AINDA
QUE A FIGUEIRA NÃO FLORESÇA...
Por Que, Senhor ...?
Habacuque Questiona a Justiça de Deus
Vivemos num mundo violento, cheio de injustiça. Os jornais
trazem notícias diárias de assaltos, assassinatos, atentados e ataques.
Acreditamos que Deus domina tudo (Daniel 4:32), mas achamos difícil compreender
a maldade que nos cerca. Pessoas inocentes são vítimas da crueldade de outros.
Nações entram em conflitos uma contra outra. Olhamos para Deus com uma única
pergunta: "Por que o Senhor permite tal violência e injustiça?"
O profeta Habacuque viveu, provavelmente, uns 600 anos antes de
Cristo, na terra de Judá. O pequeno livro dele relata uma discussão entre o
profeta e o próprio Deus. Habacuque pergunta e Deus responde. Habacuque se
sente alarmado pela resposta de Deus e faz uma segunda pergunta. Deus responde
de novo, e Habacuque aceita, humildemente, a réplica do Senhor, dando louvor a
ele num cântico de adoração. Habacuque faz a pergunta que nós gostaríamos de
fazer, e recebe a resposta com a atitude que devemos mostrar. Leia o livro de
Habacuque, e observe os pontos principais da conversa.
Habacuque: Até quando, Senhor? (1:1-4)
Habacuque começa seu livro com uma série de perguntas: "Até
quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E
não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão?"
(1:2-3). Habacuque viu a violência de Jerusalém e a injustiça de seus líderes,
e não entendeu a tolerância do Senhor. Nós, que moramos hoje em grandes
capitais como São Paulo, poderíamos fazer a mesma pergunta, "porque o
perverso cerca o justo, a justiça é torcida" (1:4). O profeta pediu
justiça. Ele queria livramento divino para proteger os inocentes e castigar os
malfeitores.
Deus: Trarei destruição (1:5-11)
Deus respondeu ao pedido de Habacuque, concordando plenamente
com sua queixa. O povo violento e injusto merecia o castigo, e Deus o traria
logo. Ele prometeu a justiça naquela geração. Mas, o instrumento da ira divina
seria o povo caldeu, ou seja, os babilônios. Deus descreveu este povo forte e
cruel. Disse que os caldeus faziam suas próprias leis (não respeitando a
autoridade de ninguém), destruindo seus inimigos e adorando seu próprio poder
como se fosse um deus.
Habacuque: Assim, não! (1:12-17)
Quando ele ouviu a resposta de Deus, Habacuque ficou apavorado.
Podemos entender a reação dele, pensando em nossa circunstância atual. Imagine
pedindo a justiça de Deus contra os malfeitores da sua cidade e ouvindo tal
resposta assustadora. Deus chamaria um povo cruel e forte para destruir a
cidade! Quando Habacuque pediu justiça, ele não imaginou medidas tão drásticas.
Ele questionou este plano de Deus, utilizando uma série de argumentos. Leia
este trecho cuidadosamente e considere as implicações de seus pontos
principais, baseados no caráter de Deus:
1. O Deus eterno não pode destruir seu povo escolhido: "Não
morreremos".
2. O Deus santo não pode contemplar o mal e a opressão: "Tu
és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes
contemplar".
3. Como é que o Deus justo usaria um povo ímpio (Babilônia) para
castigar um povo relativamente mais justo (Judá)?: "Por que, pois, toleras
os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é
mais justo do que ele?"
4. Como é que o Deus piedoso permitiria que o inimigo cruel
alimentasse seu desejo de matar?: "A todos levanta o inimigo como o anzol,
pesca-os de arrastão e os ajunta na sua rede varredoura; por isso, ele se
alegra e se regozija... Acaso, continuará, por isso, esvaziando a sua rede e
matando sem piedade os povos?"
5. Como o Deus verdadeiro pode usar um povo que adora seu
próprio poder militar?: "Por isso, oferece sacrifício à sua rede e queima
incenso à sua varredoura; porque por elas enriqueceu a sua porção".
Habacuque: Esperando a resposta de Deus (2:1)
Depois de fazer suas perguntas, Habacuque mostrou uma atitude
admirável. Ele disse: "Por-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei
sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu
teria à minha queixa." Habacuque questionou porque ele não compreendia os
planos de Deus, mas ele mostrou reverência para com o Senhor. Ele não apontou o
dedo de acusação para criticar as decisões de Deus. Aqui, aprendemos uma lição
valiosa. Podemos perguntar, mas o homem jamais tem direito de contrariar a
sabedoria de Deus. Habacuque não entendia e, por esse motivo, perguntou. Mas,
ele não demonstrou a arrogância de algumas pessoas que se acham mais sábias que
o próprio Deus. Ele não julgou a decisão de Deus. Habacuque simplesmente
aguardou a resposta.
