AS
DUAS TESTEMUNHAS DO LIVRO DE APOCALIPSE QUEM SÃO...
As Duas Testemunhas (Ap 11)
O capítulo 11 de Apocalipse, que trata do ministério das duas
testemunhas, pode ser dividido em quatro parágrafos principais:
a) identificação (11.1-3);
b) autoridade (11.6);
c) morte (11.1-8);
d) ressurreição (11.11) .
Identificação e ministério das duas testemunhas (11.3)
Existem diversas opiniões não conclusivas a respeito da identidade
das duas testemunhas. Antes, porém, é necessário identificarmos que se tratam de
profetas enviados por Deus, cuja identificação externa se encontra na
peculiaridade das vestimentas, característica dos profetas veterotestamentários
(Ap 11.3). Por esta razão alguns tem identificado estes dois profetas como
Elias e Moisés, Enoque e Elias. Em síntese, as razões apresentadas são:
1) Elias:
a) Representando os profetas do Antigo Testamento;
b Porque através de seu ministério evitou que chovesse
(1 Rs 17.1 cf. Ap 11.6);
c) Devido a profecia de Malaquias 4.5,6;
d) Porque não morreu e precisaria para cumprir Hb 9.27.
2) Moisés:
a) Representando a Lei;
b) Porque por meio de seu ministério transformou a água em sangue
(Êx 7.19 cf. Ap 11.6);
c) Seu corpo foi escondido do diabo a fim de que Deus pudesse usar
seu corpo contra o Anticristo;
Por essas razões alguns consideram que será Elias e Moisés, visto
estes terem aparecido na transfiguração de Cristo (Mt 17.3).
3) Enoque:
a) Pelo fato de não ter
morrido e a necessidade de se cumprir Hb 9.27
.
Por essa razão pensam certos comentaristas de se tratar de Elias e
Enoque.
Todavia, acreditamos na identificação anônima ou incógnita destas
duas testemunhas e de que não se trata de nenhum destes profetas, mas de dois
personagens cristão, segundo se depreende do versículo 8 que afirma:
E os seus corpos jazerão na praça da grande cidade, que
espiritualmente se chama Sodoma e Egito, ONDE O SEU SENHOR TAMBÉM FOI
CRUCIFICADO.
As cenas que estão descritas na primeira parte do capítulo 11 do
livro de Apocalipse (ver Apocalipse 11:1-14) é uma continuação do período
histórico da sexta trombeta. O texto faz referência ao último período
profético, quando ocorreram as mais cruéis perseguições contra o povo de Deus
(ver Apocalipse 11:2 e 3). Durante este período a Palavra de Deus descreve a
exaltação das duas testemunhas. Elas iniciaram o seu testemunho em 538 d.C.,
quando o povo de Deus foge para o deserto, e terminaram em 1798 d.C., data em
que houve o aprisionamento do líder da igreja romana. A respeito desse período
é nos dito o seguinte: “E concederei às minhas duas testemunhas que, vestidas
de saco, profetizem por mil duzentos e sessenta dias” Apocalipse 11:3.
As ações do povo de Deus em defender os ensinamentos dos profetas e
preservar a eterna lei do Senhor durante esse período, também conhecido como
“idade média”, foram comparadas à atuação destas duas testemunhas,
identificadas como “profetas”, conforme Apocalipse 11:10, as quais no passado
atormentaram os habitantes da terra. Não foi por um acaso que as duas
testemunhas tiveram destaque durante o ministério de Jesus, ao serem vistas por
três de Seus apóstolos em uma visão do futuro reino milenar de Cristo (ver
Mateus 16:28; 17:1, 3 e 9). Com os mesmos ideais que as duas testemunhas
tiveram quando enalteceram a eterna lei de Deus e quando combateram a idolatria,
assim também o povo de Deus prossegue anunciando o verdadeiro Evangelho aos que
habitam sobre a Terra.
Estas duas testemunhas foram:
ELIAS – Esta testemunha teria o “poder para fechar o céu, para que
não chova durante os dias da sua profecia; ...” Apocalipse 11:6 (primeira
parte). Comparar com I Reis 17:1 – “Então Elias, o tisbita, que habitava em
Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor, Deus de Israel, em cuja presença estou,
que nestes anos não haverá orvalho nem chuva, senão segundo a minha palavra.” O
profeta Elias tenazmente combateu a idolatria e a adoração aos falsos deuses.
