Mateus 7.15);

“Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas;” (Judas 1.12).

Hostes espirituais da maldade
“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6.12).

Principados, potestades, príncipes das trevas e hostes espirituais da maldade, em uma primeira leitura, remete a algo tenebroso, uma realidade sombria e hostil.

A influência deste livro é tamanha sobre muitos cristãos, que um pastor e deputado estadual, apresentou um projeto de lei à assembleia Estadual da Bahia, no mínimo curioso:

Umas das recomendações para ser comissionado como presbítero é manejar bem a palavra da verdade, mas, em nossos dias, parece que a regra é se deixar influenciar.

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2 Timóteo 2.15).

Ao fazer uso dos termos traduzidos por principados, potestades, príncipes das trevas deste século e hostes espirituais da maldade, o apóstolo dos gentios não estava fazendo referência a uma realidade sombria ou uma dimensão paralela ou a entidades demoníacas.

Através dos termos elencados acima, o apóstolo dos gentios somente fez referência aos príncipes dos sacerdotes, aos anciões e ao conselho dos judeus, e não, como alguns pensam, que se tratam de demônios, como se depreende o projeto de lei acima, que se trata de ‘anjos do mundo tenebroso que compõem as forças espirituais malignas’.

A frase grega traduzida por ‘hostes espirituais da maldade’ é πρὸς τὰ πνευματικὰ τῆς πονηρίας (contra as espirituais do mal), traz em seu bojo a ideia de algo espiritual que está sob a égide do mal. Entretanto, vale destacar, que na frase do texto grego não há o termo subtendido como ‘hostes’, como consta das nossas traduções. Temos na frase somente dois termos: ‘espirituais’ e ‘mal’, respectivamente, adjetivo e substantivo.

O termo ‘hostes’[1] remete a ideia de uma quantidade incalculável de seres inimigos que compõem um exército, ou uma tropa inimiga formada de seres espirituais, entretanto, apesar de estar em um contexto que remete a uma batalha, não há a tal ‘hostes’, e muito menos sua composição é de entidades malignas.

Só há quatro ocorrências exatas do termo grego πνευματικὰ (pneumatika) no Novo Testamento, e em pelo menos três delas, o termo remete a ideia de ‘palavras’, ‘mensagens’.

“As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais (πνευματικὰ).” (1 Coríntios 2.13);

“Se nós vos semeamos as coisas espirituais (πνευματικὰ), será muito que de vós recolhamos as carnais?” (1 Coríntios 9.11);

“SEGUI o amor, e procurai com zelo os dons espirituais (πνευματικὰ), mas principalmente o de profetizar.” (1 Coríntios 14.1);

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais (πνευματικὰ) da maldade, nos lugares celestiais.” (Efésios 6.12).

O cristão semeia a semente incorruptível, que é a palavra de Deus. O cristão deve procurar os dons espirituais, principalmente o de profetizar. O cristão fala as palavras ensinada pelo Espírito Santo, e compara as coisas espirituais com a espiritual.

Em função deste significado que o termo πνευματικὰ assume em determinado contexto, é possível compreender o que foi dito por Cristo e o motivo pelo qual os cristãos são designados ministros do espírito, ou seja, ministros de um Novo Testamento, ministros do evangelho:

“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” (João 6.63);

“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3.6).

A maldade espiritual que o apóstolo dos gentios faz referência está decorre da mensagem anunciada por um falso profeta, por um inimigo da crus de Cristo (evangelho), e por isso o evangelista João alerta sobre a necessidade de se provar os espíritos para conhecer se a mensagem de um profeta é proveniente de Deus ou não.

“AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;” (1 João 4.1-2).

Se faz necessário lembrar do ensinamento de Cristo:

“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.” (Mateus 12.34).

O homem mau não pode dizer coisas boas, somente o que há no seu coração maligno: espírito do erro, maldade espiritual.

“Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro.” (1 João 4.6).

