PROVÉRBIOS DE SALOMÃO...
Introdução ao Livro de Provérbios – A aliança aplicada no cotidiano
O povo hebreu era regido pelo código da Aliança. Embora o livro de Provérbios não cite claramente este tema, isso fica evidente na maneira como o autor aplica os fundamentos da fé em uma grande variedade de situações do dia a dia do israelita. O livro de Provérbios se aplica como um comentário estendido das leis as aliança, cuja ênfase era o amor (Lv. 19:18; Dt. 6:5).
A lei da aliança exigia obediência irrestrita aos seus termos, e Provérbios chama esta obediência de “o temor do Senhor” (Pv. 1:7; 2:5; 9:10). O livro de Provérbios destaca a reverência, a gratidão e o compromisso com Javé nas atitudes corriqueiras do povo hebreu.
O sábio, no antigo oriente médio, e também na sociedade israelita, junto com o Rei, sacerdotes e profetas, formava a corte real. O livro de Provérbios representa o legado destes sábios, produzido pela observação e reflexão das coisas simples da vida.
O termo hebraico para provérbio (מָשַׁל – Mashal) significa, entre outros conceitos, comparação, código de conduta ou descoberta da verdade.
Salomão é tido como o grande autor do livro de Provérbios e isso pode ser atestado pelo relato em I Reis 4:29-34. Ele escreveu por volta de 3 mil provérbios e 1005 cânticos. Porém ele não é o único autor dos adágios que formam o livro de Provérbios, pois são citados também os nomes de Agur e Lemuel. Não se tem muitas informações acerca destes homens, mas é provável que fossem de alguma tribo no norte da Arábia, se traduzirmos o termo massa’ (משא) em Pv. 30:1 como nome próprio do lugar e não como “oráculo”. Esta teoria é plausível, pois reforça a abrangência internacional de Salomão e da sua sabedoria.
A compilação final do livro de Provérbios é datado do século VI a.C., pois o capítulo 25 menciona a edição dos provérbios de Salomão pelos servos do rei Ezequias, que reinou entre os séculos VIII e VII a.C., indicando que o livro não estava pronto neste período.
A composição dos provérbios não sofreram interferência da história hebraica, pois seu valor prático ultrapassa o conceito temporal de história. A função de Israel de ser benção para todas as famílias da Terra dependia de uma liderança obediente à aliança, firmada sobre os pilares da família (ou clã/tribo), a corte real e as escolas de sabedoria. Estes sábios eram os responsáveis por instruírem os jovens a uma conduta de caráter em seu dia a dia.
Os provérbios eram responsáveis também pela manutenção econômico-social da comunidade hebraica, assegurando o direito dos pobres e necessitados (Pv. 31:8-9). Ademais, o rei era desafiado a executar princípios de justiça e integridade (Pv. 20:28; 24:21; 25:2-7).
Estrutura de Provérbios
O livro de Provérbios pode ser dividido da seguinte maneira:
- Parte I: A sabedoria deve ser a filosofia de vida do discípulo em virtude de sua essência e excelentes resultados – 1:1 – 9:18
- Parte II: Provérbios de Salomão – 10:1 – 22:16
- Parte III: Provérbios dos sábios – 22:17 – 24:34
- Parte IV: Provérbios de Salomão organizados pelos servos de Ezequias – 25:1 – 29:27
- Parte V: Provérbios de Agur (organizados por Salomão?) – 30:1-33
- Parte VI: Provérbios do rei Lemuel (organizados por Salomão?) – 31:1-8
- Parte VII: Personificação dos provérbios na esposa ideal – 31:10-31
Em virtude do livro de Provérbios ser formado por coleções de adágios ao longo de três séculos, não é possível dividir seu conteúdo de forma sistemática. Contudo, podemos identificar ao menos três grandes blocos em Provérbios:
- Os discursos de sabedoria – 1 a 9
- Coleções de provérbios (Salomão e sábios) – 10 a 29
- Apêndice de provérbios de Massá – 30 a 31
A introdução em 1:1-7 serve de chave interpretativa para todo o livro de Provérbios, pois apresenta o objetivo dos ensinamentos contidos em toda compilação. Os discursos, em geral, desenvolvem o tema apresentado na Introdução. Quem deseja a verdadeira sabedoria deve temer a Deus, que está implicitamente relacionada com a aliança de Javé com Israel (6:16-19). Estes discursos utilizam figuras de comparação da conduta do sábio com o destino dos ímpios (4:10-19).
As coleções de provérbios explicam como Javé forma a conduta do justo, ou sábio, a partir de uma exposição da Torá aplicada no cotidiano.
