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sábado, 2 de julho de 2016

ESTUDO SOBRE LENÇO DO APOSTOLO PAULO...


                                ESTUDO SOBRE  LENÇO DO APOSTOLO PAULO...
"E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam." (Atos 19:11,12)
Ao longo dos anos, o episódio registrado no livro de Atos tem sido evocado por pastores e ministros de algumas denominações evangélicas como justificativa bíblica para a distribuição aos fiéis de lenços ungidos, rosas ungidas, toalhinhas ungidas e outras bugigangas ungidas, as quais supostamente teriam o poder de curar doenças e/ou de expulsar espíritos malignos. Mas será que este ensino está realmente correto?
Inicialmente, é importante identificar os lenços e aventais citados em At 19.12. Em grego, os termos traduzidos como lenços e aventais são, respectivamente, σουδαρια (soudaria, uma toalha para enxugar o suor da face ou lenço) e σιμικινθια (simikinthion, um semicinctium, meia-cintura ou avental, com o qual se cobria toda a barriga e utilizava-se para preservar as roupas daqueles que estavam envolvidos em algum tipo de trabalho). Estes eram levados até os enfermos, logo conclui-se que os enfermos estavam impossibilitados de ir até onde Paulo estava.
Em seu comentário, Barnes argumenta que o propósito deste milagre estava ligado à propagação do Evangelho. Tal milagre foi um mero sinal, ou uma evidência para as pessoas envolvidas, de que isto foi feito pela instrumentalidade de Paulo, de que este maravilhoso poder lhe fora concedido, assim como o fato de que o Salvador colocou seus dedos nos ouvidos de um homem surdo, e cuspiu e tocou sua língua (Mc 7.33). (Barnes´New Testament Notes) A razão de tal milagre pode residir na difícil tarefa de Paulo na pregação e ensino do Evangelho em Éfeso: Depois de 3 meses de ensino, argumentando e respondendo objeções, com razões embasadas nas Escrituras, ainda existiam aqueles que se endureceram e não obedeceram, falando mal do Caminho perante a multidão (At 19.8).
Neste momento, cabe a seguinte pergunta: porque não há o registro de nenhum milagre feito por Paulo desde a expulsão de um espírito maligno de uma moça em Filipos? Porque não foram feitos milagres em Tessalônica, Beréia e Atenas? Ou se foram feitos, porque não há o registro? É possível argumentar que o sucesso do evangelho, sem milagres no reino natural, foi em si mesmo um milagre no reino da graça, não necessitando de outro.
 comentarista Matthew Henry concorda com Barnes. Segundo ele, Deus confirmou o ensino de Paulo pelos milagres. Estes foram milagres especiais, ou seja, não eram milagres usuais. Deus enxertou poderes que não eram conforme o curso da natureza: virtudes não vulgares. As coisas que foram feitas não poderiam de forma alguma serem atribuídas ao acaso ou causas secundárias. Com isso, os preconceituosos opositores do evangelho não teriam outra opção a não ser atribuir a Deus os milagres realizados: não foi Paulo que fazia tais coisas (quem é Paulo, e quem é Apolo?), mas foi Deus que operou pela mão de Paulo. Ele era apenas o instrumento, Deus foi o agente principal, confirmando assim a natureza tanto do milagre quanto da mensagem pregada.
De fato, se a fé daquelas pessoas fosse distorcida, sendo posta sobre os lenços e aventais ao invés de Deus, isto se constituiria em idolatria e deste modo nenhum milagre teria sido realizado. O Deus que tão veementemente combateu a idolatria no Velho Testamento não a ratificaria no Novo Testamento, afinal "Ele, o SENHOR, não muda" (Nm 23.19; I Sm 15.29; Ml 3.6; Tg 1.17) e nem Paulo autorizaria o uso de tais utensílios.
Sobre isso, Alexander MacLaren (1826-1910) comenta: "Não parece que o próprio Paulo enviou os lenços e aventais, os quais transmitiam virtude de cura, mas que ele simplesmente permitiu o uso. Os conversos tinham fé para acreditar que tais milagres seriam feitos, e Deus honrou a fé deles. Note cuidadosamente que a narrativa coloca a parte de Paulo em seu devido lugar. Deus "fez"; Paulo foi somente o canal. Se as impulsivas pessoas, que levavam as roupas, tivessem supersticiosamente imaginado que havia virtude em Paulo, e não olhassem através dele para Deus, isto implicaria que os milagres não teriam sido feitos." (Expositions of Holy Scripture: The Acts)
Por outro lado, os objetivos de Deus na realização de tais milagres haviam sido alcançados. Foi estabelecida a inequívoca distinção entre Paulo e os mágicos e exorcistas judeus (At 19.13-17). Os empecilhos iniciais na pregação do Evangelho em Éfeso haviam sido superados, "muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos" (At 19.18). Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos (At 19.19). Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia (At 20.20).