As maldades espirituais (πνευματικὰ) está para as mensagens divulgadas pelos dominadores do mundo (κοσμοκράτορας) de trevas (σκότους), do que para uma hoste de seres demoníacos.

O termo grego σκότους traduzido por trevas, tem o sentido de escuridão, escuridão da noite, visão obliterada ou cegueira, o que remete a ideia de quem são tais ‘dominadores’.

Se faz necessário recordar, que os religiosos judeus (escribas e fariseus) eram designados cegos, pois possuíam a visão obliterada, e na qualidade de guia do povo de Israel, foram denominados condutores cegos.

“Deixai-os; são condutores cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.” (Mateus 15.14);

“Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mateus 6.23).

Os dominadores deste mundo (κοσμοκράτορας) refere-se aos guias cegos em Israel, os príncipes das trevas deste século, que conduziam o povo à morte. No contexto do Novo Testamento, a oposição dos seguidores do judaísmo aos cristãos acaba sendo evidenciada por figuras como dia e noite.

“E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.” (João 3.19);

“E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as.” (Efésios 5.11);

“Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas.” (1 Tessalonicenses 5.5);

“O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor;” (Colossenses 1.13).

Os principados (ἀρχάς) e as potestades (ἐξουσίας), respectivamente, significam governantes e autoridades, que podem fazer referência tanto ao podere secular quanto ao religioso.

“E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder, nem do que haveis de dizer.” (Lucas 12.11);

“TODA a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus (…) Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela.” (Romanos 13.1 e 3);

“Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam, e estejam preparados para toda a boa obra;” (Tito 3.1).

Ao apontar as potestades e os principados, o apóstolo dos gentios destacou a posição dos líderes de Israel (Lucas 12.11). Ao destacar o local de atuação dos líderes religiosos (dominadores), o apóstolo evidencia o domínio das trevas (Colossenses 1.13). Por fim, aponta a natureza das armas dos dominadores: maldade espiritual.

Os tradutores, por não conhecerem algumas nuances do texto, acrescentam ao verso em análise os termos ‘poderes’, ‘forças’ para falar da ‘maldade espiritual’, pois interpretam ‘príncipes das trevas’ com se tratasse do diabo, ou de seres angelicais caídos. Entretanto, príncipes deste mundo diz especificamente dos líderes de Israel:

“Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam;” (1 Coríntios 2.6);

“A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.” (1 Coríntios 2.8).

Comparando esses dois versos, verifica-se que fazem alusão as mesmas pessoas:

“Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência.” (Efésios 2.2);

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade” (Efésios 6.12).

A maldade espiritual do verso 12, de Efésios 6, refere-se ao espírito (mensagem, doutrina), que estava atuando naquele exato instante (agora) sobre os filhos da desobediência, do verso 2, de Efésios 2.

A humanidade é filha da desobediência de Adão e sujeita a ira de Deus, mas os filhos de Israel são duplamente filhos da desobediência (Mateus 23.15), pois descendiam da semente de Adão e, desde que foram escolhidos em Abraão para serem uma grande nação e vir deles o Cristo, permaneceram rebeldes:

“Rebeldes fostes contra o SENHOR desde o dia em que vos conheci.” (Deuteronômio 9.24);

“AI dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado;” (Isaías 30.1);

“Porque este é um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do SENHOR.” (Isaías 30.9).

Se a cobertura dos filhos de Israel não era o espírito (palavra, temor) do Senhor, certo é que o ‘espírito’ que se cobriam não passava de mandamento de homens, portanto, espírito de maldade.

“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” (Isaías 29.13; Jeremias 12.2);

“Todavia lisonjeavam-no com a boca, e com a língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele, nem foram fiéis na sua aliança.” (Salmos 78.36-37);

“E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza. E eis que tu és para eles como uma canção de amores, de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.” (Ezequiel 33.31-32).

