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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

ENFERMIDADE E LUTO


                                                      ENFERMIDADE E LUTO
A vida é uma dádiva de Deus; viver é desfrutar deste presente maravilhoso! Contudo, viver também inclui experimentar as consequências da Queda.  Depois de Gênesis 3, a doença e a morte assolam a humanidade. Estas estão no topo da lista das coisas que mais nos amedrontam. 
     No texto de João 11 temos ensinos preciosos sobre como o cristão deve entender e lidar com doença. Nosso Senhor Jesus demonstra que há esperança diante do sofrimento. Destacamos a seguir alguns ensinos sobre a doença na vida do cristão.
1. A doença acomete pessoas comuns
     “Estava enfermo Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria e de sua irmã Marta” (vs.1).  O texto nos deixa claro que Lázaro era um homem comum, que morava numa cidade comum, que tinha uma família comum. Lázaro era um homem como qualquer um de nós. Ele era pecador e vivia num mundo que está debaixo dos resultados da queda.
      A doença é fruto da Queda - Vivemos num mundo caído! Após a entrada do pecado no mundo, a doença tornou-se parte da vida do homem. Contudo, não se deve tratar toda doença como fruto de algum pecado pessoal, julgando que determinada pessoa ficou doente porque pecou. O exemplo do cego de nascença em João 9 é suficiente para que entendamos esta verdade: “E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.2-3). Veja que o propósito da doença, neste caso, é para que “as obras de Deus fossem manifestas”, e Deus, em Cristo, fosse glorificado. Os amigos de Jó, ao verem seu sofrimento, o acusaram de ter pecado (Jó 11). Porém, eles estavam equivocados! A doença de Jó não era fruto de um pecado pessoal! No fim do livro, Deus repreende os seus amigos e Jó precisou orar por eles, para que Deus os perdoasse (Jó 42.7-9). Por outro lado, não podemos negar que há casos de doenças que foram consequências de pecados cometidos, ou que fazem parte da disciplina de Deus, como aconteceu com Davi (2Sm 12.15-25). É importante, porém, que entendamos que o nosso papel não é sair por aí apontando para o doente a razão da sua doença, muito menos investigando se ele está em pecado. Não somos “amigos de Jó”! Pelo contrário, na angústia, precisamos amar e consolar: “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Pv 17.17).
     Os crentes também adoecem – Lázaro certamente era crente em Jesus e a doença o acometeu. Todos estão sujeitos às doenças: ricos e pobres; homens e mulheres; famosos e desconhecidos; crentes e não crentes e etc. Há muitos que pregam que crentes não devem adoecer, se estão doentes é porque pecaram ou porque não têm fé para serem curados. Esses distorcem o texto de Isaías 53.4, dizem que Jesus levou nossas enfermidades, por isso, os crentes não devem adoecer. Isso é mentira! No texto, “enfermidades e dores” são palavras abrangentes para o sofrimento geral do homem em consequência do pecado. Mateus entende essa abrangência, pois descreve esta profecia se cumprindo não só quando Jesus curava doentes, mas também quando expulsava os demônios (Mt 8.16-17). As curas realizadas por Jesus testificavam que ele era o Messias, que tomaria sobre si o sofrimento em consequência do nosso pecado, para que fôssemos perdoados. No contexto, Mateus descreve a cura de um paralítico onde Jesus apresenta claramente que o propósito da cura era apontar para o fato de que ele tem autoridade para perdoar pecados: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados—disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Mt 9.6). Além disso, Isaías 53.4 deve ser lido dentro do contexto, onde o “levar sobre si” refere-se especialmente ao castigo pelo pecado. O Cântico termina com esta tônica: “...contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” (Is 53.12b). De fato, a profecia de Isaías se cumpre em Jesus, quando curou e expulsou demônios de muitos, mas os milagres apontam para sua autoridade de perdoar pecados e ilustram a completa redenção no céu, onde não haverá mais choro, nem dor, nem enfermidade, pois as consequências da Queda serão de vez extirpadas da vida dos salvos. Porém, como vimos, não há nenhuma promessa de Deus de que os crentes não terão doenças aqui nesta terra!
     Timóteo tinha enfermidades e Paulo não o repreendeu por falta de fé, mas o aconselhou a tomar um pouco de vinho que faria bem para as suas dores no estômago (1Tm 5.23). Será que Paulo e Timóteo não tiveram fé para determinar a cura? Eles tinham uma fé verdadeira, contudo, entendiam que crente também adoece, e que neste caso, deveriam orar a Deus, como vemos Paulo fazendo em suas cartas, e fazer o que estava ao alcance, como usar vinho como medicamento para as dores. Contudo, Deus é quem decide e determina se curará, ele é Deus e não nós!
     Ser crente, portanto, não significa estar imune às doenças. Somos redimidos, mas ainda estamos neste mundo caído, que aguarda a redenção plena. Não devemos carregar a culpa pensando que a doença é falta de fé ou castigo por algum pecado do qual não se sabe. Se houve pecado, e é claro que a doença é consequência deste pecado específico, você deve saber que “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9). Confesse e você experimentará o perdão e a graça de Deus! Talvez você tenha que conviver com a consequência do seu pecado, mas não mais com o peso da culpa, pois, me Cristo, você estará perdoado!
 
