MINHA
CABEÇA POR AMOR A CRISTO (PROFETA JOÃO BATISTA...)
1) Introdução
Vivemos numa época de
grande crise para o cristianismo duma maneira geral. Época em que muitos se
interrogam se fará sentido continuar a falar no amor de Jesus depois dos crimes
cometidos por países que se apresentam como evangélicos e que teimam em querer
dirigir o trabalho missionário a nível internacional.
Outros procuram uma orientação, um exemplo a seguir no trabalho
missionário em geral e na implantação de novas igrejas, já que os velhos
métodos de evangelismo parecem que só funcionam com os mais ingênuos e se
mostram incapazes de atingir a classe pensante do mundo dos nossos dias, cada
vez mais esclarecida nesta “aldeia global” em que a informação aparece
instantaneamente nos órgãos de informação, inclusive as imagens na TV.
Parece que alguma coisa está mal, mesmo muito mal, nas nossas
igrejas.
Tudo isso levou-me a pensar na seguinte questão: Qual o método
mais bíblico e mais indicado para os nossos dias, para a divulgação do
Evangelho inclusive para a abertura dum novo ponto de pregação, futura missão e
futura igreja?
Esta simples pergunta, quase que nos obriga a mencionar o
apóstolo Paulo e talvez com certa razão, pois ele foi um dos maiores exemplos
dum verdadeiro missionário e possivelmente é o que melhor se adapta ao nosso
contexto cultural.
Mas há um outro, grande pregador, que tem ficado um tanto
esquecido nos nossos dias. Refiro-me a João Batista.
Procurando nas páginas da internet, verifico que há mais páginas
católicas sobre o “Santo João Batista”, páginas ligadas às tradições populares,
assim como páginas espíritas, do que páginas evangélicas sobre este personagem,
que pelo facto de ser o elo de ligação entre o Antigo e o Novo Testamento, não
sendo bem do Antigo nem bem do Novo Testamento, tem ficado um pouco esquecido.
Mas porque optei por João Batista e não por Paulo?
É que no caso de Paulo, havia já uma igreja pequena em número,
mas forte e motivada, cheia do poder do Espírito Santo que apresentou a sua
mensagem ao mundo pagão, enquanto que no caso de João Batista, o mal não estava
no paganismo nem no ateísmo, o mal estava no próprio mundo religioso e nos seus
dirigentes.
Todo sabe que na época de João Batista, Israel estava dominada
por Roma.
Isso me levava a imaginar uma religião perseguida, as
humilhações e sofrimentos dos sacerdotes, símbolo da resistência do povo, e o
esforço para conservar viva a sua fé no meio de tanta perseguição, mas
afinal... depois de aprofundar o assunto baseado em dados históricos dessa
época, não posso deixar de ficar admirado, por ter encontrado uma realidade bem
diferente da que esperava. Pois fiquei admirado e abalado por ter chegado à
conclusão de que nesses dias, em que estava iminente a chegada do Messias...
Havia uma grande semelhança com a
realidade dos nossos dias.
É este o principal motivo que me leva a iniciar este artigo para
tentar compartilhar com os leitores da minha página estes pensamentos sobre
João Batista.
2) Quem foi João Batista?
João Batista nasceu cerca
de cinco meses antes de Jesus o Cristo numa região montanhosa de Judá.
Tanto seu pai, o sacerdote Zacarias, como sua mãe Isabel, era
descendente de Aarão. Sua mãe era prima de Maria, a mãe de Jesus.
O nascimento de João Batista foi um caso invulgar. Segundo nos conta
Lucas 1:5/25, seus pais eram pessoas de vida irrepreensível mas ambos já eram
pessoas idosas e Isabel era estéril.
Certo dia, quando Zacarias oferecia incenso no Templo, o anjo
Gabriel apareceu para lhe dizer que sua mulher iria ter um filho que seria
João, que este seria cheio do Espírito Santo desde o seu nascimento e teria a
função de preparar o povo de Israel para a vinda do Messias.
3) Contexto histórico e
cultural da época de João Batista
A época de João Batista,
é praticamente a mesma em que viveu Jesus o Cristo.
Israel já não era nação independente. Neste caso particular, a
Judeia tornara-se numa província do Império Romano no ano 6, e Roma impunha as
suas leis, embora fosse tolerante a ponto de manter em vigor a legislação dos
vários países conquistados enquanto essa não colidisse com a Lei Romana.
