A cidade e o povo de Colossos
Colossos ficava na região sul da antiga Frígia (oeste da Turquia moderna) no vale do rio Lico. Em tempos anteriores aos dias de Paulo, autor da epístola, sabe-se que Colossos foi uma grande cidade, a qual conseguiu impedir o avanço das tropas militares do rei Xerxes. Sua importância econômica na época da epístola se resumia à fabricação de lã de carneiros, que eram pastoreados nos encostos do vale do Lico. O nome "colossense" era usado para designar uma cor específica (colossinus) de lã tingida.
Mas Colossos perdeu sua grandiosidade enquanto cidade após influências políticas pelo império romano. Laodicéia, situada a oeste de Colossos, por ter se tornado sede da administração romana, passa a se desenvolver mais rapidamente em todos os quesitos,fazendo de Colossos uma cidade de segundo e terceiro plano. Após o terremoto de 60-1 d.C., Laodicéia e Colossos foram destruídas, todavia, somente Laodicéia, apesar de não receber ajuda financeira externa, conseguiu se reerguer. Colossos jamais se reconstruiu como antes do terremoto. Além do mais fontes afirmam que Colossos sofreu mais abalos sísmicos nesta mesma época.
Devido às mudanças nos cenários econômicos, Colossos passa a depender das cidades vizinhas. Estas, por sua vez, sofreram fortes mudanças culturais. Dentre essas mudanças as religiões se transformaram completamente. A região da Frígia era marcada pela predominância de dois objetos (deuses) de culto: A deusa Cibele e a deusa Íris. A primeira era asiática e a segunda africana. O fato é que o culto a estas era marcado pelo êxtase e alegria excessivos. Também faziam parte o rigor ascético e a circuncisão. A circuncisão veio após a infiltração do judaísmo juntamente com sua teologia monoteísta, que causou um sincretismo religioso no povo colossense após o advento do cristianismo primitivo.
Com o nascimento da ideia monoteísta religiões do império adotam, cada uma, o seu deus. Apolo, Íris, Cibele, Osíris, Dionísio, Asclépio, etc são alguns dos nomes destes deuses. É nessa cultura mística e extasiante que nasce o culto ao "Deus Altíssimo" (hypsitos Theos).
Para um povo formado de indígenas frígios e gregos, de cultura involuída em sua história, em ascensão religiosa do judaísmo no âmbito de uma fusão de culturas helenistas com o rigor da religião frígia juntada a elementos religiosos iranianos e a características de um ensinamento sapiencial dos cultos de mistério é que Paulo escreve sua epístola ensinando a verdadeira e correta leitura do cristianismo para os colossenses.
A Igreja em Colossos
Segundo Atos 19.10 Paulo é o responsável pela propagação do Evangelho do Senhor na região da Ásia devido à passagem "todos os habitantes da Ásia ouviram a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos". Contudo Paulo nunca teve contato com os colossenses ao menos até o dia da composição da carta (1.4 e 2.1).
O Evangelho foi pregado por Paulo em Colossos provavelmente através de Epafras. Esse era nativo da região (4.12), tinha um bom relacionamento com os crentes dali e com os apóstolos (4.13), além de ser um bom ministro do Evangelho (1.7) e de compartilhar da prisão de Paulo (Fm 23). Devido à sua prisão a carta não pôde ser entregue por Epafras. A responsabilidade foi confiada a Tíquico (4.7-8) o qual também ficou responsável por consolar a igreja de Colossos acerca da prisão de seu pastor.
A ocasião da carta e data de sua escrita
Quando Epafras veio ter com Paulo na prisão este relatou que a igreja de Colossos estava correspondendo bem à instrução dos apóstolos (1.6) e que estavam firmes na fé (2.5-7). Para alguns estudiosos da epístola, a igreja de Colossos era muito nova, sendo esta de semanas ou, em muito, de meses de idade. Para estes 14 versículos (1.4, 5, 6, 7, 8, 9, 21, 22, 23; 2.1, 2, 5, 6, 7; 3.7, 8, 9, 10) sustentam alusões diretas à conversão dos colossenses.
Mas sobre a real questão sobre a origem da carta até hoje não se sabe ao certo. Paulo escreve em resposta às queixas de Epafras sobre uma ameaça à fé dos colossenses, ameaça esta que não se sabe, uma vez que, na carta, só se tem a refutação de Paulo frente esta ameaça. Estas advertências podem ser constatadas em 2.4, 8e 2.16.
