AMIGOS TRAZEM AMIGOS PARA JESUS
A cidade bíblica de Cafarnaum, que tive o privilégio de visitar em Novembro último, situa-se a cerca de 4 quilômetros a sudoeste da foz do Rio Jordão. Aí, de acordo com a tradição cristã, terá nascido o apóstolo Pedro e foi também aí que Jesus centralizou a sua vida pública e o Seu ministério. Foi palco de diversos acontecimentos e milagres que marcaram a história do Novo Testamento, um dos quais é relatado em três dos evangelhos, conhecido pela cura de um paralítico que foi trazido à presença de Jesus por quatro homens (Marcos 2:3). Esta é mais uma daquelas histórias que povoam o nosso conhecimento cristão, mas é também um hino à amizade. Sem menosprezar a cura do paralítico, que bem podia dizer como David “Grandes coisas fez o Senhor por nós (por mim), e por isso estamos (estou) alegre” (Salmo 126:3), desejo chamar a vossa atenção para os amigos dele, de quem podemos aprender importantes lições.
Que bom ter amigos
Os amigos são um bem precioso. E se há uma palavra que devemos ter sempre presente quando pensamos neles é a gratidão. São privilegiados todos aqueles que nos seus relacionamentos têm pessoas com quem podem contar, confiar, pedir conselhos e ajuda, desabafar sem ver a sua vida devassada, com quem podem partilhar sonhos e visões e encontrar estímulo para a sua fé, nos momentos particularmente difíceis da sua vida. E se o paralítico da nossa história não tivesse amigos? Será que hoje estaríamos a falar dele na condição de homem restaurado no seu corpo e na sua alma? Ele era um homem doente, que carecia de ajuda, pois nada podia fazer por si próprio, nem mesmo aproximar-se de Jesus. Humanamente não havia cura para ele, estava incapacitado, tinha que ser carregado por alguém. Felizmente ele tinha amigos! Deixe-me perguntar-lhe: já alguma vez se sentiu só ou foi esquecido por um amigo? Lembra-se de alguma ocasião em que precisou de um amigo e não encontrou um único? Li acerca de um homem que telefonou ao seu pastor a pedir ajuda: “Pastor, tenho 53 anos e estou numa situação muito difícil. Olhando em retrospectiva para a minha vida fiz uma lista dos meus amigos, e só encontrei dois!”. O grande apóstolo Paulo também sabia por experiência o que era sentir a falta de amigos. Certa ocasião ele desabafou: “Na minha primeira defesa ninguém me assistiu, antes todos me desampararam…” (II Timóteo 4:16). Há momentos na nossa vida que são difíceis de enfrentar sozinhos, sem que haja um amigo por perto. Vamos valorizar mais os amigos.
Como agiram os amigos
Não sabemos de quem partiu a iniciativa de levar o paralítico à presença de Jesus, se do próprio se dos seus amigos. O que sabemos é que a oportunidade estava diante deles e não foi desperdiçada, não obstante as dificuldades que se avizinhavam. Isto leva-nos ao primeiro aspecto da sua acção em favor do amigo: não se pouparam a esforços. Estes homens fazem parte daquele grupo de pessoas que não desistem facilmente, que não se sentem desencorajados diante dos obstáculos, e que tudo farão para os vencer. Infelizmente nem todos os que se dizem amigos estão dispostos a ir mais além no esforço dispendido que se entende por razoável, no tempo que não se pode alongar demasiado, no sacrifício que eventualmente será requerido, nas capacidades que serão empregues, e então desistem. Desistir para estes homens não fazia parte do seu vocabulário. Ao verem a multidão que obstruía por completo o acesso ao interior da casa onde estava o Mestre, poderiam ter dito: “Amigo, vai ter que ficar para a próxima. Vamos estar atentos e da próxima vez seremos os primeiros. “ Porém, não podendo entrar pela porta, decidiram-se por uma solução radical: entrar pelo telhado. O telhado normal na Palestina, apesar de não ter telhas, "tinha vigas transversais alinhadas com mato, ramos