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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A GRANDE MERETRIZ...


                                                        A GRANDE MERETRIZ...
A Grande Meretriz (Apocalipse 17:1-18)
As sete taças já foram derramadas. As forças da natureza e os poderes políticos serviram para castigar os adoradores da besta. Agora um dos sete anjos do capítulo 16 leva João para ver de perto a Babilônia e sua destruição. Este capítulo é de grande importância na determinação da data do Apocalipse e na identificação da aplicação principal de algumas das profecias deste livro. Entre outras coisas, procuramos aqui entendimento das cabeças da besta e da meretriz montada nela.
Quem é a Meretriz?
Um dos pontos mais polêmicos no estudo do Apocalipse é a identidade da grande meretriz. As interpretações mais comuns são quatro, envolvendo duas cidades:
               1. Roma, como cidade principal do império romano, ou o poder comercial e econômico dela
               2. Roma, como cidade principal da Igreja Romana Católica
               3. Jerusalém como existia antes da destruição de 70 d.C.
               4. Jerusalém futura como sede do suposto reino terrestre de Jesus
Proponentes das várias interpretações oferecem seus argumentos. Nossa interpretação deve respeitar as evidências bíblicas e históricas, rejeitando explicações que contradizem o próprio livro, mesmo quando tais explicações sejam populares e muito difundidas.
Podemos já rejeitar a segunda e a quarta das interpretações acima, pois contradizem o próprio Apocalipse. João recebeu uma revelação de coisas que iam acontecer “em breve” (1:1; 22:6), pois o tempo já estava “próximo” quando Jesus as revelou (1:3; 22:10) e prometeu vir em julgamento “sem demora” (22:12,20). As interpretações futuristas são sensacionais e fascinantes e certamente vendem muitos livros e enchem os bancos de muitas igrejas, mas não respeitam as evidências internas. As interpretações que identificam o Vaticano e alguns dos aspectos mais tristes da história da Igreja Católica ganharam muitos adeptos desde a Reforma Protestante, e ainda têm seus defensores hoje. Mas o desenvolvimento do catolicismo demorou séculos, enquanto João escreve sobre poderes existentes na sua época. Há muitos motivos justos para criticar a igreja católica, mas não devemos adotar interpretações forçadas de textos bíblicos. Tais abordagens não fortalecem o caso para ajudar católicos verem os problemas na sua igreja.
Os debates mais sérios sobre a identidade da grande meretriz focalizam na primeira e terceira interpretações. Vários estudiosos afirmam que a grande meretriz é Jerusalém, aguardando a sua destruição profetizada por Jesus e realizada por Tito no ano 70 d.C. Estas interpretações respeitam os limites de tempo citados acima, sugerindo que o livro fosse escrito durante o reinado de Nero e cumprido na destruição de Jerusalém dois anos depois da morte dele. Outros identificam a meretriz com Roma ou algum aspecto do poder de Roma, como sua influência econômica no mundo do primeiro século. Muitas pessoas que aplicam o texto a Roma aceitam uma data no reinado de Domiciano (imperador de 81 a 96), e outras defendem uma data durante o reinado de Vespasiano (69 a 79).
A tabela abaixo apresenta alguns contrastes entre as opções 1 e 3 de uma forma resumida. Como pode observar, há características que podem se aplicar tanto a Roma como a Jerusalém. Embora respeito as opiniões e os argumentos daqueles que defendem a aplicação desta profecia à destruição de Jerusalém em 70 d.C., acredito que as evidências favorecem a primeira explicação – que a grande meretriz era Roma ou seu poder econômico, pois ela foi a sede da economia mundial no primeiro século.
A Grande Meretriz: Roma ou Jerusalém? (Apocalipse 17 - 18)
Característica
Roma
Jerusalém
Sentada sobre muitas águas (17:1)
Seu poder vinha dos povos dominados
Procurava manter uma certa independência
Com quem se prostituíram os reis da terra (17:2)
Dominava os reis de muitos países; Descrição da Babilônia antiga (Jeremias 51:7)
Relativamente insignificante; Alguma vez foi descrita como a fonte do pecado das nações?
