UNÇÃO DO VASO E DO CHIFRE – UNÇÃO
REAL...
Saul
(1Sm 10.1 = Tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre
a cabeça, e o beijou, e disse: Não te ungiu, porventura, o SENHOR por príncipe
sobre a sua herança, o povo de Israel?)
Devido a exigência do povo, o Senhor selecionou um rei para
Israel (1 Samuel 8). Ele escolheu Saul, um homem belo de uma família militar.
Saul, que estava procurando as jumentas extraviadas de seu pai quando Samuel o
ungiu, ficou perplexo (1 Samuel 9). Sua timidez fê-lo esconder-se quando sua
escolha foi anunciada publicamente (1 Samuel 10:21-22). Ele certamente não
estava procurando glória pessoal.
Saul reinou bem, no princípio, mas gradualmente sua
autoconfiança cresceu e sua confiança no Senhor diminuiu. Em 1 Samuel 15 o
Senhor ordenou que Saul e seu exército conquistassem os amalequitas, uma nação
que tinha atacado erradamente Israel séculos antes (veja Êxodo 17). Deus
ordenou que os amalequitas fossem exterminados; nada deveria ser poupado. Em
vez disso, Saul poupou o rei e os melhores animais. Agindo assim, ele pecou.
Deus disse a Samuel que fosse falar com Saul, que estava
erigindo um monumento a si mesmo (1 Samuel 15:10-12). Quando Samuel se
aproximou, Saul abriu a boca: “Bendito sejas tu do SENHOR; executei as palavras
do SENHOR” (15:13). Ele parecia muito ansioso para assegurar a Samuel de que a
ordem tinha sido cumprida. Samuel respondeu perguntando pelo som de bois
mugindo e ovelhas balindo. Este era o ponto crítico. O que faria Saul quando
confrontado com seu pecado? Saul defendeu-se (15:15). Ele explicou que era o
povo que tinha poupado os animais. Ele raciocinou que isso era por uma boa
causa: sacrificar ao Senhor. Desde Adão até agora, os pecadores têm tentado
afastar a culpa e dar desculpas pela sua desobediência. É duro aceitar a
responsabilidade pelos próprios atos.
Samuel repreendeu Saul, contrastando sua primitiva humildade com
a vontade própria e o orgulho que ele, então, estava demonstrando (15:16-18).
Essa dura reprovação penetraria as defesas de Saul e faria com que ele se
humilhasse e se arrependesse? Não, Saul endureceu seu coração. Ele reiterou
suas desculpas, alegando que tinha de fato obedecido ao Senhor. Ele insistiu
que não era sua culpa, uma vez que o povo é que tinha poupado os animais e que
tudo, afinal, era para sacrificar. A consciência de Saul era impenetrável. Mais
tarde Saul recitaria a palavra “Pequei”, mas somente porque ele queria que
Samuel voltasse e o honrasse diante do povo, não porque estivesse arrependido
de fato.
Como resultado do coração impenitente de Saul (note Romanos
2:5), Deus afastou Seu espírito de Saul, e um espírito mau entrou nele. Dai em
diante, a vida de Saul foi torturada e arruinada pela culpa. Ele se tornou
paranoico, suspeitando de seu genro, Davi, e tramando matá-lo (veja Samuel
20:30-33). Ele assassinou 85 sacerdotes de Deus (1 Samuel 22) e resolveu
consultar uma feiticeira (1 Samuel 28). Finalmente, ele se suicidou (1 Samuel
31). Saul demonstra o que acontece a uma pessoa que se recusa a confessar e arrepender-se
do pecado. A culpa leva à insanidade.
Davi
1 Samuel 16
1 O Senhor disse a Samuel: "Até quando você irá se
entristecer por causa de Saul? Eu o rejeitei como rei de Israel. Encha um
chifre com óleo e vá a Belém; eu o enviarei a Jessé. Escolhi um de seus filhos
para fazê-lo rei".
Como Saul, Davi era humilde e justo quando foi escolhido para
ser rei. Ele se tornou um governante popular e capaz, abençoado com vitórias
militares e prosperidade. Infelizmente, o pecado entrou. Davi viu Bate-Seba, a
mulher de um vizinho, enquanto ela se banhava. Inflamado pela cobiça, Davi
indagou a respeito dela e soube que era a esposa de um dos seus mais
condecorados soldados. Ele convidou-a ao palácio e cometeram adultério. Depois
ela voltou para casa.
Cedo ou tarde, o Senhor confronta-nos com nossos pecados.
Bate-Seba engravidou e mandou avisar Davi que ele era o pai. Em vez de admitir
seu pecado, Davi chamou o esposo dela, Urias, da batalha e lhe disse que fosse
para casa. Davi queria fazer com que a criança parecesse legítima. Por respeito
aos seus camaradas, Urias se recusou a passar a noite com sua esposa.
Frustrado, Davi enviou um recado, pela própria mão de Urias, para o comandante
do exército, Joabe, para metê-lo na frente da batalha e, então, retirar-se
dele. Deste modo, Urias foi assassinado e Davi tomou Bate-Seba como sua esposa.