Assim, o Sinédrio de Jerusalém, embora continuasse a funcionar
como a mais alta representação política, jurídica e religiosa, aspectos que nem
sempre é fácil de dissociar nessa cultura, já não tinha a última palavra no
aspecto jurídico.
Este facto pode ser apresentado sob dois aspectos bem
diferentes: Uns podem dizer que deixou de haver liberdade de religião, pois os
sacerdotes deixaram de poder cumprir livremente todas as prescrições da Lei de
Moisés. Mas, para o vulgar israelita, que era israelita por ter nascido em
Israel, por ter sido circuncidado em tenra idade, que estava pressionado por
centenas de leis e regulamentos, que inclusive não podia escolher outra
religião nem dar mais de uns tantos passos em dia de sábado sem que fosse
condenado à morte de acordo com a Velha Lei, talvez a Lei Romana, que tirou ao
Sinédrio o direito de aplicar a pena de morte, lhe trouxesse nessa altura,
alguma liberdade, inclusive para escolher qualquer outra das religiões que
apareceram em Israel devido à liberdade de religião do Império Romano,
religiões que, de acordo com a Velha Lei deveriam ser exterminadas de Israel
assim como todos os seus praticantes.
Segundo Levítico 24:16 os casos de blasfêmia eram punidos com a
pena de morte, mas não se encontra uma definição de blasfêmia, assunto que
ficava um tanto ao critério dos membros do Sinédrio.
O Império Romano, sempre que possível, tentava pacificar os
territórios conquistados, mantendo os privilégios da classe dominante. Esse foi
também o caso de Israel na época em que João Batista inicia a sua pregação.
Segundo nos conta o
historiador Joaquim Jeremias, nessa época de dominação romana, época de João
Batista e do próprio Jesus Cristo, embora a Judeia, e todo o território de
Israel, estivesse dominado por Roma, os soberanos da dinastia herodiana, judeus
de influência romana, viviam com um luxo indescritível. Tinham grandes palácios
com arquitetura romana, mas mantiveram a sua fidelidade a algumas antigas
tradições do oriente, nomeadamente a poligamia, pois tinham haréns que aliás
eram permitidos pela Velha Lei e pela tradição, pois a Mishna permitia o máximo
de dezoito mulheres e o Talmude, vinte e quatro a quarenta e oito. Herodes o
Grande (37 a 4 A.C.) só teve dez mulheres, mas os seus descendentes, nesse
aspecto foram maiores do que ele.
Herodes Antipas, rei da Judeia, era filho de Herodes o Grande,
portanto da aristocracia de Israel, mas o pormenor mais importante é que tinha
sido educado em Roma que além da Judeia lhe concedeu as tetrarquias da Galileia
e da Pereia onde fundou a sua capital em Tiberíades. Embora israelita, mas com
mistura de sangue, era um rei fiel a Roma que tinha sido tão generosa para ele.
Mas o mais estranho é que, segundo alguns historiadores, sendo Herodes Antipas
um rei israelita, a sua guarda pessoal era constituída por tropas trácias e
germânicas, a que vieram juntar-se cerca de quatrocentos guardas gauleses da
guarda pessoal de Cleópatra, depois desta se suicidar, pois o Rei da Judeia temia
mais os seus súbditos do que os estrangeiros.
Mas ao falar em vida faustosa, não nos podemos limitar à
aristocracia herodiana.
Os altos sacerdotes viviam em palácios na zona alta de
Jerusalém, como, aliás, se vê nas passagens dos evangelhos que falam no
julgamento de Cristo.
Segundo Marcos 14:53/55 E levaram Jesus ao sumo-sacerdote, e
ajuntaram-se todos os principais dos sacerdotes, e os anciãos e os escribas. E
Pedro o seguiu de longe, até dentro do pátio do sumo-sacerdote, e estava
assentado com os servidores, aquecendo-se ao lume. E os principais dos
sacerdotes, e todo o Concílio ....... Sabe-se que esse Concílio, ou Sinédrio,
como era conhecido, era constituído por muitas dezenas de pessoas, e se juntarmos
os seus funcionários (escribas) podemos imaginar certamente mais de cem pessoas
que couberam perfeitamente numa das salas da residência do Caifás que tinha um
pátio interior certamente bem espaçoso, pois deu para acenderem uma fogueira
para se aquecerem.
