PATERNIDADE ESPIRITUAL
Somos uma igreja apaixonada por Deus e por pessoas, por isso desejamos obedecer a Deus, segundo à Sua Palavra, e servir as pessoas, conforme a bíblia nos orienta. Hoje em dia fala-se muito no meio evangélico sobre o tema “paternidade espiritual”, um termo cujo uso é relativamente novo em nossa igreja. Sabendo que a bíblia nos ensina a “por à prova todas as coisas” afim de reter o que é bom (1 a Tessalonicenses 5.21), desejamos esclarecer qual é a nossa posição, baseados na Bíblia, acerca desta questão.
O QUE NÃO É PATERNIDADE ESPIRITUAL
Antes de qualquer coisa é preciso esclarecer que não é possível que uma pessoa seja gerada espiritualmente por outra, ou nasça espiritualmente de outro indivíduo. Esta ideia não possui nenhum respaldo bíblico e deve ser rejeitada. Jesus explicou isso claramente a Nicodemos quando disse que “o que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (João 3.6). Todo nascimento espiritual é realizado por Deus, pela Sua soberana vontade, através do Espírito Santo. Veja:
“Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. João 1.12-13.
“Respondeu Jesus: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito.” João 3.5
“O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.” João 6.63
“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados.” Efésios 2.1
“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus.” 1 a João 5.1
Entendendo isso, rejeitamos qualquer ideia de que um cristão exerce, por direito, algum tipo de poder espiritual sobre outro. Desaprovamos qualquer prática de opressão, maldição, coerção, e imposição de um cristão sobre o outro, que use o termo “paternidade espiritual” como pretexto. Não vemos respaldo para isso na Palavra de Deus e reprovamos essas atitudes em nossa comunidade de fé.
O QUE É PATERNIDADE ESPIRITUAL
Segundo o Dicionário Strong, o termo grego usado por Paulo para “filho”, denota ser um “nome transferido para aquele relacionamento íntimo e recíproco formado entre os homens pelos laços do amor, amizade, confiança, da mesma forma que pais e filhos; no NT, alunos ou discípulos são chamados filhos de seus mestres, porque estes pela sua instrução educam as mentes de seus alunos e moldam seu caráter” Assim, podemos dizer que a “paternidade espiritual” bíblica é um vínculo relacional, onde um cristão se sente profundamente ligado e comprometido a ajudar outro cristão a amadurecer em sua vida com Deus. Ainda que o novo nascimento espiritual seja obra exclusiva do Espírito Santo, o novo convertido precisa da ajuda de alguém mais maduro, que, baseado na Palavra de Deus, o ajude a dar os primeiros passos na fé. É a este relacionamento que a Bíblia chama de Paternidade Espiritual.
PAULO ERA UM PAI ESPIRITUAL
Tito, Timóteo e Onésimo com certeza não eram filhos biológicos de Paulo, mas ele os considerava como “filhos espirituais”. Ele se refere a Tito como um “verdadeiro filho, segundo a fé” (Tito 1.4), e a Timóteo como um verdadeiro filho na fé” e um “amado filho” (1 a Timóteo 1.2; 2 a Timóteo 1.2). Em outra carta, o apóstolo diz: “peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões" (Filemom 1.10).
Ele usa este mesmo termo quando fala aos crentes de Corinto, dizendo: “Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados. Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por meio do evangelho.” (1 a Coríntios 4.14- 15). Para o apóstolo, este termo traduz um profundo sentimento de afeto pessoal e responsabilidade em ajudar estas pessoas a obter um desenvolvimento espiritual verdadeiro.
A NECESSIDADE DE PAIS ESPIRITUAIS NO NOVO TESTAMENTO
Os primeiros cristãos eram frequentemente rejeitados por suas comunidades ou repudiados por suas famílias. Portanto, o vínculo da “família de Cristo” incluía a criação de uma nova ordem de pais e filhos. Jesus falou sobre isso quando disse a Pedro que os que desistem de suas famílias por ele e pelo evangelho receberão em troca “irmãos, irmãs, mães e filhos” (Marcos 10.30).
Os pais espirituais na igreja primitiva tinham a oportunidade de ajudar a educar os seguidores de Cristo que experimentariam a presença e o poder de Deus atuando em suas vidas. Essa tarefa envolvia a participação ativa (e geralmente diária) na vida do “filho espiritual” e seu aconselhamento contínuo em como viver a vida cristã na igreja e na comunidade.
A NECESSIDADE DE PAIS ESPIRITUAIS EM NOSSOS DIAS
Hoje em dia existem milhões de convertidos no Brasil, mas a maioria deles não possui alguém que os ensine a caminhar, passo a passo, desde sua conversão. Por causa disso há muitos que ser converteram há anos, mas que ainda são espiritualmente imaturos. Como alguém já disse, “o evangelho no Brasil possui muitos quilômetros de extensão, mas apenas alguns centímetros de profundidade”.