2. A doença acomete pessoas amadas por Deus
     Três vezes aparece no texto que Jesus amava Lázaro (vs 3, 5 e 36). Isso é maravilhoso! Aprendemos duas preciosas lições com Jesus:
     - A doença não significa falta do amor de Deus - No verso 3, as irmãs de Lázaro reconheciam que Jesus o amava, o escritor confirma e reconhece esse amor no verso 5, e os judeus também reconhecem no verso 36. O amor de Jesus por Lázaro e suas irmãs era inquestionável! Isso, porém, não impediu que Lázaro adoecesse e até mesmo morresse. A doença na vida dos filhos amados de Deus não significa que Jesus deixou de os amar, ele continua amando os seus!
     - A aparente falta de resposta não significa falta do amor de Deus – No verso 5 é confirmado o amor de Jesus por Lázaro e suas imãs. Então, no verso 6 diz que Jesus, após receber a notícia, ainda demorou dois dias onde estava. Aparentemente, Marta, Maria e Lázaro ficaram sem a resposta de Jesus quando mais eles precisavam. Mas o texto diz que Jesus os amava!
     Muitos, quando adoecem, começam a duvidar do amor de Deus. Alguns começam a questionar a Deus, ou até mesmo acusar a Deus de falta de amor. Outros, quando não recebem resposta das suas orações, também duvidam de Deus! Não deixemos a dúvida tomar conta do seu coração! Não duvidemos do amor de Deus! Deus já provou seu amor pelos seus: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
3. A doença acomete pessoas dentro dos propósitos de Deus
     “Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado” (vs4). Aqui está um ensinamento preciosíssimo de Jesus: Tudo, até mesmo a enfermidade, tem um propósito definido por Deus!
     O propósito de levar à fé em Cristo – a doença de Lázaro foi com um propósito evangelístico, pois no fim muitos creriam em Cristo (vs 45). Jesus também queria levar os discípulos a crerem nele: “Então, Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu; e por vossa causa me alegro de que lá não estivesse, para que possais crer; mas vamos ter com ele” (vs 14-15). Depois, Marta e Maria aparecem no texto como mulheres que demonstraram uma fé verdadeira em Jesus (vs. 21-22 e 32). A doença na vida do cristão muitas vezes forja a sua fé em Cristo, fazendo-o crescer em fé e aprender a depender de Deus. Ela serve também de testemunho para levar outros a crerem em Jesus.
     O propósito de glorificar a Deus e ao Filho - A enfermidade de Lázaro era “para glória de Deus” e “a fim de que o Filho de Deus por ela fosse glorificado”. O Pai e o Filho foram glorificados na doença de Lázaro, este era o propósito final do sofrimento deste homem. Que coisa maravilhosa! A vida do cristão não é como uma folha seca levada pelo vento, sem rumo, sem propósito! Tudo está debaixo da ação soberana de Deus! Ele é glorificado na vida do cristão sincero até mesmo nas adversidades e doenças.
     Os crentes devem crer que nada foge à soberania de Deus! Nada é por acaso na vida do servo de Deus! O Senhor das nossas vidas sempre tem seus propósitos bem definidos, e aquilo que acontece conosco não pegou Deus de surpresa. Ele conhece cada bactéria e vírus, ele sabe o momento exato que eles nos atingem! Ele tem propósitos grandiosos que nem sempre entenderemos, mas pela fé, aguardamos que Ele cumpra cada um dos seus propósitos e ele seja glorificado em nós!
     John White diz que “Deus ainda cura milagrosamente. Mas nem sempre. Nem é necessariamente a nossa fé que decide a questão, mas seus propósitos maiores. Quando a tragédia nos acomete, nossa primeira reação deveria ser a de perguntar a Deus o que ele quer de nós. Fé para um milagre ou confiança para enfrentar a tragédia?” 
     Em resumo, o cristão deve entender que a doença é fruto da Queda, mas nem sempre de um pecado específico; a doença traz sofrimento, mas não significa falta de amor de Deus; a doença nos pega de surpresa, mas não a Deus; na doença não vemos razão, mas Deus tem os seus propósitos, ele quer moldar nossa fé, levar outros à fé em Cristo e glorificar o seu nome. Sendo assim, somos chamados a crer em Deus e nos seus propósitos soberanos, mesmo quando não os entendemos. Em tudo, porém, nossa fé e esperança estão em Cristo!
Apóstolo. Capelão/Juiz, Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante

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