Segundo podemos ver em João 18:17, até havia uma porteira em
casa do sumo-sacerdote, o que nos dá uma ideia do grande número de pessoas a
entrar e sair e das dimensões do edifício.
Mas não podemos ignorar que havia um grande desnível entre os
principais sacerdotes e os vulgares sacerdotes. Flávio Josefo conta o escândalo
ocorrido no ano 66 em que alguns chefes dos sacerdotes enviaram os seus
escravos às eiras para roubar os dízimos reservados ao sustento dos sacerdotes
comuns chegando alguns destes a morrer de fome.
O Templo de Jerusalém
fora reconstruído com uma grandeza e dimensões superiores ao antigo Templo de
Salomão e estava a funcionar em pleno, embora a sua atuação estivesse limitada
pela Lei Romana, como já referimos. O Templo perdera o “monopólio da religião”,
mas continuava a ser o mais importante centro religioso em Israel e toda a vida econômica da cidade estava relacionada com o seu Templo, onde continuavam a
oferecer os sacrifícios pelos pecados do povo, com todo o rigor da Velha Lei. Nenhuma
outra religião atraía tantas multidões como o Templo de Jerusalém com a sua
imponente liturgia, os mais famosos músicos e os melhores cantores que se
tinham aperfeiçoado desde os tempos do Rei David. Também sob o aspecto político
e teológico, o Templo era um elemento de união entre as várias seitas
veterotestamentárias, em que os israelitas estavam divididos, devido às
convicções religiosas, políticas ou profissionais, como os fariseus, saduceus,
essênios, zelotes, galileus, herodiamos, publicanos, escribas etc. num contexto
cultural em que não era fácil dissociar a religião da política ou dos
interesses profissionais.
Além do Templo, havia as várias sinagogas em Jerusalém, assim
como em todo o território do grande Império Romano, que competiam entre si pelo
rigor dos seus cultos, pela sua música e pela santidade dos seus membros,
embora com um conceito veterotestamentário de santidade, mais ligado à ideia de
santidade litúrgica ou santidade higiênica e à santidade da sua genealogia..
(Ver nosso artigo “Santidade ao Senhor”) Algumas das principais famílias de
sacerdotes de Jerusalém, tinham até uma passagem superior ligando suas
habitações ao Templo a fim de não se contaminarem em contato com o povo pecador
e impuro e sabiam de cor os nomes dos seus antepassados até dezenas de gerações
o que comprovava a sua santidade.
Roma decidira manter os privilégios dos levitas e sacerdotes,
nomeadamente na cobrança do dízimo, desde que tal não interferisse nos impostos
arrecadados pelos publicanos ao seu serviço. Claro que o povo, sujeito a essa
dupla tributação não tinha possibilidades de reagir nem tinha o apoio do seu
rei nem das suas autoridades religiosas.
Era esta a situação religiosa na época de João Batista.
Aparentemente, tudo estava perfeito, os rituais cumpriam-se com todo o rigor, e
os sacerdotes eram nomeados de acordo com a Velha Lei. Eles tinham toda a
autoridade para falar ao povo... mas tinham perdido para sempre a sua
credibilidade. Os dirigentes religiosos estavam completamente controlados e
cegos pelos seus interesses económicos e não estavam nada interessados em mudanças,
muito menos na vinda do Messias que poderia alterar a comodá posição de que
beneficiavam, com uma vida fácil e a paz com os romanos.
4) Métodos de pregação de
João Batista
Metanoeite, êggiken gar ê
basileia tôn uranôn ou seja “Mudem de
mente (ou de ideias, ou de comportamento) porque chegou o Reino dos céus”, ou
numa tradução mais livre, “Arrependam-se, porque já chegou o Reino de Deus”.
Foi este o incomodo e inoportuno grito de João Batista. Uma das frases mais
importantes de toda a Bíblia... talvez tão incomoda como seria a notícia nos
nossos dias “Jesus já chegou para julgar o mundo... O tempo terminou... Já não
há mais oportunidade para o arrependimento”.
