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terça-feira, 27 de junho de 2017

Ó LÍNGUA MALDITA...


                                                     Ó LÍNGUA MALDITA...
Tiago 3:1-12       
Certa vez William Shakespeare comentou, "Quando palavras são raras, não são gastas em vão."   Outro erudito disse, "Homens sábios falam porque têm algo para dizer; tolos, porque gostariam de dizer algo."  Um ditado filipino aconselha, "Na boca fechada, não entra mosca."  Os árabes oferecem esta joia de sabedoria: "Tome cuidado que sua língua não corte seu pescoço."   Salomão em Provérbios nos adverte, No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente (Pv. 10:19)
Capítulo 3 de Tiago nos coloca na parede e nos desafia a viver uma fé genuína, verdadeiramente cristã.   No final do cp. 2, Tiago nos mostrou como a fé verdadeira manifesta-se inevitavelmente em obras.  Agora, no cp 3, ele mostra que “obras” não são somente o que fazemos, mas também o que falamos.  E não somente o que falamos, mas o que NÃO falamos!
A língua é um músculo com sua origem no coração.  Por isso a língua talvez revele o verdadeiro estado do nosso coração mais rápido que qualquer outra prova de fé genuína listada por Tiago.  A língua sou eu.  Eu sou o que a língua fala!  Às vezes, soltamos uma palavra tão pesada, que cheira mal, e depois exclamamos, “De onde veio aquilo?”  Mas o fato é que somos assim mesmo.  Abaixamos a guarda e revelamos o verdadeiro eu, mesmo que só por um instante.  Assim como Jesus disse, a boca só fala do que o coração está cheio (Mt 12:34).  A língua é o dreno do coração!  A língua serve como escape daquilo que está borbulhando no coração.  Por isso, dizemos que
É impossível domar a língua
Se Jesus não domar o coração!
 Essa é uma mensagem tão simples, mas que precisamos ouvir todos os dias de nossas vidas.  O propósito de Tiago é que sejamos mais sensíveis ao poder incrível da língua, e deixemos que Jesus peneire  nossas palavras, filtre nossa fala e lacre os nossos lábios.  Veja o poder da língua em Tiago 3.1-12:
I.  A Língua tem Poder para Dirigir (3:1-4)
A língua é poderosa.  Esse poder pode ser para o bem ou para o mal.  Talvez, por ser tão potente, Deus prendeu a língua atrás de duas fileiras de dentes e dentro de uma caverna fechada.  Tiago nos lembra que a língua tem um enorme potencial para direcionar vidas.  
A.  Por quem muito é falado, muito será julgado (3:1,2)
No contexto destas palavras a Igreja primitiva lidava com a  valorização e poder dados a quem ensinava e  direcionava os novos grupos de crentes que se formavam.  Mas isso representava um perigo.  A nova liberdade em Cristo, que incluía liberdade para falar em culto público, precisava ser bem manejada (1 Co 14:26-34).  Assim como Tiago nos lembrou no cp 1, “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar . . . “(vs 19).          
Quem presume dizer, “Assim diz o Senhor,          
Deve fazê-lo com temor e tremor.”
Tiago não quis minimizar ou desencorajar os dons de falar na igreja (Hb 5:12, Ef 4:11,12; 1 Pe 4:10,11).  Sua advertência é totalmente coerente com o princípio ecoado em Mateus 12:26,27   “De toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.”
Há duas razões porque devemos pensar bem  antes de assumir a posição de mestre:
1)      (Vs 1) O mestre, pela natureza do serviço, tem que falar muito.  Por isso, haverá mais palavras para serem pesadas, mais potencial para derramar palavras frívolas, inúteis, pecaminosas, enganadoras.
2)      (Vs 2) O mestre tem maior responsabilidade, pois influencia a muitas outras pessoas pelo que fala, e facilmente tropeça no falar.  Tem poder para dirigir, ministrar graça, ou enganar para toda a eternidade.
O mestre que não controla sua língua acaba tropeçando sobre a mesma.   No mundo da política vemos isso.  Um representante do FMI tropeça sobre sua língua e um país inteiro é colocado em descrédito.  Um político num momento de descuido fala um antissemitismo e perde uma eleição.  
A mesma coisa pode acontecer com os mestres (professores) na igreja.  Temos que medir toda palavra quando ensinamos ou pregamos.  Por isso ensinar e pregar são tarefas tão exaustivas.  As vidas de homens e mulheres estão na balança.  