Vinho de sua devassidão (17:2)
Conhecida por sua imoralidade e excessos
Cidade rebelde, mas não conhecida por impureza exagerada (1 Pedro 4:3-4 – gentios)
Montada na besta do poder romano (17:3; cf. 13:1-8)
Roma e sua economia dependiam do poder romano
Foi dominada pelos romanos
Vestida de púrpura, escarlate, ouro, pedras preciosas, etc. (17:4; 18:16)
Luxo, nobreza, sedução; os soldados da Babilônia antiga se vestiam de escarlata (Naum 2:3)
Jerusalém antiga foi descrita assim (Jeremias 4:30)
Cálice de abominações e imundícias (17:5)
A Babilônia foi o cálice que causou as nações a enlouquecerem (Jeremias 51:7)
O cálice da ira vem de Jerusalém (Zacarias 12:2,5,9), mas o cálice da imundícia??
A mãe das meretrizes (17:5)
Cidades gentias como meretrizes e prostitutas (não como adúlteras) – Isaías 23:13-18; Naum 3:4
Jerusalém como adúltera ou prostituta (Jeremias 13:27), comete adultério com as nações (Ezequiel 23:4-5)
Embriagada com o sangue dos santos e das testemunhas (17:6; 18:20,24)
Perseguia os cristãos, especialmente nos reinados de Nero, Domiciano, etc.
Perseguia os santos e profetas (Lucas 11:48-51), incluindo testemunhas de Jesus (Atos 7:51-52,58-60)
Sete montes (17:9)
Cidade de sete montes
Cidade de sete montes
Sete reis – 5 -1 - 1 - 1
8º é a besta (17:9-11)
Se começar com Augusto, aplica-se a Domiciano
Se começar com Júlio, aplica-se a Tito
A mulher é grande cidade que domina sobre os reis da terra (17:18)
Roma dominava os reis da terra na época de João
Jerusalém dominava como soberana de Deus e lugar do templo (Salmo 68:29) – agora é meretriz ou mulher fiel????
Destruição interna (17:16-17)
História do declínio de Roma (cf. Daniel 2:42-43)
Destruída pelos romanos




 Nos comentários sobre a grande meretriz, procurarei mostrar significados relevantes a Roma. Também mostrarei, nesta lição, por que eu acredito que João tenha escrito o livro durante o reinado de Vespasiano.
17:1 – Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas,
Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo: A queda da grande meretriz já foi anunciada em 14:8, e ela recebeu o cálice da ira de Deus quando a sétima taça foi derramada (16:19). Agora um dos anjos que derramaram as taças mostra mais detalhes para João.
Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas: As águas referem-se aos povos ou nações. A besta, o poder do governo romano, surgiu do mar (13:1). A grande meretriz – a cidade e seu poder econômico – se acha sentada sobre as nações. A grandeza dela dependia dos povos dominados pelo império romano.
17:2 – com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra.
Com quem se prostituíram os reis da terra: A prostituição entre nações é uma figura que sugere alianças. Encontramos linguagem quase igual na condenação de Nínive, a antiga cidade principal do corrupto império assírio (Naum 3:4-5), e nas críticas feitas a Tiro, a cidade que dominava o comércio no mar mediterrâneo no tempo de Isaías (Isaías 23:15-18). Roma, na época de João, mantinha suas relações com diversos reis, dominando todos os países da região mediterrânea.
Com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra: Esta mesma acusação foi feita pela segunda voz (14:8). Roma corrompeu outras nações, envolvendo-as na sua libertinagem. Os excessos de Roma, e especialmente de alguns dos imperadores, são bem documentados na história do período. Países que estabeleceram relações favoráveis ao comércio com Roma lucraram como fornecedores de bens consumidos neste contexto materialista. A mesma descrição pode incluir outros aspectos da corrupção romana – ganância, idolatria, imoralidade, etc.
Como já observamos em outras citações, “os que habitam na terra” são os ímpios (cf. os comentários sobre 13:6 e 8 na lição 22).
17:3 – Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres.