Ao rejeitarem o espírito do Senhor, os filhos de Israel passaram a seguir os seus próprios conselhos, e andaram para trás ao seguirem o propósito dos seus corações malignos. Se o coração é maligno, a boca produz malignidade em abundância, ou seja, maldade espiritual (doutrinas de homens). Um coração que não é reto só produz na língua mentiras e lisonjas.

“Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante.” (Jeremias 7.24).

O apóstolo Paulo destaca aos cristãos de Éfeso que, noutro tempo eles andavam segundo o curso do mundo, ou seja, mortos em delitos e pecados. O curso do mundo é morte, isto porque todos gerados em Adão são velhos homens (Efésios 4.22). Os judeus, por sua vez, além de velhos homens (como os demais – Gálatas 2.3), seguiam e faziam os ‘desejos da carne’.

‘Carne’ no contexto, refere-se a um sistema doutrinário que é contrário ao espírito, ou seja, contrário à vontade de Deus. Diz da doutrina dos filhos de Israel, que no Livro de Provérbios são representados pela mulher adultera, que deixou o Deus da sua mocidade, e a sua casa (descendentes) se inclinam para a morte:

“Para te afastar da mulher estranha, sim da estranha que lisonjeia com suas palavras; Que deixa o guia da sua mocidade e se esquece da aliança do seu Deus; Porque a sua casa se inclina para a morte, e as suas veredas para os mortos. Todos os que se dirigem a ela não voltarão e não atinarão com as veredas da vida. “ (Provérbios 2.16-19);

“Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.” (Romanos 8.6-8);

“Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.” (Gálatas 5.17).

O que é andar e fazer o que é segundo a carne? O que seria carne?

Nesse contexto, carne é tudo o que é pertinente ao judaísmo, como se depreende do testemunho de alguém que andou segundo a carne e que podia confiar na carne pelos elementos que possuía no farisaísmo:

“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne. Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível.” (Filipenses 3.3-6).

É por isso que alguém que anda em espírito, ou seja, segundo o evangelho de Cristo, não cumpre as concupiscências da carne. É insensatez começar servindo a Deus pelo espírito (evangelho), e acabar na carne (obras da lei), ou seja, cumprindo ordenanças de homens.

“Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gálatas 3.2-3);

“PORTANTO, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” (Romanos 8.1).

Os judaizantes são aqueles que segundo a carne andavam em concupiscências de imundícia, pois se diziam livres (João 8.33), rejeitavam a condição de escravos das nações gentílicas e sempre estavam envolvidos em revoltas. Eles acabavam desprezando as autoridades gentílicas, eram atrevidos, obstinados e não receavam falar mal das dignidades.

“Mas principalmente aqueles que segundo a carne andam em concupiscências de imundícia, e desprezam as autoridades; atrevidos, obstinados, não receando blasfemar das dignidades;” (2 Pedro 2.10).

O apóstolo Pedro rotula o desejo dos judeus de se estabelecerem como nação livre do jugo dos gentios através da espada de concupiscências de imundícia.

“Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.” (Mateus 26.52).

Mas, quem se reveste de Cristo, não fica se perguntando quando será restaurado o reino de Israel (Atos 1.6), antes aguarda Aquele que voltará dos céus (Atos 1.11). Ao ressurgir com Cristo, não pensa nas coisas que são da terra, como quando os filhos de Israel serão livres da opressão das nações gentílicas, antes pensa nas coisas que são de cima (Colossenses 3.1).

“Mas principalmente aqueles que segundo a carne andam em concupiscências de imundícia, e desprezam as autoridades; atrevidos, obstinados, não receando blasfemar das dignidades;” (2 Pedro 2.10).

“Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.” (Romanos 13.14).

Lavar as mãos antes das refeições parece um ato sem importância, e é, se for por questões sanitárias. Mas, lavar as mãos antes das refeições com medo de se contaminar, é ter cuidado da carne em suas concupiscências.

“São estas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem.” (Mateus 15.20).