Mas o que ele quis dizer com “maior juízo”?  (1 Co 3:10-15, 2 Co 5:10, Rm 14:10-12)—Todos nós compareceremos diante do tribunal de Cristo.  Não para sermos condenados (Rm 8:1 diz que isso não existe mais) mas para recebermos os prêmios de Jesus por um ministério fielmente cumprido.  Haverá perda de galardão assim como houve perda de oportunidade para ministrar graça em nome de Jesus.  Não desista!  Seu trabalho não é vão.  Mas leve a sério esse trabalho de conduzir os rebanhos do Senhor para pastos verdejantes!
b.  A língua freada implica em vida controlada (2b-4)
Tanto no caso do “freio na boca do cavalo” quanto a do “leme no navio”, vemos que uma parte pequena mas estratégica é capaz de direcionar algo poderoso e até grande.  O freio se coloca num ponto estratégico, na boca do cavalo.  Mesmo pequeno e fraco, consegue direcionar o cavalo com pouco esforço, até de uma criança.  Também, o leme é infinitamente menor em proporção  ao navio, mas assim mesmo , por ficar num ponto estratégico, é capaz de direcionar um  transatlântico como Titanic  ou um porta-aviões conforme a vontade de um timoneiro.
Assim é nossa língua, pequena porém estratégica.  Conforme vs 2b, se conseguirmos refrear a língua, somos capazes de controlar o corpo inteiro.  Mas como isso é difícil! Quantas vezes eu já quis frear minha língua quando já era tarde demais!  Tantos “foras” que já dei! A nuvem de palavras mortíferas tende a pairar sobre nós até hoje, como uma nuvem preta.  Mas uma vez que as palavras escapam de nossa boca, é impossível chamá-las de volta.   É realmente desesperador soltar palavras e  depois ficar impotente enquanto assiste o estrago que elas fazem.  Por isso temos que  freá-las o quanto antes.  Palavras como. . .            *Fofoca          *Um “corte” no meu irmão*Ódio               *Obscenidade            *Piadas sujas          *Ira             *Palavrão                                *Blasfêmia                 *Vingança                           *Inveja 
Nosso desespero, é semelhante ao daquele motorista no volante de um carro que de repente começa a derrapar,  perde o controle.     Ele tenta frear, mas já é tarde demais. 
 II.  A Língua Tem Poder para Destruir  (5-8)
A.  Quem a língua solta causa grande revolta. (5,6)
A Palavra de Deus nos adverte contra a destruição causada pela língua.  Ao mesmo tempo nos encoraja pelo potencial que esta mesma língua tem para transmitir vida e graça para pessoas desanimadas.
A morte e a vida estão no poder da língua;  o que bem a utiliza come do seu fruto.  A língua serena é árvore de vida, mas a perversa quebranta o espírito  (Pv. 18:21, 15:4).
Em algumas épocas do ano encontramos ao longo das nossas rodovias incêndios quase todos os dias.  Isso devido ao descuido de alguns, que  sem querer ou não  jogam seu cigarro pela janela.  Uma pequena faísca acaba destruindo hectares de floresta e terras gramadas.
Em Chicago, nos Estados Unidos, no ano de 1871, um lampião num celeiro deixou 125.000 pessoas sem-teto, destruiu 17.500 prédios e matou 300 pessoas.  Já na Coréia, em 1903, 2,6 km2 foram queimados quando algumas brasas na cozinha causaram um incêndio que destruiu 3000 edifícios.
Uma vez que a faísca da língua ascende o fogo, é extremamente difícil pará-la, até que tenha destruído tudo em seu caminho.  É assim com as nossas palavras.  Uma pequena palavra mal colocada, na hora errada, pode destruir uma vida.  Uma palavra de crítica destrutiva; uma fofoca; uma colocação verídica, mas cruel, sem tato, pode desmontar uma pessoa, uma família, uma igreja.  Pior,  a língua  alimenta a si mesma.  E assim como a língua, o fogo só precisa de oxigênio e combustível para queimar incessantemente.  Com um pouquinho de fôlego, nossa fofoca, nossa reclamação, nossa murmuração, encontra bastante respaldo para queimar palavras para sempre. Precisamos evitar este fogo antes que comece!
Pois este fogo, provocado pela nossa língua, começa rapidamente e quando percebemos já se alastrou. Ela é descrita como fogo, consumindo. É um mundo de iniquidade, que causa a maioria dos problemas que enfrentamos na igreja hoje, pois contamina todo o corpo, incendiando, destruindo a vida das pessoas. É influenciada e incendiada pelo próprio inferno, porque o diabo é fofoqueiro, mentiroso e acusador.  Nenhum membro do corpo humano tem tanto potencial para o mal! Será que minha língua tem sido instrumento de desencorajar, desestimular, ridicularizar, gozar, e destruir?  Meu cônjuge?  Meus filhos?  Meus pais?  Meu pastor?  Meus vizinhos?  Meu patrão?  Será que já incendiei vidas pelo poder destrutivo da minha língua?
B. A língua venenosa  é muito perigosa (7,8);
Viver com a língua é como dormir com uma cascavel.  Pode até parecer que está tudo sob controle, mas na hora em que você menos espera, ela dá o bote. A natureza da língua é venenosa, mortífera, indomável.  Mesmo que o homem consiga domar animal, ave, réptil e peixe, ninguém de nós é capaz de conter nossa língua.  Mas aqui entram as boas notícias.  Jesus pode domar a língua porque Ele transforma o coração.  O mesmo Jesus, que habita em nós pelo Seu Espírito, quer converter nossa boca!  Já ouvi histórias de homens profanos, que cada palavra que saía de seus corações era palavrões ou piadas sujas, mas que Jesus transformou completamente.  Famílias desmontadas foram reconstruídas por Jesus.   