de árvores, etc, em cima das quais havia uma grossa camada de lama ou barro misturado com palha cortada, batida e enrolada” . Alguém disse: “Onde há uma vontade, aí está um caminho”. E foi por aí que entraram. Em segundo lugar agiram como uma equipa. A dificuldade em levar o paralítico para o interior da casa era susceptível de gerar alguma tensão entre eles. Era importante não perder o sentido de equipa, que os manteria unidos no propósito e na esperança de ver o amigo na presença de Jesus. Ultimamente tenho pensado muito no espírito de equipa que deve caracterizar as nossas acções, quer como casais, no ministério, nas igrejas, nos departamentos, nas empresas, etc. Uma equipa ganhadora não é aquela que tem muitas individualidades, mas que tem um conjunto muito coeso. O campeonato do mundo de futebol que recentemente se realizou na África do Sul, veio mostrar essa realidade, pois foram aquelas seleções em que predominou o sentido de equipa que chegaram mais longe. As equipas compostas por “craques”, jogadores “fabulosos”, “estrelas”, “super-jogadores”, regressaram a casa mais cedo. Não há “super-jogadores” assim como não há “super-cristãos”, e os “super-homens”, só no cinema. Nietzsche disse: “O homem deve buscar superar-se a si mesmo e tornar-se um “super-homem”. Pois bem, lamento desiludi-lo, mas não há “super-homens”. A Bíblia preconiza exatamente o contrário, uma interdependência, ou seja, precisamos uns dos outros. Jesus foi ainda mais radical ao dizer: “…sem mim nada podeis fazer.” (João 15:5). Percebendo que precisavam uns dos outros, que ninguém era dispensável, lá puseram em prática a ideia, e com o tal sentido de equipa e com a mesma motivação, levaram o homem à presença de Jesus. O terceiro aspecto na ação destes homens é que agiram em fé. Diz o nosso texto (Marcos 2:5) que Jesus viu a fé deles. Como pode a fé ser vista? Somente pelas obras, por ações, ou como alguém disse: “A fé arregaça as mangas”. Estes homens não teriam visto o seu amigo curado, e Jesus não teria reagido à persistente fé deles se não visse que por detrás de todo o esforço dispendido estava uma confiança absoluta na capacidade de Jesus em curar o paralítico. A Bíblia diz-nos que mostramos a nossa fé pelas nossas obras (Tiago 2:18), e que a fé sem obras é morta. Se dizemos que temos fé em Cristo então a nossa vida e as nossas obras devem mostrá-lo. Mas a fé deles levou-os a contemplar também o perdão: “Filho, perdoados estão os teus pecados.” (Marcos 2:5), coisa que não agradou a alguns dos presentes. Naqueles dias tal como hoje, existem pessoas para quem é mais fácil condenar, acusar, julgar, do que mostrar disposição para perdoar. Embora não tenhamos colocado os acontecimentos pela ordem que a Bíblia nos descreve, notamos que o perdão dos pecados é tão importante quanto a cura do corpo.
Finalmente, impressiona-me nestes homens a sua ousadia, pela forma como investiram na vida do amigo sem esperar receber nada em troca. Isto é amor puro, altruísta, extravagante, o amor de que fala a Bíblia: invadindo uma casa alheia e interrompendo um culto. Que forma radical de trazer pessoas a Jesus! Posso imaginar o olhar de espanto de Pedro (se é que era a sua casa), ao ver alguém esventrar o telhado da casa e abrir uma nova “porta”. Os maiores sucessos, vitórias, não vêm pela via mais curta, do menor esforço. A tarefa deles não era fácil, mas foi recompensada. Depois talvez tiveram que pagar os custos do arranjo do telhado, mas que importa, se o amigo fora restaurado? A sua ousadia foi ao ponto de acreditar que o amigo paralítico, uma vez na presença de Jesus, teria imensas possibilidades. O meu desafio é que sejamos ousados a investir na vida dos outros.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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