REBELDIA DE UM FILHO A QUE LUGAR O LEVA?
“O filho insensato é tristeza para seu pai, e amargura para quem o deu à luz” (Pv 17.25). Insensata é uma pessoa sem bom senso, sem juízo. Nada mais entristece os pais do que ter na família um filho que não assume responsabilidades e que frequentemente lhes dá aborrecimento. Uma sensação de frustração toma conta do coração dos pais. É importante que os filhos entendam que os pais têm dificuldades, pela falta de preparo para educar filhos. Por mais errados que sejam, eles estão fazendo o melhor tentando acertar. Por outro lado, os filhos devem entender que as expectativas dos pais sobre eles são inevitáveis. Por mais realistas que sejam, por mais atentos a esse perigo, os pais sonham com seus filhos e com o que esperam que eles sejam no futuro. Não há pai ou mãe que não o faça. Mesmo os que reclamam hoje dos seus pais, amanhã farão o mesmo com os seus filhos. Quando a realidade é diferente, os filhos precisam dar um tempo até que tudo seja refeito na cabeça dos pais. É um processo longo e muitas vezes difícil. Alguns nunca superam. O que um filho pode fazer para honrar os seus pais?
1. Diálogo: Manter o canal de comunicação aberto na família é importante. Conversar sobre o que acontece nem sempre é tão fácil, mas ajuda. Há filhos que são tão individualistas, que acham que o que lhes acontece não interessa aos pais. Não conseguem entender que família é um por todos e todos por um.
2. Plano de vida: É importante para os pais sentirem que os filhos têm um plano de vida e estão lutando para conseguir executá-lo.
3. Compromisso com Deus: Numa família cristã, o maior desejo dos pais crentes é que seus filhos tenham como prioridade o compromisso com Deus. Não significa que eles necessariamente atuem na área religiosa, mas que em qualquer profissão que abraçarem, o primeiro compromisso seja o de fidelidade ao Senhor.
4. Introjeção de conceitos adquiridos: Tudo o que for ensinado durante a infância e adolescência, espera-se que os filhos coloquem em prática. Especialmente valores morais e espirituais.
5. Reformulação de conceitos: Pais abertos ao crescimento terão algumas vezes de reformular conceitos para melhor adaptação no relacionamento familiar. Não quer dizer jogar tudo fora, mas parar para pensar: “até onde o meu ponto de vista trará benefícios para meus filhos?” Os filhos podem ajudar os pais nesta caminhada.
O texto de Efésios 6.4 sugere que os pais têm sua parte nesta parceria. Enquanto os filhos honram os pais, estes não provocam os filhos à ira, não os irritam, não os levam ao desânimo. Como os pais podem irritar os filhos?
1. Falta de diálogo: Os pais irritam os filhos quando não dão espaço para conversas, para que eles expressem opiniões, para que discordem. Quando os filhos têm espaço para argumentar e expressar seus pontos de vista (mesmo que os pais discordem), eles estão crescendo, e isto os ajudará mais tarde em sua carreira profissional. Há famílias em que o diálogo é monólogo. Só os pais falam; os filhos não têm permissão para isso. O respeito deve predominar. Opiniões diferentes não são acatadas porque há pais que julgam que isso é falta de respeito dos filhos. Numa família cristã, este espaço para compartilhar ideias deve ser cultivado, porque os filhos perceberão a visão dos pais sobre determinado problema e os pais terão a mesma oportunidade com referência aos filhos. Quando se consegue ver os problemas de ângulos diferentes, é mais fácil ajuizar-se sobre eles.
2. Comparações: Um dos grandes “pecados” dos pais é tomar alguém como modelo e querer que o filho siga o exemplo. Fazer comparações entre irmãos é uma tática comum, mas grandemente destrutiva e perigosa. Cada filho é individual e único. Não existem dois iguais. Incentivar o desenvolvimento de hábitos e valores que você considera importantes é uma coisa, mas dizer que o outro faz melhor pode provocar um sentimento de incompetência, uma sensação de desvalorização. Isso só tende a prejudicar mais tarde a autoestima e o autoconceito do filho.
3. Hipocrisia religiosa: Quando não oferecemos uma fé autêntica e compromissada com o Senhor, nós podemos irritar os nossos filhos, porque eles ficam confusos sobre o que falamos a respeito da fé, da igreja, de Deus, da Bíblia, e o que vivenciamos no dia a dia. Essa dualidade espiritual pode se tornar um ponto de irritação dos filhos.
4. Desequilíbrio conjugal: Nada irrita mais um filho do que ver seus pais sempre discutindo ou totalmente apáticos um com o outro. Não provocar os filhos à ira é oferecer-lhes um relacionamento conjugal saudável e equilibrado. Pais equilibrados, filhos ajustados.
5. Dependência: Os pais criam os filhos para a independência. Mas, para alguns pais, isso é impraticável. Provocar os filhos à ira pode significar que: 1) exigimos independência de filhos pequenos que carecem de apoio e orientação; 2) ou impedimos a independência de filhos crescidos. Este é um assunto sério, porque se os pais estão no primeiro caso podem estar levando uma criança à confusão e à insegurança total. Se estão no segundo caso, podem estar com eternas crianças sem permissão para crescerem.
Há pais que fazem chantagens emocionais com os filhos para permanecerem nessa relação de dependência mesmo depois de casados. Isso tem gerado sérios conflitos, especialmente quando entra em cena a figura da sogra dominadora.
6. Falta de incentivo: Conta o grande pintor Benjamin West, que um dia, quando pequeno, sua mãe saiu e o deixou encarregado de cuidar da irmãzinha Sally. Enquanto a mãe estava fora, Benjamin encontrou alguns vidros de tinta e começou a pintar um retrato da irmã. Enquanto fazia isso a tinta caiu pelo chão e também sobre o retrato pintado. Quando a mãe voltou, notou a confusão, mas não comentou nada. Pegou o papel manchado e disse: “Mas essa parece Sally”, e deu um beijo em Benjamin. Quando adulto, Benjamin sempre dizia: “Foi o beijo de minha mãe que me fez pintor”. Um incentivo vale mais do que uma reprovação. A falta de incentivo pode ser uma forma de irritar os nossos filhos. Há filhos que necessitam mais de incentivos do que outros. A função dos pais é suprir essas carências.
Cecil Osborne cita a história de um jovem psicólogo que escreveu um livro com o título “10 mandamentos para os pais”. Depois que nasceu o seu primeiro filho, ele revisou o livro e o publicou sob o título “10 sugestões para os pais”. Após o nascimento do quarto filho, novamente o livro foi reeditado, com o título “10 possíveis dicas para os pais”. Isso demonstra que não é tão fácil o relacionamento entre pais e filhos. Mesmo nas famílias mais piedosas e equilibradas emocionalmente os conflitos acontecem. O importante é ter consciência de que pais e filhos formam uma parceria em que o caminhar juntos é uma aventura constante. Ambos os lados crescem, ambos enfrentam dificuldades, ambos descobrem a beleza da vida, ambos ajudam-se mutuamente. Como família cristã, não há por que querer esconder-se atrás de uma cortina, dizendo que tudo vai bem no relacionamento pais e filhos, quando se sabe que isso não é verdade. No entanto, há sempre tempo para começar novas atitudes e tomar novas decisões, tanto para os pais quanto para os filhos. A pergunta aqui não deve ser o que meu pai/mãe (ou meu filho) precisa fazer para melhorar a situação, mas o que eu como filho (como pai/mãe) posso fazer para tornar esse relacionamento melhor a cada dia.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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