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sábado, 8 de agosto de 2020

APRENDA NA DOR

                                                               APRENDA NA DOR

Jó estava sofrendo por causa de uma disputa entre Deus e Satanás. Jó nunca soube disso. Nem os seus amigos sabiam. Por isso todos se esforçaram em encontrar explicações para seu sofrimento a partir da perspectiva de sua ignorância. A vontade permissiva de Deus operou para propósitos que Jó não pôde tomar conhecimento. Deus estava oculto dele junto com as razões para o seu sofrimento.

Inicialmente as palavras de Jó demonstravam sua confiança em Deus. No capítulo 3, Jó, em profunda dor e desespero, amaldiçoa o dia em que nasceu e desejou ter morrido logo após seu nascimento. No capítulo 6 Jó se volta contra seus consoladores que passaram a acusá-lo de pecado como causa de seu sofrimento. No capítulo 7, Jó está convencido de que seu sofrimento foi resultado do pecado e direciona suas palavras para Deus:

Se pequei, que te farei, ó Guarda dos homens? Por que fizeste de mim um alvo para ti, para que a mim mesmo me seja pesado? E por que não perdoas a minha transgressão, e não tiras a minha iniquidade? (Jó 7:20-21)

Bildade diz a Jó que Deus não rejeita ao reto (8:20). No capítulo 9 Jó questiona a justiça de Deus e porque Deus não se fazia conhecer. Ele diz “como pode o homem ser justo para com Deus?” (9:2). Sua angústia contra Deus toma conta de si:

Ainda que chamasse, e ele me respondesse, nem por isso creria que desse ouvidos à minha voz. Porque me quebranta com uma tempestade, e multiplica as minhas chagas sem causa. Não me permite respirar, antes me farta de amarguras (Jó 9:16-18).

No capítulo 10 Jó avança em suas queixas contra Deus. Ele acreditava ser inocente e, de forma sarcástica, questionou se Deus estava limitado em sua capacidade de discernir a condição espiritual dele como estavam seus amigos. Concluiu afirmando que Deus de fato sabia que ele era inocente e que não havia uma instância superior à qual ele pudesse apelar.

Até que, a partir do capítulo 38, Jó se encontra diante de Deus. A arrogância de Jó foi calada, suas perguntas desapareceram. E Deus não lhe deu nenhuma explicação. Deus perguntou se Jó era eterno, poderoso, grande, sábio e perfeito como Ele. Se não, teria sido melhor que Jó ficasse calado e confiasse Nele. E o Senhor disse a Jó:

Porventura o contender contra o Todo-Poderoso é sabedoria? Quem argui assim a Deus, responda por isso. Então Jó respondeu ao Senhor, dizendo: Eis que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho à boca. Cinge agora os teus lombos como homem; eu te perguntarei, e tu me explicarás. Porventura também tornarás tu vão o meu juízo, ou tu me condenarás, para te justificares? (Jó 40: 2-4; 7-8).

E Deus diz a Jó que ele era incapaz de negociar com um simples crocodilo e que não poderia controlá-lo (41:1-10). Então Deus diz mais:

Quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante de mim? Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu (Jó 41: 10-11)

Por fim, no capítulo 42, Jó declara:

2 Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.
3 Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia.
4 Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás.
5 Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos.
6 Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza.

Jó então apoiou-se unicamente em sua fé na bondade de Deus e na esperança da redenção. Quando não há nenhuma explicação racional, nem mesmo teológica, para a dor e o sofrimento, confie plenamente em Deus.

Por que o justo sofre? O livro de Jó não responde a essa pergunta. Jó e seus amigos nunca souberam a razão. Por fim, quando Jó foi confrontado por Deus, restou-lhe o silêncio. Ficou apenas a fé nos propósitos de Deus. Ninguém jamais sabe o verdadeiro motivo do seu sofrimento, porém a confiança na soberania de Deus é a verdadeira resposta ao sofrimento.

Satanás corrompeu os anjos caídos, e assim pensou que poderia ceifar a fé de Jó, assim como tentou ceifar a fé de Pedro. Mas ele fracassou. Deus o permitiu provar a ambos, mas a fé salvadora verdadeira provou-se inabalável.

Quando Satanás faz de tudo para destruir a genuína fé salvadora, esta permanece firme. Deus provou a Satanás que a fé salvadora jamais pode ser destruída, não importa quanta provação um santo sofra, ou quão incompreensível e imerecida lhe pareça.

Será que a história de Jó sugere uma falta de compaixão e misericórdia da parte de Deus para com Seu servo? De modo algum. Tiago 5:1 diz:

Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.

Deus determina que os seus filhos caminhem em dor e sofrimento, e as causas são:

Por causa do pecado (Números 12:10-12);
Para correção (Hebreus 12:5-12);
Para fortalecimento (II Corintios 12:7-10; I Pedro 5:10)
Para revelar seu consolo e graça (II Coríntios 1:3-7)
Mas há vezes que a razão para o sofrimento dos santos é desconhecida porque ela tem propósitos celestiais que os que estão na terra não conseguem discernir (Ex. 4:11; Jó 9:1-3).
Jó e seus amigos queriam analisar a fim de encontrar causas e soluções. Empregando toda a sã teologia e discernimento da situação de que dispunham, eles procuraram por respostas, mas tudo que encontraram foram ideias erradas e inúteis, pelas quais Deus os repreendeu no final (Jó 42:7).

Os amigos de Jó vieram consolá-lo. Após sete dias a missão deles provou-se fracassada e o consolo se tornou em maior tormento para Jó. Eles não podiam compreender porque Jó sofria, pois desconheciam o que havia acontecido no céu entre Deus e Satanás. Achavam que conheciam todas as respostas, porém, com insistente ignorância deles, apenas intensificaram o dilema.

Podemos destacar os seguintes pontos na experiência de Jó:

Há questões que estão sendo tratadas no céu por Deus que são totalmente desconhecidas dos crentes, no entanto a vida deles pode ser afetada por elas.
Até mesmo o melhor dos esforços para explicar as questões da vida pode ser inútil.
O povo de Deus sofre. Coisas ruins acontecem o tempo todo com pessoas que foram justificadas. Ninguém pode julgar a espiritualidade de outra pessoa com base em suas aflições ou sucessos.
Ainda que Deus pareça distante, perseverar na fé é a melhor virtude, uma vez que Ele é bom e podemos confiantemente entregar nossas vidas em Suas mãos.
Em meio ao sofrimento, o crente não deve se afastar de Deus, mas aproximar-se dele para que a comunhão possa lhe trazer consolo – sem receber nenhuma explicação.
O sofrimento pode ser intenso, mas chegará ao fim para o justo, que será grandemente abençoado por Deus.
As longas e calorosas discussões entre Jó e seus acusadores não passaram de tentativas de conciliar a aparentemente injusta punição por parte de Deus nas experiências de Jó. Este é um caminho perigoso. No final Deus não deu nenhum explicação a Jó e chamou todos para um nível mais profundo de confiança no Criador que governa o mundo dominado pelo pecado com poder e autoridade, dirigido pela perfeita sabedoria e misericórdia.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.


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