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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

JESUS E O PLANO DA SALVAÇÃO...



                                           JESUS E O PLANO DA SALVAÇÃO...
“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. Ap 13:8.
O referido versículo é usado muitas vezes para defender a literalidade da morte de Jesus ainda antes da fundação do mundo, todavia, tal afirmação necessita de argumentos que venham corroborar essa assertiva.
Vale ressaltar que em nenhum momento é dito que o cordeiro foi morto “antes”, mas “desde” a fundação do mundo. Uma tradução mais literal para esse texto seria:
“E hão de adorá-la todos os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos desde a origem do mundo no livro da vida do Cordeiro imolado”.
De fato a afirmação do texto é quanto a predeterminação Divina da morte do cordeiro, cuja efetivação estava de antemão assegurada, como se já tivesse sido levada a efeito; do mesmo modo como é assegurado o naufrágio da fé daqueles que não possuem seus nomes no livro da vida.
Paulo escrevendo a Timóteo patenteia a ideia da morte do cordeiro em sua manifestação terrena : “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;
E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte (com sua morte), e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho” (II Tm.1.9-10).
Pedro em conformidade com Paulo assevera: “Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido (Não morto), ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (I Pe.1.19,20).
A predeterminação da morte de Jesus só vem fortalecer a ideia da soberania de Deus, pois demonstra claramente sua hegemonia absoluta, inclusive no que se refere aos seus planos.
Há pensamentos e propósitos seus inexistentes na esfera humana, no mundo da matéria, que só “existem” na sua inacessível e incomensurável mente, a bíblia assim o demonstra.
“Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó {Ex 3,6}? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos” (Mt.22.31,32);
“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia”. ( Sl.139.16).
As escrituras explicitam de forma inequívoca a onipotência de Deus quando o mostra considerando existente o inexistente: (Como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem (Rm.4.17).
Logo, os propósitos de Deus quanto aos homens delineados na eternidade, não são efetivados nessa dimensão, pois dizem respeito à humanidade caída, e não a seres celestes não contaminados pelo pecado.
Ademais, o derramamento de sangue através de sacrifícios e holocaustos foi ordenado aos homens, não aos anjos. Não há nem uma palavra da Escritura sobre uma morte vicária nos céus. A bíblia fala daquele terrível dia no calvário, quando o decreto eterno foi concretizado, como bem testificou Pedro no dia de pentecostes.
“A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. (At. 2.23).
Jesus foi morto de fato na eternidade ou no tempo?
Tomar apocalipse 13. 8 em particular, para afirmar a morte literal de Jesus na eternidade, antes da sua entrada na linha do tempo, é desmontar o ato salvífico em todas suas instâncias, é destituir Deus de sua ontologia, já que na eternidade ele é espírito, e na dimensão que a bíblia chama de céu não há derramamento de sangue, muito menos morte com já foi dito. Um espírito não tem carne, nem sangue.
Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.(Lc. 24.39).
Na dimensão atemporal de Deus, fora da cronologia humana, tendo como base sua infinitude e poder de convergir em si todas as coisas, não se consegue falar da morte do cordeiro, sem apontar para o pecado que a causou. Tudo isso teria que ter sido factual no âmbito eterno (céu).
O que podemos apreender aqui a respeito da morte sacrificial do cordeiro de Deus, é que isso só seria possível no campo dos seus atributos e de forma descendente, ou seja, a eternidade, o atemporal imiscuindo-se no tempo. No entanto, necessitamos compreender o tempo em sua ambivalência.
Kairos, como usado no mundo helênico, é algo como um momento que nos parece particularmente adequado para levarmos a efeito os nossos planos particulares, tornando-os nesse âmbito um tempo propício.
O Kairos aplicado às escrituras do Novo Testamento, não comunga da ideia helenista de planificações e projetos humanos, é antes um decreto Divino que faz desta ou daquela data um Kairos.