A melhor coisa a fazer quando pecamos é admitir e nos
arrepender. Davi não o fez. Em vez disso, ele tentou encobrir seu pecado e
fazer com que parecesse que nada de errado tivesse acontecido. Assim, o Senhor
tomou medidas mais fortes para levar Davi ao arrependimento. O profeta Natã foi
a Davi e o condenou por seu pecado. Ele advertiu a Davi que ele tinha cometido
tanto adultério como assassinato e que o Senhor o puniria severamente: (1) a
criança morreria; (2) a espada nunca se afastaria de sua família; (3) as suas
próprias concubinas seriam violadas à vista de todos.
Até este ponto, Saul e Davi eram iguais. Ambos pecaram. Um
profeta foi enviado a cada um deles para condená-los pelo seu pecado. Ambos os
profetas (Samuel e Natã) anunciaram o julgamento contra eles. É aqui que a
diferença entre os dois homens pode ser vista. Saul tentou desculpar-se e
afastar a culpa. Davi disse: “Pequei contra o Senhor… contra ti, contra ti
somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos…” (2 Samuel 12:13; Salmos
51:4). Ele implorou perdão e restauração de sua relação com o Senhor (veja
Salmo 51). Portanto, Deus perdoou a Davi (2 Samuel 12:13).
Que diferença o arrependimento faz! A vida posterior de Saul foi
atormentada pela culpa, levando-o a paranóia, ciúmes e depressão. Seu reinado,
começado tão esperançoso, terminou em suicídio. Davi, por outro lado, ainda que
enfrentasse terríveis conseqüências de seu pecado (morte da criança, discórdia
na família, estupro de suas concubinas), foi purificado de sua culpa e não foi
atormentado pelos distúrbios mentais como Saul. Ainda que mortificado pelo
horror de seu pecado, ele continuou a ter amizade com Deus e a servi-lo
fielmente.
Aplicação para nós
O Salmo 32 registra as meditações de Davi com respeito a seu
pecado:
Versículos 1-2: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é
perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não
atribui iniquidade, e em cujo espírito não há dolo.” Davi regozijava-se com seu
perdão, e sentiu aliviado por ter sido limpo. Contudo, o perdão não é
automático. Ele chega àquele em cujo espírito não há engano: àquele cujo
arrependimento é honesto, sincero e real.
Versículos 3-4: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os
meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava
dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.” Davi se
lembrava da agonia do pecado não confessado. Sua consciência não tinha
descanso. Ele se sentia esvaziado, exausto. Ainda que confessar o pecado seja
duro, uma recusa desavergonhada a aceitar a responsabilidade por ele é ainda
mais forte com o passar do tempo. A culpa tortura.
Versículo 5: “Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não
mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu
perdoaste a iniquidade do meu pecado.” Perdão! Alívio! Paz! Quando Davi
confessou foi como se a pressão da água atrás de uma represa fosse aliviada
pela abertura de uma comporta.
Versículo 7: “Tu és meu esconderijo; tu me preservas da
tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento.” Você vê o que a
confissão e o perdão podem fazer? Admiravelmente, essa é a mesma pessoa
descrita nos versículos 3-4. Ver a alegria do perdão deverá motivar-nos ao
arrependimento e confissão dos nossos pecados ainda que seja difícil.
Versículos 8-9: “Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que
deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho. Não sejais como o
cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são
dominados; de outra sorte não te obedecem.” Davi contrasta o homem que responde
ao simples olhar do Senhor com o homem parecido com a mula! Esse precisa de
freio e rédea para fazer com que obedeça. Talvez ele estivesse pensando como
teria sido melhor se ele tivesse se arrependido e confessado o seu pecado
imediatamente, em vez de esperar até que Natã tivesse que lhe “bater” na
cabeça. Algumas crianças são bastante sensíveis e, sendo assim, um olhar duro
as corrige na hora, enquanto outras exigem diversas boas surras. Estaremos
muito melhor sendo sensível a mais leve indicação da desaprovação do Senhor em
vez de precisar de castigo severo para nos corrigir.
E quanto a nossos pecados? A diferença entre aqueles que seguem
o Senhor e aqueles que não seguem, não está em seus pecados ‒ todos pecam. A
diferença está no que eles fazem após pecarem. O que acontece quando alguém
aponta o pecado em nossa vida ou quando lemos na Bíblia que o que estamos
fazendo é errado? Agimos como Saul: afastando a culpa, dando desculpas,
tentando defender-nos? Agimos como Davi: admitindo humildemente nossos pecados
e nos arrependendo quando a repreensão de um irmão nos força a enfrentá-los? Ou
melhor, ainda: desenvolveremos sensibilidade ao Senhor e a sua palavra de modo
que vejamos nossos próprios pecados e imediatamente venhamos a confessá-los,
nos arrepender e pedir o perdão ao Senhor?
Todos pecam. A diferença entre os homens está em como eles
respondem aos seus pecados...
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião
Dr. Edson Cavalcante.
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