Há ainda um pequeno grupo de estudiosos que discutem a carta ser um pseudônimo (alguém que fala por Paulo) de Paulo, o que era comum para a época. Para este grupo a heresia que ameaçava a igreja de Colossos, a qual foi refutada na epístola, possui traços de um desenvolvimento teológico pós-paulino. A linguagem na epístola, segundo os estudiosos, está longe de ser paulino. Além do mais, segundo eles, não se sabe se a epístola foi escrita nas primeiras prisões de Paulo (década de 50), ou em prisão posterior (década de 60), ou até mesmo após sua morte (ideia remota).
A ameaça à fé
Quase nada se sabe sobre a heresia que ameaçava a igreja de Colossos. Poucos indícios são encontrados na epístola. Todavia alguns versículos deixam códigos e senhas para que se entenda um pouco a situação em que se encontrava a fé cristã de Colossos frente a esta heresia: Os respectivos versículos são:
1.19 Porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude
2.18 Pretextando humildade e culto a anjos
2.21 Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro.
2.23 Rigor de devoção e auto-humilhação e severidade ao corpo
Estes versículos apontam para uma seita teosófica: Fala-se com mistério das coisas ocultas mas com uma determinada ciência e sabedoria. Muitos estudiosos da era primitiva da igreja mencionam que havia em Roma, uma religião com traços que se identificam com os versículos acima. Essa religião é conhecida como gnosticismo. Contudo o gnosticismo só se torna uma religião conhecida após 122 d.C., o que deixa claro que não é ainda esta religião que é descrita nos versos acima. Mas apesar de o gnosticismo ser a religião combatida por Paulo ainda fica a possibilidade de ser o nascimento desta na região de Colossos, nascimento este conhecido como proto-gnosticismo. Estudiosos apontam que no proto-gnosticismo já haviam compreensões que se encaixam nas refutações de Paulo na epístola.
O gnosticismo crê que existe um desejo eficaz de se ter relacionamentos com o Poder que se manifesta no universo. Para o gnosticismo a plenitude de Deus é distribuída por uma série de emanações do divino, estendendo-se do céu à terra. Estes "eões", ou elos, ou rebentos da divindade deviam ser venerados e homenageados como "espíritos elementares" ou anjos, ou deuses, que habitavam nas estrelas. Regem o destino dos homens e controlam a vida humana, e detém no seu poder a entrada no reino divino. Cristo é um deles, mas apenas um entre muitos.
Se realmente for o proto-gnosticismo a heresia que atormentava a fé cristã dos colossenses fica fácil compreender certas passagens da epístola. Para uma pessoa ter contato com esta plenitude divina geralmente o adepto se entregava a uma disciplina ascética rigorosa de abnegação. Abstinha-se de comidas e bebidas; observância dos ritos de iniciação e de purificação; e possivelmente uma vida de celibato e de mortificação do corpo humano. Tudo isso é combatido por Paulo (2.20-23). Entretanto ainda não se pode afirmar que é o proto-gnosticismo a heresia que ameaçou a fé dos colossenses.
A filosofia colossense
Dois termos são usados para identificar o falso ensino introduzido em Colossos: "Filosofia" (2.8) e "piedade forçada" (2.23). Tais palavras herdam da astrologia persa-caldeia, dos mistérios orientais-helenistas e da especulação gnóstica elementos teológicos, demonológicos e termos achados nos conceitos astrais dos mesmos. Paulo trabalha essa "filosofia" empregando algumas palavras como: Stoicheia, o culto da veneração aos anjos e a defesa da "humildade" como parte da "severidade ao corpo".
a) Stoicheia (2.8, 20): O significado mais preciso é "objetos que ficam numa fileira ou que formam uma série". O exemplo primitivo para se explicar esse termo é o alfabeto: Colocando letra por letra até formar uma linha com uma escrita inteligível ao homem. Aprimorando a explicação do termo é como se o universo obtivesse uma possibilidade de organizar as coisas para a melhor explicação do mesmo. Para isso necessita-se inteligência, pré-condicionamento e sabedoria.
Estas Stoicheia eram usadas pelos primeiros filósofos como tentativa de explicar o acaso, o oculto. Para eles a criação possui um sentido que só pode ser encontrado quando esse oculto se revela. Assim, basta ao homem se entregar em humildade e sabedoria para entender. Sendo assim, Paulo luta para explicar aos colossenses que tudo foi criado pelo Cristo cósmico (1.16, 17) e que essas Stoicheia nada mais são do que conceitos tiranos e astrológicos que tentam controlar as vidas humanas como joguetes do destino.
