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sábado, 9 de maio de 2020

AMOR DE MÃE, AMOR PERFEITO


                                                    AMOR DE MÃE, AMOR PERFEITO
“Eu amo você um tanto assim!”
Desde que aprenderam a falar, nossos filhos têm sido catequizados com a seguinte pergunta quase todas as noites antes de irem dormir: “Mamãe e papai amam vocês. Mas quem ama vocês mais do que qualquer um?” Essa pergunta é respondida com um sonoro “Jesus!” por todas as vozes no ambiente.
O salmista roga ao Senhor por esse tipo de amor: “Mostra-nos, senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação” (Sl 85.7).
Jesus anuncia que ele é a resposta ao clamor do coração do salmista: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13). Paulo descreve o amor sacrificial de Jesus em Romanos 5.78: “Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”. Alguns versículos antes, em Romanos 5.5, aprendemos sobre o ministério consolador do Espírito Santo, que derrama o amor de Deus em nosso coração.
UMA MÃE AMA PORQUE DEUS A AMOU PRIMEIRO
De fato, o amor inabalável do Senhor é melhor que a vida (Sl 63.3) porque o seu amor nos dá a sua vida. Por causa de seu amor, somos capazes de amar. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19).

É esse amor – o amor de Cristo – que compele mães cristãs a amarem seus filhos. O amor de Cristo em seu coração é o que transborda quando uma mãe fala gentilmente a seus filhos, mesmo quando eles não respondem gentilmente. O amor de Cristo ecoando em sua alma é o que faz com que uma mãe estenda graça aos seus filhos, que conseguem ouvir um saco de batatas fritas sendo aberto do outro lado da casa, mas não conseguem ouvir certas palavras ditas na presença deles, como: “Limpe. Seu. Quarto”. O amor de Cristo nos controla quando falamos as palavras do evangelho de esperança aos nossos filhos vez após vez. O amor de Cristo convence as mães a não viverem para si mesmas, mas a viverem para Jesus, que morreu e ressuscitou por elas (2Co 5.15).
Uma mãe que tem fé em Jesus Cristo ama por causa da esperança preservada para ela no céu (Cl 1.45). Sabemos que isso é verdade porque a Bíblia diz que é verdade. Pessoalmente, outra razão pela qual sei que isso é verdade é porque minha própria mãe me amou de forma sacrificial e incondicional por causa de sua fé em Cristo. A fé na graça futura foi, sem dúvida, o que sustentou o coração da minha mãe no pesadelo que foi a minha adolescência. Eu era uma escarnecedora; ela me amava sinceramente. Eu andei no conselho dos ímpios; ela me amou o suficiente para me dizer que eu estava desgarrada. Eu andava no caminho dos pecadores; ela me amou o suficiente para me contar sobre o perdão de Jesus. Nenhum vale de pesadelo de uma mãe é tão escuro que Jesus não possa suportar seus fardos por todo o caminho.
A esperança na graça futura de Deus por meio de Cristo Jesus é o que mantém o coração de uma mãe firme quando tudo o que ela sente é que está se desfazendo em milhões de pedaços. Sabemos que, por causa do grande amor do Senhor, não somos consumidos, e suas misericórdias não têm fim (Lm 3.22). Mesmo Jeremias, que viu a desolação de sua amada cidade, colocou sua esperança no próprio Senhor Deus e não em suas circunstâncias. Ele reconheceu que as misericórdias de Deus se renovam a cada manhã (Lm 3.23). E essa fé na graça futura de Deus foi o que capacitou Jeremias a dizer: “A minha porção é o senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.” (Lm 3.24). Você não ama a forma como a Escritura faz o seu coração ficar abalado com as inescrutáveis maravilhas da glória e ao mesmo tempo seguro? Imagine – o Senhor é a sua porção. Não está convencida? Basta olhar para o que o Pai fez com o seu único Filho (que voluntariamente deu a si mesmo em seu lugar), a fim de que Jesus pudesse fazer de você o tesouro dele, e você pudesse fazer dele o seu.
Estou tentada a apostar tudo o que tenho na mudança de comportamento, cruzar os dedos e esperar o melhor. Mas a salvação para as mães e seus filhos pertence ao Senhor. Nós – todos nós – devemos depositar a nossa confiança no Filho, agarrando-nos à sua cruz, e devemos nos alegrar na esperança da glória de Deus.
O AMOR COMPLICA A VIDA
O amor sacrificial de uma mãe capacitado pelo Espírito é o que permite que ela voluntariamente “complique” sua vida para o bem de seus filhos. Basta pensar nas dificuldades extraordinárias que você já observou em sua própria vida, na vida da sua mãe, e na vida de outras mães que você conhece. Particularmente, as muitas mães adotivas que conheço dificultaram suas vidas de forma voluntária e alegre a fim de amarem sacrificialmente seus filhos. O amor como o de Cristo encontra espaço, de forma voluntária e alegre, para as dificuldades, a fim de olhar para os interesses dos outros. Se recebemos encorajamento, conforto, afeição e compaixão de Cristo e fomos enxertados nele pelo seu Espírito, então devemos transbordar com esse mesmo encorajamento, conforto, afeição e compaixão que flui da unidade com Cristo (Fp 2.2). Quando servimos nossa família, tomamos o cuidado para não servi-la de uma maneira que aumente o nosso ego; em humildade consideramos os outros superiores a nós mesmos (Fp 2.3). Ao criarmos nossos filhos não existe nenhuma tarefa demasiadamente humilhante quando temos essa mentalidade – a mentalidade de Cristo Jesus, o servo humilde.

