QUANDO NÃO EXISTE MAIS PERDÃO ENTRE
UM PAI E UM FILHO...
1SAMUEL 4.14-22: ICABODE: QUANDO A VIDA PERDE O BRILHO
Hoje é o dia mais triste de minha vida, pois perdi um filho que
muito amava, não por morte física, mas porque o nosso relacionamento está insustentável,
menino que dei todo o amor carinho, já víamos tendo alguns dissentimentos, mas
hoje foi a gota d’água, disse para ele que mesmo depois que eu morrer ele não
vá em meu velório, estou com uma forte dor em meu peito, que DEUS tenha
misericórdia do meu espírito, pois esse relacionamento entre pai e filho
terminou hoje, e creia que dessa vez é definitivo, ouvi palavras que machucaram
meu coração, também disse, chegando até o cumulo de uma discursão pois amaldiçoei o filho que amei durante 21 anos, e falta
apenas uma semana para meu aniversário.
Icabode (que algumas
versões grafam como Icabô) é o nome de um menino que viveu cerca de 1.100 anos
de Cristo. Sua mãe, cujo nome não sabemos,
morreu no parto (1Samuel 4.19-22) E nada também sabemos sobre o garoto, exceto
seu nome e as circunstâncias do seu nascimento.
Icabode simboliza a tristeza de muitas vidas. Há pessoas que bem
poderiam se chamar Icabode, se os nomes hoje tivessem algum significado, como
tinham no Israel da antiguidade.
1
A história de Icabode começa bem antes. Seu bisavô, Eli, era um
sacerdote. Seu pai, Fineias, era um sacerdote. Todos viviam em Israel. O tempo
de Icabode foi um tempo difícil. O povo gostava de ouvir a voz de Deus, mas
Deus raramente falava (1Samuel 3.1). Nessa época, surgiu um profeta através de
quem Deus falava, em Siló: Samuel era o seu nome.
Em Israel, havia uma cidade em que a presença de Deus era
sentida mais de perto: Silo era esse lugar. Nesta cidade, estava a arca da
aliança, desde quando foi armada ali a Tenda do Encontro, no interior da qual a
arca estava (Josué 18.1).
Essa arca acompanhava o povo como símbolo da presença de Deus.
Feita de Acácia, por Bezalel, media 1,10 metros de comprimento e 70 centímetros
de largura e 70 centímetros de altura (Êxodo 25.10). No seu alto, estavam
esculpidos dois querubins, cujas asas se aproximavam para formar um arco. Era
na nuvem que se formava entre estes dois querubins que Deus falava a Moisés
(Números 7.89).
A arca acompanhava o povo, que, por vezes, se descuidava dela.
Os filhos de Eli, que eram sacerdotes, estavam entre os que não cuidavam dela,
como deviam. Quando a arca estava com o povo, a vitória era certa. Quando Deus
estava presente, a vitória era certa. Quando Deus está presente, a vitória é
certa.
Uma história ilustra esta verdade. Aquele era um tempo de muitas
guerras com os povos vizinhos. Uma delas, para os filisteus, os israelitas
perderam. Então, mandaram buscar a arca em Siló. "Quando a arca da aliança
do Senhor entrou no acampamento, todos os israelitas gritaram tão alto que o
chão estremeceu" (1 Samuel 4.5).
Os adversários ficaram com medo. Depois, se fortaleceram e
tomaram a arca, matando os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias. Quando soube
disto, do alto de sua gordura e dos seus 98 anos, o próprio Eli caiu de sua
cadeira e morreu.
Nesses dias, Icabode estava no ventre de sua mãe, nora de Eli e
esposa de Fineias. "Quando ouviu a notícia de que a arca de Deus havia
sido tomada e que seu sogro e seu marido estavam mortos, [a mãe de Icabode]
entrou em trabalho de parto e deu à luz, mas não resistiu às dores do parto.
Enquanto morria, as mulheres que a ajudavam disseram: 'Não se desespere; você
teve um menino'. Mas ela não respondeu nem deu atenção" (1Samuel 4.19-20).