O apóstolo trabalha então a questão de que Cristo possui vitória sobre esses agentes demoníacos (Stoicheia) (2.15) e na liberdade do cristão diante deles (2.20). Todas as coisas estão sujeitas a Cristo (1.15ss) logo a plenitude das coisas está em Cristo e não nestas forças cósmicas (1.19; 2.9). Quanto às referências sobre a circuncisão em 2.11 e sobre a dieta e calendário de 2.16 não têm ligação com o judaísmo a não ser questões referentes ao sábado. A palavra Stoicheia usada em Colossenses é diferente em significado e sentido da de Gálatas 4.8-10, já que este último é referente aos judaizantes. (ver meu artigo sobre a epístola de Gálatas). A prática do ascetismo fazia parte da disciplina e sobre o "culto dos anjos" (2.18) à filosofia do sistema teosófico que venerava divindades que habitavam nas estrelas.
b) A alusão em 2.18 ao "culto dos anjos" parece vir de judeus sectários de Colossos com uma angelologia altamente desenvolvida e pouco ortodoxa. O que sustenta essa teoria sobre sectários judeus são as descobertas das cavernas de Qumrã, onde se encontrou relatos de um judeu desta época que praticava rituais tipicamente judaicos mas com características altamente individualistas que adotavam crenças e padrões ebionitas judaicos-cristãos com uma angelologia diferenciada. Paulo combate tal culto em 2.15 e 2.20.
c) Havia uma espécie de doutrina platônica que separava o Deus supremo da criação. Para contato com esse Deus é preciso que o homem se liberte da influência maligna e das coisas materiais. Juntamente com esse platonismo os Colossenses eram submetidos a duas rotas para a "libertação" do mal: Uma era a negação de tudo que era considerado carnal e material, já que para este grupo gnóstico o corpo possui tendências lascivas, instintos e apetites (que fazem parte da matéria) que são prejudiciais e atrapalham o homem na sua busca por salvação. Nasce então em Colossos a tendência ao ascetismo rigoroso, onde o homem se privava de alimentação, desejos e até mesmo da relação sexual entre marido e mulher. Diante disso Paulo adverte os colossenses a não se privarem para aquilo que já não mais serve (2.21-23). Paulo alerta que tais práticas são usadas para preparar o iniciado a entrar num estado de transe para conceber visões celestiais (2.18) e que são nada mais que conhecimento vão e que servem apenas, mesmo parecendo contraditório, para enfatizar as obras da carne. Tais práticas parecem ter ligação com o legalismo judaico já que indícios são encontrados em 2.11, 16, 21-22.
Já a outra rota para "libertação" do mal não se destaca tanto na epístola, mas estudiosos conseguiram destacá-la. Esta prega que como o corpo é indiferente às questões religiosas não precisava de observâncias a ele. Logo abria uma espécie de libertinismo, dando a liberdade incondicional para seus adeptos para que realizem todos os desejos que acharem necessários. Essa rota para a suposta "libertação" pode ser vista sendo combatida por Paulo na passagem do capítulo 3.5-11. Sendo assim, Paulo busca um equilíbrio na sociedade colossense.
Conclui-se então que a região da Frígia era uma região que possuía tanto um contato com o judaísmo de livre pensamento (da Dispersão), quanto ideias especulativas das religiões de mistério gregas buscando uma relação entre si.
Paulo e seu objetivo
Após entender, mesmo que de forma simples, a doutrina que permeava os ensinos em Colossos, podemos então ter idéia da dimensão e propósito do ensino de Paulo aos colossenses em sua epístola. Eis a seguir um resumo das principais posições do apóstolo:
a) Seu ensino tem uma ênfase cristológica. Para Paulo a falsa doutrina corta a comunhão do homem com Deus. Cristo é que é o intermediador entre ambos. Cristo é o cabeça da igreja (2.19). Para Paulo o erro é tanto teológico, por colocar Cristo como mais um mediador como os demais, quanto prático, por despertar a incerteza religiosa ao dizer que Cristo não possui a “plenitude da vida” (2.9-10).
Paulo busca trabalhar a inter-relação entre o Senhor e a Igreja. Em 1.15-20 Paulo demonstra que Deus é o agente cósmico da Criação (1.15-17) e quem restaura a harmonia entre Ele mesmo e sua Criação (1.18-20). Portanto para o apóstolo não é possível qualquer intervenção entre Cristo e Deus, e entre Cristo e o mundo e a Igreja.