Pense em como o Senhor Jesus Cristo, de forma voluntária e alegre, tornou sua vida difícil para que pudesse partilhá-la conosco. Embora subsistisse em forma de Deus, “não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.68). Como se não fosse suficientemente humilhante para o Criador tornar-se o Deus encarnado, esse inocente autor da vida humilhou-se ainda mais, permitindo-se ser crucificado como um criminoso.
É verdade que os nossos filhos precisam ouvir constantemente esse evangelho que dá vida. Nós, mães, precisamos ouvi-lo também.
Lembro-me de como o meu apego ao “eu primeiro” tornou-se evidente para toda a minha família em uma manhã de calor no deserto. As cirurgias no braço de Dave trouxeram alguns períodos de recuperação muito intensos e dor física persistente. Às vezes ele não podia tomar banho sozinho, vestir-se ou alimentar-se. Algumas vezes tive que colocar meus filhos mais novos ao lado do meu marido para alimentá-los todos de uma vez!
Durante uma manhã particularmente difícil, todo mundo estava pedindo pela ajuda e atenção da mamãe. Havia duas fraldas para serem trocadas, ninguém tinha separado suas roupas para aquele dia, e meu marido precisava da minha ajuda para abrir o chuveiro e a pia do banheiro. Em meio aos gritos das crianças, Dave ainda tinha humor para fazer piada: “Muito bem, crianças! Quem de nós gritar mais alto vai ter a ajuda da mamãe para se vestir primeiro!” Eu não ri. Eu não podia.
Por alguma razão, a amargura que eu senti em relação à minha situação era tão profunda que havia criado raízes. Eu estava com raiva, e suponho que eu tenha ficado com raiva por um bom tempo. Eu havia esquecido que Deus não é apático à minha situação. Eu havia deixado de ver a vida como uma batalha pela alegria em meio à tristeza em um mundo caído. Naquele momento eu só queria que todos me deixassem em paz. Eu disse isso em voz alta com os dentes cerrados: “Será que todos vocês me deixam em paz, por favor?” As crianças me ignoraram e continuaram choramingando. Meu marido saiu do banheiro em silêncio sem terminar a sua rotina matinal.
Por que eu estava tão vazia de amor pelos outros? Por que a minha atitude era tão hostil para com as pessoas que eu mais amava? Em minhas reflexões em oração acerca desse incidente, o Senhor graciosamente me revelou que eu tinha um desejo profundo de satisfazer as minhas necessidades antes de satisfazer as necessidades dos outros. Eu percebi como o trabalho quase incessante pela minha família havia sido, na verdade, alimentado por tentativas de reanimar a mim mesma através da minha própria força e de controlar tudo ao meu redor. Eu tinha a mentalidade de que se eu pudesse fazer isso por mais um dia, então eu poderia dormir de novo e ninguém me incomodaria até a manhã seguinte (talvez). Eu tinha a ideia de que se eu descobrisse a tabela de tarefas perfeita, então a casa ficaria arrumada. Eu pensava que se eu pudesse encontrar os melhores truques para pais, então as crianças se apascentariam via piloto automático. E, claro, eu pensava que se a deficiência do meu marido finalmente fosse embora, então todos nós poderíamos continuar com nossas vidas. Eu havia me esquecido do Senhor, e esse tipo de amnésia pode lançar uma sombra profunda na alma.
Amar como Jesus amou é morrer para si mesma mil mortes por dia. Há momentos em que não estamos motivadas pelo amor de Cristo e nos frustramos com os nossos filhos não por que eles quebram a lei de Deus, mas porque quebram a nossa. Podemos superestimar atitudes erradas insignificantes e discussões inúteis com os nossos filhos. Podemos negligenciar o bem-estar físico, emocional e espiritual de nossos filhos. Podemos refletir sobre nossas vidas mil vezes por dia (e noite) e ainda assim resistir colocá-las a serviço dos outros.
Podemos até mesmo servir muito bem os outros, mas murmuramos o tempo todo que nossos filhos e marido não estão aplaudindo o suficiente para parabenizar nossos esforços.
A humildade de Jesus redefine nossas ideias mundanas sobre o que significa servir os outros. Ele nos deu um novo mandamento: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo 13.34). Precisamos ser redimidos e aperfeiçoados pela graça de Deus. Precisamos nos submeter ao Salvador que pode quebrar nossa escravidão de servir e adorar a nós mesmos. Quando uma mãe confia, pela fé, na morte expiatória de Cristo, ela vê a morte de seu pecado na morte de Cristo. “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.12).
A mãe cujo pecado foi sepultado com Cristo na sua morte foi levantada para uma nova vida na sua ressurreição. Ela agora é uma escrava da justiça (Rm 6.18). Ela tem uma nova canção para cantar – um refrão que ecoará ao longo de seus dias e noites – uma canção sobre o amor redentor.
NUNCA FAÇA SACRIFÍCIOS
Um dos meus heróis missionários é David Livingstone, um homem que passou a maior parte de sua vida perseverando em meio a dificuldades extraordinárias pela causa do evangelho na África. Costumo me lembrar do seu exemplo de perseverança e fé quando estou em cenários do tipo “acho que poderia ser pior”. Mas não é por isso que Livingstone me encoraja tanto. A fé robusta não é forjada por considerar quão mais agradáveis minhas circunstâncias terrenas são quando comparadas com as de outra pessoa. “Sempre poderia ser pior” não pode sustentar o meu frágil coração. Somente a esperança na fidelidade duradoura de Deus é uma garantia inquebrável. Meu coração é fortalecido ao considerar que nós temos o mesmo Pai celeste, somos salvos pelo mesmo Jesus, somos habitados pelo mesmo Espírito Santo e nos alegramos no mesmo evangelho. Se Deus sustentou esse homem santo, então ele também pode me sustentar.