Mas, num ambiente destes, que poderia fazer um homem sozinho,
sem ter o apoio duma importante e prestigiada organização com um imponente
edifício religioso bem colocado em Jerusalém, que desse certa credibilidade à
sua mensagem e sem um bom grupo coral (grupo de louvor) que atraísse as
atenções do povo?
Mas o Senhor, Deus supremo, escolheu precisamente João Batista,
para que não houvesse dúvidas de que este atuava de acordo com o Seu poder, e
não com as técnicas de comunicação. João faz precisamente o contrário do que
faziam os religiosos do seu tempo. Era o poder do Senhor em oposição à tradição,
e às técnicas de comunicação.
4.1 - Local de pregação.
Lucas 3:2/3 - Sendo Anás
e Caifás sumo-sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de
Zacarias. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de
arrependimento, para o perdão dos pecados.
Embora não conste que houvesse alguma via romana nas
proximidades do rio Jordão que era a fronteira natural entre a Judeia e a
Pereia, era ao longo deste rio que se fazia grande parte do trânsito de
viajantes entre Jerusalém e o norte do país. Nas línguas originais, quer o
hebraico quer o grego, a palavra “deserto” significava uma região não edificada
nem cultivada, mas que podia ter algumas zonas completamente estéreis e outras
com alguma vegetação, útil como terreno de pastagem. Lucas refere-se ao
“deserto da Judeia” e João 3:23 refere-se a um local chamado Enom, que
significa muitas águas, passagens que não estão em contradição, pois a
topografia do local, leva-nos a identificar uma região muito acidentada, com
extensões de terrenos áridos e secos, e o tal local Enom num ponto baixo com
grande quantidade de fontes, as muitas águas. Certamente águas de nascente, de
melhor qualidade para beber do que as águas do Jordão para onde escorriam. Um
local desses, numa zona desértica, era um importante ponto de passagem de
peregrinos que certamente paravam por momentos para descansar, beber e dar de
beber aos seus animais. Mas, pelo menos inicialmente, os ouvintes de João
Batista não eram os entendidos em religião, mas os vulgares viajantes, numa
época em que na sua maior parte seriam comerciantes ou peregrinos a caminho ou
de regresso de Jerusalém.
4.2 - Edifício
Em Jerusalém o Templo
ocupava o lugar central e as várias sinagogas rivalizavam entre si na busca dos
melhores locais.
João Batista não se preocupou em competir com eles. Como vimos,
foi para uma região “deserta” nas margens do Jordão. Não nos consta que tivesse
construído algum edifício para o seu culto.
4.3 - Corais, Grupos de
louvor.
Segundo testemunho de
vários irmãos que nos tem escrito, um bom “grupo de louvor” é um dos melhores
atrativos das igrejas dos nossos dias e o seu crescimento está quase sempre na
base dos chamados “grupos de louvor”.
Isto não é novidade. Já tal acontecia na época de João Batista.
Também na idade média, a música era muito utilizada nas igrejas e nos
conventos. Mas parece que ter boa música nem sempre é sinal de espiritualidade,
pois por vezes, quanto mais afastada está a igreja da mensagem de Jesus, melhor
é a música e mais impecável a sua liturgia. Parece que se tenta colmatar por
meios humanos o que nos falta do Poder do Senhor.
Não nos consta que houvesse música nas pregações de João
Batista.
4.4 - Contribuições
Um dos aspectos mais polêmicos dos nossos dias é o aspecto financeiro, as coletas levantadas para a
manutenção dos cultos, pois é necessário pagar o edifício e o sustento dos
pastores.
João Batista não tinha esses problemas, pois ele não tinha
nenhum edifício para o seu culto, nem pedia contribuições para o seu sustento.
Segundo Mateus 3:4 E esse João tinha o seu vestido de pelos de camelo e um
cinto de couro em torno dos seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel
silvestre.
Mas encontramos em Lucas 3:11 a resposta de João Batista à
multidão que lhe perguntava: Que faremos? ... Quem tiver duas túnicas, reparta
com o que não tem, e quem tiver alimentos faça da mesma maneira. João Batista
não pedia ofertas para o culto, nem para o seu sustento, mas pedia
solidariedade entre os que o seguiam. Essa ajuda ao próximo era perfeitamente
espontânea. Não havia contabilidade nem tesoureiros, nem fiscalização dos
donativos.