A obra reconciliadora de Cristo em Colossenses destaca Cristo como responsável pela existência de tudo (1.16) e como vitorioso após sua morte e ressurreição, tornando-se o soberano sobre todas as hostes demoníacas, angelicais e poderosas do mundo (2.10). Sua ressurreição o tornou preeminente (1.18) tendo ganho a vitória sobre todos os poderes malignos que o homem do I século mais temia (2.15). Logo Paulo mostra que Deus, por mais que seja santo e/ou espiritual, não é inacessível como o gnosticismo pregava e que Jesus, apesar de sua santidade, também foi homem, não negando sua matéria; seu corpo.
b) Paulo apela para a separação do “ministério dos homens” (2.22) do ministério da verdade” (2.6ss). Após traduzir o grego para as línguas da atualidade perdeu-se a qualidade nas palavras de Paulo. Há um jogo de significados nestas quando Paulo as emprega. Paulo usa Paradosis (2.8) e Didaskalia (2.22) para se referir aos ensinos humanos e Parelabete, Paradidonai (p.e. 1 Co 11.23, 15.3) e Edidachthête (2.7). Paulo demonstra que por mais que haja sabedoria nos ensinos ocultos e gnósticos eles são apenas ensinos humanos em comparação com o verdadeiro ensino que vem de Cristo.
c) O apóstolo Paulo vê os tabus dietéticos e práticas ascéticas como uma ameaça à carta magna do cristianismo que é a liberdade do cristão que está na morte e ressurreição de Cristo. Para Paulo a verdadeira qualidade do cristão é viver sem o embaraço de regras ou regulamentos feitos por homens (2.22), os quais pertencem à sombra do que havia de vir e que agora se torna passado (2.17).
Paulo coloca que a verdadeira “religião” é Cristo e o motivo principal da moral é uma experiência de morte e ressurreição (simbolizada numa morte de fé no batismo) em que a velha natureza morre para o próprio-eu e para o pecado, e a nova natureza é recebida como uma dádiva de Deus (2.11-13; 3.9-12). Essa nova humanidade é Cristo-vivendo-no-Seu-corpo, a Igreja, que fornece a definição da moralidade como também o poder motivante de se viver como uma família de Deus. Os conselhos de Paulo no capítulo 3 exortam os cristãos a buscarem uma auto-disciplina verdadeira e uma relação verdadeira entre os relacionamentos na igreja e na sociedade, que são chamados “em um só corpo” (3.15), sendo que o amor dá coerência a todas as qualidade éticas que caracterizam esse novo estilo de vida (3.11, 12).
Sobre a autenticidade da carta
Fica claro na epístola que Paulo não possuía com os colossenses a mesma intimidade que ele tinha com os gálatas. Paulo era mais íntimo destes uma vez que ele fundou a igreja e nutria uma grande responsabilidade por eles (Gl 1.6; 4.12-20) o que lhe permitia um diálogo mais doutrinário e ríspido, com exortações severas e posicionamento rígido. O que não é o mesmo com a igreja de Colossos, já que Paulo os conhecia apenas de longe. Mas nem por isso Paulo deixou de ensinar aos colossenses a doutrina cristã. Contudo o apóstolo se deteve apenas em combater a falsa doutrina, nada mais.
Data da epístola
Não se tem muita precisão sobre quando a carta foi escrita já que não se tem conclusões do lugar onde Paulo esteve preso. Se foi em Roma o local de sua prisão tem-se uma data no início dos anos 60. Mas se for outra cidade provavelmente a data será no final dos anos 50.
Esboço de Colossenses
I- Introdução 1.1-14
A. Saudação 1.1-2
B. Oração de louvor pela fé dos colossenses 1.3-8
C. Oração de petição pelo crescimento deles em Cristo 1.9-14
II- Apresentação da Supremacia de Cristo 1.15 - 2.7 A. Na Criação 1.15-17
B. Na Igreja 1.18
C. Na Reconciliação 1.19-23
D. No Ministério de Paulo1.24 - 2.7
III. Defesa da Supremacia e Suficiência de Cristo 2.8-23
A. Contra a Falsa Filosofia 2.8-15
B. Contra o Legalismo 2.16-17
C. Contra o Louvor aos Anjos 2.18-19
D. Contra o Ascetismo 2.20-23
IV- Supremacia de Cristo exigida na Vida Cristã 3.1 - 4.6
A. Em Relação a Cristo 3.1-8
B. Em Relação à Igreja Local 3.9-17
C. Em Relação à família 3.18-21
D. Em Relação ao Trabalho 3.22 - 4,1
E. Em Relação à Sociedade Não-Cristã 4.2-6
V- Conclusão 4.7-18
A. Companheiros de Paulo 4.7-9
B. Saudações Finais 4.10-15
C. Exortações e Bênção Finais 4.16-18
A epístola de Colossenses para a atualidade
Os "falsos mestres" colocaram uma barreira entre o povo de Colossos e Deus. E essa barreira só era vencida através do ascetismo exagerado e/ou pela entrega à sorte permitindo a libertinagem, porém esta última não foi tão forte quanto a primeira. Diante disso Paulo ressalta a figura de Cristo como o mediador entre o homem e Deus, explicando que Ele está acima de toda a criação. Ele é destacado como o cabeça da Igreja pelo derramar de seu próprio sangue em favor de todos (1.15-20). Essa combinação de explicações deixa claro que qualquer tentativa meritória para se alcançar Deus, tal como o ascetismo, é vã, sem conclusões e tola.