MOISÉS – Esta testemunha teria o poder “sobre as águas para
convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas
vezes quiserem.” Apocalipse 11:6 (última parte). Comparar com Êxodo 7:19 –
“Disse mais o Senhor a Moisés: Dize a Arão: Toma a tua vara, e estende a mão
sobre as águas do Egito, sobre as suas correntes, sobre os seus rios, e sobre
as suas lagoas e sobre todas as suas águas empoçadas, para que se tornem em
sangue; e haverá sangue por toda a terra do Egito.” O profeta Moisés recebeu as
duas tábuas da LEI (Dez Mandamentos), escritas pelo próprio dedo de Deus e
durante a sua vida defendeu o seu cumprimento.
Após as duas testemunhas serem exaltadas nos é dito: “E passado o
segundo ai; o terceiro ai cedo virá.” Apocalipse 11:14.
Este texto bíblico deixa muito claro, portanto, que entre os toques
da sexta trombeta (segundo “ai”) e a sétima trombeta (terceiro “ai”), haveria
um período de espera. Tudo se encaixa perfeitamente, pois, de acordo com
Apocalipse 10:11, haveria um tempo em que o remanescente povo de Deus receberia
a incumbência de profetizar novamente a muitos povos, e nações, e línguas, e
reis.
Durante esse período de espera, fatos de grande relevância deveriam
ocorrer, os quais teriam como objetivo sinalizar o breve retorno de nosso
Senhor Jesus Cristo.
A segunda parte do capítulo 11 do livro de Apocalipse (ver
Apocalipse 11:15-19) faz referência às majestosas cenas que ocorrerão ao toque
da sétima trombeta. Ela anunciará a queda de todos os reinos do mundo e a tão
esperada volta de Cristo. Esta é a maravilhosa e inconfundível certeza: “Os
reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará
pelos séculos dos séculos.” Apocalipse 11:15.
No auge da última e decisiva guerra do Armagedom (sexta praga),
todos os inimigos de Deus serão aniquilados e os reinos do mundo serão
entregues ao nosso Senhor Jesus Cristo. O Apocalipse confirma a presença e
atuação do dragão, da besta e do falso profeta nesta última batalha (Apocalipse
16:13 e 14; 19:11-21).
O apóstolo Paulo diz: “Eis aqui vos digo um mistério: nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de
olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão
ressuscitados incorruptíveis. E nós seremos transformados.” I Coríntios 15:51 e
52.
Aos tessalonicenses o apóstolo Paulo tem declarado o seguinte:
“Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao
som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.” I
Tessalonicenses 4:16.
Portanto, ao soar a última trombeta, os justos mortos serão
ressuscitados e os justos vivos serão transformados.
O profeta Daniel assim descreve esse grandioso evento, ao revelar o
sonho do rei Nabucodonosor:
“Estavas vendo isto, quando uma pedra foi cortada, sem auxílio de
mãos, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os esmiuçou. Então
foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais
se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se
podia achar nenhum vestígio deles; a pedra, porém, que feriu a estátua se
tornou uma grande montanha, e encheu toda a terra. ...Mas, nos dias desses
reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem
passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos
esses reinos, e subsistirá para sempre.” Daniel 2:34, 35 e 44.
Diz também a Palavra de Deus que, ao soar a sétima trombeta
“abriu-se o santuário de Deus que está no céu, e no seu santuário foi vista a
arca do seu pacto; e houve relâmpagos, vozes e trovões, e terremotos e grande
saraiva.” Apocalipse 11:19. Esta cena é descrita novamente quando o sétimo anjo
derramar a sua taça no ar: “...e saiu uma grande voz do santuário, da parte do
trono, dizendo: Está feito. E houve relâmpagos e vozes e trovões; houve também
um grande terremoto, qual nunca houvera desde que há homens sobre a terra,
terremoto tão forte quão grande; ...e sobre os homens caiu do céu uma grande
saraivada, pedras quase do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus
por causa da praga da saraivada, porque a sua praga era mui grande.” Apocalipse
16:17-21.
Os textos de Apocalipse 11:19 e Apocalipse 16:17-21 tratam do mesmo
evento. Ao som da sétima trombeta dar-se-á a volta de nosso Senhor Jesus, a
queda total das nações, a recompensa dos santos e a implantação do Reino
Milenar de Cristo.