A má leitura de muitos cristãos que não compreendem o significado da oposição ‘espírito’ e ‘carne’, em determinados contextos bíblicos, fomentou inúmeras vertentes heréticas sob a égide da chamada ‘batalha espiritual’.

O curso (geração, era, tempo) deste mundo é morte. O espírito que opera sobre os filhos da desobediência é o espirito do erro, o espírito do engano. E o ‘príncipe das potestades do ar’ diz daqueles que crucificaram o Cristo.

“Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro.“ (1 João 4.6);

“A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.” (1 Coríntios 2.8).

Tiago, ao fazer referência a tais príncipes, fez uso do termo ‘ricos’:

“EIA, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir. (…) Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu.” (Tiago 5.1 e 6).

O termo ἄρχοντα (archonta) aparece seis vezes no Novo Testamento, sendo traduzido por governante, magistrado, regente, mas somente no verso 2, de Efésios 2, utilizam o termo ‘príncipe’.

“Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência.” (Efésios 2.2).

Se o termo príncipe remetesse aos líderes de Israel, como é o caso do sumo sacerdote que feriu o apóstolo Paulo (Atos 23.5), sem problemas, mas geralmente remetem a Satanás, como o governador (príncipe) das ‘potestades do ar’.

Ao dizer ‘autoridade do ar[2]’, dá-se a impressão que se trata de uma autoridade que alcança as regiões atmosféricas, como se referisse a um lugar inacessível aos homens. Na verdade, o apóstolo Paulo só está enfatizando que os líderes de Israel eram príncipes sem autoridade efetiva.

“Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar.” (1 Coríntios 9.26).

“Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas.” (Mateus 7.29).

Os líderes religiosos não tinham autoridade como mestres, e os líderes políticos estavam sob domínio romano, portanto, ‘príncipes do ar’.

As armas da nossa milícia
“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas;” (2 Coríntios 10.4).

Grande parte das heresias existente nas igrejas de hoje se devem aos romances ditos cristãos, como: ‘Este mundo tenebroso’, ‘As cartas do inferno’, ‘A Batalha do Apocalipse’, ‘Crescendo em oração’, etc. Muitos cristãos deslumbrados pelo tema ‘Batalha Espiritual’ recebem como indicação para compreenderem o tema as literaturas citadas acima, que não passam de ilações de mentes criativas.

Se nem as fábulas judaicas o apóstolo Pedro recomendava, que se dirá dessas literaturas, que não possuem lastro algum nas Escrituras.

“Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.” (2 Pedro 1.16);

“Não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade.” (Tito 1.14).

Na sua grande maioria, esses romances dito cristãos, fazem alusões a anjos e demônios se digladiando, por terem interesse sobre um cristão e/ou não cristão, e todos esses romances tem como pano de fundo a oração.

Mas, é isso que a Bíblia ensina?

Primeiro, na Bíblia não encontramos anjos e demônios se digladiando, antes a única oposição que é destacada é da ‘carne’ versus ‘espírito’.

‘Carne’ e ‘espirito’ são sistemas doutrinários que se opõe, pois ambos têm interesse em tornar o homem cativo, respectivamente, ou da injustiça ou da justiça.

“Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.” (Gálatas 5.17);

“Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Romanos 6.16).

Segundo, na Bíblia as armas do cristão é apresenta como poderosas em Deus, entretanto, essas armas não são carnais.

Para identificar quais são as armas poderosas para destruir fortalezas, analisaremos quais são as armas carnais.

À época do apóstolo Paulo, os religiosos que se utilizavam de armas carnais eram peritos em se gloriarem. E qual era a jactância delas? Sou hebreu, você não é. Sou israelita, você não é. Sou descendente de Abraão, você não é. Sou circuncidado, você não é. E como você quer se salvar se você não é circuncidado segundo o rito de Moisés? (Atos 15.1).