Conclusão:
Diante do exposto, torna-se evidente o erro crasso de algumas denominações evangélicas em distribuir, de graça ou por preço, objetos ungidos aos seus fiéis. Paulo jamais ungiu suas vestes com óleo ou qualquer outra coisa, tampouco mandou que fossem levados aos doentes e possessos de espíritos imundos, ou mesmo solicitou partes de vestuário destes para que fossem por ele ungidas. O fato de aquiescer com a prática de maneira alguma fornece a base doutrinária para que o ato se perpetue na Igreja Cristã. De fato, não há sequer um versículo em toda a Bíblia onde conste a mínima recomendação apostólica sobre esta prática à Igreja. O texto de Atos 19:12 trata-se tão somente do registro das acontecimentos relacionados à pregação da Palavra de Deus em Éfeso.
A despeito do que ensinam erroneamente alguns, não houve nenhuma "transferência de unção" do apóstolo Paulo para seus utensílios de trabalho, tampouco há evidência de que estes tivessem algum poder sobrenatural. DEUS e não o lenço/avental realizavam o milagre! No mundo real, existe transferência de massa, de calor e de quantidade de movimento, realizadas devido a existência de um gradiente da grandeza entre dois meios; mas não há registros de transferências de unção. Além disso, pessoas são ungidas por Deus para alguma atividade específica (e isso se deu tanto no Antigo quanto no Novo Testamento), coisas foram ungidas com óleo no Velho Testamento indicando separação, para serem utilizadas única e exclusivamente dentro dos propósitos de Deus para elas (como, por exemplo, o tabernáculo; Êx 30.26; 40.9-11).
É preciso entender que estes milagres foram especiais, realizados num tempo especial. Havia a peremptória necessidade de estabelecer de forma clara as marcas apostólicas de Paulo em Éfeso, sem a qual possivelmente a Igreja não teria sido fundada naquela cidade. Havia uma grande oposição espiritual, pela imitação, e intelectual que impedia a aceitação do Evangelho. A argumentação retórica na Palavra de Deus havia encontrado forte resistência intelectual; assim era preciso que a natureza divina do Evangelho fosse confirmada sobrenaturalmente aos incrédulos. Ademais, é muito importante perceber que tal milagre, dito extraordinário, não era realizado pela vontade e poder do apóstolo, mas sim pela vontade, poder e soberania do Senhor.
Os defensores dos lenços ungidos frequentemente usam o argumento de que o poder de Deus não mudou para corroborar suas práticas. De fato, como citado, Deus não mudou; porém, a revelação bíblica sobre Deus nos mostra que Ele tem Vontade própria, não sendo mecanicamente repetitivo, mas agindo de forma diferente em diferentes situações.  Estes mesmos ministros precisam explicar porque Deus não abriu o mar ou fez andar sobre ele, em várias ocasiões modernas, onde teriam sido salvas inúmeras pessoas de afogamento (inclusive crentes); porém façam-no sem apelar para a "vulgar solução" da "falta de fé".
Tomar o episódio registrado em Atos 19:12 como doutrina para a Igreja é negar todos os princípios da hermenêutica bíblica. O uso de objetos ungidos favorece a criação e perpetuação da idolatria e feitiçaria na vida dos crentes bem como a terrível prática da simonia. Assim, é evidente que o Espírito Santo, que não divide sua glória com ninguém (Is 42.8), jamais permitirá, em hipótese alguma, que a sua glória seja dada aos ídolos, tenham eles qualquer forma ou aparência, ratificando tal prática idólatra por meio da realização da cura e assim desviando as pessoas de Cristo.
A idéia de que estes utensílios serviriam como "ponto de contato" para aquelas pessoas mais fracas, para para despertar-lhes a fé. Contudo, biblicamente falando, segundo o Autor aos Hebreus, "a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem" (Hb 11.1,2). A fé é gerada nos crentes a partir da Palavra de Deus: "a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Rm 10.17). A questão não é se Jesus ou os apóstolos usou algum objeto em suas ministrações, mas no que isto pode implicar. Em seu site, o Pr. Ricardo Gondim comenta que "os evangélicos retrocederam aos tempos do catolicismo medieval. Observa-se com facilidade, na maior parte das igrejas, o incentivo de que se usem amuletos como ponto de contato para a fé. O paganismo e a feitiçaria se disfarçaram de piedade e a maioria dos crentes só se preocupa em aprender a controlar o mundo sobrenatural para serem prósperos ou para resolverem seus problemas existenciais."
Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante

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