4.5 - Curas e milagres
As curas e milagres são
outro grande atrativo dos nossos dias. As maiores igrejas evangélicas são as
que anunciam grandes milagres. Também no catolicismo noto esse fenómeno. Basta
comparar as multidões que se juntam nos locais que prometem milagres, com a
assistência aos grupos que se juntam para estudar a mensagem de Jesus, ambos da
mesma Igreja Católica.
Não há registo de milagres ou curas efetuadas por João Batista.
O milagre que ele fazia era a transformação da mentalidade dos seus ouvintes.
4.6 - Técnicas de
comunicação
Penso que João Batista nada
percebia de técnicas de comunicação, que aconselham a apresentar um ar
simpático, agradável, a evitar atritos com os seus ouvintes, a nunca os
criticar, mas elogiar as suas capacidades e comportamentos, a ter uma certa
prudência para não os incomodar nem ofender ninguém.
João Batista falava sem rodeios e por vezes era rude e direto ao
comunicar com os seus ouvintes. Sendo um homem isolado, sem nenhuma guarda
pessoal nem guarda-costas, ousou dirigir-se aos... Fariseus e saduceus, que
vinham ao seu batismo, dizendo-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir
da ira futura? Mateus 3:7
Ele nunca se preocupou com o número dos seus discípulos, mas
somente que fossem verdadeiros discípulos.
4.7 - Homilética
Também não me parece que
João Batista se preocupasse com as regras da homilética nas suas pregações. É
verdade que estamos noutra cultura bem diferente, mas segundo dizem os
entendidos no grego, que não é o meu caso, ele não usa a linguagem elaborada
dos intelectuais do seu tempo.
4.8 - Conceito de santidade
Segundo a mentalidade
veterotestamentária, como já dissemos, o conceito de santidade era bem
diferente do que temos desde que João Batista inicia a sua pregação, que foi
homologada pela mensagem do Mestre.
No Velho Testamento temos uma santidade que significava
pertencer ao povo santo ou separado, e ser perfeito sob o aspecto físico,
quanto à saúde, à higiene e ao sexo. A discriminação sexual começava logo que
um bebé nascia, pois segundo Levítico 12:2/5, ao nascer um menino, mãe ficava
impura durante uma semana e proibida de entrar no Templo durante 33 dias, mas
se nascesse uma menina, essa proibição passava para duas semanas e para 66 dias
respectivamente. Em 1871 um arqueólogo descobriu a pedra com a inscrição que
proibia a entrada de estrangeiros no Templo, que seriam condenados com a pena
de morte em caso de desobediência. Também de acordo com Levítico 21:16/23, o
Deus de Israel só aceitava uma oferta através dum sacerdote que fosse
fisicamente perfeito, pois um sacerdote cego, ou coxo, ou de nariz chato ou com
membros muito compridos (vr.18), ou com o pé ou a mão defeituosa (vr.19), ou
corcunda ou anão ou com doenças de pele ou testículos defeituosos (vr.20),
desde que tivesse algum defeito físico, não poderia oferecer uma oferta
queimada ao seu Deus.
Na “Basileia” o novo Reino de Deus que João Batista anunciava,
os critérios eram outros. Ele chamou de “raça de víboras” aos “santos” e
“perfeitos” segundo o critério veterotestamentário, mas não discriminou nenhum
dos que o procuravam com sinceridade, pois segundo Mateus 3:6 eram batizados no
Jordão confessando os seus pecados. A ele se juntaram muitos dos que eram
rejeitados pelo Templo de Jerusalém. Segundo Lucas 3:12/14 João Batista recebia
publicanos, considerados como traidores a Israel e até soldados, não sendo
possível dizer se seriam soldados romanos ou soldados judeus destacados para
proteção dos publicanos que os acompanharam, mas em qualquer das hipóteses eram
o oposto aos santos das sinagogas e do Templo de Jerusalém.
5) Conclusão
Jesus prometeu que
voltaria, mas na sua segunda vinda já não será para salvar, mas sim para julgar
o mundo e não podemos estar indiferentes aos últimos acontecimentos
internacionais, a um mundo que cada vez se assemelha mais ao mundo que precedeu
a vinda de Cristo, com a hipocrisia de certas igrejas, a deturpação da mensagem
de paz e amor que Jesus nos deixou, o materialismo dos vários países em que
mais importante que a justiça são os seus interesses económicos, pois qualquer
dirigente político que fale em justiça internacional pouca aceitação terá, o
que interessa aos governos são os seus interesses económicos.