O apóstolo Paulo, por sua vez, ao ver essas tolices, destaca que também se gloriaria (com insensatez) segundo a carne (2 Coríntios 11.16 e 21). E no que se apoiava a jactância dos falsos ministros de Cristo? Etnias, genealogias, circuncisão, festas, luas, sábados, etc.

“Pois que muitos se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei. Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos. Pois sois sofredores, se alguém vos põe em servidão, se alguém vos devora, se alguém vos apanha, se alguém se exalta, se alguém vos fere no rosto. Envergonhado o digo, como se nós fôssemos fracos, mas no que qualquer tem ousadia (com insensatez falo) também eu tenho ousadia. São hebreus? também eu. São israelitas? também eu. São descendência de Abraão? também eu. São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes.” (2 Coríntios 11.18-23).

Eles eram ministros de Cristo? De modo algum. O apóstolo Paulo faz essa asserção como se fosse acometido de loucura, pois os ministros de Cristo jamais utilizariam armas carnais.

O apóstolo Paulo precisava visitar os cristãos de Corintos, pois haviam aqueles que achavam que o apóstolo Paulo andava segundo a carne, ou seja, que era um adepto da circuncisão. Nesse ponto, o apóstolo destaca que, apesar de ter e andar com um corpo carnal, não militava segundo a ‘carne’, ou seja, segundo a doutrina dos judaizantes, mas segundo o espírito (2 Coríntios 10.2-3).

“Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou, pois, perseguido? Logo o escândalo da cruz está aniquilado.” (Gálatas 5.11).

Os da circuncisão, ou seja, os judaizantes, são aqueles que fazem uso de armas carnais.

“Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão;” (Filipenses 3.2);

“Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão,” (Tito 1.10).

Quais eram as armas do apóstolo Paulo que em Deus são poderosas? Ele descreve essas armas no capítulo 6 de Efésios! Como o apóstolo Paulo era repetitivo para segurança dos cristãos (Filipenses 3.1), é possível fazer a mesma análise acerca dessas armas em outras cartas:

“Na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda,” (2 Coríntios 6.7);

“A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências.” (Romanos 13.12-14).

As armas do apóstolo Paulo é a palavra da verdade, ou seja, o evangelho, que é poder de Deus, e que devem ser utilizadas em todas as frentes de batalha (à direita e à esquerda). A palavra da verdade equivale ao poder de Deus, que equivale ao evangelho, e que equivale as armas da justiça.

“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1 Coríntios 1.18);

“Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.” (1 Coríntios 1.24).

Quem prega a Cristo, faz uso do poder de Deus, ou seja, utiliza as armas da justiça, pois por Cristo o homem é justificado. De outra banda, quem prega a justiça por meio da lei, faz uso das armas carnais, porém, pela lei ninguém será justificado.

“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” (Gálatas 2.16).

Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo contrapõe ‘lei’ versus ‘evangelho’ fazendo uso das figuras noite e dia, trevas e luz. As obras das trevas são conhecidas (Gálatas 5.19), e o apóstolo Paulo faz uma lista das práticas dos judeus quem consta dos Salmos 78 e 106, que denunciam os filhos de Israel como: glutões, beberrões, desonestos, dissolutos, desidiosos, invejosos, etc.

“E tentaram a Deus nos seus corações, pedindo carne para o seu apetite (…) Então comeram e se fartaram bem; pois lhes cumpriu o seu desejo. Não refrearam o seu apetite. Ainda lhes estava a comida na boca. Quando a ira de Deus desceu sobre eles, e matou os mais robustos deles, e feriu os escolhidos de Israel (…) Pois o provocaram à ira com os seus altos, e moveram o seu zelo com as suas imagens de escultura” (Salmos 78.10, 29-31, 58);

“Mas deixaram-se levar à cobiça no deserto, e tentaram a Deus na solidão (…) E invejaram a Moisés no campo, e a Arão, o santo do SENHOR (…) E converteram a sua glória na figura de um boi que come erva (…) Antes murmuraram nas suas tendas, e não deram ouvidos à voz do SENHOR (…)Indignaram-no também junto às águas da contenda, de sorte que sucedeu mal a Moisés, por causa deles” (Salmos 106.14, 16, 20, 32).