Os apêndices ao fim do livro (capítulos 30 e 31) repetem alguns temas tratados anteriormente e apresenta os resultados do temor do Senhor de forma prática ao mostrar o exemplo da esposa ideal. Além disso, estes adágios apresentam a dimensão social da sabedoria ao destacar o direito dos pobres e marginalizados (31:8-9).
Com relação à forma dos provérbios são elaborados em sua maioria com dois e quatro versos alternando entre as figuras de linguagem comparativa e de oposição, especialmente nas coleções de provérbios (10 a 29). A forma de provérbios numéricos é encontrada na seção 30:18-28 e o livro termina com um poema em forma de acróstico alfabético em 31:10-31.
Propósito e conteúdo
Com relação ao seu conteúdo, o livro de Provérbios trata dos seguintes temas:
- A sabedoria vem do temor do Senhor
- Os provérbios instruem acerca de preceitos básicos da vida e não se constituem em promessas
- O caminho da sabedoria conduz à vida
O livro de Provérbios transmite a ideia de que a sabedoria é mais valiosa do que os tesouros da Terra. E, justamente por esta razão, ela deve ser absorvida pelos ensinos dos mais velhos e dos pais (Pv. 1:8-9). Portanto, a sabedoria se torna hereditária (Pv. 4:1-9). A essência de Provérbios é o desejo de aplicar o “temor do Senhor”, fruto da Aliança, ao dia a dia.
A introdução ao livro de Provérbios expõe, em linhas gerais, seus objetivos conforme quadro abaixo:
Compreensão da sabedoria | 1:2 |
Recebimento da instrução sobre sensatez, integridade, justiça e equidade | 1:3 |
Ajuda ao humilde na obtenção de prudência e ao jovem conhecimento | 1:4 |
Ampliação do aprendizado e habilidade no entendimento | 1:5 |
Entendimento dos provérbios, parábolas e enigmas | 1:6 |
Aprendizado do temor do Senhor | 1:7 |
O temor do Senhor é a submissão reverente aos mandamentos da Aliança ao construir o relacionamento de obediência no dia a dia por meio da conduta e do pensamento corretos.
O temor do Senhor
O livro de Provérbios compara o temor do Senhor com o conhecimento de Deus (Pv. 2:5-6) e o conhecimento de Deus, no Antigo Testamento está aliado ao relacionamento com Javé, o Deus da Aliança (Os. 6:1-3). Apenas aqueles que se relacionam com Javé, por meio da lealdade à Aliança, encontrarão os tesouros da sabedoria.
A ideia de “temor do Senhor” impede que a fé se torne um sistema mecânico de causa e efeito, onde as pessoas simplificam as complexidades da vida dando respostas decoradas a perguntas difíceis. O temor do Senhor preserva o caráter incompreensível de Deus e o mistério profundo da vida.
O principio da retribuição: Terceira Parte
No livro de Provérbios a espera pela recompensa está associada ao indivíduo hebreu que teme ao Senhor. Os benefícios ao andar pela trilha da sabedoria incluem:
- A lealdade à Aliança no relacionamento diário com Javé é o padrão de vida.
- A prática da justiça e do direito com o próximo como efeitos do caminhar pela trilha da sabedoria.
O padrão de obediência ao trilhar o caminho da sabedoria leva em consideração o pecado humano e a desonestidade do mundo. É importante ressaltar que os adágios de Provérbios não são promessas, mas se tratam de princípios gerais baseados na experiência humana.
O livro de Provérbios também trata do desenvolvimento do caráter ao trilhar o caminho da sabedoria, que é mais vantajoso do que a prosperidade material. Qualidades como prudência, bom senso, boa conduta, justiça e integridade são traduções mais apropriadas do que “prosperidade”, pois o texto original traz a ideia de bem-estar ao invés de progresso material.
A sexualidade humana
O relacionamento entre homem e mulher, e suas complexidades, também é um tema no livro de Provérbios. Por esta razão, os sábios hebreus exaltavam o casamento monogâmico e informam sobre os perigos de uma vida desregrada sexualmente.
A tabela abaixo demonstra os princípios bíblicos para o relacionamento homem- mulher:
A instrução da sabedoria como antídoto contra o pecado sexual | 2:16 |
O amor erótico dentro dos limites conjugais | 5:15-23; 18:22 |
A disciplina dos olhos e boca para evitar a tentação | 5:1-6; 7:21-23 |
O ciúme que brota do adultério | 6:20-35 |
O perigo do ócio | 7:6-9 |
A educação sexual na família | 7:1-5, 24-27 |
A sutileza dos pecados sexuais | 23:26-28 |
A racionalização dos pecados sexuais e o endurecimento do coração | 7:14-20; 30:20 |
A escolha do cônjuge pelos padrões de caráter e não da aparência física | 31:10-31 |
A prevenção das discussões e comunicação aberta entre os cônjuges. Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante | 19:13; 27:15 |
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