E te derrubarão a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo (Kairos ) da tua visitação (Lc.19.44)
Em outro lugar é apontado um Kairos concernente ao anticristo.
“E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo (Kairos) seja manifestado”. (II Ts 2.6).
Paulo ainda se refere a um Kairos (tempo propício) quando seria revelado o único e verdadeiro Deus, Senhor dos senhores.
“A qual a seu tempo (Kairos) mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores”(I Tm. 6.15).
Observado no sentido Neotestamentário, o Kairos pode ser distribuído na linha do tempo formando a história da salvação, particularizando-a em etapas. Nunca esse Kairos decretivo se encontra presente na linha contínua do tempo, posto que pertence ao atemporal, ao Divino, àquele que não existe, pois sustenta toda a existência em si mesmo, estando ele mesmo fora da existência do ser.
“Pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas” (At.17.25).
Κρόνος é o tempo sequencial, existencial, que à semelhança da mitologia helênica, nos vence, nos devora, nos mede em sua redoma temporal e nós o medimos, mas nunca nos congratulamos em contemporaneidade, pois embora Kronos seja dimensionado de forma terreal, ele é sempre ulterior a nós homens.
É de sua nomenclatura imponente que derivam cronologia, cronômetro, cronograma, nominações sempre voltadas à altaneira obra de aferir aquele que desnuda nossa efemeridade.
Deus manifestando-se no Kronos
Deus em sua sabedoria e arbítrio (aliás, Deus é o único que não tem o arbítrio escravizado por nada, nem por ninguém) resolveu manifestar-se ao homem, por isso criou um corpo de carne no ventre Mariano: “No principio era o Logos (a mente ou inteligência suprema de Deus), o Logos estava com Deus (isso não foge da lógica em momento algum) e o Logos era Deus.
Assim como não podemos desassociar a mente do corpo sem aniquilar todo o ser , Deus sendo espírito não pode ser desassociado daquilo que o “sustenta” enquanto ser - sua faculdade criadora, inteligente e ativa - O Logos.
Na dimensão ou mundo estritamente espiritual não havia possibilidade de Deus ser visto por nenhum ser terráqueo. O que de Deus os homens puderam ver foram teofanias, ou seja, manifestações físicas as quais indicavam a “presença” Divina, fosse por meio do fogo, fenômenos nas águas etc.
Tudo ponteado por interpretações antropomórficas das mais diversas, algumas delas descritas pela própria bíblia, com o intuito de expressar em linguagem inteligível a revelação Divina.
“E vendo o SENHOR que se virava para ver, bradou Deus a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.
Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus” (Ex.3.4-6).
“Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Pv 15.3).
“Ajuntai-vos todos vós, e ouvi: Quem, dentre eles, tem anunciado estas coisas? O SENHOR o amou, e executará a sua vontade contra babilônia, e o seu braço será contra os caldeus”. ( Is.48.14).
Deus é descrito falando do meio do fogo em um sarçal, como tendo olhos e braços tal quais os humanos.
Toda a linguagem figurada da bíblia com relação ao Divino, busca metafisicamente e por analogia, expressar e qualificar Deus enquanto ser, algo dialeticamente inalcançável, encontrando sua perfeição dialógica tão somente na encarnação do Logos.
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”
O que era “realidade” exclusiva do Logos (mente) de Deus no tempo sem tempo, ganha um Kairos (um tempo propício). Na encarnação, e só nela, Deus se faz homem, e assim sendo, torna-se real aquilo que não o era para os homens, nem mesmo para os anjos, pois fazia parte única e exclusivamente da mente inatingível e inenarrável do Todo poderoso, o qual ocultou e revelou tudo em seu tremendous mysterium, O Logos.
“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória”.
“Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória”.(I co.2.7,8).
Observamos então, que a morte do cordeiro estava claramente planificada na mente Divina, onde de fato era real e inexorável, entretanto, carecia de uma personificação humana, a fim de que o homem fosse salvo por um perfeito igual que o substituísse e o justificasse. Glória, pois a ele.

Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante

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