Então, o que essa história sobre um missionário na África tem a ver com maternidade e sacrifícios? Livingstone fez um discurso na Universidade de Cambridge que moldou a forma como eu penso sobre a maternidade. Ele não estava falando especificamente sobre maternidade; ele estava falando sobre ter uma perspectiva eterna e sobre o seu papel como missionário. Quando leio suas palavras, não posso deixar de pensar sobre como os mesmos princípios estão trabalhando na minha vida de mãe, cuja esperança está no evangelho. Livingstone disse:
Da minha parte, nunca deixei de me alegrar por Deus ter me nomeado para tal ofício. As pessoas falam do sacrifício que fiz em gastar tanto tempo da minha vida na África…, Mas será que é um sacrifício aquilo que traz sua própria abençoada recompensa na atividade saudável, na consciência de fazer o bem, na paz de espírito e na brilhante esperança de um destino glorioso depois daqui? Fora tal visão e tal pensamento! Esse não é enfaticamente nenhum sacrifício. Mas sim, um privilégio. Quando abdicamos das conveniências e caridades comuns dessa vida, a ansiedade, a doença, o sofrimento ou o perigo pelos quais eventualmente passamos podem nos fazer parar ou fazer com que o nosso espírito vacile e a nossa alma afunde; mas isso é só por um momento. Tudo isso não é nada quando comparado à glória a ser revelada em nós e para nós. Nunca fiz um sacrifício.
Certamente mães fazem sacrifícios pelos seus filhos de mil maneiras diferentes a cada dia. Mas precisamos definir e avaliar essas coisas com uma perspectiva eterna. Como Livingstone, devemos perguntar: Será que esse serviço pelo meu filho que traz sua própria recompensa no bem-estar dele, na consciência de servir Deus, na paz de espírito e na brilhante esperança de um destino glorioso é um sacrifício? Falando de outra maneira, quando uma mãe triunfa por meio do evangelho, sua brilhante esperança em Jesus ofusca qualquer ganho terreno que ela poderia ter tido ao optar por fazer qualquer serviço que não fosse mostrar o amor sacrificial de Jesus ao seu filho.
Então, quando consideramos o chamado, o trabalho e os sacrifícios da maternidade através dessa visão, com emoção em nosso coração, podemos dizer que nunca fizemos um sacrifício.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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