Transportou-me o anjo, em espírito: 600 anos antes desta visão de João, o profeta Ezequiel foi levantado pelo Espírito e levado a ver as condições da cidade de Jerusalém para ajudá-lo a entender e comunicar os motivos do castigo de Judá (Ezequiel 3:12,13; 8:14,16; 11:1,24). Aqui, João é levado à Babilônia para ver os planos de Deus de castigar a cidade mundana.
A um deserto: João já viu uma mulher levada ao deserto para ser protegida (12:6,14). Desta vez, é uma mulher totalmente diferente no deserto. Ela está sendo protegida, temporariamente, pela besta. Esta mulher é a grande meretriz. A profecia de Isaías contra a Babilônia é descrita como “sentença contra o deserto do mar” (Isaías 21:1,9).
Uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres: A mulher está montada na besta do mar (13:1), que representa o poder imperial de Roma. A grande meretriz depende do poder de Roma para sua sobrevivência.
17:4 – Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição.
Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas: Já sabemos que ela é uma meretriz (17:1), mas ela se veste como se fosse uma mulher rica, de nobreza ou realeza.
Tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição: A Babilônia dera às nações “o vinho da fúria da sua prostituição” (14:8). Da mesma maneira que a Babilônia histórica, cidade principal de sua época, deu seu vinho às nações e causou a loucura delas (Jeremias 51:7), a Babilônia simbólica, Roma, deu de seu cálice às nações de seu tempo. Todas queriam participar do “sucesso” da grande cidade mundana, e iam participar, também, do castigo que viria sobre ela. Mesmo ela sendo bem-vestida e atraente às nações, Deus viu o seu cálice cheio de abominações e imundícias, coisas repugnantes ao Santo Senhor.
17:5 – Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra.
Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra: A mulher não esconde a sua verdadeira identidade. As características da Babilônia são encontradas em Roma, e o nome passa a representar esta cidade e sua influência como prostituta corrompendo as nações. Isaías chamou Tiro de meretriz, dizendo que “ela tornará ao salário da sua impureza e se prostituirá com todos os reinos da terra” (Isaías 23:15-17). Uma profecia contra Nínive disse: “Tudo isso por causa da grande prostituição da bela e encantadora meretriz, da mestra de feitiçarias, que vendia os povos com a sua prostituição e as gentes, com as suas feitiçarias” (Naum 3:4). Roma, por sua influência sobre as nações do mundo, é descrita como a mãe das meretrizes.
17:6 – Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto.
Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus: Ela deu aos outros a beber, mas ela também ficou embriagada. A “bebida” da meretriz é o sangue dos servos do Senhor. São os mesmos que pediram a justiça divina no quinto selo (6:9-11), aqueles que não amaram a própria vida quando encararam a morte (12:11), e que se mostraram fiéis até à morte (2:10). A grande meretriz cairia por causa da perseguição aos discípulos de Jesus.
E, quando a vi, admirei-me com grande espanto: Que cena horrível e assustadora! A mulher embriagada com sangue – o sangue dos conservos de João.
17:7 – O anjo, porém, me disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o mistério da mulher e da besta que tem as sete cabeças e os dez chifres e que leva a mulher:
O anjo, porém, me disse: Por que te admiraste?: O anjo viu a reação de João, e imediatamente começa a responder à preocupação do profeta.
Dir-te-ei o mistério da mulher e da besta que tem as sete cabeças e os dez chifres e que leva a mulher: O entendimento do significado desta visão, implicitamente, aliviará o espanto de João. O anjo promete uma explicação sobre a meretriz e sobre a besta. Esta explicação se segue nos próximos versículos.
17:8 – a besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá.
