SALVAÇÃO POR MEIO DE CRISTO.
Efésios 2.1-10
Hoje iniciamos um trimestre de estudos sobre a salvação. Embora esse seja um dos temas centrais de toda a Bíblia, vários cristãos têm muitas dúvidas sobre o assunto. No intuito de apresentar com fidelidade e clareza o ensino bíblico sobre a obra da salvação, esmiuçamos o tema e vamos apresentá-lo detalhadamente ao longo das lições, mostrando cada um dos aspectos desta importante doutrina bíblica. Você sabe dizer o que é a salvação? Sabe como ela é adquirida? Aliás, você sabe dizer por que precisamos dela?
1. O que é a salvação?
A salvação é a maior de todas as bênçãos espirituais que o ser humano pode receber de Deus. Apesar disso, muitas pessoas não sabem o que ela é. Isso se deve, em parte, ao caráter simplório e superficial de boa parte da educação cristã ministrada em algumas denominações evangélicas e, em parte, pela ampla divulgação de algumas doutrinas massificantes que não chegam à essência da questão. Por isso, antes de vermos o que a salvação é, veremos o que ela não é.
- Salvação não é a mesma coisa que filiação a uma denominação religiosa. Este é um pensamento popular muito comum. Muitas pessoas pensam que ser salvo significa pertencer a uma igreja. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É perfeitamente possível que uma pessoa seja membro de uma denominação religiosa por muitos anos e não tenha um relacionamento com Jesus baseado na graça.
- Salvação não é a mesma coisa que prosperidade material. As denominações adeptas da chamada “teologia da prosperidade” falam tanto sobre a prosperidade financeira que se esquecem de anunciar o perdão de pecados e da salvação em Cristo. Assim acabam transmitindo a falsa noção de que Jesus morreu na cruz para nos dar boa saúde, um bom carro, uma boa casa e para salvar nosso negócio. A mensagem da cruz fica totalmente perdida em meio às questões materiais. Jesus não morreu para nos dar bênçãos materiais e sim para nos trazer a salvação. É certo que Deus nos abençoa financeira e materialmente, dando-nos o suficiente para nossa peregrinação neste mundo, mas o cerne das boas-novas não é um carro possante, mas a salvação eterna.
- Salvação não é a mesma coisa que participação em eventos religiosos. Este também é um pensamento comum. Muitas pessoas pensam que o fato de fazerem peregrinações e romarias é sinônimo de salvação. A versão evangélica mais comum deste engano é pensar que a participação em incontáveis atividades realizadas na igreja é sinônimo de salvação. Algumas atividades eclesiásticas são realmente proveitosas e edificantes. Outras consistem apenas em um ativismo vazio. Salvação é um relacionamento piedoso com Deus baseado na graça mediante a fé e não em um ativismo religioso.
A esta altura, você deve estar se perguntando: mas afinal, o que é a salvação? Salvação é a mudança do estado de condenação em que o pecador se encontra, por causa do pecado, para o estado de bem-aventurança, para o qual é conduzido pela graça de Deus. O apóstolo Paulo menciona esta mudança de estado em sua carta aos crentes de Colossos: “Ele [Deus] nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1.13-14).
De acordo com a Escritura, a pessoa que não é redimida, que chamaremos de homem natural, vive em trevas espirituais e é merecedor da condenação de Deus por causa de seu próprio pecado (Rm 3.23; 6.23). O apóstolo Pedro menciona esta mudança de estado ao dizer que “vós sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Nós éramos trevas, porém, agora, somos luz no Senhor (Ef 5.8).
2. Por que o ser humano precisa de salvação?
Outra pergunta que precisa ser respondida no início de nossos estudos sobre a salvação diz respeito à sua necessidade: por que precisamos ser salvos? A resposta é simples: precisamos desesperadamente de salvação porque esta é a única maneira de termos nossa comunhão com Deus restaurada e, também, de escaparmos da condenação do inferno.
A Escritura afirma com muita clareza que todos os seres humanos são pecadores (Rm 3.23; 5.12). Portanto, todos nós somos igualmente merecedores da retribuição correspondente ao pecado. De acordo com a Escritura, esta justa retribuição é a morte (Rm 6.23) no seu sentido mais profundo e abrangente: morte física, morte espiritual e morte eterna. Isso implica no total rompimento de nossa comunhão com Deus.
- Morte física. Desde tempos imemoriais, as pessoas nascem, crescem e morrem. Devido à regularidade desse processo, já devíamos estar acostumados com a morte física. No entanto, ela continua sendo motivo de tristeza e dor. Ela sempre nos abate, causando o mais profundo pesar. Isso se explica pelo fato de o ser humano ter sido criado para viver, não para morrer. A morte é uma invasora em nosso sistema, por isso sempre a vemos com estranheza e dor. O ser humano foi criado para desfrutar da vida abundante que Deus havia preparado para ele no jardim, em plena comunhão com seu Criador. O pecado, porém, fez com que ele se tornasse merecedor da morte, que era o castigo previsto no caso de desobediência. Pela sua misericórdia, o Senhor não tirou a vida física de Adão e Eva imediatamente depois da realização do primeiro pecado. Ele permitiu que aquele casal vivesse por muitos anos depois disso e visse seus filhos e netos. Contudo, no momento em que o primeiro pecado foi cometido, a morte entrou no mundo (Gn 3.1-19).
