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terça-feira, 5 de novembro de 2019

A NOITE VÊM


                                                                   A NOITE VÊM
NOITE

O período de escuridão entre o pôr-do-sol e o alvorecer foi chamado por Deus de “Noite”. (Gên 1:5, 14) Entre o pôr-do-sol e a própria escuridão há um curto período de crepúsculo vespertino, quando as estrelas se tornam visíveis. Os hebreus chamavam este período de néshef, e, evidentemente, é a este período que se refere a expressão “entre as duas noitinhas”, encontrada em Êxodo 12:6. (Pr 7:9) De modo similar, no fim da escuridão da noite, há um crepúsculo matutino que leva à alvorada, e isto era expresso pela mesma palavra hebraica. Assim, o escritor diz no Salmo 119:147: “Levantei-me cedo no crepúsculo matutino.”

I. Divisão Hebraica.

Os hebreus dividiam a noite em vigílias. “Quando me lembro de ti no meu leito de repouso, medito em ti durante as vigílias da noite.” (Sal 63:6) Visto que Juízes 7:19 fala duma “vigília média da noite”, parece evidente que havia três delas nos tempos primitivos. Pelo visto, cada vigília abrangia um terço do tempo entre o pôr-do-sol e a alvorada, ou cerca de quatro horas cada uma, dependendo da época do ano. A primeira vigília se estendia assim das 18 às 22 horas. A “vigília média da noite” começava por volta das 22 horas e se estendia até cerca das 2 horas da madrugada. Esta foi a hora estratégica para Gideão fazer o ataque de surpresa ao acampamento midianita. A terceira vigília era chamada de “vigília da madrugada”, que se estendia de cerca das 2 horas da madrugada até o nascer do sol. Foi durante esta vigília da madrugada que Yehowah fez com que os exércitos egípcios, perseguidores, passassem a ter sérias dificuldades na sua tentativa de travessia do mar Vermelho. — Êx 14:24-28; veja também 1Sa 11:11.

II. Divisão Romana.

Pelo menos na época do domínio romano, os judeus adotaram a prática grega e romana de quatro vigílias noturnas. Jesus, evidentemente, referiu-se a estas quatro divisões quando disse: “Portanto, mantende-vos vigilantes, pois não sabeis quando vem o senhor da casa, quer tarde no dia, quer à meia-noite, quer ao canto do galo, quer cedo de manhã.” (Mr 13:35) A vigília “tarde no dia” ia do pôr-do-sol até cerca das 21 horas. A segunda vigília, chamada de “meia-noite”, começava por volta das 21 horas e terminava à meia-noite. (Lu 12:38) O “canto do galo” se estendia da meia-noite até por volta das 3 horas da manhã. Foi provavelmente durante este tempo que se deu o canto do galo mencionado em Marcos 14:30. Finalmente, das 3 da manhã até o nascer do sol era a quarta vigília, “cedo de manhã”. — Mt 14:25; Mr 6:48.

Numa ocasião se faz menção duma hora específica das 12 horas que constituem o período noturno. Atos 23:23 diz que foi na “terceira hora”, ou por volta das 21 horas, que o comandante militar ordenou que as tropas levassem Paulo de Jerusalém em caminho para Cesaréia.

Ao passo que os judeus iniciavam o novo dia ao pôr-do-sol, segundo o costume romano a meia-noite era o ponto fixado para o fim e o começo do dia. Isto evitava o problema resultante do prolongamento e da abreviação das horas da luz do dia por causa das estações (como ocorria quando o dia começava ao pôr-do-sol), e permitia a divisão do dia em dois períodos iguais de 12 horas o ano inteiro. Este é o costume seguido hoje na maioria das nações.

III. Uso Figurado.

A palavra “noite” é às vezes usada em sentido figurado, ou simbólico, na Bíblia. Em João 9:4, Jesus falou da vinda da “noite em que nenhum homem pode trabalhar”. Jesus referiu-se ali ao tempo de ele ser julgado, pregado na estaca e morto, quando estaria impedido de se empenhar nas obras de seu pai. — Veja Ec 9:10; Jó 10:21, 22.

Em Romanos 13:11, 12, é evidente que “a noite” se refere a um período de escuridão causado pelo Adversário de Deus, que há de ser eliminado por Cristo Jesus e seu reinado. (Veja Ef 6:12, 13; Col 1:13, 14.) Em 1 Tessalonicenses 5:1-11, os servos de Deus, que foram esclarecidos pela verdade, são contrastados com as pessoas do mundo que não o foram. Seu modo de vida manifesta que são “filhos da luz e filhos do dia. Não [pertencem] nem à noite nem à escuridão”. (Veja Jo 8:12; 12:36, 46; 1Pe 2:9; 2Co 6:14.) Uma mensagem similar é encontrada em Miquéias 3:6, onde o profeta diz aos que rejeitam a verdadeira orientação divina: “Portanto, vós tereis noite, de modo que não haverá visão; e tereis escuridão, para que não se pratique a adivinhação. E o sol há de se pôr sobre os profetas e o dia terá de escurecer-se sobre eles.” — Veja Jo 3:19-21.

A noite, em geral, é também usada para representar um tempo de adversidade, visto que ela, com suas trevas e escuridão, é a hora em que os animais selvagens perambulam, em que exércitos lançam ataques de surpresa, em que ladrões penetram furtivamente e em que se cometem outros atos maldosos. (Sal 91:5, 6; 104:20, 21; Is 21:4, 8, 9; Da 5:25-31; Ob 5) É nestes diferentes sentidos figurados que temos de entender os textos de Apocalipse 21:2, 25, e 22:5, onde se nos assegura que na “Nova Jerusalém” “tampouco haverá mais noite”.

Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante

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