Cristo vive em nós. Ele deseja usar nossa boca como um instrumento para a glória dEle e edificação de vidas.  Não para destruir, mas para edificar. Pense:  “O que Jesus falaria?”
Enquanto escrevo esse livro, fico triste pensando sobre quanta conversa em minha família não reconhece a seriedade que [a Bíblia] dá [à língua].  Não, não temos brigas feias, mas há muitas palavras impensadas, cruéis, irritantes e de reclamações faladas todos os dias.  Creio que somos como muitas famílias cristãs—minimizaram esses “pequenos” pecados da fala porque nosso lar está livre de abuso físico e verbal, e realmente nós nos amamos.  Mas . . . Palavras que ” mordem e devoram” são palavras que destroem.  Não são “tudo bem”.  Então precisamos fazer tudo possível para dar às nossas palavras a importância que a Bíblia as dá, lembrando que Deus diz que prestaremos contas de cada palavra frívola.  (202)
Peça a Deus que peneire as palavras da sua família, especialmente ao redor da mesa, no carro, naqueles momentos de confraternização.  Desafio aos pais que vigiem o que é falado em sua casa essa semana, clamando a Deus que transforme toda fala em casa.
 III.  A Língua tem Poder para Dividir (9-12)
A língua dividida significa fonte corrompida, e que algo está errado com o coração!
A língua é a fonte que jorra hipocrisia e falsidade; é o auge da esquizofrenia verbal.  É incoerente, dividida, como língua de cobra.  Da mesma boca podemos cantar louvores na igreja e destruir nosso cônjuge no caminho para casa.  Podemos dar uma aula de EBD e logo em seguida detonar a vida de um filho.   Isso é errado!  Mas esse tipo de incoerência é típica da língua.  Não significa, necessariamente, que não somos convertidos.  Significa que a conversão do nosso coração ainda não alcançou os lábios.
Seria impossível para uma fonte natural produzir água doce e amargosa ao mesmo tempo (11).  Seria impensável colher azeitonas de uma figueira (12), ou fonte de água salgada dar água doce.  Mas a língua pode.  A mesma língua, como no caso de Pedro, pode declarar uma revelação celestial para Jesus, “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” e na próxima sentença ser reprovado pelo próprio Jesus por ter falado palavras do inferno, “Arreda! Satanás” (Mt 16:17, 23).
Fico imaginando se Tiago, meio-irmão do próprio Senhor Jesus, lembrava-se da sua juventude, e  a maneira pela qual ele e seus outros irmãos tratavam o irmão mais velho, Jesus.  Imagine como seria ser irmão mais novo de Jesus!  Quantas palavras desgraçadas teriam escapado de sua boca, quando ainda não acreditava que Jesus era o Cristo.  Palavras venenosas, diabólicas, talvez um “dedo-duro”, com acusações falsas, ciúmes, vingança, ódio.  Afinal de contas, não teria sido fácil ser um irmão de Jesus.  Imagine seus pais falando, “Tiago, por que você não pode ser como Jesus?” 

Mais tarde, tudo mudou.  A fonte poluída foi transformada.  Água salgada virou doce.  O meio-irmão incrédulo, zombador, se tornou líder da igreja em Jerusalém e autor dessa epístola maravilhosa.  Tiago destaca que uma fé genuína implica em mudanças radicais (literalmente) na língua!  A mudança “radical” significa uma mudança de raiz, ou seja, do coração.  O coração controla a língua.  Quando Jesus transforma o coração, mudanças têm de acontecer na língua.  Às vezes, essas mudanças demoram. Significa que ainda existem sujeiras no encanamento.  Mas geralmente uma fonte cristalina tem que produzir palavras cristalinas.
Você já reparou no poder das palavras para fazer bem ou mal?  Consegue se lembrar de uma vez em que você foi desmontado por uma palavra desgraçada?  Por outro lado, lembra-se de alguma vez em que alguém falou uma palavra de encorajamento que mudou toda a sua perspectiva de vida?
Somos pecadores por natureza, e a tendência natural é de fofocar, resmungar, criticar, falar mal, blasfemar.  Mas foi por isso que Jesus veio para este mundo-- para resgatar a língua do homem.  Para isso, precisava fazer um transplante--não da nossa língua, mas do nosso coração, pois  a língua só fala do que o coração está cheio.  A morte e a ressurreição de Jesus tiveram como alvo transformar o coração daqueles que depositam sua confiança (fé) nele (e só nele) para a vida eterna.  O resultado deve ser uma transformação de vida, a começar com a raiz (o coração) até o fruto (a língua)!
Como, então, desativar esta bomba entre nossos lábios?  A resposta bíblica é de pesar, pensar e peneirar nossas palavras.  Em outras palavras, falar pouco e falar bem o que falamos.  É impossível domar a língua, se Jesus não domar o coração.

Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciências da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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