A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo: Sabemos que a besta representa o poder do império romano e, também, os seus reis ou imperadores (cf. 17:11). Este versículo coloca a revelação dada a João entre dois reis descritos como “a besta” e durante o reino de um outro, que não agia como a besta. Já sabemos de algumas características da besta, conforme a apresentação no capítulo 13 e alguns comentários posteriores. A besta recebeu sua autoridade do dragão e aceitou a adoração dos homens, que o tratavam como se fosse Deus. Ele agia com arrogância e blasfêmia contra Deus, difamando o tabernáculo (o povo do Senhor). Pelejou contra os santos e os venceu. Os que recusavam a adorar a besta sofriam discriminação econômica, e alguns deles foram mortos. Juntando estas informações, entendemos que os imperadores identificados como “a besta” são reis que perseguiam os santos de Deus. Um perseguidor já era. Seria a cabeça “golpeada de morte” (13:3). Mas essa ferida foi curada, e o poder romano não acabou (13:3). João escreve durante um período de relativa tranquilidade (a besta “não é”), mas um outro perseguidor ia emergir do abismo. Como já veremos, estes comentários do anjo ajudam na datação do livro, colocando-o entre os perseguidores Nero e Domiciano. Mais detalhes se seguem nos versículos 10 e 11.
E caminha para a destruição: O poder imperial, a besta, caminha para a destruição. A palavra traduzida destruição aparece no Apocalipse somente aqui e no versículo 11, embora seja comum em outros livros do Novo Testamento (veja Mateus 7:13; João 17:12; Atos 8:20; Romanos 9:22; Filipenses 1:28; 3:19; 1 Timóteo 6:9; Hebreus 10:39; 2 Pedro 2:1-3; 3:7,16; etc.). Uma cabeça já foi golpeada, mas sobreviveu. Outra virá e será destruída. Antes de emergir do abismo, o seu destino já foi selado!
E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá: Novamente, encontramos “aqueles que habitam sobre a terra”. São os ímpios, os adoradores da besta. Estes se admirarão que a besta voltou. Os que habitam no céu, aqueles cujos nomes estão no Livro da Vida, não se admiram, pois sabem que Deus está controlando tudo e que o poder da besta não durará. Para mais informações sobre o Livro da Vida, veja os comentários sobre 3:5 e 13:8. Desde a fundação do mundo, Deus preparou seu plano para a salvação dos fiéis. Ele planejou a vinda de Jesus, sua vida, morte e ressurreição. Preparou a revelação do evangelho. Estabeleceu os termos de admissão ao seu reino. Ao longo da história, ele veio anunciando, aos poucos, este plano, até chegar à revelação de Jesus e do evangelho no Novo Testamento. Agora, aqueles que decidem servir a Jesus têm seus nomes escritos no Livro da Vida.
17:9 – Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis,
Aqui está o sentido, que tem sabedoria: O anjo já prometeu explicar o significado da visão, e agora chama a atenção de João aos pontos principais.
As sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada: A meretriz está sentada sobre sete montes. Várias cidades foram conhecidas, ao longo da história, como cidades de sete montanhas ou colinas. As pessoas que aplicam as profecias sobre a grande meretriz à cidade de Jerusalém oferecem algumas citações de Jerusalém como uma cidade de sete montes. Mas a aplicação natural desta expressão no contexto do Apocalipse é à cidade de Roma, bem conhecida na época de João como a cidade de sete colinas. Esta interpretação se ajusta aos outros aspectos da descrição desta cidade que dominava “sobre os reis da terra” (17:18).
São também sete reis: Na linguagem simbólica da Bíblia, duas imagens diferentes podem representar uma ideia ou personagem. Por exemplo, Jesus é um Cordeiro e um Leão (5:5-6) e o diabo é um dragão e uma serpente (12:9). Aqui uma imagem representa duas idéias diferentes. As sete cabeças são sete montes, e também são sete reis. Nos versículos seguintes, torna-se evidente que são sete reis específicos. Esta mensagem comunica aos santos na época de João informações sobre o passado e o futuro, identificando a conjuntura histórica em que eles se encontraram.
17:10 –  dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco.
Dos quais caíram cinco: Os primeiros cinco imperadores romanos já caíram. Este fato nos ajuda a determinar uma data do livro depois do suicídio de Nero, que aconteceu em 68 d.C.