Entretanto, a maior parte das igrejas ditas “evangélicas”
continua com o seu habitual folclore religioso, tal como o Templo de Jerusalém
nos dias de João Batista. Continuam indiferentes ao que se passa no nosso
mundo, como se não tivessem uma função a cumprir. As igrejas tornaram-se mais
um lugar de “santos” isolados do nosso mundo, do que lugar de pecadores
arrependidos e transformados, com uma mensagem para os nossos dias.
Segundo Mateus 3:6, os discípulos de João Batista eram batizados
no rio Jordão, confessando os seus pecados, enquanto os sacerdotes e fariseus
se apresentavam no Templo apregoando a sua santidade. Já tenho recebido
mensagens de crentes que me dizem: “Sou um diácono ou um presbítero, e não me
deixam sentar nas cadeiras na parte da frente, perto do púlpito...” Mas afinal,
qual o ideal das nossas igrejas? É o Templo de Jerusalém onde exibiam a sua
santidade, ou o grupo de pecadores de João Batista?
O Evangelho já não é tão pregado nos nossos dias como parece,
pois pregar o Evangelho não é só por palavras. Isso seria muito fácil com os
meios de que dispomos. Com a rádio, a TV e a internet seriam possíveis divulgar
as palavras, as principais afirmações teológicas, por todo o mundo ao mesmo
tempo. Alguns famosos evangelistas americanos, já o têm feito convencidos de
que estão a pregar o verdadeiro Evangelho de Jesus, só por estarem
teologicamente corretos. Talvez tão corretos como estivessem os fariseus e
saduceus que foram ao batismo de João.
Evangelismo bíblico, como João Batista ensinou, e Jesus
confirmou, implica partilha de bens materiais. Quem tiver duas túnicas, reparta
com o que não tem, e quem tiver alimentos faça da mesma maneira. Lucas 3:11 Os
países ricos, geralmente estão dispostos a enviar os seus “missionários”,
muitas vezes sem a necessária preparação secular nem teológica, mas não estão
abertos à genuína evangelização que implica partilha de conhecimentos através
de verdadeiros Missionários devidamente preparados, e muitas vezes partilha do
que roubam aos países mais pobres.
Talvez tenhamos de voltar ao início e começar com a
evangelização dos “evangélicos” do nosso mundo onde os ricos são cada vez mais
ricos e se consideram como cristãos evangélicos. Mas será que ainda há tempo
antes de Cristo voltar?!!
Penso que não está prevista a vinda de nenhum profeta antes da
segunda vinda de Cristo. Até pelo contrário, essa vinda será repentina e quando
menos esperarmos.
Mas pode ser que o Senhor tenha piedade de nós e nos levante
algum pregador no género de João Batista, liberto do controle eclesiástico,
pois afinal, isso não depende da vontade humana, nem do apoio das igrejas, nem
das decisões das juntas missionárias, nem de grandes verbas para majestosos
edifícios ou divulgação nas emissoras de rádio e TV. Tudo isso pode ajudar, mas
não basta, pois tem fracassado assim como fracassou o Templo de Jerusalém.
Mas então, o que é necessário? Qual o segredo de João Batista?
Pensamos que em primeiro lugar, João Batista confiou no Senhor,
não procurou apoio de nenhuma organização do seu tempo e disse o que afinal já
todos sabiam, mas ninguém tivera a coragem de denunciar. Antes de falar aos
gentios, ele começou por tentar “arrumar a sua casa” a Casa de Israel.
Talvez estejamos perto da segunda vinda de Jesus o Cristo, e o
mais grave é que desta vez não haverá nenhum profeta para a anunciar, e ele
virá para julgar o mundo em que vivemos. Mas quando será essa segunda vinda? Já
me têm feito essa pergunta.
Tenho procurado ser realista e não vou mostrar a minha fraca
“espiritualidade” dizendo que está para muito breve.
Penso que não será durante a minha vida, e talvez seja este o
pensamento de muitos dos nossos irmãos.
Mas quero terminar com Mateus 24:44 ...porque o Filho do homem
há-de vir à hora em que não penseis.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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