SE EU TOCAR NO MESTRE
SEREI CURADA...
A mulher que sofria de um fluxo de sangue considerou em seu
coração que bastava tocar na orla das vestes de Jesus que seria curada, porém,
como aproximar-se de Jesus sem contaminar a multidão? E o que faria a multidão
se descobrisse que uma mulher imunda havia saído no meio do povo, e
deliberadamente tocou e se esbarrou em todos? "Ou, quando tocar a
imundícia de um homem, seja qualquer que for a sua imundícia, com que se faça
imundo, e lhe for oculto, e o souber depois, será culpado" ( Lv 5:3 ).
“E foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava.
E certa mulher que, havia doze anos, tinha um fluxo de sangue, e que havia
padecido muito com muitos médicos, e despendido tudo quanto tinha nada lhe
aproveitando isso, antes indo a pior; Ouvindo falar de Jesus, veio por detrás,
entre a multidão, e tocou na sua veste. Porque dizia: - Se tão-somente tocar
nas suas vestes, sararei. E logo se lhe secou a fonte do seu sangue; e sentiu
no seu corpo estar já curada daquele mal. E logo Jesus, conhecendo que a virtude
de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão, e disse: Quem tocou nas minhas
vestes? E disseram-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e
dizes: Quem me tocou? E ele olhava em redor, para ver a que isto fizera. Então
a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo,
aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade. E ele lhe
disse: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz, e sê curada deste teu mal” ( Mc
5:24 -34)
O que há de tão importante no milagre da mulher com um fluxo de
sangue que levou três evangelistas a narrarem o milagre? No que implicava uma
mulher sofrer hemorragia constante àquela época? Como dimensionar a fé em
Cristo daquela mulher?
Em primeiro lugar é essencial deixar registrado que os milagres
narrados pelos apóstolos têm a função precípua de levar os homens a crerem que
Cristo é o Filho de Deus “Jesus, pois, operaram também em presença de seus
discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes,
porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e
para que, crendo, tenhais vida em seu nome” ( Jo 20:30 -31).
Marcos e Lucas registraram que a mulher já havia gasto todos os
seus bens com médicos, porém, não puderam curá-la ( Mc 5:26 ; Lc 8:43 ).
Já os evangelistas Mateus e Marcos destacam que uma mulher
sofria de hemorragia há doze anos e, ao ouvir falar de Jesus, passou a
acreditar que, se somente tocasse em suas vestes haveria de ser curada “Porque
dizia consigo: Se eu tão-somente tocar a sua roupa, ficarei sã” ( Mt 9:21 ).
Porém, havia um entrave: A mulher por ter um fluxo de sangue,
pela lei de Moisés era considerada imunda "Também a mulher, quando tiver o
fluxo do seu sangue, por muitos dias fora do tempo da sua separação, ou quando
tiver fluxo de sangue por mais tempo do que a sua separação, todos os dias do
fluxo da sua imundícia será imunda, como nos dias da sua separação" ( Lv
15:25 ).
Ela considerou em seu coração que bastava tocar na orla das
vestes de Jesus que seria curada, porém, como aproximar-se de Jesus sem
contaminar a multidão? O que faria a multidão caso descobrisse que uma mulher
imunda havia saído em meio ao povo e tocado deliberadamente em todos que ela
esbarrava? "Ou, quando tocar a imundícia de um homem, seja qualquer que for
a sua imundícia, com que se faça imundo, e lhe for oculto, e o souber depois,
será culpado" ( Lv 5:3 ). Como aquela mulher sairia de casa, se os
vizinhos que sabiam daquela doença podiam recrimina-la por causa da lei? O que
fariam os religiosos se a descobrissem no meio da multidão?
Além do sofrimento físico e da desesperança, a mulher do fluxo
de sangue não podia participar das festas religiosas. Ela não podia ficar fora
do templo junto com as outras mulheres e nem ir a sinagoga ( Lv 15:25 -33). Ela
tinha que permanecer confinada e isolada! Não podia relacionar-se com as
pessoas, nem mesmo com os seus familiares, pois tudo o que ela tocava
tornava-se imundo!
Embora ciente dos riscos de ser surpreendida, a mulher entrou no
meio da multidão e, ao chegar por trás, tocou na orla das vestes de Cristo e,
imediatamente, ficou sã. Foi quando Jesus perguntou: “Quem é que me tocou?” (
Lc 8:45 ).
Como deve ter ficado apreensiva a mulher quando foi descoberto o
seu ato de tocar nas vestes de Cristo! - Será que Jesus vai me recriminar por
ter saído em meio à multidão sendo imunda? O que dirão os seus discípulos e a
multidão? Será que todos ali presentes serão concitados a se recolherem em casa
para cumprirem o tempo determinado na lei para a purificação? "Ordena aos
filhos de Israel que lancem fora do arraial a todo o leproso, e a todo o que
padece fluxo, e a todos os imundos por causa de contato com algum morto" (
Nm 5:2 ).
Enquanto as questões se avolumavam na mente da mulher, Jesus
continuava a perguntar: “Quem é que me tocou?” (Lc 8:45 ). A multidão continuou
negando e, Pedro juntamente com os outros discípulos tentou dissuadir a Cristo
argumentando: “E, negando todos, disse Pedro e os que estavam com ele: Mestre,
a multidão te aperta e te oprime, e dizes: Quem é que me tocou?” ( Lc 8:45 ).