Antes de morrer, a mulher teve forças para dar "ao menino o
nome de Icabode", dizendo: “A glória se foi de Israel”, porque a arca foi
tomada e por causa da morte do sogro e do marido. E ainda acrescentou: “A
glória se foi de Israel, pois a arca de Deus foi tomada”. (1Samuel 4.21-22)
Enquanto isto, os filisteus começaram a sofrer com a presença da
arca em seu território. Ela virou uma "batata quente". Cada cidade
que a recebia logo queria se livrar dela, pelas desgraças que sobrevinham ao
povo. O povo ficava em pânico (1Samuel 5.11), mas esta é uma outra história
(1Samuel 5-7 e 14; 2Samuel 6, 11 e 15)
Nossa história é a dessa mulher sem nome e seu filho Icabode.
2
A mãe de Icabode tipifica todas as pessoas cujas vidas estão sem
brilho, achando que Deus não está mais presente em suas vidas. Essa mulher
estava parcialmente certa, logo parcialmente errada. A glória de Deus nunca se
afasta dos seus filhos, mas seus filhos podem parar de vê-la.
Quando viu aquela sucessão de fatos (a derrota na guerra, o
seqüestro da arca, a morte do sogro, a
morte do marido e o parto prematuro e arriscado), ela concluiu que Deus tinha
se afastado da vida do seu povo e da sua também.
No entanto, em seu equívoco, ela nos deixa um legado de valor:
ela nos adverte para o preço do pecado, quando dá o nome ao seu filho. Essa é
uma lição que precisamos aprender: se pecamos, precisamos ter a coragem de
admitir que não estamos em comunhão com Deus. Seu sogro e seu marido pecaram.
Por causa do pecado deles, a nação sofreu, a família padeceu.
A mãe de Icabode teve coragem para admitir o erro. Sua coragem
nos convida a admitir que nem sempre a nossa infelicidade vem por causa dos
outros. Muito do nosso sofrimento vem do nosso pecado. Paramos de ter comunhão
com Deus, porque nos afastamos de Deus. O pecado é uma escolha.
A volta para Deus também é uma escolha.
O povo sabia o que não podia fazer, mas fez. O povo sabia que o
podia fazer, e não fez.
Conhecemos os mandamentos de Deus. Nenhum de nós pode alegar que
não os conhece. O nosso problema não tem a ver com o verbo conhecer, mas com o
verbo obedecer.
Quando lemos a história toda, que se prolonga por vários
capítulos, ficamos sabendo que a arca voltou a Siló. Por mais que nos tenhamos
afastado de Deus, a falta de comunhão não é definitiva. A arca pode voltar para
Siló a qualquer momento. A arca pode voltar para o seu coração a qualquer
momento. Vá buscar a arca. Você pode voltar a vibrar de novo.
3
A história da mãe de Icabode tipifica a experiência de todos
aqueles para quem a vida perdeu a graça.
E precisamos ser honestos em admitir o nosso pecado.
E precisamos ser honestos também admitindo que nem toda falta de
brilho na vida advém do pecado. Se a graça inclui o perdão pelos pecados, ela
também inclui a ideia de nem sempre as nossas dificuldades sejam resultado do
pecado. Há outros fatores que nos surrupiam a graça de viver.
A vida perde a graça
quando perdemos uma pessoa querida. Como deve ter sido a vida de Icabode, sem
mãe, sem pai, sem avó, sem tio? Como deve ter sido a vida de Icabode, com o seu
nome ("sem a glória" que tinha)?
A vida perde a graça quando vamos acumulando frustrações, nos
relacionamentos, nos concursos, nos estudos, como se fôssemos midas ao
contrário, de modo que parece que nada dá certo conosco? Ah, Icabode: foi-se o
brilho da vida!
A vida perde a graça quando as dívidas vão crescendo e
diminuindo a nossa capacidade de honrar nossos compromissos? Ah, Icabode:
foi-se o brilho da vida!
A vida perde a graça quando somos acometidos por uma doença
devastadora, seja ela física ou emocional. Como manter o brilho na face com um
diagnóstico de câncer nas mãos? Como manter vibrando o coração quando a mente
vai sendo confundida por uma enfermidade emocional, como uma depressão? Ah,
Icabode: foi-se o brilho da vida!
Qualquer situação destas nos faz perder a perspectiva da
presença de Deus.
Recuperar a perspectiva da presença de Deus não é fácil, não por
causa de Deus, mas por nós mesmos.
Deus está presente. Sempre.
1. Esta é a nossa
primeira tarefa: diferentemente da mãe de Icabode, precisamos reconhecer que a
glória de Deus nunca se vai. Se não estamos experimentando esta realidade,
sigamos o salmista:
"Se eu subir aos
céus, lá estás;
se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás.
Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do
mar,
mesmo ali a tua mão direita me guiará e me susterá.
Mesmo que eu diga que as trevas me encobrirão,
e que a luz se tornará noite ao meu redor,
verei que nem as trevas são escuras para ti.
A noite brilhará como o dia, pois para ti as trevas são
luz".
(Salmo 139.8-12)
2. Precisamos ver quando
a arca nos foi tirada.
Quando se foi da sua vida o brilho?
Você dirá: não foi de uma hora para outra. A luz foi se
apagando. Resta apenas, se resta, o toco de uma vela de cera, que logo também
derreterá. Mas quando a chama começou a diminuir, corcunda ao vento vindo de
fora?
Que fatores sofram se tornando sombras, sombras cada vez
maiores, sobre a sua vida, fazendo com o que brilho escorresse para debaixo da
mesa?
Talvez você diga que não sabe.
Então, você precisa buscar ajuda, de um amigo, de um pastor ou
de um profissional, ou talvez de todos eles, para que você ponha em ordem seu
mundo interior.
Esse mentor poderá lhe ajudar a ler o mundo em seu redor,
leitura que sua mente, antes tão competente, não faz mais.
Trago duas lembranças que ilustram a importância da compreensão
do que ocorreu e levou embora a arca (como símbolo de alegria).
Uma mulher, que tinha um problema que afetava a sua saúde
mental, decidiu não mais tomar o remédio que mantinha o seu equilíbrio
emocional. Por alguma razão, passou a achar que Deus a curara. Desde então,
tornou-se mais triste, mais arredia e mais agressiva. Seu marido sofria. Suas
filhas sofriam. Demorou até que aceitasse o conselho de seu pastor e voltasse a
fazer uso daquela medicação, um dom de Deus para a sua vida.
Um pastor dirigia uma igreja que ia muito bem, batizando e
crescendo. No entanto, a partir de determinado tempo, a igreja começou a perder
membros. Seu pastor chegou a um clara conclusão: o problema da igreja era
espiritual, deixando o pastor muito confuso. Esta confusão impediu que ele
fizesse a leitura certa, coisa que um amigo lhe ajudou a fazer: sua cidade
enfrentava um problema econômico, que provoca um tremendo êxodo. Muitos saiam
da cidade em busca de empregos; com eles, vários membros da igreja. Depois que
o pastor entendeu isto, tratou de ver onde estavam os seus membros em diáspora
e abriu uma congregação com eles na nova localidade de trabalho e moradia.
Estes dois episódios mostram que precisamos nos conhecer um
pouco mais ou conhecer o mundo em nosso redor, para tomarmos decisões sábias,
capaz de contribuir para a volta do brilho nos olhos.
Se sabemos quando e porque a arca se foi, demos um excelente
passo para tê-la de volta.
3. Precisamos desejar
ardentemente a nossa vida de volta.
Não conhecemos os detalhes, mas é possível que a mãe de Icabode,
diante de tantas tragédias, não tenha querido mais viver, por mais que suas
amigas lhe falassem do prazer da maternidade.
Precisamos saber que Deus quer nos dar a vida de volta.
Gosto dos salmistas. Algumas vezes aos gritos, eles pedem a
graça de viver de volta.
Um deles é enfático:
"Faze-me ouvir de
novo júbilo e alegria, e os ossos que esmagaste exultarão.
Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um
espírito pronto a obedecer".
(Salmo 51.8, 12)
Devemos orar com uma
ousadia desta. Não com a ousadia de quem acha que tem direito, mas com a
ousadia que sabe que pode pedir por misericórdia.
4. Precisamos nos por a
caminho.
Se a arca está em outra cidade, temos que nos por em marcha para
a outra a cidade, se queremos mesmo recupera-la.
Gosto da história de Moisés. Ele queria ver a glória do Senhor
("Então disse Moisés: 'Peço-te que me mostres a tua glória'” -- Êxodo
33.18), mas não ficou na cidade. Ele subiu o monte. Deus colocou obstáculos
para Moisés subir e Moisés subiu.
Subamos o monte.
Deus nos vai atrair em sua direção, para nos dar um ânimo novo.
Nas horas mais difíceis da história do povo bíblico, Deus lhe
disse para seguir em frente, para marchar (Êxodo 14.15). Enquanto caminhamos,
Deus vai aparecer, nem que vejamos apenas a sombra das suas costas. E o brilho
da vida voltará.
Será o fim do nosso icabode.
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante
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