Além do testemunho das Escrituras, o apóstolo Paulo argumenta acerca da lei que, se alguém que utilizá-la legitimamente, que reconheça que foi feita para os injustos, o que remete aos filhos de Israel:

“Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, Para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina“ (1 Timóteo 1.8-10).

Ora, aquele que se reveste de Cristo, revestiu-se de toda armadura de Deus, armas poderosas para destruição de fortalezas. Que fortalezas são essas? Os conselhos de homens altivos que se levantam contra o evangelho de Cristo.

Agora, conhecendo as armas carnais, fica melhor para analisar o capítulo 6 de Efésios, que fala da armadura de Deus.

A armadura de Deus
Após algumas instruções, o apóstolo Paulo determina aos irmãos que se fortaleçam em Cristo e na força do seu poder (Efésios 6.11). Que os cristãos crescessem em força em Cristo e vigorosamente em seu poder, como já havia notificado anteriormente.

“E qual a sobre excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder,” (Efésios 1.19; 3.7, 16, 18; 20).

O poder que opera nos cristãos é o evangelho, pois os que creem em Cristo tem fé no poder de Deus. A essência do evangelho é a ressurreição de Cristo, por isso é necessário crer que Deus ressuscitou a Cristo dentre os mortos (Romanos 10.9).

“Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.” (Colossenses 2.12).

Ao se revestir da amadura de Deus, o cristão está se fortalecendo em Cristo e na força do seu poder, o que permite estar firme contra as maquinações do adversário (diabo).

O apóstolo Pedro, enquanto discípulo, foi resistido por Cristo ao recomendar que tivesse pena de si mesmo.

“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.” (Mateus 16.23).

Qualquer que não conhece as coisas que pertencem a Deus, mas somente as que são pertinentes aos homens, é um adversário, um diabo, um opositor dos que creem em Cristo. O crente só pode resistir firme se estiver cônscio das coisas de Deus, pois de outro modo, será dissuadido do evangelho de Cristo através das maquinações do adversário.

Se não estiver revestido da armadura, não compreenderá contra quem se deve lutar ou resistir. Lutará contra carne e sangue (etnias), e será engando hoje por homens que tem as mesmas pretensões que tinham os príncipes das trevas deste século à época do apóstolo Paulo.

Ao que se conclui (portanto), que se deve tomar a armadura de Deus para poder resistir no dia mau, e após resistir, permanecer firme. Ora, à época do apóstolo os dias já eram maus, de modo que era necessário remir o tempo.

“Remindo o tempo; porquanto os dias são maus.” (Efésios 5.16).

“Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.” (Hebreus 3.14);

“Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” (Hebreus 10.23).

Ao se revestir da armadura de Deus, o cristão compreende qual é a vontade de Deus, diferentemente dos insensatos, aqueles que permanecem nas trevas (Efésios 5.8). Os insensatos são tantos os que andam segundo a carne, como aqueles que começaram no espírito, mas que agora estão na carne (Gálatas 3.1).

“Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.” (Efésios 5.17).

Em função da necessidade de resistir no dia mau e permanecer firme, se faz necessário se revestir da armadura de Deus, armadura essa que se refere a palavra de Deus.

“Portanto, tomai toda a armadura de Deus (…) que é a palavra de Deus” (Efésios 6.13 e 17).

O que protege o cristão é a palavra de Deus, como se fosse uma armadura de um guerreiro. Daí a explicação do apóstolo Pedro, de que, mediante o evangelho (fé), a fé que foi dada aos santos (Judas 1.3; Gálatas 3.23), os cristãos estão protegidos (guardados[3]) no poder (virtude) de Deus para salvação, ou seja, no evangelho.

“Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo” (I Pedro 1.5);

“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” (Efésios 1.13).

