O DEUS QUE SURPREENDE
E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Efésios 3:19,20)
Todos os dias temos demandas do cotidiano para dar conta. Acordar cedo, deixar crianças no colégio, trabalhar, resolver problemas, atender ligações, viver a complexidade da relação à dois no casamento, contas a pagar, projetos futuros a sonhar, etc. Nessa correria, apesar da rotina, algumas surpresas boas e/ou ruins podem nos acometer. Um pneu furado, uma batida de carro, uma briga, um desentendimento, ou ainda, uma promoção no trabalho, um bom papo com o/a esposo/a, uma aprovação no vestibular e/ou concurso, a notícia de uma gravidez desejada, um novo emprego, etc. Seja nas surpresas positivas e/ou negativas, é preciso entender que não é possível vencer o dia a dia sem uma visão correta da presença de Deus em nossas vidas. O apóstolo João nos diz: “porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1 João 5:4,5). A fé no Cristo que veio ao mundo e se fez gente como a gente não é uma mera crença intelectual, mas um convite para desfrutar da presença de Jesus em todos os momentos da vida; quando tudo está bem e quanto tudo está mal.
No entanto, é preciso compreender que Jesus não é o “gênio da lâmpada” que podemos acionar a qualquer momento e em qualquer lugar para resolver todos os nossos problemas. Não é a quantidade de oração ou de frenesi religioso que pode fazer com que Deus intervenha quando o caos se instala em nossa casa, quando a doença bate a nossa porta, quando o desemprego vem, quando a depressão nos coloca para baixo, ou quando a morte nos assola ao levar um ente querido. Além disso, não é possível “criar” um ambiente de barulho, música frenética e repetitiva, gritos com vozes eloquentes, ou qualquer outra prática religiosa que tenha como intenção chamar a presença de Deus para perto.
Compreendamos que Deus age no profundo da brisa suave do seu Espírito que em nós habita (2 Reis 19:11-12). Não é necessário orar para que Ele venha ao nosso encontro e nos encha do seu Espírito e nos dê a vitória. Cristo já veio e derramou o seu doce Espírito em nós (1 Coríntios 3:6) e nos fez mais do que vencedores (Romanos 8:31). O Senhor quer ser percebido como realidade Pessoal, cotidiana e presente em todos os momentos da nossa vida quando permitimos que nosso coração seja totalmente dEle (2 Crônicas 16:9). A oração é mais um encontro para reconhecer o seu senhorio gracioso e estar na presença dEle para adorar do que um momento para pedir coisas a Ele. Um filho agrada mais a seu pai quando deseja a sua presença do que os presentes que ele pode dar. A vida cristã não pode se basear num certo triunfalismo evangélico em que o servo de Deus não fica doente, não pode perder, não pode ficar doente, ou passar pelas lutas dessa vida marcado pelo mal que afeta nosso corpo, nossa mente e nossas emoções. Somos mais que vencedores pois o “último inimigo a ser vencido” foi derrotado: a morte! (1 Coríntios 15:26). A vitória prometida por Jesus não é meramente terrena, mas a compreensão espiritual de que Ele nos deixou a certeza: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33).
Apesar disso, em nosso cotidiano Deus acaba nos surpreendendo com seus “mimos” aqui nesta vida. Não merecemos, mas a graça de Jesus é tão grande que, além de nos salvar de nós mesmos, Ele nos dá sobriedade para vivermos com qualidade de vida nesta terra. Dessa forma, precisamos viver um cristianismo que não apenas nos prepare para o céu, mas para andar com Deus aqui na terra experimentando sua luz e dando testemunho da sua glória para aqueles que estão ao nosso redor. Não tivemos a experiência do ladrão da cruz, salvação e caminho direto para a eternidade. Somos convidados a caminharmos com Jesus no dia a dia e depender de sua Palavra e presença para agirmos conforme sua vontade que é o melhor para nós (Romanos 12:1-2).
Deus nos surpreende com as coisas que menos esperamos dEle quando aprendemos a amá-lO por aquilo que Ele é e não por aquilo que Ele pode nos dar. Além do mais, Jesus nos surpreende para que, ao compreendermos como indivíduos, na dimensão da coletividade, a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Jesus, possamos surpreender a outros com a luz da graça (Efésios 2:8-10). Cristo não é a solução para todos os nossos problemas materiais e financeiros, mas a solução para o nosso maior problema: nosso desligamento de Deus (2 Timóteo 2:5). Se todos os problemas da raça humana são de cunho espiritual (Romanos 6:23) e são refletidos na dimensão relacional (Provérbios 27:15 comp. Gênesis 4), quando nos aproximamos de Jesus, Ele nos devolve a sanidade mental/espiritual, de tal forma que aprendemos a viver melhor nesta vida hoje e podemos ajudar a outros.
Quando estamos preocupados demais com os nossos problemas, vivemos um mundo egoísta que nos traz insatisfação e busca ensimesmada. Contudo, ao percebemos todos os dias que Deus nos surpreende pela graça com aquilo que não merecemos, começamos a sair de nós na direção do outro e podemos experimentar a cura. Olhamos ao nosso redor e podemos perceber o quanto o Pai de amor nos tem dado. Paramos de olhar o que achamos que falta e percebemos tudo aquilo que já somos e temos pela graça de Deus. Surpreender pessoas com um gesto do amor de Deus pode nos fazer experimentar grandes surpresas de Deus! Assim, o amor de Deus, a família, a casa, o trabalho, os amigos, os vizinhos, o Grupo de Relacionamento (GR), os grupos de apoio, o lazer, enfim, tudo que temos e somos, começa a ter um colorido mais bonito. Assim, podemos celebrar cada dia quando Jesus nos surpreende com um novo dia para viver, conhecer um pouco mais do seu amor, sabendo que Ele é “poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” para que possamos dar glórias ao seu nome e atrair outros para/com o amor de Jesus.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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