Nota: Algumas interpretações se baseiam numa lista diferente de imperadores, tipicamente começando com Júlio César e citam algumas referências históricas (Flávio Josefo, etc.) para apoiar esta explicação. Os mesmos comentaristas reconhecem, porém, o perigo de se justificar com base em alguma referência histórica que contradiz as informações bíblicas. Eles rejeitam, como eu também faço, as interpretações que dão mais peso às referências históricas do que às evidências internas quando se trata da datação do livro. Apesar de textos extra-bíblicos que datam o Apocalipse no final do reinado de Domiciano, as evidências internas favorecem uma data anterior. No caso de determinar um ponto de partida para a lista dos reis, tanto as evidências internas como a maioria das citações históricas favorecem a posição usada neste estudo, de que Augusto foi o primeiro imperador romano. Entre as observações históricas sobre esta questão, devemos observar dois fatos:
➊ Júlio César se declarou ditador durante o período da República Romana (um erro político que provocou o seu assassinato), mas Augusto foi o primeiro reconhecido pelos romanos como imperador. Caio Júlio César Otaviano, conhecido como César Augusto, tinha 18 anos de idade quando seu tio e pai adotivo, Júlio César, foi assassinado em 44 a.C. Nos anos seguintes, a instabilidade política em Roma levou ao fim da República e a Augusto foi dado poder absoluto pelo Senado em 27 a.C.
➋ Não houve uma sucessão direta, como seria o caso de passar a autoridade de imperador de pai para filho. Augusto conseguiu consolidar o poder em 31 a.C., e seu reinado como imperador começou 17 anos depois da morte de Júlio, em 27 a.C.
Respeito as opiniões ao contrário, mas acredito que as evidências favorecem uma contagem de “reis” a partir de Augusto, o primeiro imperador de Roma. Assim, o anjo declara que Augusto, Tibério, Gaio Calígula, Cláudio e Nero já caíram.
Nero foi o último imperador da dinastia Júlio-Claudiana. A revolta de Galba e a rejeição de Nero pelo Senado forçou o imperador a fugir. Seu suicídio em 68, sem deixar filhos, foi o fim de sua linhagem e o golpe mortal de uma das cabeças da besta, citado em 13:3.
Um existe: Depois da morte de Nero, houve guerra civil em que quatro homens tentaram se estabelecer como sucessores de Nero (este período é conhecido como o ano dos quatro imperadores). Galba, Otão e Vitélio fracassaram. Vespasiano estabeleceu a próxima linha de imperadores, conhecida como a dinastia Flaviana, que inclui o próprio Vespasiano e seus dois filhos, Tito e Domiciano. Para identificar aquele que “existe” quando João escreve, precisamos comparar a profecia dele com a de Daniel 7. Na visão de Daniel, os reis foram representados pelos dez chifres do quarto animal. Quando subiu o décimo-primeiro, três foram arrancados (Daniel 7:8), deixando um total de oito. Da mesma maneira que os quatro animais de Daniel se transformaram em uma besta para João (veja os comentários sobre 13:2 na lição 22), os 11 reis de Daniel são oito para João, pois estes três insignificantes já foram, e Vespasiano se estabeleceu como o sexto rei. Se João tivesse escrito o livro na época de Nero, como alguns afirmam, ele teria a mesma perspectiva de Daniel, ainda aguardando aparecer estes três reis. Escrevendo depois de Vitélio, ele nem menciona os três que fracassaram entre Nero e Vespasiano. Apesar de alguns comentários feitos nas décadas e séculos depois colocando o exílio de João e o Apocalipse no reinado de Domiciano, eu acredito que a evidência interna favorece uma data entre 69 e 79, durante o reinado de Vespasiano.

O outro ainda não chegou; e quando chegar, tem de durar pouco: O próximo imperador seria Tito, o filho de Vespasiano, que reinou de 79 e 81. Assim foi cumprida a profecia que “tem de durar pouco”. Interpretações que sugerem que o livro fosse escrito durante o reinado de Nero e que o oitavo rei fosse Tito enfrentam algumas dificuldades aqui. Primeiro, teriam que explicar em que sentido Cláudio pode ser entendido como a besta que foi ferida mortalmente, desde que não há registro de perseguição aos cristãos pelos romanos na época de Cláudio. Segundo, teriam que explicar como Vespasiano seria o outro que ainda não chegou e ia durar pouco, quando o reinado dele foi bem maior do que o reinado de Tito. E ainda oferecendo alguma explicação para estas questões, teriam que mostrar o seu caso mais forte conforme as evidências internas e as comparações com Daniel.
