VOCÊ QUER SER O PRIMEIRO, O MAIS
ALTO OU O MAIOR...
A vida de muitas pessoas é uma confusão. Tudo é aceito sem
importar o valor, e passa a uma massa
sem relação e fora de foco. Isto não é verdadeiro
em Cristo. Para ser um cristão a pessoa precisa colocar seus valores em ordem e
sua vida em foco. É preciso buscar em primeiro lugar, o reino de Deus e sua
justiça (Mateus 6:33), escolher a boa parte, que não será tirada (Lucas
10:41-42) e, esquecendo todas as outras coisas, prosseguir para o alvo "da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Filipenses 3:13-14). Tal
concentração do coração e da vida é da própria essência do discipulado.
Mas se há um foco em Cristo essencial para se tornar um cristão,
há também um foco em Cristo que é essencial para o desenvolvimento de uma vida
espiritual bem equilibrada. Nem tudo no reino de Deus tem igual importância.
Algumas verdades assentam no coração do evangelho e são estas verdades
fundamentais que impregnam todo o resto do evangelho com significado.
Precisamos portanto encontrar o centro de gravidade do evangelho e fazer dele o
foco de nossa pregação e nossa fé.
Jesus, em sua fulminante repreensão dos escribas e fariseus pela
hipocrisia deles, ataca seus valores espirituais como completamente fora de
condições. "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o
dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos
mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém,
fazer estas cousas, sem omitir aquelas! Guias cegos, que coais o mosquito e
engolis o camelo!" (Mateus 23:23). Lucas relata: "... ai de vós,
fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e
desprezais a justiça e o amor de Deus" (Lucas 11:42).
O humor mordaz nas palavras de nosso Senhor não é dirigido ao
cuidadoso pagamento do dízimo de ervas miúdas da horta ("Isto devíeis ter
feito") mas à grosseira negligência hipócrita deles de coisas imensamente
mais importantes. Eles estavam na posição ridícula de um homem que de modo
algum comesse uma mosca (imunda), mas desse um jeitinho de comer camelos (igualmente imundos) sem olhar para
trás! Não me diga que o Senhor não tinha senso de humor!
O princípio do foco e do equilíbrio está evidente aqui. Algumas
coisas na lei de Deus são mais pesadas do que outras. Não mais necessárias,
porém mais pesadas. E a razão do seu peso maior é que elas são atitudes do
coração que ficam bem no meio de uma vida devota. Elas são os valores que
determinam a atitude de um homem para com o próprio Deus. Uma coisa é ser
comprometido com certos mandamentos de Deus e outra ser comprometido com o
Senhor.
Não somente algumas coisas na lei de Deus são mais pesadas do
que outras, mas alguns dos mandamentos de Deus são maiores do que outros.
Quando a Jesus foi perguntado por um certo escriba qual era o "grande
mandamento" da lei ou, como Marcos o diz, "Qual é o principal de
todos?", Jesus respondeu que era o mandamento para amar a Deus com todo o
coração (Mateus 22:36-37; Marcos 12:28-29). E o que torna esse mandamento maior
do que "não roubareis" ou "não cometereis adultério," ou
"não arredondareis as extremidades de vosso cabelo"? O fato que esse
mandamento está no coração da relação de um homem com Deus e determina sua
atitude para com tudo que Deus pediu a ele. Um judeu, muito cônscio de não
danificar as extremidades de sua barba (Levítico 19:27), provavelmente trataria
com indiferença os mandamentos menos atraentes quando não havia nele amor a Deus.
Mas o homem que ama a Deus tratará tudo o que ele tem dito com reverência, até
mesmo o menor deles (Mateus 5:19). Amar a Deus com todo o coração não é o único
mandamento de Deus, mas é o primeiro e o maior, porque nossa atitude para com
Deus determina nossa atitude para com sua palavra, toda ela.
O mesmo pode ser dito do plano da redenção. Há muitas coisas no
Novo Testamento ditas serem essenciais à salvação, mas são certamente de modo
nenhum iguais em peso. O batismo não é igual em importância à graça de Deus. A
fé não é igual em valor à cruz. A igreja local não está nivelada em importância
com a intercessão de Cristo por seus santos. E isso é verdadeiro ainda que a
salvação fosse anulada pela rejeição de qualquer destas coisas. Paulo não
disse, "Longe esteja de mim gloriar-me, salvo na autonomia das igrejas
locais" ou batismo, ou fé, ou a Ceia do Senhor, mas "na cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo" (Gálatas 6:14). Sua fórmula simples era: "Aquele
que se gloria, glorie-se no Senhor" (1 Coríntios 1:31; 10:17). Em resumo,
o que Deus tem feito e está fazendo em Cristo para nos dar a redenção sempre
será enormemente mais importante do que poderíamos fazer para aceitar a
redenção que Deus livremente dá em sua misericórdia.
O propósito da severa repreensão ao muito arrevesado sistema de
valor dos fariseus não foi forçar uma escolha entre "justiça, misericórdia
e fé" e "dar o dízimo da hortelã, da erva doce e do cominho".
Ele afirma claramente que não era uma questão de "ou isto ou aquilo",
mas de "tanto isto quanto aquilo". O que o Senhor queria deles era um
reconhecimento de onde o âmago da questão está, para que eles pudessem
continuar construindo aquela bela, bem equilibrada integridade espiritual que
ele tem desejado para todos os homens.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante.
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