Precisamos urgentemente de homens e mulheres dispostos a se tornarem pais e mães espirituais. Através do discipulado um a um buscamos garantir que cada novo convertido tenha um “pai” ou uma “mãe” que o ensine desde o início a como caminhar em santidade, com amor por Jesus e por Sua Palavra.
Oramos para que Deus levante em nosso meio, homens e mulheres de Deus, com vida de oração, firmes, convictos, ousados e conscientes, capazes de aplicar disciplina, exortar com amor, graça e misericórdia, que digam-nos “assim diz o Senhor”, e que se proponham a pagar um preço na difícil tarefa de serem verdadeiros pais na fé de outras pessoas, a ponto de torná-los homens e mulheres de Deus.
A PATERNIDADE ESPIRITUAL É MAIS DO QUE UM TÍTULO
Como vimos, a paternidade espiritual é muito mais do que apenas um título vazio – é uma vida de amor e dedicação aos seus filhos na fé. Em Mateus 23.9, Jesus repreende os líderes de sua época que utilizavam o título e “mestres” e “pais” de forma abusiva, para sustentar uma falsa religiosidade. A crítica de Jesus era que eles desejavam ser reconhecidos como líderes mas não praticavam o que pregavam (Mateus 23.3).
Não precisamos levantar “pais espirituais” apenas para dizer que os temos. Uma vez que o termo é bíblico, não faz mal a nós fazermos uso da expressão, desde que façamos também o uso do mesmo modelo prático de amor, cuidado, serviço e ensino.
O VERDADEIRO PAI ESPIRITUAL
O verdadeiro pai espiritual é aquele que, primeiramente, é considerado por seus discípulos como o maior dos servos. Eles, por livre vontade, dão a esses “pais espirituais” a autoridade para liderá-los, porque veem neles pessoas que amam a Deus e dão a vida por suas ovelhas. Assim os filhos desejam imitar a fé daqueles que investiram tanto em suas vidas (Hebreus 13.7).
OS DEVERES DE UM PAI ESPIRITUAL
Cremos que o cristão que deseja ser pai espiritual e ajudar outros, deve:
Empenhar-se para gerar no filho espiritual amor pela Palavra de Deus;
Ensiná-lo a buscar um relacionamento pessoal com o Senhor Jesus;
Motivá-lo a estabelecer um vínculo com a igreja de Jesus, onde ele poderá servir ao Senhor e ser edificado na fé;
Orar com e pelo filho espiritual, motivando sua comunicação pessoal e contínua
com Deus.
No livro “A Cruz de Cristo”, John Stott afirma que: “visto que o próprio conceito de paternidade humana provém da eterna paternidade divina (Efésios 3.14-15), os pais cristãos hão de naturalmente modelar o seu amor no de Deus. Conseqüentemente, o verdadeiro amor paterno não elimina a disciplina, visto que "o Senhor corrige a quem ama. De fato, é quando Deus nos corrige que ele nos trata como filhos. O princípio que se aplica à família, aplica-se também à família da igreja. Ambos os tipos de família precisam de disciplina, e pela mesma razão. Entretanto, hoje é rara a disciplina na igreja, e onde ela é exercida, muitas vezes é inabilmente administrada.” (p. 132).
DEUS É O NOSSO GRANDE PAI
Nenhum homem deve ocupar o lugar que é só de Deus. Ele é o nosso grande Pai. O apóstolo Paulo nos lembra disso em vários momentos:
“A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai”. 1 a Coríntios 1:3a
“A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai”. 2 a Coríntios 1:2a
“A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai”. Gálatas 1:3a
“A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai”. Efésios 1.2a
“A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai”. Filipenses 1.2a
“A nosso Deus e Pai seja a glória para todo o sempre. Amém.” Filipenses 4.20
“Que o próprio Deus, nosso Pai, e nosso Senhor Jesus preparem o nosso caminho até vocês.” 1 a Tessalonicenses 3.11
“A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai”. 2 a Tessalonicenses 1.2a
“A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai”. Filemon 1.3a
Concluímos reafirmando que jamais alguém deve colocar-se entre o relacionamento de outra pessoa com Deus. Devemos apenas servir como um instrumento do Senhor para aconselhar, exortar, abraçar, orar e servir a comunidade cristã. Todos nós temos o Espírito Santo e é Ele quem nos ensina todas as coisas, ainda que o faça, por vezes, através de um “pai espiritual”. João ensinou aos seus discípulos:
“Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou.” 1 João 2.27
A verdade é simplesmente uma: que toda paternidade tem suas raízes em Deus Pai. A paternidade, seja espiritual ou física, é boa aos olhos de Deus quando é humildemente exercida em Seu Nome.
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