17:11 – E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição.
E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete: Depois das perseguições do reinado de Nero (a besta que era), os servos de Deus passavam por alguns anos mais tranqüilos (não é), mas ainda teriam mais sofrimento pela frente. A besta ia surgir de novo na forma do oitavo rei, Domiciano. Em dois sentidos, pode afirmar-se que ele “procede dos sete”: Era filho de Vespasiano, e também ressuscitou a política de perseguição de Nero. João, escrevendo durante o reinado de Vespasiano, disse que a besta estava “para emergir do abismo” (17:8). Daniel falou sobre este rei (o décimo-primeiro do seu ponto de vista): “Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o consumir até ao fim” (Daniel 7:25-26). À besta do mar “Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses” (13:5).
E caminha para a destruição: Aqui vem o conforto oferecido aos santos. A besta emergiria do abismo e perseguiria os servos do Senhor. Mas o seu tempo seria limitado (42 meses, ou três anos e meio, representa um tempo limitado de angústia) e seu destino já foi determinado pela justiça de Deus – “Caminha para a destruição” (17:8); “Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada” (13:10); “Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o consumir até ao fim” (Daniel 7:26). A comparação destes trechos reforça o entendimento que este oitavo rei caminha para sua própria destruição, e não que destrói outros (como alguns sugerem quando aplicam a profecia a Tito, o filho de Vespasiano que destruiu Jerusalém antes de se tornar imperador).
17:12 – Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora.
Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora: Durante uma boa parte do império romano, foi usado um sistema conhecido como “rei-cliente”, em que reis subordinados ao imperador governavam províncias do império. Os Herodes, que governavam a Judéia, servem como exemplo deste tipo de rei subordinado, ou rei fantoche. Os reis-clientes durante o reinado de Domiciano, reinariam “com a besta”, mas o seu tempo seria curto – “durante uma hora”. Em contraste, os servos do Senhor que não adoraram a besta, foram prometidos o privilégio de reinar “com Cristo durante mil anos” (20:4). Os vencedores receberiam “autoridade sobre as nações e com cetro de ferro as regerá” (2:26-27). Não precisamos entender uma hora literal, nem mil anos literais, para apreciar o contraste. É melhor ser um servo de Cristo do que um rei no império romano!
17:13 – Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem.
Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem: São meramente fantoches. Não têm poder próprio, pois todo o seu poder é dado à besta. Já observamos que a besta surge do mar e depende das nações, da sociedade humana, para seu poder e a sua existência. O imperador romano mantinha seu poder por dominar as nações e seus reis.
17:14 – Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele.
Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá: A besta usará todos os seus recursos, até os reis subordinados, para resistir o poder de Jesus e afligir os santos. Já sabemos que os reis da terra seriam reunidos para uma batalha em Armagedom (16:14,16). Sabemos, também, que servem à besta e ajudarão na perseguição dos fiéis. Mas mais importante de tudo, sabemos que a vitória será do Cordeiro!
Pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis: A certeza da vitória está na natureza divina do Cordeiro. Não é questão do tamanho do exército ou da estratégia dos guerreiros. Ele vencerá porque é o Senhor dos senhores! Este título é mais uma prova da divindade de Jesus, pois a Bíblia afirma que Deus (YHWH) é o Senhor dos senhores: “Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível” (Deuteronômio 10:17; cf Salmo 136:3; 1 Timóteo 6:15). No Apocalipse, este título é aplicado a Jesus (17:14; 19:16). Os reis da terra podem receber autoridade da besta para reinarem durante uma hora (17:12), mas tanto a besta como os reis cairão. Podem olhar para a meretriz como “a grande cidade que domina sobre os reis da terra” (17:18), mas o destino dela já foi anunciado (14:8). Jesus é o Soberano, o verdadeiro Rei dos reis!
Vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele: Os servos fiéis participam da vitória do Cordeiro. Os servos do Senhor venceram o diabo “por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (12:11). A garantia da vitória está na lealdade ao verdadeiro Soberano. Aqueles que confiam na besta serão derrotados, enquanto os servos do Cordeiro têm certeza da vitória final. As cartas nos capítulos 2 e 3 prometem recompensas aos vencedores, dizendo que receberiam autoridade para dominar as nações com cetro de ferro (2:27). Aqueles que foram comprados com o sangue do Cordeiro “reinarão sobre a terra” (5:10). As almas dos decapitados “reinaram com Cristo durante mil anos” (20:4). Na Nova Jerusalém, os servos de Cristo “reinarão pelos séculos dos séculos” (22:5).
17:15 – Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas.
As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas: A besta surgiu do mar, tomando sua força das nações (13:1). A meretriz, Roma, e seu poder econômico dependem das nações e das relações comerciais no império. O mar e o comércio são ligados um ao outro no castigo da segunda trombeta, que atinge a terça parte da vida no mar e um terço das embarcações (8:9). Roma dominava o comércio entre três continentes pelo seu controle do mar Mediterrâneo. Mas se essas nações voltarem contra a meretriz, ela perderia sua força.
17:16 – Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo.

Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo: Na interpretação da visão de Nabucodonosor, aprendemos que Roma seria um reino misto, dividido, ao mesmo tempo forte e fraco (Daniel 2:40-43). Segundo os relatos históricos, um dos principais motivos do declínio de Roma foi a dissensão interna, envolvendo conflitos entre generais, problemas com os líderes das províncias, etc. No final do primeiro e durante o segundo século, tais conflitos dentro do império começaram. Durante o reinado de Trajano, o império chegou à sua extensão geográfica máxima. Ele morreu em 117 e, logo em seguida, seu sucessor devolveu a Mesopotâmia aos partos, o primeiro de vários incidentes que tiveram o efeito de diminuir e dividir o império. A glória de Roma foi se perdendo devido, em boa parte, aos excessos de alguns imperadores e aos problemas com os povos já subjugados.
17:17 – Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e deem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus.
Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento: A besta e a meretriz podem se enganar, achando que exerçam domínio verdadeiro sobre os reis e as nações. Mas é Deus quem exerce o controle verdadeiro. Mesmo quando as nações se rebelam contra o verdadeiro Senhor, ele controla tudo para seus propósitos. Este versículo reafirma um princípio antigo e bem-estabelecido nas Escrituras: “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer” (Daniel 4:32). Quando Deus usa nações ímpias para castigar outras, elas geralmente não reconhecem a mão do Senhor, achando-se donos de si e capazes de controlar o próprio destino (cf. Isaías 10:5-8).
O executem à uma e deem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus: Uma parte do plano de Deus para vencer a besta foi o aumento do poder dela. Deus a deixou crescer cada vez mais forte, dominando os reis das nações, enquanto preparava o castigo dela. Nas décadas depois de João escrever o Apocalipse, o poder romano foi aumentando, chegando ao seu auge no final do reinado de Trajano. A partir daquela época, perdeu território e poder aos poucos.
17:18 – A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra.
A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra: A explicação inspirada revela o significado da meretriz, da grande cidade. A grande cidade no Apocalipse é a Babilônia (14:8; 16:19; 17:5); é a cidade mundana que se colocou contra Deus no espírito de Egito, Sodoma e Jerusalém (11:8). Ela é Roma, a cidade que dominava sobre os reis da terra na época de João.
Conclusão
Nos capítulos 12 e 13, conhecemos três grandes inimigos do povo de Deus – o dragão e suas duas bestas. No capítulo 17, conhecemos mais uma aliada do dragão, a grande meretriz Babilônia. Ela é descrita como a cidade sentada sobre sete montes, bêbada com o sangue dos santos, que dominava os reis da terra. Ela depende da besta do mar, o poder do império romano. Este capítulo esclarece melhor o significado da besta, apontando ao poder perseguidor do governo romano, especialmente às perseguições que seriam feitas por um imperador que viria pouco depois da profecia de João.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante

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