Primeiro o apóstolo Paulo apresenta a armadura de Deus e a utilidade dela: resistir e não se demover (Hebreus 6.18). Após evidenciar a utilidade da armadura, o apóstolo passa a descrever as suas várias partes, porém, o conjunto das partes é a palavra de Deus.

Como se fica firme? Cingindo os quadris (lombo) com a verdade. A proteção dos quadris em um ambiente inóspito é de suma importância para sobrevivência, pois é onde fica os rins. A região tem que permanecer aquecida para manter a temperatura do corpo, o que evita dispêndio de energia.

O apóstolo Pedro fala da necessidade de ‘cingir os lombos do entendimento’, ou seja, buscar a sobriedade (1 Pedro 1.13). É sóbrio quem espera somente na graça da salvação revelada em Cristo, diferente daqueles que são da noite, ou seja, que se embriagam no vinho da contenda: a doutrina dos judaizantes, que se carregam de ordenanças (Colossenses 2.20).

“Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas. Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios; Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam, embebedam-se de noite. Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação;” (1 Tessalonicenses 5.5-8).

“Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo;” (1 Pedro 1.13).

As figuras ‘dia’ e ‘noite’, ‘sobriedade’ e ‘embebedar’, ‘luz’ e ‘trevas’, são utilizadas para contrapor ‘evangelho’ e ‘lei’. Cingir os lombos do entendimento ou os lombos com a verdade é estar vestido e revestido de Cristo. O cristão precisa da mesma proteção de Cristo:

“E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.” (Isaías 11.5).

Quando se cinge os lombos com a verdade, ela serve como couraça de justiça, vez que ninguém intentará acusação contra aquele que Deus justificou.

“Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.” (Romanos 8.33).

Os pés calçados permite caminhar em qualquer terreno, ir aonde for necessário, de modo que o crente está sempre pronto, preparado, à disposição do evangelho da paz. Para quem está calçado no evangelho da paz, não há barreiras para cumprir o ide de Jesus.

A fé como escudo diz da verdade, da fidelidade de Deus. Diz da fé que é dom de Deus, e não do ato de acreditar, ou das convicções do próprio homem. O termo grego πίστεως (pistis) deriva de fidelidade, lealdade, o que remete a palavra de Deus, que é firme, imutável, na qual o homem pode se refugiar.

A promessa do Pai expressa no Salmo 91, deixa claro que o escudo e o broquel de Cristo seriam a verdade de Deus, ou seja, a sua palavra.

“Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.” (Salmos 91.4).

Na tentação do deserto, vemos Cristo fazendo uso das Escrituras para repelir as setas de Satanás contidas em suas propostas malignas. Embora estivesse escrito nas Escrituras, Jesus analisava o que foi proposto por Satanás à luz das Escrituras, e respondia: Mas, também está escrito!

“Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.” (Mateus 4.7).

Setas, flechas, espadas, etc., dependendo do contexto, remete as palavras de engano, que são mortíferas.

“A minha alma está entre leões, e eu estou entre aqueles que estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são lanças e flechas, e a sua língua espada afiada.” (Salmos 57.4);

“Que afiaram as suas línguas como espadas; e armaram por suas flechas palavras amargas,” (Salmos 64.3).

O crente precisa do capacete da salvação, ou seja, se refugiar na esperança proposta no evangelho (1 João 2.25).

“Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação;” (1 Tessalonicenses 5.8);

“Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta;” (Hebreus 6.18).

É parte da armadura a espada, e por isso, o crente deve empunhar a espada do espírito e manejá-la bem.

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2 Timóteo 2.15).

De posse da armadura de Deus, o cristão está apto para o combate:

“Mas, mesmo depois de termos antes padecido, e sido agravados em Filipos, como sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de Deus com grande combate.” (1 Tessalonicenses 2.2).

A única forma de um crente enfrentar e resistir ao diabo é permanecendo firme no evangelho:

“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo.” (1 Pedro 5.8-9).
Apóstolo.Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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