Jesus, porém, continuou a olhar entre a multidão para ver quem
havia lhe tocado! No verso 33 de Lucas 8 fica nítido o quanto ela considerou
antes de revelar-se, pois, sabia que havia contrariado a lei indo até Jesus em
meio a uma multidão.
A mulher ciente do que havia ocorrido, com medo e tremendo,
aproximou-se, prostrou-se diante de Cristo e disse toda a verdade.
Foi quando Jesus lhe acalmou ao dizer: “Filha, a tua fé te
salvou; vai em paz, e sê curada deste teu mal” ( Lc 8:48 ).
Por causa da fidelidade de Cristo Jesus, que honra aqueles que
n’Ele confiam, a mulher foi: salva, recebida por filha, curada do fluxo de
sangue e despedida em paz. Toda a confiança surgiu quando a mulher simplesmente
ouviu falar de Jesus “Ouvindo falar de Jesus, veio por detrás, entre a
multidão, e tocou na sua veste. Porque dizia: Se tão-somente tocar nas suas
vestes, sararei” ( Mc 5:27 -28).
A confiança desta mulher nos ensina que Jesus é a água viva,
fonte inesgotável, pois qualquer imundo que tocá-lo é limpo da sua imundície
“Porém a fonte ou cisterna, em que se recolhem águas, será limpa...” ( Lv 11:36
).
Através dela somos ensinados que Cristo é a semente
incorruptível, o Verbo encarnado, pois até mesmo os cadáveres que sobre Ele
caírem tornam-se limpos “E, se dos seus cadáveres cair alguma coisa sobre
alguma semente que se vai semear, será limpa” ( Lv 11:37 ).
A confiança não surge do sofrimento, ou das mazelas diárias,
antes tem origem na palavra da verdade. Ele passou a confiar a partir do
momento que ouviu acerca de Cristo (v. 27). Quando ela ouviu acerca d’Ele e
refletiu (v. 28), foi tomada de confiança que superou todos os medos (v. 33).
Se ela não tivesse ouvido acerca do Cristo, jamais teria
confiança, pois a fé vem pelo ouvir e, o ouvir pela palavra de Deus ( Rm 10:17
). Ao ouvir acerca daquele homem, ela foi invadida por uma confiança tal que
considerou que, se tão somente tocasse nas suas vestes seria curada.
A confiança que ela depositou em Cristo era diferente da
confiança que tivera nos médicos. A confiança nos médicos levou-a a gastar tudo
o que possuía, mas a confiança em Cristo levou-a a desafiar as suas próprias
crendices, as disposições da lei e a religiosidade: aquele homem tinha poder
para sará-la daquele mal.
Se a noticia acerca de Cristo não houvesse operado uma
transformação (metanóia) no modo de pensar da mulher, jamais ela iria
intencionalmente tocar em Jesus, pois estaria presa ao pensamento de que
poderia contaminá-lo.
Após apresentar-se prostrada aos pés de Cristo diante da multidão,
e tendo declarado a sua intenção e confiança, Jesus lhe disse: “Filha, a tua fé
te salvou; vai em paz, e sê curada deste teu mal” ( Mc 5:34 ). Por crer que
Jesus podia purificá-la daquele mal, a mulher foi salva por Cristo, e em
seguida, curada do fluxo de sangue.
O que salvou a mulher? A ‘confiança’ dela ou a ‘fé que se tornou
manifesta’?
Ora, sabemos que quem salvou a mulher foi Cristo, pois ele é a
fé que havia de se manifestar "Mas, antes que a fé viesse, estávamos
guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de
manifestar" ( Gl 3:23 ). Antes de Cristo ser anunciado ela confiava na
lei, e a confiança dela não podia salvá-la, nem do pecado e nem da enfermidade,
porém, quando ela confiou em Cristo, o dom de Deus, ela foi salva da condenação
herdada de Adão e foi curada da enfermidade física "Porque pela graça sois
salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus" ( Ef 2:8 );
"Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o
que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva" (
Jo 4:10 ).
Uma coisa é certa: ‘confiança’ a parte da fé, que é Cristo, não
salva. Confiar nos médicos, na lei, na religiosidade, etc., nada produz, mas
diante da fé manifesta, que é dom de Deus, se o homem confiar será salvo.
O homem é justificado por Cristo, a fé que havia de se
manifestar, a fé que uma vez foi dada aos santos “Tendo sido, pois,
justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” ( Rm
5:1 ); “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da
lei” ( Rm 3:28 ).
Aquele que confia no Verbo que se fez carne, o autor e
consumador da fé, tem a vida eterna, pois a confiança advém da palavra de Deus,
que é firme e permanece para sempre “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna;
mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele
permanece” ( Jo 3:36 ).
A crença da mulher lhe salvou porque ela creu naquele que tem
poder para justificar o ímpio, ou seja, a crença dela lhe foi imputada como
justiça, assim como ocorreu com Abraão “Mas, àquele que não pratica, mas crê
naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” ( Rm 4:5
); "E creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça" ( Gn 15:6
).
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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