A citação sobre as duas testemunhas se encontra em Apocalipse
11,3-12. Trata-se, sem dúvida, de personagens extraordinários. As suas ações
são descritas em 3 fases: a pregação acompanhada pela capacidade de realizar
prodígios; a sua perseguição e morte por parte daqueles que se sentiam
atingidos pela pregação; a sua ressurreição e assunção aos céus, onde os
inimigos lhes contemplavam. Trata-se, como se pode logo intuir, de um esquema
típico que encontramos também na vida de Jesus. Por isso poderíamos dizer que o
autor pretende que imaginamos que estas personagens são semelhantes ao próprio
Cristo. É exatamente por isso que provavelmente são chamadas de “testemunhas”,
pois encarnaram em suas vidas o objeto de seus testemunhos, isto é, o
ensinamento e o mistério pascoal de Cristo.
O fato de serem dois tem a ver com a autenticidade de seus
testemunhos. Nos processos era necessário que as testemunhas de acusação fossem
ao menos duas ( cf. Números 35,30; Deuteronômio 17,6; 19,15; Mateus 18,16; Gv
8,17; Hebreus 10,28). Da mesma forma, aqui nesse texto, o número dois indica a
credibilidade das suas palavras.
Outro elemento que dá autoridade a eles é o fato que lhes são
atribuídos alguns poderes típicos dos profetas Elias (não fazer chover) e
Moisés (transformar a água em sangue e infestar o território com pragas) e que
da boca deles sai fogo, como daquela de Jeremias, a quem o Senhor diz
“Porquanto disseste tal palavra, eis que converterei as minhas palavras na tua
boca em fogo, e a este povo em lenha, eles serão consumidos” (Jeremias 5,14).
Diz isso para indicar o poder divino e ‘destruidor’ da palavra divina que sai
da boca dos profetas (trata-se da ‘potência destrutiva’ que esta palavra opera
quando entra em contato com a vida das pessoas e que pode provocar uma tremenda
oposição que leva a matar ao profeta).
Por último, temos o elemento de credibilidade por excelência que é a
ressurreição/assunção aos céus das testemunhas, que – como na morte – têm o
mesmo destino de Cristo também na glória, uma realidade que aparecerá aos olhos
de todos e que será ‘contemplada’ (com um sentido de reflexão sobre aquilo que
se vê) pelos seus próprios perseguidores.
Agora abordemos especificamente a pergunta: ‘as duas testemunhas
estão entre nós’? A resposta que dou em seguida dá a oportunidade de introduzir
um princípio que é muito importante para compreender o mecanismo dos símbolos
nas narrações bíblicas.
O aspecto simbólico das imagens usadas no Apocalipse (assim como em
outros lugares na Bíblia) nos permite poder sempre identificá-los com pessoas e
acontecimentos do nosso tempo. O Apocalipse, que é – como se traduz o grego
apokalypsis – ‘revelação’, nos fornece chaves e critérios que nos ajudam a
distinguir, dentro duma realidade, algo de negativo ou positivo e nos auxilia
no discernimento diante de pessoas e suas ações e da história. Para poder ter
esse efeito, porém, o símbolo deve também transcender a realidade que temos
diante de nós. Deve valer agora e no futuro. Não podemos dar nome e sobrenome
para as duas testemunhas (como também não podemos dá-lo à Besta ou a outras
imagens simbólicas do Apocalipse), pois, se fizéssemos isso, anularíamos o
símbolo, transformando-o em algo não mais aplicável a ninguém no futuro. Uma
pessoa, um reino, uma nação podem ter, na história, nomes diferentes, mas
também aspectos positivos e negativos que reaparecem.
Falando em perspectiva inversa, no símbolo temos características
típicas do bem – beleza, convivência pacífica, harmonia, amor, etc. – ou também
do mal – confusão, violência, guerra, humilhação, etc. – que na história podem
assumir traços físicos diferentes em períodos diversos. Aquilo que importa não
é identificar anagraficamente isto ou aquilo, mas é ter em mãos os instrumentos
para se comportar conforme a maneira que o Apocalipse nos ensina, que é típico
do cristão: exercitar o nosso juízo crítico em relação à realidade em que
vivemos e seus protagonistas, para permanecer atentos, para abraçar com
confiança aquilo que é bom e, igualmente com confiança, afastar-se do mal.
Mas certo com a vinda de Jesus Cristo essa duas testemunhas será
Enoque e Elias, pois ambos não viram a morte.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr.
Edson Cavalcante
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