Deus: Motivos para castigar os caldeus (2:2-19)
Na primeira resposta, Deus prometeu trazer um povo cruel e
violento (os caldeus ou babilônios) contra Judá. Mesmo assim, ele conheceu os
pecados dos caldeus e traria castigo sobre eles. Os motivos dados aqui servem
de advertência para todas as nações, inclusive as modernas. Deus preparou o
castigo da Babilônia por estas razões:
1. Acumular bens de outros (2:6-8). Pelas práticas desonestas e
violentas, os caldeus acumularam bens que não pertenciam a eles. Tanto nações
como indivíduos devem adquirir os seus bens por maneiras honestas. Deus
castigará as pessoas e os povos que roubam e que não pagam as suas dívidas.
2. Confiar nas fortalezas humanas (2:9-11). Os caldeus usaram a
riqueza conquistada em guerras para fortalecer sua própria nação. Colocaram seu
"ninho" em lugar alto, achando que nenhum inimigo teria condições de
invadi-lo. Até hoje, as nações se enganam da mesma maneira. Confiam nos seus
sistemas de defesa e na força militar enquanto esquecem do princípio revelado
por Deus há muitos séculos: "A justiça exalta as nações, mas o pecado é o
opróbrio dos povos" (Provérbios 14:34).
3. Edificar a cidade com sangue e iniquidade (2:12-14). Os
babilônios, como muitos outros impérios, construíram com violência e opressão.
Deus nunca aprovou a maldade de homens que procuram levar vantagem sobre
outros. Os mais fortes devem proteger os mais fracos, ao invés de abusar deles.
Os mais ricos devem ajudar os mais pobres, e não explorá-los.
4. Envolver outros no pecado (2:15-17). A Babilônia induziu
outros países a participar de seus pecados. A imagem que o profeta usa aqui é
de uma tática bem conhecida. Quando as filhas de Ló queriam induzir o pai a
deitar com elas, deram-lhe vinho (Gênesis 19:30-38). Quando Davi queria
convencer Urias a voltar para a casa dele, ele lhe deu bebida forte (2 Samuel 11:13).
Deus prometer inverter a situação. Ele mesmo daria para Babilônia o cálice da
ira dele.
5. Praticar idolatria. Nas sentenças contra povos na Bíblia,
encontramos diversos pecados que merecem a punição. Nenhum desses pecados é
mais abominável ao Senhor do que a idolatria. A idolatria envolve uma rejeição
total e insensata do Criador. Rejeição total porque o único verdadeiro Deus é
substituído por um ou mais falsos deuses. Deus, nesse segundo discurso a
Habacuque, destaca a insensatez da idolatria. Deus zomba dos ídolos e de seus
seguidores, mostrando que é absolutamente absurdo adorar uma imagem. Observe os
argumentos dele: Î O ídolo é uma obra de mãos humanas que se torna maior do que
seu criador. O homem faz uma imagem e confia nela! Ï O ídolo é totalmente
impotente. Não fala, não se mexe, não ensina e nem respira. Paulo resumiu o
argumento, alguns séculos depois, quando disse: "...sabemos que o ídolo,
de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus" (1 Coríntios
8:4).
Por todos esses motivos, Deus pretendia castigar os caldeus.
Eles serviriam primeiro, de instrumento dele para punir o povo de Judá. Mas,
menos de 50 anos depois da destruição de Jerusalém por mãos babilônicas, o
império da Babilônia caiu. Deus, na hora que ele determinou, trouxe a justiça
sobre esse povo ímpio.
Habacuque: O servo diante do Deus santo (2:20 - 3:19)
Em contraste com os falsos deuses feitos por mão humanas,
"O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a
terra" (2:20). Habacuque ouviu a segunda resposta de Deus é se sentiu
"alarmado" (3:2). Ele não questionou mais. O capítulo 3 é um cântico
de louvor, no qual o profeta reconhece a sabedoria, a justiça e o poder de Deus
e se mostra absolutamente submisso a ele. Observe, na sua leitura do capítulo,
os seguintes pontos: 1. Habacuque pede misericórdia (3:2). Ele sabe que Deus
age em justiça, mas ele também conta com a piedade do Senhor. 2. O profeta
louva a Deus, dando glória pelo poder e pela sabedoria dele. 3. Ele destaca o
poder divino, reconhecendo que Deus usa sua grande força para aplicar justiça.
4. Habacuque vê Deus como muito maior do que o universo e, obviamente, muito
superior aos inimigos humanos que ameaçam os justos. 5. O profeta se sente
fraco, suportando a grandeza da revelação com grande dificuldade. 6. Habacuque
deposita sua plena confiança no Senhor, dizendo que continuará louvando a ele,
mesmo se não sobrar nada para sua alimentação.
Conclusão: A mensagem consoladora (3:18-19)
Habacuque começou o livro tentando entender o que Deus faz, e o
terminou sem compreender, totalmente, a justiça e a sabedoria de Deus. Mas, ele
aprendeu o mais importante, a mensagem que nos sustenta no meio de angústias:
Não precisamos compreender tudo que Deus faz, mas precisamos saber que é Deus
que faz;
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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