Em algumas igrejas cristãs são encontrados alguns tipos de ascetismos que são extremamente exagerados. Algumas pessoas deixam de comer por dias, outras sem ingerir qualquer tipo de líquido, e algumas cometem até mesmo o suicídio social, se retirando por completo da teia social que permeia a todos. A prática disso ainda não é o problema, no sentido cristão da coisa. O problema é quando tais práticas buscam uma justificação ou pagamento pela salvação alcançada. A carta de colosenses é contra isso.
Outro problema é quando se tem a ideia de que o corpo humano é a raiz do mal, ou quando o corpo humano (carne) é impura ou o próprio mal. É nessa epístola que se encontram passagens que vão contra tais pensamentos. Primeiro é o fato de Paulo dizer que Cristo veio como homem (1.15-20) e é neste que se encontra toda a sabedoria e conhecimento (2.3). E é em Cristo que os crentes recebem a plenitude (2.10) ainda em vida, ou seja, na carne. O maior sacrifício está no morrer para ele (2.20) e ressuscitar com ele (3.1). Logo, o que se destaca é o amor de Cristo, ainda em carne, para com os seus, chegando até derramar seu próprio sangue.
Ainda nos dias de hoje, apesar do crescente ceticismo que permeia a sociedade ocidental, existem igrejas e, em especial no Brasil, que ainda acreditam que poderes malignos são, ou mais fortes, ou do mesmo nível dos poderes divinos. A demonstração disso pode ser vista nos teatros feitos pelos evangelistas do Brasil onde a figura de Satanás está em pé de guerra com Jesus, onde aquele é derrotado por este após sua morte na cruz. Sabe-se que essa ideia é, de certa forma, inconsciente no meio evangélico brasileiro, mas também é inegável. Sabe-se que Jesus sempre foi o mesmo; é imutável e acronológico (fora do tempo). É diante dessa ideia de super-poderes das trevas que Paulo destaca a supremacia e preeminência de Cristo sobre TODA a criação, desde o pó, passando sobre anjos e demônios, até a humanidade.
O fato de Paulo não conhecer os colossenses em carne e osso (2.1) serve para mostrar o quanto é importante enxergar que todos os crentes formam uma única igreja. Numa era onde o individualismo e o sistema tribal tem se instalado, a releitura da epístola se faz necessária. Essa ênfase que Paulo dá à unidade da igreja fica também as ricas instruções de Paulo para esposos e esposas, filhos e pais, e escravos e senhores (3.18 - 4.1) para o aprimoramento da unidade. Essas orientações se dividem em dois grupos: Família e Trabalho. E são esses dois grupos que mais têm sofrido degradações nos últimos tempos. A família é algo que já não mais tem valor na sociedade pós-moderna. E o trabalho já não é respeitado nem pelos patrões, que exigem além do possível de seus funcionários, e nem pelos funcionários, que desonram sua posição de empregado se tornando um baderneiro, ladrão ou irresponsável quando este defrauda seu local de trabalho.
A degradação da família e do trabalho tem a ver com as filosofias de vida presentes nos dias de hoje. Sempre em todas as gerações cristãos sofreram, sofrem e sofrerão tentações em adequarem ao novo sistema pregado pela nova ordem do mundo. E assim como foi na época da epístola de Colossenses, assim também deve ser hoje. Todos não devem desprezar os ensinos de Paulo quando este diz que nenhuma filosofia venha tomar lugar de Cristo. É sempre oportuna a advertência paulina sobre "filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo" (2.8). Ao mesmo tempo deve-se dar ouvidos às advertências sobre práticas religiosas que desviam a atenção, a observância de festas religiosas que detraem daquilo que é fundamental (2.16) e o costume de fazer das regras a essência da religião (2.20-21). Essas práticas geram uma humildade falsa e na realidade promovem a falta de espiritualidade (2.18). Nada pode compensar a perda de contato com a Cabeça da Igreja (2.19) que é Cristo Jesus, Nosso Senhor.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante
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