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quarta-feira, 27 de julho de 2016

ESPÍRITO DE PROSTITUIÇÃO...


                                            ESPÍRITO DE PROSTITUIÇÃO...
"Jezabel leva a mulher a sentir um forte desejo por outra, levando-se a pratica do lesbianismo. Mães e esposas dominadas pelo “espírito de Jezabel” tendem a empurrar os filhos ao homossexualismo. Ela é um “espírito de rebelião” que leva os filhos a rebeldia e as drogas. Mulher rebelde e insubmissa ao seu marido contamina também aos filhos, levando-os a rebelião."
O neo-pentecostalismo latino-americano, e o brasileiro em particular, é um fenômeno sui-generis no mundo. Não há coisa parecida em lugar algum e em nenhum momento da história. Dá muito caldo para sociólogos, antropólogos, historiadores e outros cientistas sociais escreverem e abordarem a religiosidade neo-pentecostal tupiniquim.
Uma das características marcantes deste nosso modelo neo-pentecostal é a influência das "religiões de possessão", como a classificam Bastide, Verger e seus pares. As religiões brasileiras da Umbanda e do Candomblé são as grandes contribuintes das doutrinas neo-pentecostais da Terra de Santa Cruz.
Existem personagens da mitologia Yorubá e Bantu estão presentes nas cosmologias das crentes do "coque". Pomba-Giras, Exus, Tranca-Ruas, Orixás, Caboclos e guias são parte integrantes das liturgias afro-cristãs-brasileiras.
As "religiões de possessão" de Bastide e Verger, e por que não incluir entre elas muitas igrejas neo-pentecostais, creem em "espíritos" pessoais, entidades ligadas às forças da natureza e influenciadoras de personalidades. Tanto na Umbanda, quem influencia a bebedeira é a "Maria Mulambo" e quem faz alguém ser gay ou prostituta é alguma "Pomba-Gira".
Para algumas igrejas destas, "o espírito de Jezabel" é "espírito de prostituição e homossexualismo". Isso sem considerar que no contexto hebreu, "espírito" (ruah) não é um ser personificado, mas uma força impessoal. Quando se fala em "espírito" de alguma coisa no contexto hebraico antigo, estamos falando de alguma "força", "motivação", "ação" e nunca de um personagem animado.
Nos rituais de exorcismo em tais igrejas fala-se com "Jezabel", o tal espírito causador da prostituição e "homossexualismo" , à maneira brasileira, umbandista, e não à maneira de entender dos hebreus do pré-exílio. Jezabel é a nova Pomba-Gira dos arraiais neo-alguma-coisa.
Mas você deve estar se perguntando: "Por que o Gustavo tá enrolando tanto pra falar desse assunto?". Bom vamos lá...
Não é novidade alguma que algumas igrejas neo-inclusivas creiam na mesma cosmologia neo-pentecostal brasileira, afinal, são frutos dela. Mas há de se considerar algumas coisas.
"homossexuais possuem o espírito de Jezabel, porque foram excluídos da Igreja Cristã... Por isso são motivo de vergonha e promiscuidade para suas famílias e para a sociedade..."
Eu não acreditei no que estava lendo... li novamente. Será possível que alguma Igreja Inclusiva pode estar pregando este tipo de coisa? Não cri! Mas, era a mais pura verdade. Na hora me veio uma enorme tristeza e uma pergunta me foi feita: "será que a militância LGBT já leu este tipo de coisa?", Não será por isso que nós, Igreja Inclusiva, somos tão menosprezados pela militância LGBT como pessoas que não agregam valor à luta contra as injustiças?
É vergonhoso! Lutamos tanto para dizer ao mundo que os gays não são o esteriótipo do "promíscuo", "vadio" e "prostituto"e o reforço do preconceito surge de dentro dos nosso arraiais. Reforço, validação do preconceito, utilizando para isso a poluída e sincrética doutrina neo-pentecostal.
O mito de Jezabel é muito válido para o crente de hoje, seja ele gay ou heterossexual. Sua estória nos mostra os riscos da tentação e os descaminhos de se dar mais valor aos valores "mundanos" (amor ao dinheiro e paixões da carne) que aos altos valores dos céus. Mas jamais, nunca, se observa nesta estória, a validação da demonologia pagã preconceituosa pregada por certas igrejas.
A mensagem de que gays, lésbicas e transgêneros são perdidos e promíscuos já é pregada pelos religiosos preconceituosos do status quo. Não se espera que nenhuma entidade, dita inclusiva, reforce esta mensagem. A mensagem de morte deste mundo sempre será pregada pelos religiosos, ansiosos por "fechar o caminho para a salvação", uma vez que eles não entram "e não deixam ninguém entrar" pelas portas do Reino. Mas não cabe, de forma alguma, da parte de gays e lésbicas cristãos a perpetuação desta mensagem de opressão.

Apóstolo. Capelão/Juiz. Mestre e Doutor em Ciência da Religião Dr. Edson Cavalcante.

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