- Morte espiritual. Paulo começa o relato de nosso texto básico dizendo que “ele [Cristo] vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados” (Ef 2.1). O pecado provoca uma separação entre nós e Deus. Morte espiritual é exatamente isso: separação de Deus (Is 59.2). Certamente essa é a mais terrível de todas as consequências. Deus é a única fonte de toda luz, de todo bem e de toda vida. Por isso, quando nos separamos dele por causa do nosso pecado, entramos em um estado de morte espiritual. A reversão deste estado de morte para a vida que há em Cristo Jesus é o que chamamos de salvação.
- Morte eterna. Este é um dos ensinos bíblicos mais combatidos em nossa época. A mentalidade pós-moderna de nossos dias não suporta a ideia de um castigo eterno. No entanto, a existência do inferno é um claro ensino bíblico. A pessoa que permanece espiritualmente morta durante toda a sua vida, isto é, o pecador que não recebe a salvação, vai para o inferno. A condenação ao inferno é o modo como a Escritura descreve a realidade além-túmulo daqueles que morrem sem se renderem ao amor e à justiça de Deus. Para descrever esta realidade terrível, a Escritura usa uma linguagem figurada, termos simbólicos, que retratam os horrores da punição mais severa que se pode imaginar. No entanto, embora a linguagem seja figurada (ranger de dentes, lago de fogo e enxofre, etc.), o fato que ela descreve é real. O inferno é um lugar real onde os que não forem salvos estarão eternamente separados de Deus. O próprio Jesus fala sobre a realidade do inferno muitas vezes (Mt 5.22,29-30; 10.28; 11.23; 16.18; 18.9; 23.15,33).
3. A salvação é um dom de Deus
Outra pergunta que surge imediatamente quando abordamos o tema da salvação é: Como a salvação acontece? A salvação é um dom de Deus, algo que ele dá de graça. Aqui também precisamos mencionar algumas opiniões bem populares que não encontram fundamento na Bíblia.
- A salvação é uma recompensa que recebemos de Deus pelas boas obras que praticamos. Esta é uma opinião muito comum, especialmente entre os espíritas. Ela se baseia em uma ideia de mérito entre a pessoa que pratica as obras e o oferecimento da salvação. No entanto, quando Deus nos dá o que merecemos, ele nos dá a punição eterna, afinal de contas, todos nós somos pecadores. Ao nos dar a salvação, Deus não nos trata como merecedores dela, mas nos concede uma bênção à qual não temos direito. Esse é exatamente o conceito de “graça de Deus”. Paulo afirma isso ao dizer: “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9).
- A salvação pode ser comprada. Esta também é outra opinião muito comum. Ela se baseia na ideia, consciente ou não, de que quem dá a salvação não é Deus, mas uma instituição chamada igreja. Ninguém pensaria em comprar de Deus a salvação, pois ele já tem tudo, mas comprar da igreja. Essa prática foi muito comum na Idade Média, quando vendedores de indulgências saíam pela Europa vendendo documentos eclesiásticos que supostamente asseguravam o perdão de pecados em troca de uma quantidade de dinheiro. A ideia era pagar na terra por uma bênção celestial a ser desfrutada depois da morte.
João Tetzel, um monge dominicano que se destacou como o maior vendedor de indulgências da Europa, tem uma frase famosa que diz: “Assim que a moeda bate no fundo do cofre, uma alma sai do purgatório”. Esta prática de trocar dinheiro por bênçãos tem suas ramificações também nas igrejas evangélicas de nossos dias. Não se trata mais de pagar pelo perdão e pela salvação, mas por bênçãos terrenas. A prática é pagar aqui para que, do céu, sejam enviadas bênçãos temporais. É essa ideia que está por trás, por exemplo, das “banquinhas de oração”. O cliente/fiel paga uma quantia em dinheiro (geralmente de 5 a 10 reais) e a pessoa faz uma oração por ela e ainda anota o nome dela para orar depois, na companhia de outros membros da igreja ou dos pastores. Isto é venda de orações!
De acordo com nosso texto básico, a salvação é um dom de Deus (Ef 2.8). Ela é oferecida graciosamente, é de graça. Não podemos merecê-la com nossas obras nem pagar por ela com nossos recursos financeiros. Ela é dada graciosamente por Deus. Tudo o que precisamos fazer é aceitá-la pela fé, que também é dada por Deus.
Conclusão
A salvação é a ação de Deus que nos tira do império das trevas e nos conduz graciosamente ao reino de seu Filho. Esta salvação oferecida graciosamente por Deus em Cristo é a única solução para o problema do pecado e o único recurso dado por Deus para que o homem não seja condenado ao inferno, mas desfrute da eterna e gloriosa comunhão com seu Senhor.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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